O
livre-arbítrio é um dos assuntos mais complexos e difíceis de serem
abordados. Dizer que não existe livre-arbítrio seria o equivalente a dizer que
somos todos joguetes de forças superiores — tais como bonecos — o que
significaria tirar a responsabilidade
por nossas ações. Por outro lado, afirmar que existe um livre-arbítrio
incondicional e absoluto seria, da mesma forma, negar as forças reguladoras do
equilíbrio universal abrindo caminho para o caos. Assim sendo, como entender
essa questão?
Jesus disse certa
vez: “ Até o cabelo de vossas cabeças estão contados”. O que aponta para a
ideia de que existe uma força suprema controlando/coordenando tudo do
macrocosmo ao microcosmo. E, de fato, não é difícil perceber que em todo o
universo há um princípio inteligente que parece coordenar e manter todas as
coisas através de leis matemáticas perfeitas e exatas. O sábio Ramana Maharshi
disse certa vez que “ Aquilo que não estiver destinado a acontecer, não acontecerá—
não importa o quanto você tente. E aquilo que estiver destinado a acontecer,
acontecerá não importa o quanto você
faça para evitar”. Na tradição hindu, essa Lei é chamada de carma. Então, se
tudo, de uma certa forma já está programado para acontecer ou não acontecer,
onde fica livre-arbítrio?
Como eu já citei, o livre-arbítrio total e
absoluto não existe. O que existe é uma “margem de liberdade”, por exemplo,
quando precisamos fazer algumas escolhas. Apesar de acreditarmos que escolhemos
livremente, nossas vontades estão condicionadas por uma cadeia de causas e
efeitos. É através dessas escolhas que a
vida nos testa, impulsionando ou não o processo evolutivo. É como quem vai por
uma estrada que de repente se divide em duas e você tem que escolher por qual
delas seguirá. Nem sempre escolhemos a certa — mas mesmo a “errada” servirá
para nós como uma importante lição no futuro. Mas, ao contrário, quando
escolhemos a “certa” então nossa vida pega um novo impulso rumo ao despertar.
Sendo assim, quando não tomamos uma atitude que lá no fundo sabemos ser a
correta, por medo ou covardia, por exemplo, é como se traíssemos nossa alma e , lá na frente, veremos o quanto
fomos tolos. Em suma, as nossas escolhas são “pré-determinadas” por forças
cármicas que nós mesmos colocamos em ação.
Vou usar meu
próprio exemplo para ilustrar essa questão. Quando completei oito anos de
casado, em um casamento desgastante e sem sentido, vi que tudo que eu estava
vivendo tinha sido resultado de meus próprios desejos imaturos. Eu mesmo operei
aquelas forças que se voltavam contra mim em forma de dor, angústia e
infelicidade. Diante de situações como essa, cada um reage de uma forma
diferente: alguns se acomodam, outros piram, adoecem, cometem besteiras, etc.
Mas eu me voltei para um poder maior que eu sabia existir e que era o único que
poderia me livrar daquela escravidão. Então, pedi a Deus com todo o fervor e
sinceridade do meu coração para que me libertasse daquela situação dolorosa. E
, assim aconteceu. No outro dia, eu estava me sentindo forte o bastante para me
desfazer daquele casamento infeliz. Ou seja, o carma não é uma lei irredutível.
Há forças mais poderosas do que ele que o homem precisa aprender como “controlá-las”.
Na verdade, ninguém controla nada, mas você aprende como usar uma força maior
para anular a ação de uma lei menor.
O carma não
pré-determina as ações, ele apenas as condiciona. Se tudo já fosse determinado
de antemão não haveria chances de salvação — todos estariam condenados para
sempre. Afinal, em uma corrente fixa de causas e efeitos não há possibilidade
de libertação. A realidade, porém, é outra: causas e efeitos podem ser
transformados pela intervenção de forças superiores ao carma. De fato, quando o
homem se conecta com sua luz interna — seja através da oração, meditação,
compreensão, ação, etc. — ele atua nas raízes profundas do carma e, então, sua
vida começa a mudar. No entanto, caso o sujeito não busque meios para mudar a
si mesmo, o carma não mudará e , assim, os efeitos também não mudarão, levando
o sujeito a viver preso em uma cadeia de fenômenos recorrentes e repetitivos.
No fundo, precisamos ter a ilusão do livre arbítrio
pois, sem ela, não amadureceríamos como seres humanos. É através do sentido do
livre-arbítrio que desenvolvemos valores como razão, prudência,
responsabilidade, discernimento, compaixão, etc. Além disso, quanto maior a
liberdade, maior a responsabilidade. Aprender a equilibrar esses dois é um dos
maiores desafios da escalada humana rumo ao despertar. Essas virtudes precisam
de liberdade para serem desenvolvidas. Do contrário, não terão os alicerces que
lhe dão vitalidade e sentido. Em outras palavras, as pessoas precisam acreditar
que são livres para que possam fazer o uso correto e responsável dessa
liberdade e, assim, evoluírem espiritualmente. Mas nada está totalmente solto e
ao acaso.
Pouca gente sabe,
mas Krishnamurti tinha um forte sentido de proteção de que nada, nenhum tipo de
mal poderia atingi-lo. E, de fato, ao
longo de sua história sabe-se de, pelo menos, três vezes que tentaram matá-lo —
sem sucesso. Em suma, lá no fundo, ele sentia que era protegido por forças
superiores que cuidavam para que sua missão pudesse ser cumprida com êxito.
Mas, Jesus, ao
contrário, já sentia o que viria pela frente e que, por mais que tentasse, não
iria se livrar do destino que o aguardava. Além disso, tentaram pegá-lo
várias vezes antes de “sua hora” mas
forças desconhecidas o protegiam da cólera violenta dos seus algozes. Ao
chegar sua hora, no entanto,
qualquer esforço no sentido contrário
seria em vão.
O livre-arbítrio,
portanto, está atrelado à outras forças como carma, dharma, etc. Em suma, você tem o livre-arbítrio, mas ele é limitado
e comandado por leis que estão muito além de nossa compreensão. Ou seja, o
livre-arbítrio incondicional é apenas uma ilusão. Sem essa ilusão, o ser humano
não daria vazão aos seus extintos e impulsos primitivos pois não se sentiria
livre para fazê-lo. Já, com a ilusão da liberdade, ele , equivocadamente,
considera que pode fazer o que quiser, com quem quiser e que isso não lhe trará
consequências. Todavia, ele só faz aquilo que lhe é permitido fazer. Já aquilo
que não lhe for permitido, ele não faz .
Entretanto, o próprio sujeito não percebe esse jogo e, por isso, sofre. E
enquanto não se der conta de que sua vida e ações estão sendo comandadas pelas
forças internas ocultas e desconhecidas do inconsciente ( carma) — ele não
encontrará a paz e a verdadeira
liberdade.
Mas, ao contrário, ao compreender que ele
mesmo é sua prisão, então ele começa a se libertar dos condicionamentos do
passado, do nascimento, da genética, das experiências e de outras encarnações — caso haja — que criam as
tais “vássanas” ou tendências inatas. E,
assim, ao começar o processo de libertação dessas forças limitantes, o homem vai se conectando com os poderes da luz dentro
de si. Dessa forma, ele liberta-se das forças opressoras do carma e se conecta
com um Poder Maior, que Jesus chamava de Pai e que Krishnamurti chamava de Suprema
Inteligência. É nessa mudança profunda de paradigma que o homem finalmente se
liberta dos seus algozes internos.
O homem livre é aquele que libertou-se das
garras do seu próprio ego. Dai por diante, haverá total harmonia e equilíbrio
em sua vida e um sentido de liberdade cujas palavras não podem exprimir.
( Alsibar Paz)
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