quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
terça-feira, 28 de dezembro de 2021
A ESSÊNCIA DOS ENSINAMENTOS DE KRISHNAMURTI
J.
Krishnamurti publicou centenas de livros. A grande maioria foram compilações de
palestras e diálogos que ele fazia quase que diariamente. Por incrível que
pareça, a sua hiper produção que, em tese, deveria ajudar a esclarecer seu
pensamento, teve, em muitos casos, o efeito contrário.
A questão,
me parece, é que JK não queria dar respostas fáceis e prontas. Ele queria que o
ouvinte fosse capaz de investigar a questão juntamente com ele, acompanhando
seu direcionamento. Por isso, ele sempre começava do começo, lançando as bases,
destruindo ilusões e, só então, chegava à conclusão final.
Tendo isso
em vista, seria possível fazer um resumo da sua mensagem sem grandes
imprecisões e mantendo-se fiel à essência dos seus ensinamentos?
Penso que
sim. De fato, Krishnamurti ensina algo extremamente elementar: como
ver/encarar/observar 'aquilo que é'.
O problema é
que, em geral, as pessoas se excluem do fato quando deveriam ver a si mesmas-
seus pensamentos, sentimentos, reações e emoções - como parte integrante do fato.
Vamos pegar um exemplo: a ansiedade é o fato. Mas me separo do fato, tentando
ficar livre dele. Nesse momento crio um outro fato: a separação observador (
aquele que vê o fato de estar ansioso) e a coisa observada (a ansiedade). E aí
gera-se o conflito que passa a ser outro fato. E no momento em que vejo todo
esse processo e tento dele me libertar crio um novo fato. Isso vai aumentando o
conflito, a neurose e agravando o sofrimento.
Então, se
formos fiéis aos apontamentos de Krishnamurti bastaria ver o fato a que
chamamos "ansiedade" sem dar-lhe nome e, por conseguinte, sem tentar
controlá-lo, modificá-lo, nem mesmo
observá-lo já que a "observação" já aconteceu no momento em que você
se dá conta do fato.
Em suma, é
ver "aquilo que é' sem a
interferência da palavra ou pensamento. E, caso ocorra a interferência, vê-la
como parte inevitável do fato e não tentar modificá-lo. E, pronto, eis a
essência dos ensinamentos de Krishnamurti.
Alsibar Paz
22/12/21
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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
sábado, 18 de dezembro de 2021
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
A NOVA MODA DA TURMINHA 'PINEO-ADVAITA'.
Tenho observado, de uns tempos para cá, um considerável aumento de indivíduos se apoderando dos conhecimentos espiritualistas, notadamente - mas não exclusivamente - do advaita-vedanta sob um viés perigoso. Aparentemente, tais sujeitos - muitos deles com sérios transtornos psíquicos - encontraram nessa tradição milenar o veículo ideal para darem vazão à sua própria confusão e loucura.
A última mania dos mesmos é dizer que tudo que não presta em si mesmos e nos outros é do 'personagem' . E aquilo que está de acordo com o que eles consideram correto/bom vem do tal "Ser".
Todavia, a primeira pergunta que salta aos olhos é: quem faz esta divisão? Quem julga o que é do personagem e o que é do ' Ser'?
Fiz, certa vez, essa pergunta a uma pessoa adepta desse conhecimento superficial de inspiração advaita e ela me respondeu: é o Ser!. Mas será que é mesmo?
Ora, quem é que divide? Quem é que percebe? Quem classifica, analisa e julga senão a própria pessoa baseada em seus referenciais mentais (background)? No que leu, no que fantasiou, no que interpretou e acha que compreendeu?
Ou seja, quando classifico : tal atitude é do ser e tal atitude é do personagem (ego) quem faz esse trabalho é o próprio ego. E por mais que o ego o negue, continua sendo ele que está à frente de tais procedimentos.
Aquilo que as pessoas conhecem como "ser" não é o verdadeiro Ser, pois esse não pode ser conhecido, muito menos seus atributos e qualidades. Quando a mente qualifica a atitude de outrem como sendo egoica e a de si mesma como sendo 'divina', isso nada mais é do que a própria mente, o pensamento, o próprio ego do sujeito em ação.
Alguém pode perguntar: mas e suas análises Alsibar, não são também egoicas?
E eu respondo: alguma vez eu disse que não eram?
É claro que toda minha análise - inclusive esta que estou fazendo agora - parte do meu ego. Mas eu admito isso, ao contrário daqueles que me acusam de estar sendo vítima do 'personagem'. Estou, agora mesmo, admitindo e confirmando o que eu próprio ensino: sim, é o ego que pensa, reflete, raciocina, escreve, analisa e "julga". Eu sou o personagem, eu sou o ego! Nunca me consideraria o Ser pois quem se considera o Ser não é o Ser.
O que estou falando vem da minha própria experiência, mas tem respaldo nas mensagens de outros grandes mestres:
Buda, Krishnamurti e UG passaram uma vida afirmando: você nada mais é do que memória, desejo, medo, esperança, ansiedade, conflito, pensamentos, etc. Ou seja, ego/personagem. Em meio a esse caos, criamos uma entidade acima e além de nós mesmos a que chamamos de Ser, Atman, Deus, Consciência, etc. Mas, esse deus nada mais é do que uma ilusão mental, uma idealização, uma fuga.
Ora, qual é o fato?
O fato é que só existe o personagem formado por milênios de cultura, educação, memórias, condicionamentos, tradição, etc. O tal " Ser' foi inventado pelo próprio personagem para dar a si mesmo um status de nobreza, dignidade, permanência e elevação espiritual. Mas, essa entidade ainda é a extensão do próprio 'eu', ou seja, de sua mesquinhez, de sua confusão, de sua mediocridade.
Agora, quando você identifica e vê claramente essa artimanha sutil do ego/personagem aí sim, começa a libertação dessa que talvez seja a mais poderosa de todas as ilusões: aquela em que o próprio ego se disfarça de Ser para melhor "passar" e continuar controlando tudo de forma escondida, achando que seu 'plano' nunca será descoberto. Lamento decepcioná-lo.
Por Alsibar Paz
10/12/21
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
A PIMENTEIRA (Aroeira): A ÁRVORE DA ILUMINAÇÃO DE KRISHNAMURTI
Ojai é
abençoado com uma abundância de árvores de todas as variedades, mas nenhuma é
mais ilustre do que a velha e retorcida pimenteira na extremidade leste do
vale, onde Krishnamurti teve um nascimento espiritual. Ele tinha 27 anos e a
árvore era apenas uma muda. Krishnamurti teve seu nascimento físico em 1895, em
Madanapalle, uma pequena cidade no sul da Índia, mas seu nascimento espiritual
- aquele que importava para o mundo - ocorreu em 1922, logo depois que ele e
seu irmão chegaram pela primeira vez a Ojai. Quando ele morreu, em 1986, a
árvore havia crescido enorme e pesada e caiu uma noite durante uma tempestade.
Mas suas raízes ainda eram vitais e desde então cresceu magnificamente.
Evidentemente, a árvore é imortal e sua história dura para sempre.
A sequência
de eventos que trouxe Krishnamurti a Ojai abrangeu três continentes e quase um
século. A força motriz neste drama foi Annie Besant, a escritora, oradora e
ativista social que conquistou Londres em 1877. Annie foi a primeira mulher a
se defender perante um tribunal na Inglaterra. Em questão estava o direito de
publicar um pequeno volume, composto por um médico americano, com o título
desarmante de “Frutos da Filosofia”. O subtítulo do livro talvez fosse mais
indicativo de seu conteúdo: “The Private Companion of Young Married Couples”. A
intenção geral de “Frutos da Filosofia” era fornecer as informações mais
precisas então disponíveis para a prática do controle de natalidade.
Besant e seu
associado, Charles Bradlaugh, presidente da Sociedade de Pensamento Livre,
publicaram uma reimpressão de “Frutos da Filosofia” e foram prontamente presos
sob a acusação de disseminação de obscenidade. Eles passaram a noite na prisão.
Após a sua libertação, Bradlaugh implorou a ela que concordasse em interromper
a distribuição de "Frutos da Filosofia". Annie Besant, de 27 anos,
recusou. Ela não poderia ceder diante de uma lei tão manifestamente injusta e
negar às mulheres tais informações essenciais. Ela defendeu seu caso no
tribunal por três dias, examinando o mérito da questão de todos os ângulos -
legal, médico, social e ético. O poder de sua voz falando, juntamente com sua
lógica rígida, a catapultou para a fama. No ano seguinte à sua vitória no
tribunal, “Fruits of Philosophy” vendeu mais de 100.000 cópias.
A carreira
de Besant foi caracterizada por sua eloqüência pública, sua defesa apaixonada
dos direitos das mulheres e sua defesa precoce e poderosa pela independência da
Índia. Ao longo do caminho, ela teve uma longa ligação com George Bernard Shaw.
A maior conquista de sua vida, no entanto, pelo menos em sua opinião, foi sua
liderança na Sociedade Teosófica, começando com sua eleição como presidente em
1907. A Sociedade Teosófica (TS) era uma organização nascente, quase religiosa,
dedicada à irmandade do homem e a descoberta de poderes inexplorados no
universo. Os fundamentos da ST eram ocultos e esotéricos, mas com a visão de
Besant, a Sociedade adotou uma missão decididamente mais prática.
Besant
declarou que o estudo da história revela que a humanidade é guiada nas horas
mais sombrias pela presença de um Instrutor do Mundo, alguém como Jesus ou
Buda, que pode apontar o caminho em direção a uma forma nova e mais elevada de
consciência. Era missão da Sociedade, afirmou ela, descobrir um jovem que
pudesse mais uma vez cumprir esse papel e treiná-lo e alimentá-lo
adequadamente.
Dois anos
depois que Annie assumiu a presidência da ST, ela encontrou o que procurava. Em
1909, Krishnamurti era um menino de 14 anos, o oitavo de onze filhos, que vivia
em bairros primitivos fora do complexo que abrigava a sede internacional da
Sociedade Teosófica, em Adyar, na costa sudeste da Índia, do outro lado do rio
Adyar de Madras . Seu pai era um teosofista que serviu como clérigo para a ST.
Krishna, como era chamado, às vezes brincava na praia à tarde com seu irmão
mais novo, Nityananda. O sócio de Annie, Charles Leadbeater, observou
Krishnamurti ali e declarou que sua aura não continha partícula de interesse
próprio. As investigações clarividentes de Leadbeater nas vidas passadas de
Krishna revelaram uma linhagem ilustre, e em sua próxima visita a Adyar,
Krishna e
Nitya eram inseparáveis, então Annie colocou os dois sob sua proteção. Ela os
levou para a Inglaterra, contra as objeções do pai, onde foram devidamente
alojados, vestidos, ensinados e expostos aos melhores elementos da sociedade
inglesa. Krishna desenvolveu um gosto pela qualidade em roupas e carros, e
adquiriu tal habilidade no golfe que seu handicap estava abaixo do
esperado.
Por mais de
dez anos, Krishna concordou com as expectativas extraordinárias que Annie impôs
a ele. Ele parecia aceitar sem questionar o edifício da ideologia teosófica,
incluindo a crença nos "Mestres ascensionados", uma espécie de
panteão de indivíduos espirituais, residentes no plano astral, que se
interessavam pelos assuntos da humanidade e às vezes exerciam poderes ocultos
para o benefício da humanidade. Krishna carregava o manto de seu futuro
ostensivo com leveza e às vezes até brincava sobre isso entre aqueles de quem
era próximo. Mas ele escreveu artigos para revistas teosóficas, apareceu em
eventos teosóficos e parecia, para todos os efeitos, estar no caminho para
cumprir o destino que Annie traçara para ele.
Sob a
superfície, entretanto, outra realidade estava se revelando. Quando chegou aos vinte
e poucos anos, uma sutil sensação de descontentamento estava se enraizando
dentro dele e, pouco depois de chegar a Ojai, veio à tona de uma forma
altamente incomum.
Dois anos
antes de os irmãos virem para Ojai, Nitya contraiu tuberculose, e sua saúde
tornou-se um motivo de preocupação cada vez maior. Como resultado dos
deslocamentos geológicos causados pela Falha de San Andreas, onde duas placas
continentais estão se movendo inexoravelmente em direções opostas, o Vale Ojai
é torcido em uma orientação leste-oeste. Como consequência, o vale recebe uma
quantidade maior de luz solar do que receberia de outra forma, e sua
proximidade com o oceano e ligeira elevação também contribuem para um clima
mediterrâneo. Por esta razão, o vale foi outrora considerado propício para o
tratamento da tuberculose. AP Warrington, o presidente da seção americana da
ST, recomendou que Krishna e Nitya viessem a Ojai, onde havia uma propriedade
de seis acres, pertencente a uma família teosófica,
Duas
estruturas residenciais existiam na propriedade. Uma era uma longa e rústica
casa de fazenda conhecida como Arya Vihara (residência nobre); o outro era um
prédio menor chamado Pine Cottage. Tinha um quarto e uma sala, um alpendre com
vista para o vale e era ladeado por uma pimenteira jovem.
Quando
Krishna e Nitya chegaram ao porto de São Francisco, a caminho da Austrália, em
julho de 1922, foi a primeira vez que pisaram em solo americano. Acompanhados
pelo Sr. Warrington, eles pegaram um trem para o sul, para Ojai, e se estabeleceram
na propriedade na extremidade leste do vale. Foi também a primeira vez que os
irmãos ficaram por conta própria desde que Krishna fora descoberto, oito anos
antes.
Pouco depois
de sua chegada, Nitya descreveu o vale nestes termos:
Em um vale
longo e estreito de pomares de damascos e laranjais é nossa casa, e o sol
quente brilha dia após dia para nos lembrar de Adyar, mas ao anoitecer o ar
fresco vem da cadeia de colinas de cada lado. Muito além da extremidade
inferior do vale corre a longa e perfeita estrada de Seattle em Washington até
San Diego no sul da Califórnia, cerca de 3.200 quilômetros, com um fluxo
incessante de tráfego turbulento, mas nosso vale permanece feliz, desconhecido
e esquecido, por um a estrada vagueia por dentro, mas não conhece saída. Os
índios americanos chamavam nosso vale de Ojai ou o ninho, e por séculos devem
tê-lo buscado como refúgio.
Duas semanas
depois de chegar a Ojai, Krishna começou a tomar medidas para resolver seu
crescente descontentamento consigo mesmo e com a vida que estava levando. Ele
começou a meditar por meia hora todas as manhãs com a intenção geral, conforme
escreveu em uma carta a um amigo, “para aniquilar as acumulações erradas dos
últimos anos”. No início, ele relatou um bom progresso e afirmou que estava trazendo
um maior senso de harmonia aos vários níveis de sua personalidade. Em poucas
semanas, porém, um conjunto de sintomas bastante perturbador começou a surgir.
O que aconteceu depois disso foi registrado em longos e detalhados relatos
escritos separadamente por Nitya e Krishna; suas lembranças independentes se
encaixam em muitos aspectos, embora uma tenha sido escrita de uma perspectiva
objetiva e a outra conforme os eventos foram vivenciados subjetivamente. A
avaliação geral de Nitya foi que suas vidas mudaram para sempre; como ele
disse: "Nossa bússola encontrou sua estrela guia."
As
dificuldades começaram uma noite com uma dor na nuca de Krishna, e Nitya
observou ali um caroço, como se de um músculo contraído, mais ou menos do
tamanho de uma bola de gude. Na manhã seguinte, os sintomas tornaram-se
sistêmicos e mais agudos. Krishna reclamou de calor escaldante alternando-se
com períodos de tremores intensos. A dor em seu pescoço se espalhava para sua
cabeça e coluna, e às vezes ele ficava incoerente. Ele dormiu a noite toda, mas
os sintomas recomeçaram com ainda mais força no dia seguinte.
Esses e
outros sintomas persistiram por três dias. Na noite do terceiro dia, de acordo
com Nitya, Krishna declarou seu desejo de dar um passeio na floresta:
Agora ele
soluçava alto, não ousávamos tocá-lo e não sabíamos o que fazer; ele havia
deixado sua cama e se sentou em um canto escuro do quarto no chão, soluçando
alto que queria ir para a floresta na Índia. De repente, ele anunciou sua
intenção de dar um passeio sozinho, mas com isso conseguimos dissuadi-lo, pois
não achávamos que ele estivesse em condições de deambulação noturna.
Então,
quando ele expressou um desejo de solidão, nós o deixamos e nos reunimos do
lado de fora na varanda, onde em poucos minutos ele se juntou a nós, carregando
uma almofada na mão e sentando-se o mais longe possível de nós. Força e
consciência suficientes foram concedidas a ele para sair, mas mais uma vez ele
desapareceu de nós, e seu corpo, murmurando incoerências, foi deixado sentado na
varanda….
O sol se pôs
há uma hora e estávamos sentados de frente para as colinas distantes, roxas
contra o céu pálido no crepúsculo que escurecia, falando pouco, e a sensação
veio sobre nós de um clímax iminente; todos os nossos pensamentos e emoções estavam
tensos com uma expectativa estranhamente pacífica de algum grande
acontecimento.
É nesse
ponto que a pimenteira entra em ação. A narrativa de Nitya continua,
Então o Sr.
Warrington teve uma inspiração enviada do céu. Em frente à casa, a poucos
metros de distância, ergue-se uma pimenteira jovem, com folhas delicadas de um
verde tenro, agora carregadas de flores perfumadas, e o dia todo é o 'murmúrio
das abelhas', pequenos canários e brilhantes beija-flores. Ele gentilmente
exortou Krishna a ir para debaixo daquela árvore, mas a princípio Krishna não o
fez, então foi por conta própria.
Evidentemente,
sentar-se sob a árvore teve um efeito notável sobre o estado de espírito de
Krishnamurti e efetivamente pôs fim ao período de três dias de provação e
sofrimento. Na verdade, a árvore parecia precipitar uma culminação
extraordinária para toda a sequência de eventos. Nitya lutou para interpretar o
que ocorreu em termos teosóficos, embora Krishna tenha traduzido em uma
linguagem mais secular. Em qualquer caso, o que aconteceu a seguir agora é
lenda. Continuando com a narrativa de Nitya,
Agora
estávamos em uma escuridão estrelada e Krishna estava sentado sob um teto de
delicadas folhas negras contra o céu. Ele ainda estava murmurando
inconscientemente, mas logo veio um suspiro de alívio e ele nos chamou:
"Oh, por que você não me mandou aqui antes?" Então veio um breve
silêncio.
E agora ele
começou a cantar…. Enquanto Krishna, sob a jovem pimenteira, terminava sua
canção de adoração, pensei no Tathagata [o Buda] sob a árvore Bo, e novamente
senti invadindo o vale pacífico uma onda daquele esplendor, como se novamente
Ele tivesse enviado um bênção sobre Krishna.
Ficamos
sentados com os olhos fixos na árvore, imaginando se tudo estava bem, pois
agora havia um silêncio perfeito, e enquanto olhávamos, vi de repente por um
momento uma grande estrela brilhando acima da árvore ... Inclinei-me e contei
ao Sr. Warrington sobre o Estrela….
No dia
seguinte, novamente, houve uma recorrência do estremecimento e da consciência
semi-desperta em Krishna, embora agora durasse apenas alguns minutos e em
longos intervalos. O dia todo ele ficou debaixo da árvore em Samadhi…. Desde
então e todas as noites ele se senta em meditação sob a árvore.
A descrição
de Krishna do que ocorreu foi escrita alguns dias após os eventos:
No primeiro
dia, enquanto estava naquele estado e mais consciente das coisas ao meu redor,
tive a primeira experiência mais extraordinária. Havia um homem consertando a
estrada; aquele homem era eu mesmo; a picareta que ele segurava era eu; a
própria pedra que ele estava quebrando era uma parte de mim; a tenra folha de
grama era meu próprio ser, e a árvore ao lado do homem era eu mesmo. Quase
conseguia sentir e pensar como o curador de estradas, podia sentir o vento
passando pela árvore e a formiguinha na folha de grama que eu podia sentir. Os
pássaros, a poeira e o próprio barulho faziam parte de mim. Nesse momento, um
carro passou a alguma distância; Eu era o motorista, o motor e os pneus;
conforme o carro se afastava de mim, eu estava me afastando de mim mesmo. Eu
estava em tudo, ou melhor, tudo estava em mim, inanimado e animado, a montanha,
o verme,
Krishna
descreveu a noite do terceiro dia da seguinte forma:
Naquela
noite ... me senti pior do que nunca. Não queria que ninguém perto de mim nem
me tocasse. Eu estava me sentindo extremamente cansado e fraco. Acho que estava
chorando de mera exaustão e falta de controle físico. Minha cabeça estava muito
ruim e a parte superior parecia como se muitas agulhas estivessem sendo
introduzidas….
Eventualmente,
eu vaguei pela varanda e sentei-me por alguns momentos exausto e um pouco mais
calmo. Comecei a voltar a mim mesmo e finalmente o Sr. Warrington me pediu para
ir para debaixo da pimenteira que fica perto da casa. Lá eu me sentei de pernas
cruzadas na postura de meditação. Depois de algum tempo sentado assim, senti
que estava saindo do corpo. Eu me vi sentado com as delicadas folhas tenras da
árvore sobre mim. Eu estava voltado para o leste. Na minha frente estava o meu
corpo e sobre a minha cabeça eu vi a estrela, brilhante e clara….
Havia uma
calma profunda tanto no ar quanto dentro de mim, a calma do fundo de um lago
profundo e insondável. Como o lago, eu sentia que meu corpo físico, com sua
mente e emoções, poderia ser revolvido na superfície, mas nada, nada, poderia
perturbar a calma de minha alma.
Fiquei
extremamente feliz, pois tinha visto. Nada poderia ser o mesmo. Bebi das águas
límpidas e puras da fonte da fonte da vida e minha sede foi saciada. Nunca mais
poderia estar com sede, nunca mais poderia estar na escuridão total. Eu vi a
luz. Toquei a compaixão que cura todas as tristezas e sofrimentos; não é para
mim, mas para o mundo.
Já se
passaram cem anos desde que Krishnamurti foi descoberto na praia de Adyar, e o
significado de sua vida e obra ainda não emergiu totalmente. Sete anos após os
eventos sob a pimenteira, ele se afastou totalmente da Sociedade Teosófica.
Declarando que “a verdade é uma terra sem caminhos”, ele afirmou que nenhuma
organização, por mais benigna que seja suas intenções, poderia ajudar alguém a
descobrir a verdade ou levar uma vida de liberdade psicológica. Ele dedicou o
resto de sua vida a proferir palestras públicas destinadas a elucidar os
contornos da vida diária e da consciência. Ele insistiu que não estava falando
como qualquer tipo de autoridade, espiritual ou não, e fez questão de que suas
próprias experiências, incluindo os eventos sob a pimenteira, não fossem
divulgadas publicamente até o fim de sua vida.
Krishnamurti
morreu de câncer pancreático em Ojai, em sua casa em Pine Cottage, em 1986. A
pimenteira permaneceu como uma sentinela, protetora e acolhedora, o tempo todo.
Alguns anos antes de sua morte, um muro baixo de pedra foi construído ao redor
da árvore para proteger suas raízes e seu enorme tronco. Mesmo assim, em 1994,
a árvore tombou em sua base uma noite no meio de uma tempestade. Em vista de
sua história, os zeladores da árvore se abstiveram de removê-la e ela teve um
renascimento notável. Suas raízes ainda estão vivas e novos ramos e folhas
frescas continuam a crescer até hoje.
O
significado último do que aconteceu a Krishnamurti sob a pimenteira é uma
questão que ocupará as gerações futuras. Foi este um momento crucial em seu
desenvolvimento como o Instrutor do Mundo, como Annie Besant previra que ele se
tornaria? Ou marcou o início de sua ruptura com a Teosofia? Ou, paradoxalmente,
eram os dois? Talvez só a pimenteira saiba com certeza.
Postado em 6
de março de 2015 por Eric Williamson
Fonte:
http://krishnamurti-america.blogspot.com/2015/03/the-tree-where-krishnamurti-was-born.html
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
UMA MATRIX DENTRO DA MATRIX
Há uma
tendência entre os espiritualistas modernos a condenar as crenças tradicionais.
Deus, céu, salvação, fé, oração, virtude, etc. são, muitas vezes, vistos com
desdém. Para eles, acreditar nessas coisas é dormir o sono da Matrix, ou seja,
aquele sujeito ainda não "despertou" do sono da 3D.
Ao longo de
quase quarenta anos de pesquisas e investigações, cheguei à conclusão de que
esses espiritualistas, apesar de condenarem as crenças alheias, também têm suas
próprias prisões conceituais. Senão, vejamos:
A crença no
Deus tradicional, antropomórfico, foi substituída pela crença em uma
"Luz", algo abstrato, amorfo, indefinível, universal, eterno,
onipotente e onipresente. A crença na salvação foi substituída pela crença na
Iluminação - um estado de completa conexão com a luz divina que, quando
alcançado, tornará o sujeito rico, próspero, saudável, bem casado e eternamente
feliz. A crença no diabo medieval foi substituída pela crença na Matrix, em
Maya, nos Arcontes, nos reptilianos e nos iluminates. Os santos tradicionais
foram substituídos pelos gurus, espíritos de luz, deuses com quatro braços e
cabeça de animais, mestres ascencionados, etc.
Não estou
criticando as crenças de ninguém mas apenas apontando que nenhuma crença se
torna melhor do que a outra simplesmente por que uma foi abandonada e a outra
aceita como verdade absoluta; continua sendo crença.
Em suma:
tudo aquilo que não é vivenciado e experimentado é uma crença, seja o que for.
Sei que muitos podem contra-argumentar dizendo que viram os mestres, os ets,
que tiveram contato com eles em sonhos, viagens astrais, viram e ouviram tudo
aquilo que afirmam ser verdade. Mas os manicômios ainda estão cheios de gente
que veem, ouvem e interagem com um monte de coisas imaginárias. Assim, qual
seria a atitude mais sábia?
Não tenha
nada como uma verdade absoluta. E nunca ache que suas crenças são mais
verdadeiras do que as dos outros simplesmente por serem suas. Isso o protegerá
de suas próprias ilusões. Afinal de contas, você não tem como saber até que
ponto você mesmo, com suas crenças, não criou sua própria Matrix dentro da
grande e poderosa Matrix.
(Alsibar
Paz)
29/11/21
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