O maior desafio da espiritualidade “advaita”
-ou de qualquer outra-
não é a renúncia, não é o tal “trabalho”-que
nada mais é do que um meio de autopromoção e status. Não é falar bonito, não é
a tal “compreensão” , não é a tal “iluminação”, nem mesmo o tal “despertar”. O
maior desafio do sábio é ser uma pessoa normal
e comum. Afinal, aceitar os desafios diários, as limitações e dificuldades de
uma vida “normal” não é algo que atraia
o ego.
Mas o que se vê hoje em dia são
pessoas que usam da espiritualidade advaita para autopromoção, status e
respeitabilidade. Arrotam suposta sabedoria ao defender aquilo “que é”, mas
tudo o que menos querem é ser o que são. Querem ser famosos, especiais, bajulados
e adorados. O maior desafio do aspirante advaita é o anonimato e a invisibilidade Isso sim seria um duro golpe
no Ego.
Aceitar o que é- pela própria
definição- significa aceitar sua vida como ela é, as pessoas como elas são, seu ser como ele é, seus pensamentos como eles
são com todas as limitações e deficiências.
É perceber-se pequeno, insignificante e inútil diante do Incomensurável e
nisso descansar, sumir, aquietar-se… observando o vai e vem dos fenômenos dentro e fora de você.
Aquietar não é acomodar. É participar
ativamentee do jogo da vida como sendo um outsider,
sabendo a hora de agir e de não-agir, reconhecendo-se a si mesmo como parte de
todo esse complexo sistema onde todos cumprem um papel e ninguém é mais
importante ou superior a ninguém.
É importante que cada um questione a
si mesmo qual seus objetivos na senda da espiritualidade. O que realmente
querem? Fama, dinheiro, poder? Status? Um meio de ganhar dinheiro no mole? Uma
forma de curar traumas da infância infeliz tornando-se alguém admirado, amado e
respeitado? Uma fuga à própria insignificância? É preciso muita maturidade e
coragem para admitir isso para si mesmo.
O caminho do meio é o caminho mais
difícil .
Tornar-se
monge é relativamente fácil. Ser um escapista é até mesmo glamouroso. Todos
admiram e respeitam quem abdica da própria vida para tornar-se monge ou
sanyasin (renunciante)- isso é –em muitos casos- um alimento para o ego.
Mas
quem admira o homem comum – “ The fool on the hill”- poeticamente e fielmente
retratado na música dos Beatles?
Grandes mestres como Jesus Cristo, Lahiri
Mahasaya, Sri Yukteswar, Krishnamurti , Papaji etc deram exemplos de uma vida
equilibrada. O ideal cristão de “viver no mundo sem fazer parte dele”, o “caminho
do meio” pregado por Buda, a “aceitação do que é” de Krishnamurti e mestres
advaitas, o “agir pelo não-agir” de Lao Tsé, “ O agir sem apegar-se aos frutos
da ação” de Krishna- tem a mesma natureza semântica, o mesmo significado, o
mesmo sentido.
Em suma, encontrar o ponto de
equilíbrio entre a vida espiritual (quietude) e a vida social (ativa) é o maior
de todos os desafios.
Alsibar
alsibar.blogstpot.com