quarta-feira, 23 de novembro de 2022

A LIBERTAÇÃO DA MORTE - Estudos Avançados do Krishnamurti libertação da ...

QUANDO A MEDITAÇÃO SE TORNA UMA PRISÃO by Alsibar Paz

Uma das grandes descobertas do caminho espiritual é, sem dúvidas, a Meditação. Praticada por monges e adeptos de quase todas as religiões, meditar traz benefícios não só espirituais, mas também físicos. No campo terapêutico, ela ajuda a diminuir o stress, a pressão alta, insônia, ansiedade, nervosismo; melhora  a concentração, o equilíbrio, etc. além de vários outros benefícios para a saúde e o bem estar. Todavia, no campo "espiritual' ou 'psicológico', sua ação é bastante limitada.

Para entender esse problema é preciso saber o que é Meditação. Meditar é uma técnica ou ação que visa a um resultado. Por exemplo, se tenho algum medo, ou fico muito nervoso diante de alguma situação - puxar papo com alguém, falar em público, andar de avião, etc.- a meditação ajuda a estabilizar a mente, levando-a a um estado de maior equilíbrio e relaxamento. 

Durante a meditação, a mente tende a se acalmar por conta da desaceleração causada por pequenas ações como, por exemplo, a observação da respiração, dos pensamentos, do silêncio mental, do momento presente, etc. Em todos esses casos, há sempre um 'fazedor", uma entidade, um 'eu' atuando sobre a realidade, além de um objetivo - aquilo que pretendo alcançar: calma, equilíbrio, paz, saúde, autocontrole, etc. É importante notar que há sempre uma dualidade (eu e o problema que quero resolver ) e um conflito entre 'aquilo que é ' (o fato, a realidade) e aquilo que 'deveria ser' ( o ideal, o objetivo). Para aqueles que buscam resultados de ordem física e psiquíca, a meditação é perfeita como parte da terapia. Mas se você busca resultados de ordem espiritual, a meditação técnica tem pouca utilidade, podendo, inclusive, tornar-se um obstáculo.

Explico: se você procura a Verdade, Realidade, Deus, iluminação ou despertar espiritual, então a meditação poderá até lhe ajudar no começo, mas depois terá que ser abandonada. O motivo é bem simples: se você anseia transcender a dualidade, alcançando a unidade, a meditação - enquanto prática ou técnica - mantém justamente aquilo que você quer se libertar. Como já citei antes, na meditação existe um 'meditador' manipulando conscientemente uma técnica, visando um determinado fim. A dualidade será mantida enquanto psicologicamente houver um observador (eu) de um lado e a coisa observada (situação que quero me livrar) do outro. E também enquanto existir o 'agora' e o 'futuro" que é aquilo que pretendo alcançar ( tempo psicológico). Como sair desse dilema?

É o seguinte: na verdadeira Meditação não pode haver prática, nem praticante, nem técnica nenhuma ( incluindo a tal da observação dos pensamentos ou do agora). No verdadeiro estado meditativo não existe um  ' eu' consciente da meditação, do problema, do agora ou do objetivo futuro, pois todos esses elementos são verdadeiras prisões para aqueles que buscam a libertação do tempo, do conflito e do ego.

Tudo isso é confirmado por Krishnamurti que, certa vez, ao responder a seguinte pergunta feita por seu sobrinho Jiddu Narayan:

' Qual é a essência da meditação?', disse:

- É nunca estar consciente de que se está meditando!

 By Alsibar Paz

22/11/22

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sexta-feira, 3 de junho de 2022

A MEDITAÇÃO DO OSHO À LUZ DE KRISHNAMURTI

 


A MEDITAÇÃO DO OSHO À LUZ DE KRISHNAMURTI

by Alsibar Paz

 

Osho disse em um vídeo:

 

'Então você não estará fazendo absolutamente nada. Fisicamente, mentalmente... Em nenhum nível. Quando toda atividade cessou, e você simplesmente 'é'... apenas sendo... Isso é Meditação. E uma vez que você pegue o 'jeito' disso, você pode permanecer naquele estado por quanto tempo quiser. Uma vez que você estiver ciente da maneira de 'como ser ', então lentamente você pode começar a fazer coisas. Esta é a segunda parte da meditação. Primeiro, aprendendo como apenas ' ser' e então aprender pequenas ações: limpando o chão, tomando um banho. Então, meditação não é contra a ação. Não é que você tenha que fugir da vida. Ela simplesmente lhe ensina uma nova maneira de viver. ( OSHO)

 

Agora a análise:

 

1." Fazer nada", 'Cessar ' todas as atividades e simplesmente ' ser' ?

 

A ideia é bonita e atraente, mas há alguns equívocos:

 

A meditação não tem nada a ver com fazer ou não fazer 'atividades'. O "não-fazer" pode ser tão egoico quanto o 'fazer'. O estado meditativo é caracterizado pela ausência do tempo ( vir-a-ser psicológico). Por que alguém deixa de ' fazer? Se for com a intenção de se 'iluminar', continua na esfera do tempo.

 

Quem simplesmente ' é' não tem consciência de estar sendo. É quando cessa a entidade consciente de que está sendo, que se 'é'. Portanto, se você está cônscio de que 'é', você não é.

 

2. 'Uma vez que você ' pega o jeito ' pode permanecer nisso quanto tempo quiser' ?

 

Errado. Meditação não é questão de ' jeito' , nem de vontade. Além disso, não há nenhuma entidade para 'permanecer nisso '. Quem busca a permanência e a constância é o ego. Portanto, essa não é a descrição do estado meditativo.

 

3." Segunda parte da meditação?'

 

Meditação não pode ser considerada em termos de primeira parte, segunda parte, etc. Ela é o estado livre do tempo e, portanto, livre do sentido de gradação. Afinal, quem está progredindo? Que entidade é essa? O ' ego' . Por conseguinte, isso não é Meditação.

 

4. 'Apenas aprendendo a 'ser'?

 

Não. Quem aprende? Em Meditação não há um 'eu aprendendo ' ( no sentido cumulativo). Está mais para um estado de 'não ser' do que de 'ser'. Portanto, Meditação é descobrir que não há um 'eu' pra 'ser', nem 'tornar-se " ( ou seja, descobrir sua própria vacuidade/vazio essencial)

 

5. "Meditação não é contra a ação/ ensina uma nova maneira de viver?'

 

Na verdadeira Meditação não há um 'eu' cônscio da ação. Meditação é a dimensão onde não existe um 'observador' consciente de sua observação. Só há a observação. Portanto, não há um "eu faço', só há a ação acontecendo.

 

E por fim, novamente a questão do 'aprendizado'. Quem ' aprende 'uma nova maneira de viver? Quem é esse que pensa : 'sim, agora estou aprendendo!' ? No verdadeiro aprendizado não existe acumulação, nem um 'eu' consciente de que está aprendendo. Simplesmente é a percepção do ' nada' interior.

 

Conclusão

 

Osho vendeu 'ouro de tolo' pra todo mundo. Ele fez toda uma geração acreditar que a Iluminação seria algo que você poderia "aprender" se ' pegasse ' o jeito, ou seja, seguisse suas palavras e ensinamentos. Bastava seguir sua cartilha e nada mais seria necessário. O resultado foi bem pior do que o que 'Wild Wild Country' apresentou. Ali não tem nem dez por cento da tragédia que foi o Osho.

 

Alsibar Paz  ( @alsibarpaz)

 

31/05/22

 

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quarta-feira, 20 de abril de 2022

O 'PAPAGAIO' DE KRISHNAMURTI

 


O papagaio de Krishnamurti é aquele sujeito que repete tudo que JK disse sem nunca ter visto por si mesmo aquilo que ele apontou.

Eu mesmo já um fui um desses. Adorava desafiar católicos, crentes, espíritas e até hare-krishnas para o debate. Eu me sentia o máximo usando as 'armas poderosas' dos argumentos Krishnamurtianos para derrotar meus oponentes. Puro ego de um jovem imaturo e  iludido.

Mas, aquela fase passou. O jovem imbatível sentiu-se um inútil e abandonou aquelas práticas tolas. Afinal de contas, do que adianta  destruir as crenças de alguém sem ter algo melhor para substituí-las?

Eu era um perfeito papagaio de Krishnamurti. Vencia a todos nos argumentos, mas, interiormente, eu me sentia um derrotado. Meu raciocínio afiado, aliado ao conhecimento de Krishnamurti, não me tornaram um ser humano mais feliz.

Hoje, vejo que não adianta nada conhecer tudo de Krishnamurti, ter lido todos seus livros ou, até mesmo, tê-lo conhecido pessoalmente. Aquilo que ele tinha, não pode ser transmitido a ninguém.

O 'papagaio de Krishnamurti ' deve abandonar Krishnamurti se quiser tornar-se 'águia'. Sua visão clara e asas poderosas lhe permitirão alcançar alturas e visitar lugares nunca antes imaginados. Quando o papagaio vira águia só então terá cumprido o objetivo da missão de Krishnamurti: libertar o homem de tudo, inclusive do próprio JK.

Alsibar Paz ( @alsibarpaz)

19/04/22

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terça-feira, 12 de abril de 2022

A PARÁBOLA DOS NÓS by Alsibar Paz




Quando Deus fez o homem, deu a cada um a mesma quantidade de nós. Ficou estabelecido que cada pessoa teria uma cota diária de nós que deveriam ser desatados. Todavia, se aquela quantidade de nós não fosse desatada no dia certo,  o que faltava seria repassado para o dia seguinte. Além disso, os nós


não desatados se tornavam cada vez mais difíceis de serem desatados à medida que iam se acumulando. Com o tempo, aqueles que não conseguiam desatar seus nós diários iam juntando tanto trabalho que já não conseguiam dar conta nem de sua cota diária de nós, nem muito menos daqueles que se acumulavam há tempos.

Alguns desses retardatários vendo que algumas pessoas estavam com seus nós em dia, de tal forma que até lhes sobrava tempo para descansar, começaram a pedir aos outros que lhes ajudassem com seus nós. Claro que ninguém se negaria a ajudar a desatar os nós alheios, pois  tinham tempo e energia para isso e, então, começaram a ajudar os outros. Mas apareceu um problema: como os nós ficavam mais apertados à medida que o tempo passava, alguns nós levavam muito tempo para serem soltos. Alguns eram quase impossíveis porque, segundo as regras dos nós, as pessoas podiam sim ajudar os outros, mas só com orientações, mostrando a elas como elas deveriam fazer, mas eram ELAS PRÓPRIAS que deveriam soltá-los.

É verdade que alguns nós eram facilmente desfeitos. Contudo, outros, demandavam tempo, energia e raciocínio, pois eram verdadeiros quebra-cabeças. A situação chegou ao ponto das pessoas que estavam em dia com seus nós se descuidarem de sua própria cota diária na tentativa de ajudar os outros. Foi aí que, diante dessa situação estranha, alguém percebeu algo muito simples e óbvio:

Se cada um cuidasse de seus próprios nós, todos ganhariam tempo e terminariam seus nós diários sem acumular nada. E, assim, não ficaria pesado para ninguém, podendo até ajudar os outros contanto que isso não os prejudicasse, pois não é nada sábio, nem justo, ajudar os outros prejudicando a si mesmo.



Moral da história: cada um cuide de seus próprios problemas pois, assim, teremos condições, tempo e energia para ajudar os outros desde que isso não prejudique a nós mesmos.


Alsibar Paz

11/04/22

@Alsibarpaz

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A DISTRAÇÃO FAZ PARTE DA MEDITAÇÃO por ALSIBAR PAZ

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O SISTEMA DE SEGURANÇA DO EGO

 


O ego tem um sistema autoprotetor de segurança altamente “sofisticado”. Em alguns casos, ele cria diversas “barreiras” como forma de proteger seu império de qualquer ameaça. Sob o ponto de vista do ego, seus inimigos são a própria Luz da Verdade que pode tirá-lo do poder. Daí por que há diversos níveis de segurança visando sua autoproteção.

Assim sendo, temos a primeira barreira: impedir a pessoa de receber a mensagem da Verdade. Se a mensagem for recebida, aciona-se o segundo estágio de segurança: a mensagem é recebida, mas não é lida. Quando é lida, não é compreendida. Quando compreendida, não é vivida. O próprio ego trata de descartá-la discordando dela e substituindo-a por outra mais conveniente e alinhada com seus objetivos.

A única forma de penetrar nesse poderoso sistema de segurança egoico é através do autoconhecimento. Ao perceber a própria sabotagem do ego, a pessoa deve procurar qualquer coisa que possa ajudá-la a “vencer” as diversas barreiras de segurança. Dificilmente, o sujeito conseguirá se livrar da tirania do ego sozinho. É nessas horas que a oração, a fé, a meditação, bons livros, bons pensamentos, um bom terapeuta ou um mestre verdadeiro pode ser de grande utilidade.( Do livro : LÚMINA - A JORNADA DO DESPERTAR de Alsibar Paz)

Adquira seu exemplar pelo link abaixo:

Link aqui para pedir o seu LÚMINA-A JORNADA DO DESPERTAR

sábado, 12 de fevereiro de 2022

LANÇAMENTO DO LIVRO LÚMINA - A JORNADA DO DESPERTAR DE ALSIBAR PAZ

 



A Trajetória de uma Vocação

por Jorge  Cruvinel Filho

O livro Lúmina: A Jornada do Despertar escrito pelo Prof. Alsibar Paz é uma obra de substancial importância para quem tem sede de compreensão espiritual. Alsibar despertou para a espiritualidade ainda muito jovem, com apenas 14 anos, e desde então percorreu um longo caminho de muitas dificuldades, muitos dilemas, mas que resultou em grandes insights ou despertares. Alsibar não tardou a tomar consciência que a sua vocação seria avançar no território da espiritualidade e depois transmitir suas descobertas interiores profundas para as pessoas. Esse livro é justamente a realização desse projeto que há muito havia sido intuído.

Sempre trazendo em si um grande anseio por compreensão, Alsibar estudou as mais diversas tradições espirituais e também os grandes autores da espiritualidade, sendo que sua principal influência sempre foi Jiddu Krishnamurti. Mais importante, porém, do que ter se dedicado à exploração do conhecimento espiritual com muita seriedade, foram as vivências de Alsibar ao longo do caminho. Ou seja, ele conhece através de sua experiência interior aquilo que traz real compreensão e aquilo que desencaminha a pessoa, deixando-a estagnada ou perdida. De forma compassiva, Alsibar aponta no livro os equívocos que podem nos prender e nos auxilia para que foquemos naquilo que de fato produz resultados favoráveis. Mesmo que provenham de autores de grande renome, Alsibar, de modo destemido, aponta onde está a fonte de engano, não de forma a impor algo, mas apenas para demonstrar que em seu processo interior aquilo não foi eficaz e muitas vezes trouxe distorções.

Lúmina é um livro que pode ajudar grandemente tanto aquele que recentemente despertou para espiritualidade quanto aquele que já trilhou um longo caminho. Alsibar mostra no livro desde seus primeiros passos, quando a oração lhe foi de grande auxílio, e chega nas questões mais sutis até desembocar no “Grande Segredo”, que pode promover uma grande reviravolta no interior da mente. Nesse momento, o livro aponta de forma muito original e profunda que aquilo que cultivamos, nosso conhecimento acumulado e o próprio pensador que tanto se esforçou podem estar impedindo a compreensão final e, talvez, nesse campo, a noção de um pensador seja o maior de nossos empecilhos.

Há mais de 10 anos, quando estava despertando para a espiritualidade, recebi de Alsibar uma orientação generosa que muito me auxiliou em meu processo. Depois ficamos vários anos sem nos falarmos, mas eu sempre acompanhei os textos publicados por Alsibar em seu blog, que me foram de grande importância. Quando retomamos nosso contato, uma das coisas que Alsibar expressava com mais ênfase é que pretendia aproximar as pessoas do Despertar e que elas não mais vissem a iluminação como algo distante ou algo que ocorria só na Índia Antiga ou no Tibete Secreto. Lúmina consegue fazer isso de uma forma única, pois mostra como transformações ou despertares vão ocorrendo ao longo do caminho e mudam o funcionamento da mente e do corpo também (inclusive das células cerebrais). A pessoa que passou por um insight já não é mais a mesma e o livro é um grande alento nesse sentido, porque elucida claramente quais são essas transformações e como elas se dão. A partir disso, a pessoa não se sente mais alijada do processo de iluminação interior, pelo contrário, ela nota que muito já ocorreu e há muito mais por vir. Nesse ponto, Alsibar se vale de sua formação de psicanalista para elucidar os despertares e suas potências de mudança no terreno psicológico, o que propicia, inclusive, uma nova visão sobre a evolução humana sob o escopo da compreensão interior e do funcionamento mental.

Por fim, o livro aborda de um modo muito esclarecedor o tema que Alsibar denominou de “mudança interna profunda”. Ou seja, após uma série de despertares ou transformações, a mente se torna mais sutil e compreensiva até que, finalmente, uma mudança imensa e definitiva possa ocorrer. O livro nos aproxima muito disso, quer nos conduzir para isso e por isso nos é muito dadivoso.

Dessa forma, após mais de 30 anos de devoção à espiritualidade, Alsibar oferece à humanidade esse livro que é o retrato de sua vocação. Sendo uma obra de maturidade, podemos sentir vida nela e, de fato, podemos ser alavancados para uma compreensão muito maior.

Adendo: registro minha profunda gratidão por ter participado da revisão e ter feito o prefácio dessa grande obra da espiritualidade moderna que fez avançar a linguagem espiritual.

Adquira o seu exemplar: https://wa.me/message/2ZGZZOHHI5F3K1

Jorge Cunha Cruvinel Filho, psiquiatra e autor do livro “E Terás Que Me Dizer"


Alsibar Paz e Jorge Cruvinel


 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O CONCEITO DE GURDJIEFF SOBRE O DESTINO

 


Nesse diálogo que tive com a Valéria Peixoto, ela me perguntou sobre o conceito Gurdjieffiano de destino. Afinal, o que há de verdadeiro ou falso nos ensinamentos de G. sobre essa questão? Foi sobre isso que conversamos. Leia, reflita e tire suas próprias conclusões!

 Valéria : Alsibar, o que você acha do conceito de Gurdjieff sobre destino? Ele fala que o destino é para homens superiores. E que aos "inferiores" resta o “acidente” ou “acaso”.

Alsibar : Olá Valéria bom dia! Quase todos os ensinamentos de G têm sempre uma ressalva porque  ele acrescentou muita coisa. Tudo indica que ele não entendeu corretamente os ensinamentos das tradições esotéricas e orientais que ele acessou em suas viagens pelo oriente.

 Valéria : O que me pareceu é que proporcionalmente ao nível de conhecimento/consciência do homem ele é um tanto “dono” de seu destino dadas as escolhas que faz.

Alsibar : Sim! É isso mesmo ! Mas eu vou explicar de onde ele, provavelmente, tirou isso.

 Valéria : Opa !

Alsibar : Essa concepção de G. é resultado de um outro conceito equivocado. Para G. no homem comum, ordinário, tudo “acontece” e, consequentemente , se  ele não comanda seus processos internos,  da mesma forma será o seu destino. Já em sua concepção de “Homem Superior” tudo nele é consciente e intencional. Então, como consequência, seu destino pode ser controlado. São dois conceitos parcialmente corretos. O homem 'Superior' seria o que Jesus Cristo, Buda e Krishnamurti  chamaram de “ Homem Desperto/iluminado. Como o desperto “influencia” o seu destino?

O iluminado conhece a si mesmo e como ele se conecta naturalmente com a Fonte então ele pode direcionar seu destino positivamente. Todavia ele NÃO ESCOLHE tudo conscientemente — como defendia G. O erro do bigodudo foi não perceber que sua visão de “Homem Superior” na prática, nada mais  é do que um homem com o “ego poderoso’. E quanto mais poderoso o ego, maior o desastre. Uma pessoa com um ego muito forte — força de vontade, mente, energia,  inteligência, etc. — pode sim criar ou influenciar seu destino no que concerne às questões materiais. Vide Edir Macedo, Valdomiro Santiago, R. R. Soares, Osho, etc. — São pessoas que usaram conscientemente seu poderes/dons para criar sua própria realidade. Só que foi O EGO— em sua ilusão e busca por riquezas/prazeres materiais — que criou... E, nesses casos, os problemas aparecerão mais ou cedo ou mais tarde.

Com Gurdjieff foi basicamente a mesma coisa. Seu conceito de Homem Superior infla e robustece o ego. Por isso que, no geral, todos seus empreendimentos e projetos NO CAMPO MATERIAL deram certo. Mas.... Não tardou para a conta chegar, pois o ego é como a imagem mítica de Satanás: ele te 'dá" mas depois te cobra alto pelo que te “deu. G. apesar de toda fama, reconhecimento e dinheiro que ganhou passou grandes perrengues na vida. Situações terríveis que o fez questionar tudo aquilo que ele acreditava. E isso é revelado por ele mesmo no último livro “ Sobre tudo e todas as Coisas”, que mais parece um desabafo do que um livro de ensinamentos. Lá, ele revela todo seu sofrimento devido a dois acidentes que lhe deixou sequelas graves e do quanto ele estava, interiormente, mal. Dizem que esses acidentes foram provocados conscientemente por ele mesmo como uma forma de alcançar o Despertar. Mas isso é outra história...

Como seria a compreensão correta da questão do destino?  O homem comum está sujeito a uma quantidade maior de forças mecânicas e casuais uma vez que ele não se compreende, nem se conhece. A diferença entre um homem comum e um iluminado é que este último, por se autoconhecer, não está mais totalmente sob o poder dos impulsos do ego - que é uma força instintiva da natureza. Obviamente, que quem está totalmente controlado pelos impulsos do ego está mais “inconsciente” e mais sujeito a desgraças e problemas, uma vez que ele não sabe como alterar as causas profundas do seu destino que se encontram na psique.

Já o homem "desperto" também está sujeito a problemas na vida. Todavia, por estar mais ligado à Fonte Divina e mais livre dos impulsos primitivos do ego, sua vida tende a ser mais tranquila e feliz.  E, mesmo diante das adversidades, ele tem paz de espírito e sabedoria para lidar com elas da melhor maneira possível.

Outro erro de G. foi acreditar que o nível espiritual ou de consciência do homem seria proporcional a tal 'CONSCIÊNCIA DE SI'. Isso está parcialmente correto. O nível espiritual é proporcional ao CONHECIMENTO DE SI, ou seja, ao autoconhecimento. Você pode ter conhecimento de si, e não estar sempre  “consciente de si”- na acepção de G.  Para ele,  uma pessoa com "consciência de si" estaria sempre e constantemente “lembrando de si”, o que, na prática, significa estar sempre atento a tudo que pensa, sente e faz — o tal “estado de presença”.

A “consciência de si” na perspectiva de G. é de fato uma utopia. E esse foi um dos motivos de suas angústias pois ele viu que o que ele passou uma vida ensinando era tão impraticável quanto ficar sem respirar. Nem ele, nem seu famoso discípulo Ouspenski, nem nenhum dos seus seguidores, conseguiu alcançar tal estado de consciência plena. A “consciência de si” é um estado diferenciado de consciência que surge naturalmente como consequência do autoconhecimento e NÃO pode ser praticado, nem mantido, nem controlado — como G. pregava.

Valéria : Muito bom! Gratidão pela explicação clara! De fato é um engodo pensar em termos absolutos e rígidos. Acho que esse pensamento foi o precursor do mindfullness como é usado hoje para o “sucesso”. Mas, como você disse,  a conta vem.

Alsibar: Portanto, a “consciência de si” na forma que ele ensinava — que era ficar prestando atenção diretamente e constantemente a tudo que se faz, pensa, sente, vive, faz, etc. — era uma ilusão, uma fantasia, uma armadilha do próprio ego.

Valéria : De novo a confusão “diabólica” entre psíquico e espiritual.

Alsibar :  Perfeito, isso mesmo! É bom ressaltar que G.  influenciou toda uma geração de líderes espirituais com suas ideias estapafúrdias, inclusive o OSHO, que, por suas vez, influenciou vários  gurus e líderes espirituais modernos como Eckhart Tolle,  dentre outros. É muito difícil perceber a sutil diferença entre “ consciência de si” e “ ciência de si”. Passei uma vida para entender tudo isso. E foi pela GRAÇA DIVINA que a compreensão me chegou pois, sozinho, confiando apenas em minha própria capacidade, eu não teria conseguido.

 Valéria : Claro!  Maravilhoso perceber isso.

Alsibar Terapeuta: Essa mesma confusão que G. fez, Osho fez, Tolle faz, e os SEGUIDORES DE KRISHNAMURTI também  o fazem. Principalmente aqueles que acham que tudo é a mesma coisa. Não têm essa percepção e esse cuidado que você está tendo de saber separar o joio do trigo! Parabéns!

Valéria: Gratidão por compartilhar!

Alsibar: Disponha!

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

DE KRISHNAMURTI A RAMANA, DE RAMANA A KRISHNAMURTI

 


 

Esse foi um diálogo que tive recentemente com o Juninho Alves sobre a compreensão dos ensinos de Krishnamurti e sua relação com o advaita. Ao final da conversa, percebemos que poderia dar um bom artigo para o blog para que mais pessoas pudessem se beneficiar dos apontamentos feitos ao longo da conversa!

 

Juninho : Bom dia meu querido. Ontem eu recebi a notificação da tua Live e assisti uma parte. Teve uma fala sua que me lembrou muito quando eu lia Krishnamurti. A parte onde você afirmou que para que houvesse liberdade do sofrimento seria necessário "uma compreensão total, integral". Essa afirmação, tipo, me acendeu uma luz de alerta e pensei: “Para que eu tenha saúde física não é necessário que eu tenha uma compreensão total e integral da fisiologia e biologia do corpo humano, basta que eu não siga caminhos e atos que me tirem a saúde. Da mesma forma, para que eu esteja livre do sofrimento não é necessário uma compreensão total e integral dos mecanismos da mente, basta que eu não siga caminhos, atos e ações que me tirem a paz interior, isso me parece suficiente .

Alsibar : Bom dia Juninho! Muito boa sua questão. Se você já sabe, já conhece tais caminhos, realmente não precisa. Isso já demonstra por si mesmo uma grande sabedoria e autoconhecimento. Mas se a pessoa sofre, se ela está em conflito e dor psíquica, aí sim, ela vai precisar compreender como se meteu naquela situação e o que precisa fazer — ou não fazer — para se livrar dela. Ou seja: terá que compreender  o mecanismo da mente  que o LEVOU  ao sofrimento., que a prende no sofrimento. Em tese,  isso só vale para quem sofre e quer se libertar mas não sabe como fazê-lo. Quem não sofre, em geral, já tem uma espiritualidade natural, independente dos livros, mestres e conceitos. E ela é tão válida — ou mais até — do que aqela aprendida através dos livros e internet.

Juninho : Certo, correto. Vamos imaginar o seguinte: existe um pneumologista que tem uma compreensão total, integral, que por anos estudou a fundo os efeitos nocivos de fumar cigarro os efeitos nocivos nos pulmões e na saúde em geral e ainda assim ele continua fumando. Por outro lado, existe  aquele que fumou algumas vezes, passou mal, ficou com dentes amarelados, boca cheirando a fumaça e decidiu parar de fumar para sempre. Qual deles fez a vontade do pai?

Alsibar : Ótima questão! É o seguinte: o saber do pneumologista é apenas teórico. Ele conhece tudo sobre os efeitos nocivos do fumo mas não sabe 'como' parar de fumar, uma vez q o vício já se instalou e dominou as células. Isso no campo Espiritual se chama carma: os efeitos e consequências de nossas ações. No caso, para que o pneumologista deixasse de ser apenas um erudito/cientista e se tornasse um sábio, ele teria que procurar uma saída para o seu problema. Talvez, pode ser necessário um verdadeiro milagre ou ação divina (graça),  uma vez que o sistema neurológico/cerebral já deve estar bastante comprometido. Porque se o pneumologista pedir  com sinceridade pela ajuda divina, ele pode libertar-se do vício sim. Eu mesmo conheço vários casos assim.  Em suma é a mesma coisa que acontece quando os profissionais que tratam da ansiedade  me procuram para ajudá-los a tratar de sua própria ansiedade. Obviamente, que só o conhecimento teórico que tiveram na academia não é o suficiente. É preciso um conhecimento mais profundo do mecanismo da mente humana. E é isso o que o Krishnamurti nos traz.

Juninho : Voltemos então a questão de  " Ser ABSOLUTAMENTE necessário uma compreensão total, integral para haver liberdade do sofrimento psicológico" que Krishnamurti afirmou centenas de vezes em suas palestras e livros. Veja...

 Alsibar: ... Não foi só JK, Buda e todos grandes mestres do autoconhecimento falaram sobre isso.

 Juninho : ...A compreensão está na mente, é um produto da mente, fruto da mente, a compreensão é um movimento e uma ação que ocorre na mente. Quando eu deixo minha mente em paz, sem querer compreender nada, sem me preocupar com nada, sem inventar problemas psicológicos  a serem resolvidos (essa tal compreensão total) descanso naturalmente na paz, sem necessidade de pensamento ou compreensão nenhuma.

Alsibar : Tudo isso que você disse é a compreensão  do sofrimento. Ou seja, você entendeu  como  ele surge e como ele finda. Você compreendeu que quanto mais a mente se esforçar para compreender, menos ela compreenderá. Pois a compreensão não surge do esforço e sim do relaxar da mente.

 Juninho : Pode ser, mas isso tem muito pouco a ver com uma compreensão intelectual ou mental, é mais um repouso nesse estado de paz.

 Alsibar : Mas Krishnamurti nunca falou em “compreensão intelectual”.  Não existe compreensão intelectual para JK.  Para ele só existe a compreensão. E até pode existir, como algo inicial, superficial, mas não é a verdadeira compreensão que causa a mutação. Se bastasse a compreensão intelectual para a transformação seria muito fácil. Todo Krishnamurtiano seria iluminado pois eles compreendem JK  “ intelectualmente” mas ficam presos nessa suposta compreensão. Eles têm dificuldade de entender esse repouso ou estado de paz resultante da compreensão dos movimentos mentais. Um intelecto muito ativo não consegue repousar, silenciar, sair de cena. JK repetiu inúmeras vezes: “uma mente ocupada é uma mente medíocre”. Um cérebro muito intelectual está sempre ocupado com seus próprios  problemas, conceitos e ideias.

Então, vamos pegar seu próprio exemplo Juninho: para você entender tudo isso que você acabou de me passar, você ralou muuuuuito! Ou seja,  como você iria saber disso tudo se não tivesse compreendido a si mesmo? Suas palavras são fruto de uma profunda compreensão do mecanismo mental causador do sofrimento. Do contrário não saberia. E é isso que quase ninguém entende em Krishnamurti: tudo que ele falou foi apenas para ajudar as pessoas a chegarem a esse ponto  de compreensão que você chegou.  Porque aí está o ponto em que a mente realmente para e se liberta de si mesma.

Juninho : Sabe essa foi mais uma das nossas conversas que poderia virar um artigo no blog. O curioso é que elas são parecidas nesse sentido:  quando eu escuto uma frase solta de Krishnamurti e me vem a mente "isso não está de acordo com minha experiência ". Daí eu vou questionar você e você sempre me mostra uma coisa: que por mais que eu tenha estudado Krishnamurti por um longo tempo e com todo amor, carinho e atenção, eu não  tinha a maturidade suficiente para entendê-lo na época, só  depois de muito tempo, através da ajuda do Advaita de Ramana, essa semente espiritual de paz interior  começou a germinar.

 Alsibar : E eu fui o contrário: o Krishnamurti que me ajudou a entender melhor o Advaita Vedanta do Ramana.

 

Alsibar Paz  e Juninho Alves

02/02/22

 

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

A FAMIGERADA 'OBSERVAÇÃO SILENCIOSA PASSIVA NÃO-REATIVA' (OSPNR)


Um animal selvagem quando colocado em uma pequena cela torna-se arredio e impaciente. A percepção de sua  precária condição parece potencializar sua inquietação. Isso significa que o stress é proporcional à consciência da prisão. Sendo assim, quanto menos o animal tiver consciência de seu cativeiro, mais dócil será e mais tranquilo ficará. Com o ser humano não é diferente.

No começo da jornada espiritual é comum o sujeito querer mais liberdade. Há um impulso interno que o empurra para buscar novos caminhos e possibilidades. Em geral, ele se desprende das religiões tradicionais e sai em busca de novas ideias e ensinamentos. 

Em alguns casos, as religiões tradicionais são vistas como verdadeiras prisões pois condicionam o indivíduo a pensar em uma determinada direção. O sujeito passa a atacar tudo que diz respeito às velhas tradições sem, contudo, perceber que ele mesmo pode ter caído noutra prisão mais sutil e de difícil detecção: a do guru.

Dentre as diversas ciladas ensinadas pelos gurus da moda está a prática da 'observação silenciosa passiva não-reativa' (OSPNR). Algo que, à primeira vista, soa verdadeiro e profundo mas que, de fato, é uma das prisões mais sutis e perigosas de todas. E vou explicar o porquê:

O sujeito que pratica esse tipo de observação pensa que esse é o caminho para um estado elevado de consciência . Ele acredita que quanto mais observar, maior será a chance de fixar tal estado. Pior ainda: ele crê que a fixação daquele estado depende exclusivamente de seu esforço e dedicação. Ledo engano.

Mas qual é o problema com esse tipo de prática?

É o seguinte: nesse tipo de observação ainda existe um 'observador' só que muito mais sutil e que, por ser passivo, parece ausente. Além disso,  continua um 'vir-a-ser' sutil: o de manter-se constantemente naquele estado . E ainda tem uma 'entidade' fazendo tudo isso ao mesmo tempo que prega a ausência de um 'fazedor'. O esforço continua - apesar deles negarem; mas toda vez que alguém tenta observar algo de forma silenciosa, passiva e sem reações há aí um controlador sutil atuando sobre a mente para mantê-la silenciosa e sem reações. Óbvio!

Ou seja, a ilusão do controle/controlador continua, de forma menos ostensiva, mas continua. Em suma, é o mesmo caso dos animais cativos que vivem em reservas florestais ou 'santuários' selvagens: devido a prisão ser maior e mais confortável não se percebem prisioneiros, não se sentem cativos. 

Assim é a OSPNR! Nela, o sujeito se sente livre, mas só enquanto a está praticando. Fora dela, ele se vê angustiado, descentrado, perdido e confuso. E, por isso, se apega à essa prática como sendo sua única e última esperança de paz. Todavia, é a própria OSPNR a causa de sua miséria . Ela se tornou mais uma prisão  e enquanto o sujeito não se der conta disso será um eterno prisioneiro acreditando ser livre. E, assim, nunca provará o gosto da verdadeira liberdade.

Alsibar Paz

28/01/22

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O CONHECIDO E O DESCONHECIDO

 



Quando Buda alcançou a Iluminação desfez-se a ilusão do "eu" enquanto entidade autônoma e separada. Dizer que o 'eu' não existe seria incorreto pois é ele que cria toda a ilusão do mundo de maya, a divisão e o sofrimento. Afirmar que ele existe seria, igualmente, impreciso pois incorreria no erro de afirmar a existência de algo que está sempre se transformando, em um constante processo de morte e renascimento. O eu, portanto, existe e não existe ao mesmo tempo. Quanto mais apegados à ideia de sua existência concreta/permanente, maior é a resistência à Realidade e, por conseguinte, maior o conflito e o sofrimento.

Quando o ego enquanto entidade autônoma está plenamente cônscio de sua própria existência e, consequentemente, da realidade criada por ele mesmo, seja ela de luz, escuridão ou neutralidade - diz-se que ele vive no 'conhecido'- ou seja, com pleno conhecimento daquilo que vive, sente e experimenta.

O 'conhecido' é a extensão sutil do próprio ego. Imagine o ego como uma lanterna acesa que ilumina o mundo ao seu redor. Sem a luz da lanterna não há mundo visível, não há cores, sensações e percepções. É o ego que torna o mundo perceptível e visível aos olhos da consciência.

Em termos práticos é o seguinte: se estou plenamente consciente da minha própria ascensão, das minhas virtudes, da minha Iluminação e espiritualidade então é tudo ilusório pois é o ego que está 'iluminando' tudo. É essa a dimensão que Krishnamurti apelidou de 'conhecido' pois há um conhecimento pleno do ego acerca de suas próprias ações, conquistas , perdas, ganhos, objetivos, processo, etc, etc.

No Antigo Testamento, há uma vaga alusão a essa questão. Quando Deus diz a Moisés: 'aquele que vê minha face morre' (Êxodo 33:20) é exatamente Isso. Em outras palavras: o ego não pode ver (conhecer) Deus - o Eterno Desconhecido. Assim, apenas com a morte do ego ilusório é que o Desconhecido pode então se apresentar.

Ego é sinônimo de conhecido/conhecimento/consciência de si, o sentido do eu auto-existente e separado. O conhecido é a dimensão onde o Ego governa e reina - inclusive quando trata dos assuntos ditos ' espirituais'.

O Desconhecido é a dimensão onde o ego não mais manda, não resiste, nem existe - exceto nas questões de ordem prática para garantir a sobrevivência, o conforto e a proteção do corpo. No Reino do Desconhecido não há mais o 'mundo do eu'. Internamente, esse mundo perde a consistência, existência e importância.

Por isso que, quem alcança o Desconhecido penetra na imensidão do Infinito. Lá, passado, presente e futuro fundem-se na Eternidade. Nesse estado, tudo está constantemente emergindo e imergindo, aparecendo e desaparecendo, nascendo e morrendo. É como um movimento constante das ondas do mar que quando vem cria o mundo com suas aparências, cores e dores. E quando se vai, leva tudo consigo revelando a natureza essencial da realidade aparente onde tudo se manifesta: o Espaço Imensurável, o Grande Vazio de onde tudo nasce e para onde tudo retorna.

Alsibar Paz

05/01/22

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