Ao navegar pela Internet, deparo-me estupefato com um blog que publicou um texto com o seguinte título:“ Jiddu Krishnamurti e a Teosofia: o avatar que propõe o não-funcionamento do cérebro”. Por que alguém escreveria isso? Seria capacidade extrema de deturpar as coisas, ou mediocridade mesmo? O grande místico e pensador indiano, onde quer que esteja, deve estar desconsolado ao perceber que, apesar de tantos registros de seus ensinamentos, ainda haja espaços para deturpações do que ele pregou.
Krishnamurti nunca ensinou o “não-funcionamento do cérebro". Isso seria um absurdo. Um disparate. K. afirmou exatamente o contrário. Segundo a sua abordagem, utilizamos uma parte ínfima do nosso cérebro. A outra parte não se manifesta devido às limitações impostas pela memória reativa, pensamentos e condicionamentos. Não preciso citar nenhuma fala dele para fundamentar isso. Quem quiser vá diretamente à fonte. Há vários sites, livros, blogs e até vídeos onde um pesquisador sincero pode tirar as próprias conclusões.
O ensinamento de K. não difere de outros grandes iluminados - nem mesmo de Krishna no Bhagavad-gita. Para ele, o pensamento reativo e automático deve cessar completamente, só assim é possível nascer a verdadeira compreensão e percepção. E isso não se dá por obra do próprio pensamento – o que seria contraditório. É bom lembrar que os pensamentos não são a mente. São apenas parte dela, uma pequena parte.
Ele afirmou, ainda, que apenas no silêncio, no espaço e na tranquilidade o Desconhecido, a Verdade ou Deus poderá se manifestar. A essência desse posicionamento não difere em nada de outros grandes iluminados. O silêncio é uma condição necessária à elevação da consciência- isso é unanimidade desde Buda a Babaji. Mas isso significa que não devo nunca mais pensar? Não é assim.
O "xis" da questão está em aprendermos a colocar as coisas nos devidos lugares. JK esclarece-nos que o pensamento é extremamente necessário para coisas técnicas do dia a dia. Por exemplo, para ensinar matemática, física, história, para construir uma ponte, um computador, para lembrar, raciocinar, refletir, etc. No entanto, o problema aparece quando o pensamento tenta alcançar o que está além dele – o Sagrado, o Atemporal. E isso é impossível. Por definição, o que é limitado só pode atuar dentro do seu próprio campo de limitação. Por sua vez, o Ilimitado só se manifesta quando a mente se encontra em total estado de paz, tranquilidade, silêncio. Nesse estado, característico da meditação, há somente um sentido de liberdade e de espaço sem limites. E é aí que o Desconhecido pode vir à tona.
Espanta-me a capacidade humana de destruir o que é sagrado e deturpar o que é verdadeiro. Outro dia, vi uma discussão em um fórum no próprio site oficial da instituição que representa K. no Brasil. Discutia-se se K. acreditava ou não em reencarnação. O grupo dividiu-se. Alguns integrantes defendiam que sim e citavam frases ditas por K. Outros diziam que não e usavam os próprios argumentos de K. para fundamentar essa tese. O que me espanta é que faz poucos anos que K. deixou esta Terra. Tudo que ele disse está registrado, então, como pode haver tanta polêmica sobre seus ensinamentos? Imagina então o que aconteceu com Jesus, Buda e tantos outros em uma época que se limitava à tradição oral, transmitida por memória, em que quase não havia registros escritos?
Para mim, tais discussões são infantis e infundadas. Não
precisamos discutir o que K. defendia ou não. Isso é coisa dos
fundamentalistas. Mas também não podemos afirmar absurdos sobre aquele que foi
um dos mais importantes iluminados do século XX. A contribuição dele para o
desenvolvimento da percepção humana, da espiritualidade e da autorrealização é
incontestável e inestimável. Façamos nossa parte. Investiguemos se o que ele
disse era verdadeiro ou não. A Verdade
está aí disponível para todos. É
relativamente fácil ficar horas e horas discutindo sobre as palavras de K. Difícil é alcançar aquele estado de
independência e liberdade que ele nos apontou. Infelizmente, parece que poucos
estão dispostos a enfrentar e viver esse “ideal” no qual todos se tornam uma
luz para si mesmos.
Não citarei o site por pura ética. E também não quero repetir o mesmo erro de alguns blogs que não publicam opiniões contrárias. Uma postura nada democrática, própria dos espíritos medíocres e inseguros que não aceitam a discussão e o debate de ideias. Esse tipo de atitude é comum, mas não deixa de nos entristecer e indignar. Por isso, agora que criei meu próprio espaço para discussões, aproveito para fazer a minha parte na defesa de um homem que dedicou a vida toda ao despertar espiritual da humanidade. K. nunca disse que o cérebro não deveria funcionar, caso contrário, ele não seria um sábio, e sim um tolo.
Alsibar
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