O blog “Alsibar” está alcançando o total de 100.000 visitações. Ao longo desses quase três anos , percebi que os artigos que
mais fizeram sucesso foram os mais polêmicos, principalmente aqueles sobre
gurus famosos. Como muita gente me manda emails com perguntas específicas sobre
os gurus, ou faz comentários nos posts me taxando de “fofoqueiro”,
“caça-gurus”, “caça-defeitos”, “invejoso” e coisas parecidas, resolvi
esclarecer de uma vez por todas minha opinião pessoal sobre o tema. Minhas opiniões não são verdades absolutas e acredito
que esse seja um dos motivos do sucesso deste blog. Além de informar, refletir e investigar, aqui também é um espaço virtual para a livre expressão, discussão e debates de ideias. Agradeço
a todos que entenderam essa proposta e que nos prestigiam . Muito obrigado!
Como eu escrevi na epígrafe acima,
muita gente me envia emails, faz comentários
no blog e nas redes sociais me perguntando sobre este ou aquele guru específico. Algumas dessas pessoas são até mal educadas . Um tal de “ Consciência Cósmica” chegou a me
ameaçar com o julgamento dos “Mestres” por causa do meu posicionamento . Finalmente, escreveram um trecho de uma fala de um guru no meu
último post insinuando atitudes que não correspondem à realidade. Como vejo que
há muita confusão e mal entendidos, resolvi escrever um artigo só com minha
opinião acerca de alguns desses assuntos. Vou tentar abordar as perguntas mais
comuns, de forma que meu posicionamento fique definitivamente esclarecido. Vamos por
partes.
O GURU VERDADEIRO E O GURU FALSO
Sim, acredito que há gurus verdadeiros e falsos . Estes últimos são os falsos profetas citados por Jesus. Na primeira categoria, estão os verdadeiros mestres , sábios e iluminados. E na segunda, os fajutos, picaretas e
exploradores. Sempre existiram líderes
mal intencionados em todas as épocas movimentos, organizações e religiões. Não só nas
grandes religiões, mas também em pequenos movimentos alternativos e
desconhecidos. Há pessoas mentirosas e hipócritas em todas as esferas da
sociedade, assim como há também pessoas iluminadas, boas, sinceras e honestas . É o tal “trigo e joio" falado por Jesus. Quem é quem? Não dá pra saber. Não é
nosso trabalho julgar ninguém. Minhas opiniões pessoais acerca de A ou B não são verdades
absolutas e - por isso- podem estar erradas. Mas elas são baseadas naquilo que vivo, leio, vejo, e analiso.
SOBRE OS GURUS ADVAITAS (Não-Dualistas)
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Esquerd.. p. direit: Ramakrishna, Ramana, Papaji, Nisargadatta |
Gosto dos gurus advaitas que não
estão mais fisicamente presentes: Shankara, Ramakrishna, Ramana, Nisargadatta e Papaji. Destes, me
identifico mais com Papaji tanto por sua mensagem - simples, prática e direta -quanto por sua vida. Nos relatos biográficos, dizem que mesmo depois de se
“iluminar” , Papaji continuou trabalhando e cuidando do sustento de sua família.
Somente
depois de se aposentar que ele passou a se dedicar totalmente ao trabalho espiritual. Por outro
lado, não simpatizo muito com os gurus advaitas vivos- principalmente os
brasileiros pois - ao contrário de Papaji - a grande maioria dos gurus advaitas
vivos tornaram a espiritualidade um meio de vida. Vivem da exploração da fé,
da carência emocional e espiritual dos seus seguidores. Fortalecem e alimentam
o apego e a dependência psicológica dos seus seguidores . Fazem de tudo para eles não se libertarem e assim, deixem de ir aos tais satsangs - sua principal fonte de renda. Não vejo diferença entre isso e a venda de indulgências da Igreja
Católica na Idade Média. É a mesma coisa com outra roupagem: a graça, o céu , o nirvana etc é
para os que tem (muito) dinheiro.
SOBRE OS (FALSOS) GURUS
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Não é fácil identificar o falso guru. |
Não tenho nada contra ninguém.
Acredito que mesmo os falsos gurus cumprem um papel importante
no sentido de ajudar as pessoas a compreender algumas verdades- mesmo que
depois se decepcionem. Mas até isso faz parte da caminhada evolutiva.
Pessoalmente não tenho nada contra ninguém. Cheguei, inclusive, a visitar um guru
de passagem aqui por Fortaleza, assisti sua palestra com toda atenção e
respeito . Ao final da palestra, nos cumprimentamos e trocamos cordialidades. Sei
diferenciar a "pessoa real" do personagem "guru". Quando estou na frente de um guru, vejo um ser
humano igual a todos os outros -merecedor do meu
respeito e cordialidade. Só não me peça para ser discípulo de
ninguém. Ou que eu os defenda ou siga. Afinal, todos são seres
humanos- gurus e não gurus- sejam eles verdadeiros ou não. Existem dois tipos de falsos gurus: os que realmente acreditam ser
iluminados porque tiveram algum tipo de experiência "mística" tal como um sonho, visão, alucinação ou coisa parecida- estes
são casos de psiquiatria. E há aqueles que se tornaram guru porque perceberam o quanto é fácil enganar as pessoas e por isso exploram e enganam de
forma consciente e pensada- estes são casos de polícia. Difícil é diferenciar quem é quem.
SOBRE O OSHO
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Osho, polêmico na vida e na morte |
Definitivamente não tenho nada contra
o Osho- lamento que tenha tido um fim tão trágico. Fui seu admirador e defensor durante boa
parte de minha vida. Mas quando estouraram os fatos de Óregon, que culminaram com
sua fuga, prisão e morte misteriosa, fiquei com a “pulga atrás da orelha”. Mesmo daqui de
Fortaleza as notícias oficiais que nos chegavam não eram confiáveis, pelo contrário, eram confusas e suspeitas. Comecei
a desconfiar que algo estava errado. Alguns de seus discursos dessa época
destoam dos discursos do começo de sua carreira e mostram um Osho
completamente diferente e estranho. Muito tempo depois desses ocorridos, descobri o artigo do
Christopher Calder- um ex-discípulo do Osho que resolveu contar ao mundo uma nova versão da vida deste famoso guru. Calder esclareceu muita coisa baseado não somente em seu próprio
testemunho- mas no de outros ex-discípulos, indícios, reportagens, fotos, depoimentos etc. Com este artigo, muita coisa se esclareceu e começou a fazer sentido. Além do mais, comecei a desconfiar dos
ensinamentos do próprio Osho . Percebi que eram palavras bonitas, belas , poéticas
e de efeito, que tinham como objetivo encantar, hipnotizar, convencer e fazer discípulos. Compreendi que nem sempre as
palavras bonitas e inspiradoras são verdadeiras.
E na maioria das vezes não são. Palavras
verdadeiras são duras . As de Osho não tinham um fim didático. Não objetivavam a
libertação: mas a prisão do leitor ou ouvinte ao seu rebanho. Hoje vejo o Osho como uma incógnita,
um mistério que dificilmente será desvendado. Restam apenas dúvidas, indícios, incertezas e hipóteses.
Tenho algumas hipóteses sobre ele:
1.Osho não era iluminado mas apenas
um homem muito inteligente, hipnotizador e ótimo orador - isso explicaria toda
sua história de extravagância, ganância, megalomania e as tragédias de sua
vida: o fracasso da comuna , o suicídio de Vivek- seu grande amor- e seu
suposto suicídio um mês depois.
2. Osho era iluminado, mas se perdeu
ao longo de sua trajetória. Ou seja, era iluminado mas se perdeu, fraquejou, caiu- como aconteceu com o mito
bíblico da queda dos anjos.
3. Osho era iluminado e continuou
iluminado até sua morte trágica. O que aconteceu é que mesmo os iluminados podem
enlouquecer- e mesmo assim- continuar sendo iluminado.
4. Foi tudo mentira do Calder, do Milne e dos outros ex-discípulos que o denunciaram. Todas as provas e indícios foram uma farsa montada pelo governo americano para destruí-lo e matá-lo- juntamente com sua amada Vivek.
Que ninguém me “apedreje” por ter uma
opinião, uma hipótese… mas fico com a primeira. E aceito que discordem de mim.
E também defendo o direito de cada um ter a sua. Mas registro aqui que
reconheço a importância do Osho no que tange à espiritualidade humana moderna-
ele ajudou a abrir e expandir os horizontes espirituais de muita gente-
inclusive o meu.
SOBRE GURDJIEFF
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George I. Gurdjieff |
Um grande líder e divulgador dos
ensinamentos espirituais das sociedades secretas com os quais tivera contato – mas não era um "desperto".
E se era- caiu , desvirtuou-se ao longo do caminho. Suas ações estavam longe de manifestar o que pregava. Ele mesmo confessou ter usado seus poderes de telepatia e hipnose para tirar vantagens pessoais e seduzir mulheres . No final da vida, ele se arrependeu , entrou em crise existencial e acabou tendo um fim trágico. Sua
vida e ensinamentos influenciaram várias pessoas- inclusive o Osho. Ele foi um grande divulgador das Verdades Eternas mas estas não eram suas e ele próprio não conseguiu vivê-las.
SOBRE JIDDU KRISHNAMURTI
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J. Krishnamurti: um iluminado, apesar dos deslizes |
J.Krishnamurti foi um verdadeiro "guru" no
sentido estricto do termo: "aquele que dissipa a escuridão" - não no sentido em que ela é atualmente usada .Ele foi um dos
mestres que mais me influenciou. Nos piores momentos de minhas crises existenciais foram às suas palavras que recorri- encontrando de pronto a
resposta e a luz que eu precisava. Acho que Krishnamurti foi um iluminado,
apesar de seus defeitos e deslizes- como o caso amoroso com a esposa do seu secretário particular.
Apesar de considerá-lo o mestre que mais revolucionou a história da espiritualidade
humana moderna- não sou seu seguidor- nem muito menos "krishnamurtiano". Desde muito tempo que o tenho como um dos referenciais espirituais mais seguros e confiáveis . Tenho ainda muita admiração e gratidão por ele, por seu trabalho, ensinamentos e por tudo que ele representa . Apesar disso, tenho minhas próprias opiniões sobre uma
série de coisas que com certeza K. reprovaria. Ele não se arvorava em
autoridade nenhuma- deixou para nós a liberdade para investigar a Verdade por
nós mesmos, acreditando em nossa própria capacidade e luz interior. Se hoje procuro manter-me independente, autônomo e livre- agradeço principalmente a sua influencia e a de Buda.
SOBRE UG KRISHNAMURTI
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U. G. : ex-ouvinte e admirador de JK. |
Muita gente o considera um imitador do Jiddu. Mas a verdade é que Upalluri Gopalla Krishnamurti sempre teve sua vida ligada de alguma forma ao Jidu Krishnamurti. Quando nasceu, seu pai -teosofista e espiritualista -deu-lhe este nome em homenagem ao grande J.K. Quando cresceu, tornou-se ouvinte assíduo das palestras do J. K. até que um dia se “iluminou” durante uma de suas conferências. Diz-se que Upalluri alcançou um estado diferenciado
de consciência. O próprio UG o denominou de “Calamidade”- devido a natureza dolorosa do misterioso fenômeno. Não teve discípulos nem criou
nenhuma organização, movimento ou
sociedade. Tudo indica que realmente se libertou da opressão dos pensamentos. Através de UG, podemos perceber que o
fenômeno da iluminação não pode ser descrito, idealizado ou imaginado- é algo
sempre novo, diferenciado, subjetivo e singular. J. Krishnamurti já afirmava isso
usando outras palavras. Penso que UG realizou em vida os ensinamentos de JK. Depois, teve
que se libertar do mestre, cortando totalmente as ligações com o
passado- pelo menos no nível consciente. Inconscientemente, seus ensinamentos são ecos dos de JK. Há algumas diferenças apenas na forma de
expressão. Gosto do UG e acho que sua experiência pode ajudar na compreensão de nossa própria jornada espiritual.
SOBRE A DEPENDÊNCIA DOS GURUS
Isso sim sou contra. Sejam eles
verdadeiros ou não. A relação de dependência e obediência cega ao guru é uma
das fases da jornada que deve ser ultrapassada se a pessoa quiser crescer
e evoluir. Do contrário o próprio guru - que um dia lhe tirou da prisão da mente, da depressão, ou ego- se torna, ele próprio, outra prisão. Todavia, não sou contra a gratidão, o reconhecimento etc. Pelo contrário, acho importante a gratidão e o reconhecimento àqueles que gratuitamente ajudam as pessoas que ainda penam e tateiam ao longo do caminho espiritual.
SOBRE AS RELIGIÕES TRADICIONAIS E
SEUS LÍDERES
Apesar de achar que todo mundo deva
ser livre, sei que as religiões tradicionais, com seus líderes religiosos,
padres e pastores- cumprem uma importante missão no mundo: ajudar as pessoas a
sair de uma vida desregrada e materialista, apontando-lhes os primeiros sinais
da luz espiritual. Sei que sem essa ajuda muita gente estaria no crime, nas
drogas ou depressão. Compreendo que cada um cumpre um papel importante-
todos sem exceção. Inclusive este blogueiro. Mas isso não livra ninguém da parcela de culpa que lhe convém. Cada líder religioso deve responder por seus atos e atitudes perante o tribunal da
consciência. Em todo lugar existe gente boa e bem intencionada- assim como
pessoas desonestas e falsas.
SOBRE
O DISCURSO ADVAITA ( NÃO-DUALISTA)
Sou
a favor da visão advaita com algumas reservas- mas sou totalmente contra sua
manipulação por parte de pessoas que se apoderam do discurso, tornando-o apenas
mais uma “coisa” vendável. Usam-no mais como uma forma de aparecer e se
projetar socialmente- do que uma prática de vida. Falta vivência, sobram os
discursos e a deplorável exploração comercial dos satsangs.
SOBRE
SATSANGS
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Nas tradições hindus é comum a adoração ao guru |
Sou
à favor de satsangs ( encontro com a "verdade") gratuitos ou com
contribuições voluntárias. Sou contra satsangs pagos e caros. Compreendo os de preço justo. Todavia o que se vê atualmente é a espiritualidade sendo transformada
em negócio e – em alguns casos- exploração. Satsang não é show e guru não é
celebridade- apesar de todo esforço de seus colaboradores de querer transformá-los
em mega-stars e mitos espirituais, essa prática mercantilista reduz a espiritualidade a uma mercadoria de luxo acessível apenas aos "eleitos" pagantes. Cria-se assim a indústria dos satsangs, que precisa lucrar cada vez mais para expandir e crescer. Os seguidores
dos gurus se justificam dizendo que tem que cobrir os custos da viagem,
hospedagem etc etc. Ora, é só não viajar. Fazer em casa mesmo, como fazia
Nisargadatta e Ramana. Pra que viajar ? Não faz sentido. Se, como dizem, "Tudo já é perfeito e
nada precisa ser mudado. Não há nada a ser ensinado e não existe ninguém aí
para aprender"… então pra que viajar e cobrar caro pelas entrevistas pasticulares?
Espero
que agora tenha ficado clara minha posição sobre os assuntos mais polêmicos ao
longo desses anos. Só me resta agradecer a todos que participaram do blog com
perguntas, comentários e críticas. Não tenho a Verdade absoluta e não julgo
ninguém em particular. Deus é que conhece o coração de cada um. Mas também não se pode fechar os olhos aos fatos ou à Verdade-seja ela qual for, seja sobre quem for. Não há ninguém acima do bem e do mal. Todos estão sujeitos a
falhas, quedas, deslizes e erros- inclusive eu.
Um
fraterabraço a todos!
Muito
obrigado!
Namastê!
Alsibar
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