domingo, 23 de fevereiro de 2014

SOBRE GURUS E FALSOS GURUS-TUDO QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SABER


O blog  “Alsibar” está alcançando o total de  100.000 visitações. Ao longo desses  quase três anos , percebi que os artigos que mais fizeram sucesso foram os mais polêmicos, principalmente aqueles sobre gurus famosos. Como muita gente me manda emails com perguntas específicas sobre os gurus, ou faz comentários nos posts me taxando de “fofoqueiro”, “caça-gurus”, “caça-defeitos”, “invejoso” e coisas parecidas, resolvi esclarecer de uma vez por todas minha opinião pessoal sobre o tema. Minhas opiniões não são verdades absolutas e acredito que esse seja um dos motivos do sucesso deste blog.  Além de informar, refletir e investigar, aqui também é um espaço virtual para  a livre expressão, discussão e debates de ideias. Agradeço a todos que entenderam essa proposta e que nos prestigiam . Muito obrigado!

Como eu escrevi na epígrafe acima, muita gente me envia emails, faz comentários no blog  e nas redes sociais me perguntando sobre este ou aquele guru específico. Algumas dessas pessoas são até mal educadas . Um tal de “ Consciência Cósmica” chegou a me ameaçar com o julgamento dos “Mestres” por causa do meu posicionamento . Finalmente, escreveram um trecho de uma fala de um guru no meu último post insinuando atitudes que não correspondem à realidade. Como vejo que há muita confusão e mal entendidos, resolvi escrever um artigo só com minha opinião acerca de alguns desses assuntos. Vou tentar abordar as perguntas mais comuns, de forma que meu posicionamento fique definitivamente esclarecido. Vamos por partes.

O GURU VERDADEIRO E O GURU FALSO

Sim, acredito que há gurus verdadeiros e falsos . Estes últimos são os falsos profetas citados por Jesus. Na primeira categoria, estão os  verdadeiros mestres , sábios e iluminados. E na segunda, os fajutos, picaretas e exploradores. Sempre existiram líderes mal intencionados em todas  as épocas movimentos, organizações e religiões. Não só nas grandes religiões, mas também em pequenos movimentos alternativos e desconhecidos. Há pessoas mentirosas e hipócritas em todas as esferas da sociedade, assim como há também pessoas iluminadas, boas, sinceras e honestas . É o tal “trigo e joio" falado por Jesus. Quem é quem? Não dá pra saber. Não é nosso trabalho julgar ninguém. Minhas opiniões pessoais acerca de A ou B não são verdades absolutas e - por isso- podem estar erradas. Mas elas são baseadas naquilo que vivo, leio, vejo, e analiso.

SOBRE OS GURUS ADVAITAS (Não-Dualistas)

Esquerd.. p. direit: Ramakrishna, Ramana, Papaji, Nisargadatta
Gosto dos gurus advaitas que não estão mais fisicamente presentes: Shankara, Ramakrishna, Ramana, Nisargadatta e Papaji. Destes, me identifico mais com Papaji tanto por sua mensagem - simples, prática e direta -quanto por sua vida. Nos relatos biográficos, dizem que mesmo depois de se “iluminar” , Papaji continuou trabalhando e cuidando do sustento de sua família. Somente depois de se aposentar que ele passou a se dedicar totalmente ao trabalho espiritual. Por outro lado, não simpatizo muito com os gurus advaitas vivos- principalmente os brasileiros pois - ao contrário de Papaji - a grande maioria dos gurus advaitas vivos tornaram a espiritualidade um meio de vida. Vivem da exploração da fé, da carência emocional e espiritual dos seus seguidores. Fortalecem e alimentam o apego e a dependência psicológica dos seus seguidores . Fazem de tudo para eles não se libertarem  e assim, deixem de ir aos tais satsangs - sua principal fonte de renda. Não vejo diferença entre isso e a venda de indulgências da Igreja Católica na Idade Média. É a mesma coisa com outra roupagem: a graça,  o céu , o nirvana etc é para os que tem (muito) dinheiro.

SOBRE OS (FALSOS) GURUS

Não é fácil identificar o falso guru.
Não tenho nada contra ninguém. Acredito que mesmo os falsos gurus cumprem um papel importante no sentido de ajudar as pessoas a compreender algumas verdades- mesmo que depois se decepcionem. Mas até isso faz parte da caminhada evolutiva. Pessoalmente não tenho nada contra ninguém. Cheguei, inclusive, a visitar um guru de passagem aqui por Fortaleza, assisti sua palestra com toda atenção e respeito  . Ao final da palestra, nos cumprimentamos e trocamos cordialidades. Sei diferenciar a "pessoa real" do personagem "guru". Quando estou na frente de um guru, vejo um ser humano igual a todos os outros -merecedor do meu respeito e cordialidade. Só não me peça para ser discípulo de ninguém. Ou que eu os defenda ou siga. Afinal, todos são seres humanos- gurus e não gurus- sejam eles verdadeiros ou não. Existem dois tipos de falsos gurus: os que  realmente acreditam ser iluminados porque tiveram algum tipo de experiência "mística" tal como um sonho, visão, alucinação ou coisa parecida- estes são casos de psiquiatria. E há aqueles que se tornaram guru porque perceberam o quanto é fácil enganar as pessoas e por isso exploram e enganam de forma consciente e pensada- estes são casos de polícia. Difícil é diferenciar quem é quem.

SOBRE O OSHO

Osho, polêmico na vida e na morte
Definitivamente não tenho nada contra o Osho- lamento que tenha tido um fim tão trágico. Fui seu admirador e defensor durante boa parte de minha vida. Mas quando estouraram os fatos de Óregon, que culminaram com sua fuga, prisão e morte misteriosa, fiquei com a “pulga atrás da orelha”. Mesmo daqui de Fortaleza as notícias oficiais que nos chegavam não eram confiáveis, pelo contrário, eram confusas e suspeitas. Comecei a desconfiar que algo estava errado. Alguns de seus discursos dessa época destoam dos discursos do começo de sua carreira e mostram um Osho completamente diferente e estranho. Muito tempo depois desses ocorridos, descobri o artigo do Christopher Calder- um ex-discípulo do Osho que resolveu contar ao mundo uma nova versão da vida deste famoso guru. Calder esclareceu muita coisa baseado não somente em seu próprio testemunho- mas no de outros ex-discípulos, indícios, reportagens, fotos, depoimentos etc. Com este artigo, muita coisa se esclareceu e começou a fazer sentido. Além do mais, comecei a desconfiar dos ensinamentos do próprio Osho . Percebi que eram palavras bonitas, belas , poéticas e de efeito, que tinham como objetivo encantar, hipnotizar, convencer e fazer discípulos. Compreendi que nem sempre as palavras bonitas e inspiradoras são verdadeiras. E na maioria das vezes não são.  Palavras verdadeiras são duras . As de Osho  não tinham um fim didático. Não objetivavam a libertação: mas a prisão do leitor ou ouvinte ao seu rebanho. Hoje vejo o Osho como uma incógnita, um mistério que dificilmente será desvendado. Restam apenas dúvidas, indícios, incertezas e hipóteses.

Tenho algumas hipóteses sobre ele:

1.Osho não era iluminado mas apenas um homem muito inteligente, hipnotizador e ótimo orador - isso explicaria toda sua história de extravagância, ganância, megalomania e as tragédias de sua vida: o fracasso da comuna , o suicídio de Vivek- seu grande amor- e seu suposto suicídio um mês depois.
2. Osho era iluminado, mas se perdeu ao longo de sua trajetória. Ou seja, era iluminado mas se perdeu,  fraquejou, caiu- como aconteceu com o mito bíblico da queda dos anjos.
3. Osho era iluminado e continuou iluminado até sua morte trágica. O que aconteceu é que mesmo os iluminados podem enlouquecer- e mesmo assim- continuar sendo iluminado.
4. Foi tudo mentira do Calder, do Milne e dos outros ex-discípulos que o denunciaram. Todas as provas e indícios foram uma farsa montada pelo governo americano para destruí-lo e matá-lo- juntamente com sua amada Vivek. 

Que ninguém me “apedreje” por ter uma opinião, uma hipótese… mas fico com a primeira. E aceito que discordem de mim. E também defendo o direito de cada um ter a sua. Mas registro aqui que reconheço a importância do Osho no que tange à espiritualidade humana moderna- ele ajudou a abrir e expandir os horizontes espirituais de muita gente- inclusive o meu.

SOBRE GURDJIEFF

George I. Gurdjieff
Um grande líder e divulgador dos ensinamentos espirituais das sociedades secretas com os quais tivera contato – mas não era um "desperto". E se era- caiu , desvirtuou-se ao longo do caminho. Suas ações estavam longe de manifestar o que pregava. Ele mesmo confessou ter usado seus poderes de telepatia e hipnose para tirar vantagens pessoais e seduzir mulheres .  No final da vida, ele se arrependeu , entrou em crise existencial e acabou tendo um fim trágico. Sua vida e ensinamentos influenciaram várias pessoas- inclusive o Osho. Ele foi um grande divulgador das Verdades Eternas mas estas não eram suas e ele próprio não conseguiu vivê-las.

SOBRE JIDDU KRISHNAMURTI

J. Krishnamurti: um iluminado, apesar dos deslizes
J.Krishnamurti foi um verdadeiro "guru" no sentido estricto do termo: "aquele que dissipa a escuridão" - não no sentido em que ela é atualmente usada .Ele foi um dos mestres que mais me influenciou. Nos piores momentos de minhas crises existenciais foram às suas palavras que recorri- encontrando de pronto a resposta e a luz que eu precisava. Acho que Krishnamurti foi um iluminado, apesar de seus defeitos e deslizes- como o caso amoroso com a esposa do seu secretário particular. Apesar de considerá-lo o mestre que mais revolucionou a história da espiritualidade humana moderna- não sou seu seguidor- nem muito menos "krishnamurtiano". Desde muito tempo que o tenho como  um dos referenciais espirituais mais seguros e confiáveis . Tenho ainda muita admiração e gratidão por ele, por seu trabalho, ensinamentos e por tudo que ele representa .  Apesar disso, tenho minhas próprias opiniões sobre uma série de coisas que com certeza K. reprovaria. Ele não se arvorava em autoridade nenhuma- deixou para nós a liberdade para investigar a Verdade por nós mesmos, acreditando em nossa própria capacidade e  luz interior. Se hoje procuro manter-me independente, autônomo e livre- agradeço principalmente a sua influencia e a de Buda.

SOBRE UG KRISHNAMURTI

U. G. : ex-ouvinte e admirador de JK.
Muita gente o considera um imitador do Jiddu. Mas a verdade é que Upalluri Gopalla Krishnamurti sempre teve sua vida ligada de alguma forma ao Jidu Krishnamurti. Quando nasceu, seu pai -teosofista e espiritualista -deu-lhe este nome em homenagem ao grande  J.K. Quando cresceu, tornou-se ouvinte assíduo das palestras do J. K.  até que um dia se “iluminou” durante uma de suas conferências. Diz-se que Upalluri alcançou um estado diferenciado de consciência. O próprio UG o denominou de “Calamidade”- devido a natureza dolorosa do misterioso fenômeno. Não teve discípulos nem criou nenhuma organização, movimento  ou sociedade.  Tudo indica que realmente se libertou da opressão dos pensamentos. Através de UG, podemos perceber que o fenômeno da iluminação não pode ser descrito, idealizado ou imaginado- é algo sempre novo, diferenciado, subjetivo e singular. J. Krishnamurti já afirmava isso usando outras palavras. Penso que UG realizou em vida os ensinamentos de JK. Depois, teve que se libertar do mestre, cortando totalmente as ligações com o passado- pelo menos no nível consciente. Inconscientemente, seus ensinamentos são ecos dos de  JK. Há algumas diferenças apenas na forma de expressão. Gosto do UG e acho que sua experiência pode ajudar na compreensão de nossa própria jornada espiritual.

SOBRE A DEPENDÊNCIA DOS GURUS

Isso sim sou contra. Sejam eles verdadeiros ou não. A relação de dependência e obediência cega ao guru é uma das fases da jornada que deve ser ultrapassada se a pessoa quiser crescer e evoluir. Do contrário o próprio guru - que um dia lhe tirou da prisão da mente, da depressão, ou ego- se torna, ele próprio, outra prisão. Todavia, não sou contra a gratidão, o reconhecimento etc. Pelo contrário, acho importante a gratidão e o reconhecimento àqueles que gratuitamente ajudam as pessoas que ainda penam e tateiam ao longo do caminho espiritual.

SOBRE AS RELIGIÕES TRADICIONAIS E SEUS LÍDERES

Apesar de achar que todo mundo deva ser livre, sei que as religiões tradicionais, com seus líderes religiosos, padres e pastores- cumprem uma importante missão no mundo: ajudar as pessoas a sair de uma vida desregrada e materialista, apontando-lhes os primeiros sinais da luz espiritual. Sei que sem essa ajuda muita gente estaria no crime, nas drogas ou depressão. Compreendo que cada um cumpre um papel importante- todos sem exceção. Inclusive este blogueiro. Mas isso não livra ninguém da parcela de culpa que lhe convém. Cada líder religioso deve responder por seus atos  e atitudes perante o tribunal da consciência. Em todo lugar existe gente boa e bem intencionada- assim como pessoas desonestas e falsas.

SOBRE O DISCURSO ADVAITA ( NÃO-DUALISTA)

Sou a favor da visão advaita com algumas reservas- mas sou totalmente contra sua manipulação por parte de pessoas que se apoderam do discurso, tornando-o apenas mais uma “coisa” vendável. Usam-no mais como uma forma de aparecer e se projetar socialmente- do que uma prática de vida. Falta vivência, sobram os discursos e a deplorável exploração comercial dos satsangs.

SOBRE SATSANGS

Nas tradições hindus é comum a adoração ao guru
Sou à favor de satsangs ( encontro com a "verdade") gratuitos ou com contribuições voluntárias. Sou contra satsangs pagos e caros. Compreendo os  de preço justo. Todavia o que se vê atualmente é a espiritualidade sendo transformada em negócio e – em alguns casos- exploração. Satsang não é show e guru não é celebridade- apesar de todo esforço de seus colaboradores de querer transformá-los em mega-stars e mitos  espirituais, essa prática mercantilista reduz a espiritualidade a uma mercadoria de luxo acessível apenas aos "eleitos" pagantes. Cria-se assim a indústria dos satsangs, que precisa lucrar cada vez mais para expandir e crescer. Os seguidores dos gurus se justificam dizendo que tem que cobrir os custos da viagem, hospedagem etc etc. Ora, é só não viajar. Fazer em casa mesmo, como fazia Nisargadatta e Ramana. Pra que viajar ? Não faz sentido. Se, como dizem, "Tudo já é perfeito e nada precisa ser mudado. Não há nada a ser ensinado e não existe ninguém aí para aprender"… então pra que viajar e cobrar caro pelas entrevistas pasticulares?

Espero que agora tenha ficado clara minha posição sobre os assuntos mais polêmicos ao longo desses anos. Só me resta agradecer a todos que participaram do blog com perguntas, comentários e críticas. Não tenho a Verdade absoluta e não julgo ninguém em particular. Deus é que conhece o coração de cada um. Mas também não se pode fechar os olhos aos fatos ou à Verdade-seja ela qual for, seja sobre quem for. Não há ninguém acima do bem e do mal. Todos estão sujeitos a falhas, quedas, deslizes e erros- inclusive eu.

Um fraterabraço a todos!

Muito obrigado!

Namastê!
Alsibar
htt://alsibar.blogspot.com



domingo, 16 de fevereiro de 2014

O EGO DOS ILUMINADOS - The ego of the Enlighted Ones


É lamentável o desserviço que alguns gurus advaitas fazem à espiritualidade humana ao pregar a inexistência do ego. Quem prega o contrário- a existência- também presta outro desserviço. Como assim? Leia o artigo abaixo para compreender esse paradoxo  e depois tire suas próprias conclusões.
Boa leitura!

A corrente espiritualista neo-advaita (novos-monistas) composta de seguidores de gurus defensores da crença do “não existe ninguém aí” presta um desserviço à humanidade ao apregoar a inexistência do ego. Não entendem, ou não querem entender , que o ego é parte constitutiva do ser humano manifesto no corpo e na mente e que – por isso- não há como libertar-se dele. Talvez, ele cesse completamente com a morte do corpo físico... talvez. O mais provável é que continue existindo mesmo após ela.  E, tudo indica que, mesmo aqueles que chamamos de "despertos" tenham que conviver com sua incômoda companhia. Entende-se assim, que o ego é vencido, dominado, controlado - mas nunca destruído.


As alucinações existem ou não existem?

Uma das questões mais difíceis é compreender o paradoxo sobre a existência do ego. Como compreender que o ego existe e não existe ao mesmo tempo? Vamos a alguns exemplos: uma miragem no deserto existe? Ela não existe de fato, mas existe aos olhos de quem vê e – por isso- pode causar problemas se a pessoa não perceber a diferença. Ou seja, a miragem existe- mas não o que ela representa. Outro exemplo: um sonho existe? Se dissermos que não existe então ninguém sonha? Portanto os sonhos existem-mas como sonhos, dentro de uma realidade subjetiva – existente apenas na mente de quem dorme- não no nível concreto. Mais um exemplo, já usado pelos budistas e imitados pelos advaitas : um homem acorda e pisa numa corda achando que é uma cobra- a cobra existe? Não. Mas a visão da cobra existe? Sim. Então ambos são reais. Tanto a corda, como a visão da cobra. Negar a existência da visão da cobra é negar o fato da alucinação.  Ora, os psicóticos veem o que não existe- mas não se pode negar a existência de suas alucinações - do contrário quem procuraria tratar-se? As visões existem no plano subjetivo da mente doentia- mas não no plano da realidade concreta.

 Não seria exagero dizer que a  mente humana comum - quando  comparada a de um Buda- sofre de uma espécie de doença mental, uma psicose chamada egolatria, ignorância, ilusão. Assim, afirmar que o ego não existe é negar um problema fundamental no caminho da espiritualidade: que o ego, apesar de não ter existência substancial, ele existe enquanto persistir a doença da ignorância. Ora, se a pessoa  se considera liberta da “ilusão” do ego-sem realmente estar- isso apenas perpetua  e fortalece a atuação dele. Com isso, a pessoa não toma consciência de sua prisão e, consequentemente, não trabalha interiormente para libertar-se.

Outro engano é achar que apenas a desindentificação com os pensamentos é o bastante para promover a libertação do ego. Isso é o começo de um processo de desconstrução. O ego é uma estrutura milenar e intrínseca ao ser humano. A desindentificação com os pensamentos é um passo importante- mas não é tudo. Representa apenas o começo de uma jornada. O problema é que ao chegar nesse nível muita gente pensa: " pronto, estou livre, agora posso gozar e ser feliz!". É comum ver esse tipo de testemunho em sites, posts e comentários de pessoas supostamente "libertas" que vendem essa imagem para o mundo, geralmente para promover satsangs.


A libertação do ego talvez nunca venha nesta vida- e reconhecer isso  é de grande importância. Os pensamentos são apenas das partes, dentre as várias que compõe a  complexa estrutura do eu. Além dos pensamentos existem os desejos, os sentimentos, as emoções, as tendências pessoais, os conteúdos inconscientes individuais e coletivos etc etc. Se realmente não existisse ego por que uma pessoa gritaria para o mundo que é um “Desperto” – se autopromovendo? E  para que seus discípulos ficariam dando testemunhos- como se quisessem convencer a si mesmos e aos outros de que estão livres e felizes? A ausência do ego não seria- por definição- o fim de toda atitude ego-centrada? Não se parece isso uma grande contradição?

Krishna: o ego pode ser amigo ou inimigo
Ora, até os seres iluminados mais famosos da história deram sinais de que ainda possuíam  ego- todavia de uma maneira controlada. A mente não existe como algo separado. Ela faz parte de um fluxo universal que Jung chamou de Inconsciente Coletivo. E todo mundo que tem uma mente está ligado a este fluxo que, dentre outras coisas, é composto de elementos simbólicos, culturais, e históricos resultados de experiências e vivencias tanto individuais quanto coletivas. Jesus chorou, se enraiveceu, lutou contra os escribas e fariseus- inclusive humilhando-os em praça pública.  Krishnamurti se irritava publicamente e teve um caso com a mulher do seu secretário particular. E mesmo Ramana- que tentou representar a anulação absoluta do ego e suas partes constitutivas- ainda estava preso ao ego por sua atitude extremada de negação e passividade diante da vida. O próprio Krishna diz no Bhagavad-Gita : “O ego é o pior inimigo do Eu, mas o Eu é o melhor amigo do ego... O ego é um péssimo senhor, mas é um ótimo servidor." Claro está que o Ego continua existindo- mas controlado, não mais como senhor- mas como servo.

Alguns seguidores da visão “neo-advaita” acham que apenas a supressão dos pensamentos  “eu” e “meu” basta para libertar a Consciência do ego. Esquecem que esta é apenas uma pequena parte da porção intelectual do EGO. Além desta, o ego também tem sua parte emocional , instintiva e inconsciente. Essas continuam atuando mesmo na ausência dos pensamentos. Na verdade, ao se negar o pensamento o que acontece? São reprimidos e jogados para o inconsciente- mas isso não extingue-os de verdade. O ego continua agindo na surdina , por debaixo dos panos. Sua atuação passa a ser mais sutil e – por isso mesmo- mais perigosa uma vez que dificilmente será detectada.

 Por isso, você que é um buscador sincero da verdade, não se deixe enganar pelas palavras floridas e frases de efeitos dos gurus. Não acredite em nada em que se diz por aí- nem aqui- principalmente se pedirem  “entrega”, ou “rendição”- pois é aí onde mora o perigo. Quando a “guarda” baixa, seu ego é enfraquecido- mas não por que você se liberta dele- mas por que o seu “ego” passa a ser escravo do guru e da organização, grupo ou movimento que ele representa. Eles dizem :" não acredite em nada que você lê, não acredite na sua mente, nem nos seus pensamentos. Entregue-se. Renda-se!". E então cai-se vítima de uma prisão maior ainda. Pois se antes havia a consciência de se estar preso à ignorância do ego e precisava dele libertar-se, ao render-se ao guru a pessoa continua presa- pensando estar livre- tornando a libertação algo cada vez mais distante e irrealizável.


A maior artimanha do ego é fazer a pessoa crer que ele não existe, que nunca existiu, ou que existia e depois deixou de existir. Seja livre e veja a verdade por si mesmo. Esse artigo é apenas um “cutucão”  para que você acorde de seu sono, de suas verdades, de suas ilusões e prisões- mesmo aquelas pregadas pelos gurus e que você aceita como verdadeira por que elas lhes dão uma gostosa sensação de conforto e felicidade .  A verdade pode não ter nada a ver com isso. Como poderás saber se não a encontrares por si mesmo, sem gurus , sem organizações ou grupos?

Pense nisso e depois não diga que ninguém o avisou!

Namastê!
Alsibar

http://alsbibar.blogspot.com