sexta-feira, 25 de junho de 2021

“E TERÁS QUE ME DIZER”: O LIVRO ALÉM DO CLICHÊ ADVAITA

 


O livro acima citado, de autoria de Jorge Cunha Cruvinel Filho, não é uma obra puramente advaita-vedanta ( não-dualista) como muitos poderiam pensar. Há nele, elementos que remetem a todas as grandes filosofias e tradições sagradas da humanidade.  É possível perceber ecos do budismo, do misticismo cristão, do taoísmo, de Krishnamurti, UG, do zen e até da psicologia e psiquiatria - como não poderia deixar de ser, visto que é a área de atuação profissional do autor. Escrito em estilo literário, o livro chega a lembrar as grandes obras filosóficas do oriente com sua beleza poética aliada a uma profunda sabedoria. Não é um livro para ser refutado, mas sim degustado. Mas, mesmo que tentasse, seria impossível discordar de suas afirmações porque elas vão sempre refletir verdades profundas,  em algum nível da complexa psiquê humana. O autor trabalha muito mais  no campo da filosofia lírica, simbólica, do que, propriamente. religiosa.

Quem fala na obra não é o Jorge, psiquiatra, escritor, buscador, mas sim o “eu lírico” do buscador universal  presente na alma de toda humanidade. Durante sua leitura, a mente silencia e a vontade que se tem é de  fechar os olhos e apenas ouvi-lo, sentindo suas palavras vibrarem no mais íntimo do ser. Jorge está muito mais para poeta do que para guru — o que faz toda diferença, pois torna sua obra singular e rara. Se usasse um pseudônimo estranho de um guru qualquer da antiguidade, seu texto poderia facilmente se passar por um pergaminho antigo, achado em alguma caverna secreta nos recônditos inacessíveis dos Himalaias ou do Egito.

A obra não tem índice - o que pode parecer estranho. Composta por 60 capítulos e cada capitulo dividido em “versículos”,  tem um formato diferente dos livros que normalmente são vendidos no mercado. O livro conta, ainda, com várias ilustrações coloridas de Marcus Knight.

Ilustração de Marcos Knight
O estilo também é diferente: ele não precisa ser lido em sequência. Em algumas partes, temos a impressão de estarmos andando em  uma espiral, pois alguns assuntos são retomados, mas  a cada “volta” novos elementos e ângulos são adicionados - uma forma de expandir a compreensão do leitor, motivando-o a ter novas percepções e insights à medida em que avança na leitura.


 
Além disso, o autor consegue fugir do lugar comum das frases feitas tão recorrentes nos discursos de gurus e pretensos mestres neo-advaitas ( novos não-dualistas) e apresenta um texto leve, diferente, ao mesmo tempo poético e profundo, o que potencializa o prazer da leitura. A repetição do significado dos termos em sânscrito - rajas, tamas, sattva e karma- poderia ser evitado para que a leitura pudesse fluir melhor . Todavia, isso é um detalhe que em nada diminui o valor deste primoroso trabalho.

Apesar de predominantemente poético, o livro de Jorge Cruvinel une com bastante equilíbrio poesia e exatidão. Seu eu lírico tem plena consciência da responsabilidade de não fugir demais da descrição daquilo que é verdadeiro, sob pena de deturpar a Verdade — tão preciosa para aqueles que estão sedentos pelo despertar. É, portanto, ao mesmo tempo uma obra lírica e um guia de orientação para todos  que estão mergulhados na selva sombria dos conflitos, vivendo sob o peso do sofrimento psicológico. Por isso, é uma obra para se aprender, mas também para se desfrutar. Está mais do que recomendado e aprovado. 

 Alsibar Paz

Alsibar Paz – É Psicanalista e também professor de Inglês, Português e Literatura formado pela Universidade Federal do Ceará. Tendo atuado  como Instrutor de Meditação ao longo de vários anos, atualmente mantém o blog  Alsibar e o canal Despertares com Alsibar no You Tube. Facebook: Alsibar Paz. Instagram: Alsibarpaz. Grupos no Facebook: Para Entender Krishnamurti e Canais Despertos.

 

O livro “ E terás que me dizer” de Jorge Cunha Cruvinel Filho pode ser adquirido no site do Clube de Autores. Link Abaixo:

 

Link: https://clubedeautores.com.br/livro/e-teras-que-me-dizer-2