sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

SATSANG E O COMÉRCIO DA VERDADE- Satsang and the "Truth Trading"- Satsang y el comercio de la verdad



Satsang e o comércio da Verdade- http://alsibar.blogspot.com

Aproxima-se o carnaval -o maior e mais esperado feriadão do ano. Um período para viajar, curtir, dançar e beber… Ou, se preferir, passear, descansar ou participar de um “satsang”. Como??? Não sabe o que é um satsang? Então leia o artigo e aprenda mais sobre esta prática espiritual milenar que , na era moderna, enfrenta o problema da exploração comercial por parte de supostos gurus autorrealizados.

          Satsang é uma palavra de fácil compreensão. Etmologicamente ela é formada por dois vocábulos “sat” que significa “ verdade” e “sang” que significa encontro -“Encontro com a Verdade”. Em outras palavras, é  uma reunião ou um encontro de pessoas – discípulos ou não- em torno de um mestre iluminado ou guru.  Em sua presença, eles podem  ouvir a Verdade  direto da fonte. Todavia, há fontes e “fontes”. Uma mais puras, outras menos. Há inclusive as que aparentam ser cristalinas e potáveis, mas são poluídas e perigosas. Algumas chegam a ser venenosas podendo levar a óbito. Como se prevenir dos perigos de um falso satsang – entendido aqui como um “encontro com a ilusão”? É o que vamos refletir juntos.

Satsang significa "encontro com a Verdade"

          Uma rápida busca pela Internet  poderá lhe assustar. Há “satsangs” de todo preço e para todo gosto. O mercado parece estar em alta. Você pode escolher um mestre que lhe “caia bem”- na consciência e no bolso. No Brasil, há de vários tipos: tem o sorridente e charmoso  “quarentão boa pinta”; o moreno sedutor com aparência e voz de pastor ; o famoso paulista barbadão com cara de indiano (apesar de estar mais para Paulo Freire). Além dos internacionais: o rastafari, a coroa loira, o careca com pinta de monge zen, o jovem bonitão com pose de modelo etc. Não importa. Se você procurar, encontrará um guru e um satsang pertinho de você. Só há um pré-requisito que talvez lhe desqualifique para esta experiência “inesquecível” : ser liso! Caso você não tenha dinheiro as portas do Nirvana estarão provavelmente fechadas para você. Isso porque nenhum dos satsangs que pesquisei é de graça- com exceção daqueles em que o mestre está morto ou ausente. Nestes casos, o satsang é feito através de uma foto ou estátua do guru . Esse tipo de satsang, ou retiro espiritual, é o mais comum . 
Há fontes e "fontes", como diferenciá-las?

          Mas o foco desse artigo não são os retiros espirituais em que organizadores e coordenadores cobram honestamente  pelos custos com estadia, alimentação, transporte , aluguel etc. Aqui refletimos especialmente sobre o satsang comercial. Aquele cuja presença do "guru-deus" é a principal -e mais cara- atração.A grande diferença entre um satsang e um retiro espiritual comum é justamente a presença física do "mestre". É a oportunidade de estar diante de um “mega-star espiritual”- alguém que chegou ao pico máximo da realização humana, também chamado de Moksha ou Libertação. Um guru é considerado na tradição indiana a manifestação de Deus em forma humana. Para muitos devotos  não há diferença entre o guru e Deus.

          Talvez por causa desta crença milenar, alguns comerciantes de satsangs gostam de alardear os benefícios que uma reunião com o “mestre” pode  trazer. Apresentam-na como uma panaceia para todos os males. Há  sites que falam até mesmo da cura de distúrbios psicológicos e psiquiátricos. Assim, qualquer problema que lhes forem apresentados, de qualquer espécie ou natureza, a receita é uma sessão de satsang. Dizem com orgulho que psicólogos, terapeutas , psiquiatras nada sabem e para nada servem. Basta sentar-se aos pés do guru para que a libertação aconteça. Como num passe de mágica, todos os males físicos, mentais e espirituais desaparecem apenas por olhar nos olhos do " Desperto". Caso não aconteça na primeira vez, é porque precisa de mais sessões de satsangs. Quanto mais, melhor. Quem manda é o seu bolso.
Guru é profissão?

          Pelo que se percebe, muitos gurus atuais estão atuando profissionalmente. Muitos dependem completamente desse ofício para se manter seu estilo de vida- muitas vezes caro e luxuoso. A questão que se coloca  é exatamente essa: existe a profissão de guru? Um padre ou um pastor, por exemplo, são profissionais graduados que estudaram, investiram tempo e dinheiro para terem uma formação e assim poderem atuar profissionalmente. E o curioso é que, mesmo estes, não cobram por suas pregações, conselhos ou atendimentos. Vivem, em geral, de dízimos, doações, outros projetos ou outras profissões como, por exemplo,  professor , psicólogo etc  para não dependerem da boa vontade dos outros.

          Alguém pode então questionar: você está defendendo a tese de que o guru deva ser um mendicante, um mendigo? Não necessariamente. Ele pode trabalhar como qualquer pessoa. Ou ter outras fontes de renda que o sustentem- o que não deve ser muito pois se é um mestre espiritual deveria, em tese, dar exemplo de renúncia e desapego material. Mas, pelo que me parece, os gurus modernos não dispensam um luxo. Querem ser tratados como reis e bajulados como deuses. 

Satsang: o comércio da Graça Espiritual

          Por isso é importante uma reflexão mais aprofundada sobre a questão dos satsangs comerciais. O que o guru vende quando ele  cobra por um satsang? O privilégio de estar em sua presença física ? Ou seria, o direito de ouvir a "verdade" diretamente dos seus lábios “sagrados”? E a Verdade pode ser vendida? Ou aquilo que se vende, mesmo que seja verdade, passa a ser mentira pois é usado com fins comerciais? O guru não é um profissional comum. Estamos falando de alguém que   se apresenta como a manifestação de Deus na terra e, no entanto, comercializa  esse mesmo Deus. Ora, mas Deus pode ser vendido?  E qual seria o seu preço? Qual o preço da  Vida, do ar, do corpo, da saúde, do amor, da paz, da felicidade? Alguém, ou alguma entidade espiritual já lhe cobrou por isso? Não. E sabe por que? Porque estas coisas não se vendem, nem se compram. O que é verdadeiro, real e essencial não tem preço. Apenas o que é superficial, artificial e ilusório tem valor pecuniário e, por isso, pode ser vendido.

           Como saberemos o critério? O grande mestre Jesus  afirmou certa vez: “dai de graça o que de graça recebestes”. Assim, este é o parâmetro: o que a Graça nos dá de graça, deve também ser dado de graça.  Se cobro por aquilo que Deus me deu gratuitamente estou agindo como um ladrão salteador.  E então vem a segunda questão:  o que o guru recebeu de Deus foi de graça ou foi pago? Alguém já comprou a Iluminação, a Autorrealização, o Reino de Deus? Historicamente sabemos que algumas organizações religiosas já venderam um pedaço do céu. Mas alguém já conseguiu comprar a iluminação? Pelo que eu saiba  não. Se fosse assim, não haveria tantos milionários insatisfeitos, depressivos ou infelizes. Deus é a Paz, o Amor, a Bem-Aventurança- o que há de mais sagrado e puro neste universo. Deus ou a Verdade é "aquilo" que não tem preço e , consequentemente, não pode ser vendido. Mas mesmo assim, tem "D-espertos" vendendo, e tolos comprando.
Os verdadeiros mestres nunca cobraram  por seus ensinamentos, nem presença

          Os verdadeiros mestres iluminados nunca cobraram por seus ensinamentos ou atendimentos espirituais.  Em geral, ou trabalhavam  ou possuíam alguma outra fonte de renda alternativa. Talvez, porque já tinham bastante sabedoria e elevada espiritualidade- o que parece não acontecer com os gurus da atuais . Seus anúncios e propagandas visam claramente a expansão mercadológica de suas organizações- exatamente como qualquer empresa  que precisa lucrar e expandir . Virou realmente uma babel- não dá mais pra diferenciar ou discernir o que é espiritual do que é comercial. Será que a prática de se cobrar ingressos para o Reino de Deus está renascendo da Idade Média? E, infelizmente, a mente da sociedade moderna está tão dominada pela lógica do mercado que vê isso como algo natural.
Deus , Verdade ou Iluminação pode ser comercializado?

          Não podemos esquecer de uma coisa: o sentido da vida  encontra-se nas coisas que não tem preço. Valores como Amor, Paz, Felicidade, Sabedoria, Iluminação não são mercadorias. São estas preciosidades espirituais que nos elevam da medíocre condição humana  à condição divina.  Na dúvida , mire-se no exemplo dos verdadeiros mestres iluminados e veja se não há algo de errado com os gurus da Nova Era de Exploração:

Lahíri Mahasaya- o grande mestre-iogue trabalhou a vida toda como contador numa empresa ferroviária inglesa. Trabalhava durante o dia e dava satsangs à noite GRATUITAMENTE . Detalhe: tinha esposa e filhos para sustentar.

Sri Yuktéswar- o grande jnana iogue, mestre de Yogananda vivia dos negócios e propriedades deixado por seus antepassados. Não cobrava por seus atendimentos ou satsangs.
Ramana- exemplo de humildade e renúncia

Ramana Maharshi- o maha-iogue era um sanyasin, um renunciante. Sua vida era modestíssima - possuía apenas uma tanga.  Nunca cobrou por satsangs, ou pela Graça de sua Presença. Tudo no ashram era gratuito, inclusive alimentação- como é de praxe na Índia- e ele não aprovava nenhum privilégio para com sua pessoa.

Nisargadatta Maharaj- famoso iogue advaita ( não-dualista), possuía uma pequena loja de fumo onde trabalhava durante o dia. Os visitantes eram atendidos à noite de forma totalmente gratuita.

Jiddu Krishnamurti- as palestras e os atendimentos individuais eram totalmente gratuitos. Quando as conferências eram realizadas em espaços  alugados cobrava-se uma taxa como forma de cobrir os custos. Em um vídeo sobre K. vi uma mocinha com uma caixinha na mão, no portão de saída, recolhendo doações voluntárias.

          Por fim, quero deixar bem claro que não sou contra satsangs. Todavia, penso que deveria haver menos exploração comercial. As pessoas poderiam pagar um valor voluntário, ou os preços deveriam ser mais populares. Além disso, se o guru é a manifestação de Deus na Terra, não havendo diferença entre “Deus, Guru e o SER” –como disse Ramana Maharshi -então ele  deve “ser perfeito como vosso Pai Celestial é perfeito”. Caso contrário, há um grande risco de ser uma roubada. E o tal "guru", talvez, não seja tão iluminado assim. Podendo, inclusive, ser  um grande charlatão, explorador e hipnotizador. Felizmente, temos os exemplos dos verdadeiros mestres ou gurus. Estes, mesmo enfrentando as dificuldades da sociedade capitalista moderna, fizeram questão de ser os primeiros a dar exemplo de renúncia, trabalho honesto e vida moderada.

Então, da próxima vez que for a um satsang, leve em consideração essas reflexões. E analise se vale a pena pagar pela "graça divina" ou pela presença do "guru". Depois siga sua consciência , afinal a vida é sua e o dinheiro é todo seu. 

Namastê!

Alsibar

http://alsibar.blogspot.com
Repostagem autorizada, desde que informada o nome e endereço da fonte. 





domingo, 13 de janeiro de 2013

A VIDA APÓS A MORTE: TUDO SOBRE “ O OUTRO LADO”: SRI YUKTÉSWAR




( Após sua morte, o grande iogue Sri. Yuktéswar materializou-se para seu discípulo Yogananda e respondeu-lhe todas as perguntas sobre o destino do homem no "além" .Um relato raríssimo sobre o “outro lado” como você nunca ouviu antes. Uma das descrições mais completas e detalhadas sobre  as diversas e misteriosas dimensões pelas quais a alma  humana viaja rumo ao Infinito. 
Simplesmente imperdível !)

Sri. Yuktéswar e Yogananda

Sentado em meu leito no hotel de Bombaim, às três horas da tarde de
19 de junho de 1936 - uma semana após a visão de Krishna -- fui
interrompido em minha meditação por uma luz beatífica. Ante Meus olhos
abertos e atônitos, o quarto inteiro transformou-se num mundo estranho; a
luz do sol transmutava-se num esplendor sobrenatural.
Sentindo-me arrebatado em ondas de êxtase, contemplei a figura ele
Sri Yuktéswar, em carne e osso!
- Meu filho! - exclamou o Mestre com ternura e um sorriso de anjo
sedutor.

Pela primeira vez em minha vida não me ajoelhei a seus pés para
saudá-lo, mas avancei no mesmo instante para apertá-lo em meus braços,
avidamente. Momento divino! A angústia dos meses anteriores extinguiu-se,
fez-se imponderável se comparada à beatitude torrencial que me inundou
então.

- Mestre meu, bem-amado de meu coração, por que me deixou? --
Atribuo esta incoerência ao meu excesso de alegria. - Por que permitiu que
eu fosse a Kumbha Mela? Com que amargura venho me recriminando por
me haver afastado de sua presença!

- Eu não quis interferir, você era feliz em sua expectativa de conhecer
o local de peregrinação onde encontrei Bábají pela primeira vez. Deixei-o
apenas por breve momento; não estou com você de novo?

- Mas é o senhor de verdade, Mestre, o mesmo Leão de Deus? Está
usando um corpo igual ao que enterrei sob as cruéis areias de Puri?

- Sim, meu filho, sou eu mesmo. Este é um corpo de carne e osso.
Embora eu o veja como etéreo, para a sua vista é físico. Com os átomos
cósmicos, criei uma forma inteiramente nova, exatamente igual ao
corpo-físico-de-sonho-cósmíco que você depositou sob as areias-de-sonho
de Puri, em seu mundo-de-sonho. Em verdade, ressuscitei - não na Terra,
mas num planeta astral. Seus habitantes estão melhor capacitados que a
humanidade terrena para seguir os meus elevados padrões espirituais. Você
e seus entes queridos, os que alcançaram o êxtase, para lá irão algum dia;
estaremos todos juntos.

- Imortal guru, conte-me ainda mais!
O Mestre teve um riso breve, cheio de jovialidade. - Por favor, querido -

disse ele. - Não quer afrouxar um pouco o seu abraço?
- Só um pouquinho! - Eu o estivera abraçando com uma pressão de
polvo. Percebi o mesmo débil, aromático e natural odor que fora
característico de seu corpo terreno. O emocionante contato de sua carne
divina ainda persiste nas faces internas de meus braços e nas palmas das
mãos, sempre que relembro aquelas horas gloriosas.

- Como os profetas são enviados à Terra para ajudar os homens a
esgotarem seu carma físico, assim Deus me enviou a um planeta astral com
a missão de salvador - explicou Sri Yuktéswar. - Esse globo chama-se
Hiranyaloka ou “Planeta Astral Iluminado”. Lá estou auxiliando seres
adiantados a se desembaraçarem de seu carma astral e a se libertarem,
portanto, dos renascimentos astrais. Os residentes em Hiranyaloka têm
elevado desenvolvimento espiritual; todos adquiriram, em sua última
encarnação terrestre, o poder, conferido pela meditação, de abandonar
conscientemente o corpo na hora da morte. Ninguém poderá entrar em
Hiranyaloka se não tiver experimentado na Terra, não apenas sabikálpa
samádhi, mas também o estado superior de êxtase, nirbikalpa sainádhi364.

 “Os habitantes de Hiranyaloka já ultrapassaram as esferas astrais
ordinárias para onde quase todas as pessoas da Terra devem ir ao morrer;
nelas destruíram muitas sementes cármicas relativas a suas ações passadas
no mundo astral. Apenas devotos adiantados realizam com eficiência esse
trabalho redentor nas esferas astrais365. Então, o fim de livrarem inteiramente
sua alma de todos os traços de carma astral, a lei cósmica impeliu estas
criaturas de aspiração mais alta a renascerem em novos corpos astrais em
Hiranyaloka, o céu ou sol astral, onde me encontro para ajudá-los. Vivem
também em Hiranyaloka seres quase perfeitos vindos do mundo causal
superior.”

Minha mente encontrava-se, a essa altura, em tão perfeita sintonização
com a de meu guru, que ele me comunicava suas imagens-palavras, em
parte através da linguagem e em parte pela transmissão de pensamento.
Assim eu recebia, rapidamente, seus tablóides de idéias.

- Você leu nas Escrituras - continuou o Mestre - que Deus encerrou a
alma humana em três corpos, sucessivamente: o corpo causal ou de idéias;
o sutil corpo astral, sede das naturezas mental e emocional do homem; e o
grosseiro corpo material. Na Terra, o homem está equipado com os sentidos
físicos. Um ser astral age através de sua consciência e sentimentos, e de um
corpo feito de vitátrons. Um ser em corpo causal paira no beatifico reino
das idéias. Meu trabalho relaciona-se com aqueles seres astrais que estão
se preparando para entrar no mundo causal.

- Mestre adorável, por favor, fale-me ainda mais sobre o cosmos astral.

- Embora eu tivesse afrouxado um pouco o meu abraço a pedido de Sri
Yuktéswar, meus braços ainda continuavam a rodeá-lo. Tesouro acima de
todos os tesouros, meu guru se rira das Morte para chegar até mim!

- Existe uma infinidade de esferas astrais, fervilhantes de seres
começou o Mestre. - Seus habitantes usam veículos astrais, ou massas de
luz, para viajar de um a outro planeta - mais depressa que as energias
elétricas ou radioativas.

“O universo astral, composto de diversas vibrações sutis de luz e calor,
é centenas de vezes maior que o cosmos material. A criação física inteira,
como sólida barquinha, está dependurada do gigantesco aeróstato luminoso
que é a esfera astral. Assim como numerosos sóis e estrelas físicas vagam
pelo espaço, existem também, no astral, incontáveis sistemas solares e
estelares. Seus planetas contam com sóis e luas mais belos que os físicos.
Os luminares astrais se parecem com as auroras boreais - a aurora do sol
astral deslumbra mais que os tênues raios do despontar da lua astral. E dias
e noites são muito mais longos que os da Terra.

“O universo astral é, pois, infinitamente belo, limpo, puro e ordenado.
Não existem planetas mortos nem terrenos estéreis. Os defeitos, lamentados
na Terra, lá estão ausentes: ervas daninhas, bactérias, insetos, serpentes.
Ao contrário das estações e climas variáveis do globo terrestre, os planetas
astrais mantêm uma temperatura uniforme de eterna primavera, caindo, às
vezes, neve de luminosa alvura e chuvas de luz multicolorida. Lá, sobejam
lagos opalinos, mares rebrilhantes, e rios com os matizes do arco-íris.

“O universo astral ordinário - não o céu sufilíssimo de Hiranyaloka - é
povoado por milhões de seres astrais, vindos, mais ou menos recentemente,
da Terra; e também por míríades de fadas, sereias, peixes, animais,
duendes, gnomos, semideuses e espíritos, todos residindo em diferentes
planetas astrais de acordo com suas qualificações cármicas. Reservam-se
várias moradas planetárias ou regiões vibratórias para espíritos bons e para
espíritos maus. Os bons podem viajar livremente, mas as entidades
prejudiciais estão confinadas a zonas restritas. Aqui, os seres humanos
vivem na superfície da terra, os vermes no interior do solo, os peixes na
água e os pássaros no ar; lá, também, os seres astrais se encaminham a
regiões vibratórias adequadas a seus diferentes estágios de evolução.

“Entre sombrios anjos caídos, expulsos de outros mundos, surgem
atritos e declaram-se guerras com bombas “vitatrônicas” ou raios vibratórios
da mente, mântricos367. Estes marginais habitam regiões de trevas densas,,
no cosmo astral inferior, saldando as dívidas de seu mau carma.


“Em vastos reinos acima da lúgubre penitenciária astral, tudo é
resplandecente e formoso. O cosmo sutil, por sua natureza, acha-se mais
sintonizado com a vontade de Deus e com Seu plano de perfeição que a
Terra. Todo objeto astral manifesta-se primordialmente pela vontade
declarada dos seres astrais. Estes possuem o poder de modificar ou realçar
a graça e a forma de qualquer objeto já criado pelo Senhor. A Seus filhos
astrais, Ele deu a liberdade e o privilégio de modificarem ou aperfeiçoarem à
vontade o cosmo astral. Na Terra, para transformar um sólido em líquido ou
alterar-lhe a forma, é preciso submetê-lo a processos físicos ou químicos,
enquanto os sólidos astrais são convertidos em líquidos astrais, gases
astrais ou energia atômica astral, apenas e instantaneamente, pela vontade
de seus habitantes.

“A Terra mergulha nas sombras das guerras e dos assassínios, rios
continentes, nos mares e no ar - continuou meu guru. - Nos domínios astrais,
porém, observa-se uma igualdade e harmonia felizes. Os seres astrais
desmaterialízarn suas formas e voltam a materializá-las, à vontade. Flores,
peixes ou outros animais podem se metamorfosear temporariamente em
homens astrais. Todos os seres do astral são livres para assumir qualquer
forma e podem facilmente conversar entre si. Nenhuma lei natural, fixa,
definitiva, os limita: a qualquer árvore astral se pode pedir, por exemplo, que
produza mangas astrais, flores ou, separadamente, qualquer outro objeto,
com êxito. Existem certas restrições cármicas mas nenhuma distinção se faz,
no mundo astral, quanto ao desejo de possuir esta ou aquela forma. Tudo
vibra com a luz criadora de Deus.

“Ninguém nasce de mulher; seres astrais, por meio de sua vontade
cósmica, materializam sua prole em formas expressivamente esculpidas,
astralmente condensadas. Quem recentemente desencarnou no mundo
físico integra-se numa família astral por convite, atraída por tendências
mentais e espirituais semelhantes.

“O corpo astral não está sujeito ao frio e ao calor, ou a outras
condições da natureza. Sua anatomia inclui um cérebro astral ou o “lótus de
mil pétalas de luz”e seis centros despertos no sushumna ou eixo astral
cerebrospínal. Do cérebro astral, o coração retira energia cósmica e luz,
enviando-as aos nervos astrais e às células do corpo astral ou “vitátrons”. Os
seres astrais podem alterar suas formas por energia “vitatrônica” ou por
santas vibrações mântricas.

“Em muitos casos, o corpo astral é uma cópia exata da última forma
física. A face e a figura de uma pessoa astral assemelham-se aos que
possuía durante a mocidade em sua última jornada terrena. Às vezes,
alguém, como eu, prefere conservar a aparência que tinha em sua velhice”. -
O Mestre, a quintessência da juventude, riu jovialmente.

“Ao contrário do mundo físico tridimensional, só conhecido por meio
dos cinco sentidos, as esferas astrais são perceptíveis ao sexto sentido, a
intuição, que inclui os demais. Os seres astrais vêem, escutam, cheiram,
saboreiam e apalpam por meio da multisciente sensação intuitiva. Possuem
três olhos, dois dos quaís parcialmente fechados. O terceiro e principal olho,
verticalmente colocado na testa, está aberto. Os seres astrais têm todos os
órgãos externos dos sentidos - olhos, ouvidos, nariz, língua e pele - mas
empregam o sentido da intuição para experimentar sensações através de
qualquer parte do corpo; podem ver por meio do ouvido, do nariz ou da pele,
escutar pelos olhos ou pela língua, saborear através dos ouvidos ou da pele,
e assim por diante

“O corpo físico do homem encontra-se exposto a inúmeros perigos e
facilmente se machuca ou se mutila; o etéreo corpo astral pode, às vezes,
ser cortado ou esmagado, mas cura-se instantaneamente por mera
expressão da vontade.”

- Gurudeva, todas as pessoas astrais são belas?

- A beleza no mundo astral é uma qualidade do espírito e não se
aquilata pela conformação exterior - respondeu Sri Yuktéswar. - Os seres
astrais, por isso, atribuem pouca importância às feições. Eles têm o
privilégio, entretanto, de se revestirem, à vontade, de corpos astralmente
materializados, novos e coloridos. Assim como os homens mundanos
envergam novo traje para acontecimentos de gala, também as pessoas
etéreas encontram oportunidade de se adornar com formas esculturais.
“Festas de regozijo nos planetas astrais superiores, como Híranyaloka,
ocorrem quando um ser, por seu adiantamento espiritual, liberta-se do
mundo astral e acha-se preparado assim para ingressar no céu do mundo
causal. Nessas ocasiões, o Pai Celestíal Invisível e os santos n'Ele imersos,
materializam-se em corpos de Sua própria escolha e participam das
celebrações astrais. Para agradar a Seu devoto bem-amado, o Senhor
assume a forma sob a qual este mais O adora. A quem O cultuou com
devoção, Deus aparece como Divina Mãe. Para Jesus, o aspecto de Pai
Infinito sobrepassava todas as demais concepções. A individualidade
conferida pelo Criador a cada uma de Suas criaturas faz que todo tipo de
demanda, concebível ou inconcebível, ponha à mostra a versatilidade do
Senhor! “- Meu guru e eu rimos felizes.

“Amigos de vidas passadas facilmente se reconhecem uns aos outros
no mundo astral - continuou Srí Yuktéswar, em sua encantadora voz de
flauta. Rejubilando-se com o caráter imortal da amizade, eles experimentam
a indestrutibilidade do amor, de que tantas vezes se duvidou, na hora das
tristes e ilusórias separações na Terra.

“A intuição dos seres astrais perfura o véu e observa as atividades
humanas na Terra; o homem, ao contrário, não pode ver o mundo astral, a
menos que seu sexto sentido esteja desenvolvido. Milhares de habitantes da
Terra vislumbraram momentaneamente um ser astral ou um mundo astral

“Os residentes adiantados de Hiranyaloka permanecem, em geral,
despertos em êxtase durante os longos dias e noites astrais, ajudando a
resolver problemas intricados de governo cósmico e de redenção de filhos
pródigos, almas apegadas à Terra. Quando os seres de Hiranyaloka dormem
têm, às vezes, visões astrais semelhantes ao sonho. Suas mentes, como de
hábito, estão absortas no estado consciente da mais elevada beatitude
nirbikalpa.

“Os habitantes de todas as regiões dos mundos astrais ainda estão
sujeitos a agonias mentais. As mentes hipersensíveis dos seres mais
adiantados, em planetas como Hiranyaloka, sentem dor aguda se algum erro
é cometido, de percepção da verdade ou de conduta. Estes seres mais
evoluídos esforçam-se para harmonizar cada um de seus pensamentos e
atos com a perfeição da lei espiritual.

“As comunicações entre os habitantes astrais efetuam-se inteiramente
por telepatia e por televisão astrais. Lá se desconhecem a confusão e a
incompreensão oriundas da palavra oral e escrita, que os moradores da
Terra estão obrigados a suportar. Exatamente como os homens numa tela
de cinema parecem mover-se e participar de atividades ao longo de uma
série de cenas luminosas, sem respirar de verdade, também os habitantes
do mundo astral andam e trabalham como imagens de luz inteligentemente
guiadas e coordenadas, sem necessidade de retirar forças do oxigênio. O
homem depende de sólidos, líquidos, gases e energia para a sua
subsistência; os moradores do astral alimentam-se principalmente de luz
cósmica.”

- Mestre meu, os seres astrais comem alguma outra substância?
Eu sorvia seus maravilhosos esclarecimentos com a receptividade de
todas as minhas faculdades - mente, coração e alma. As percepções
superconscientes da verdade são permanentemente reais e imutáveis,
enquanto as experiências e impressões fugazes dos sentidos são apenas
temporária e relativamente verdadeiras; a memória que delas o homem
conserva logo perde a vivacidade. As palavras de meu guru imprimiram-se
de modo tão indelével no pergaminho de meu ser que, a qualquer momento,
transferindo minha mente para o estado de superconsciência, posso reviver
com nitidez a divina experiência.

“Legumes de tessitura luminosa são abundantes nos solos astrais -
respondeu ele. - Os moradores do mundo astral consomem vegetais e
bebem o néctar que jorra de gloriosas fontes de luz e que flui nos regatos e
rios astrais. Exatamente como na Terra é possível extrair do éter as imagens
invisíveis dos homens, torná-las visíveis por meio de um aparelho de
televisão e, posteriormente, dissolvê-las de novo no espaço, assim também
os invisíveis projetos estruturais de plantas e legumes, criados por Deus e
flutuantes no éter, condensam-se num planeta astral pela vontade de seus
habitantes. Do mesmo modo, nascidos da fantasia insubmissa destes seres,
jardins inteiros de perfumada flora materializam-se para retornar mais tarde à
invisibilidade etérea. Se os moradores de planetas celestiais, como
Hiranyaloka, estão quase livres da necessidade de comer, ainda mais
excelsa é a existência incondicionada de almas quase completamente livres
no mundo causal, cujo único alimento é o maná da bem-aventurança.

“Um ser astral liberto da Terra encontra-se com uma multidão de
parentes, pais, mães, esposas, maridos e amigos, havidos em diferentes
encarnações na Terra370, à medida que essas criaturas regressam, de
tempos em tempos, a várias regiões do cosmo astral. Por isso, sente-se
confuso ao tentar saber a quem amar especialmente; aprende assim a
dedicar amor divino e igual a todos, como filhos e expressões
individualizadas de Deus. Embora a aparência externa dos seres queridos
possa haver mudado, menos ou mais, de acordo com o desenvolvimento de
novas qualidades na última vida, o ser astral em prega sua infalível intuição
para reconhecer todos aqueles que uma vez meu em outros planos dá
existência, e ara recebê-los com alegria ao chegarem a seu novo lar astral.
Em virtude de cada átomo na criação estar dotado de individualidade
inextinguível371, um amigo astral será reconhecido, seja qual for o traje de
que se revista, assim como na Terra se descobre, observando-se
atentamente, a identidade de um ator, apesar da caracterização que o
disfarça.

“O espaço de tempo em que um ser se demora no mundo astral é mais
longo que na Terra. Em média, o período de vida de um ser astral adiantado
é de quinhentos a mil anos, medido segundo os padrões de tempo terreno.
Determinadas sequóias sobrevivem à maioria das árvores durante milênios;
certos jogues vivem várias centenas de anos embora a maior parte faleça
aos sessenta anos; alguns seres astrais ultrapassam o período médio de
vida astral. Os visitantes do mundo astral nele residem por períodos mais
curtos ou mais prolongados de acordo com o peso de seu carma físico, que
os atrai de regresso à Terra dentro de um prazo específico.

“O ser astral não tem de lutar dolorosamente contra a morte, no
momento de desprender-se de seu corpo luminoso. Muitos, não obstante,
sentem-se um pouco nervosos à idéia de se despojarem do invólucro astral
para continuarmos apenas com o mais sutil, o causal. O inundo astral
acha-se livre da morte, da doença e da velhice indesejável - três pavores que
são a maldição da Terra, onde o homem permitiu à sua consciência
identificar-se quase inteiramente com um frágil corpo físico, exigindo o
socorro constante do ar, do alimento e do sono a fim de subsistir.

“A morte física caracteriza-se pelo desaparecimento da respiração e
pela desintegração das células orgânicas. A morte astral consiste na
dispersão dos vitátrons, unidades de energia de que depende a vida dos
seres astrais. Na morte física, o homem perde consciência carnal e torna-se
cônscio de seu corpo sutil no mundo astral. Experimentando a morte astral, a
seu devido tempo, um ser passa, da consciência de nascimento e morte
astrais, à de nascimento e morte físicos. Estes ciclos periódicos de
alojamentos astrais e físicos constituem o destino inelutável de todos os
seres não-fluiníriados. Conceitos de céu e inferno, -nas Escrituras, às, vezes
despertam no homem memórias de sua longa série de experiências no
agradável reino astral e no decepcionante mundo terrestre, revolvendo
arquivos mais profundos que a subconsciência. “

- Bem-amado Mestre - supliquei - pode descrever com maiores
detalhes a diferença entre renascimento na Terra e renascimento nas
esferas astrais e causais?

“- O homem, enquanto alma individualizada, tem um corpo essencialmente
causal - explicou Sri Yuktéswar. - Esse corpo é a matriz das 35
idéias concebidas por Deus, forças de pensamento causal, fundamentais
para que, delas, Ele pudesse formar posteriormente o sutil corpo astral, de
19 elementos, e o denso corpo físico, de 16.
“Os 19 integrantes do corpo astral são mentais, emocionais e vitatrônicos.
São eles: inteligência; ego; sentimento; mente (consciência dos
sentidos); cinco instrumentos de conhecimento, réplicas sutis dos sentidos
da visão, audição, olfato, paladar e tacto; cinco instrumentos de ação,
correspondentes mentais das capacidades executivas de procriar, excretar,
falar, caminhar e executar atividade manual; e cinco instrumentos de força
vital, com poder de realizar as funções orgânicas de cristalização,
assimilação, eliminação, metabolismo e circulação do sangue. Este sutil
envoltório astral de 19 elementos sobrevive à morte do corpo físico,
composto de 16 elementos metálicos e não-metálicos.
“Deus concebeu diferentes idéias dentro de Si mesmo, e na tela de
Seus sonhos fez a projeção delas. Assim nasceu Máya, a Sonhadora
Cósmica, gigantesca e interminavelmente ataviada com seus ornamentos de
relatividade.

“As 35 categorias ideativas do corpo causal encerram, elaboradas por
Deus, todas as complexidades de suas 19 réplicas astrais e 16 físicas. Pela
condensação de forças vibratórias, a princípio sutis e depois grosseiras, Ele
produziu o corpo astral e finalmente a forma física do homem. De acordo
com a lei da relatividade, segundo a qual a Simplicidade Prístina veio a ser
desconcertante multiplicidade, o cosmo causal e o corpo causal são
diferentes do cosmo astral e do corpo astral; o cosmo físico e o corpo físico,
igualmente, diferem, em suas características, daquelas outras formas de
criação.

“O corpo carnal é feito de sonhos materializados, solidificados, do
Criador. Dualidades sempre caracterizam a vida na Terra: saúde e doença,
prazer e dor, ganho e perda. Os seres humanos encontram limitação e
resistência na matéria tridimensional. Quando a doença ou causas diversas
abalam severamente o desejo de viver, intervém a morte; cai ao chão,
temporariamente, o pesado sobretudo da carne. A alma, porem, continua
aprisionada nos corpos astral e causal372. A força de coesão que mantém
unidos os três corpos é o desejo. O poder dos desejos irrealizados é a raiz
de toda a escravidão do homem.

“Desejos físicos radicam-se no egoísmo e nos prazeres dos sentidos. A
compulsão ou a tentação da experiência sensorial é mais poderosa que a
força do desejo referente a apegos astrais e percepções causais.
“Desejos astrais concentram-se em prazeres de tipo vibratório. Os
seres astrais deliciam-se com a etérea música das esferas e extasiam-se
com a visão do universo inteiro criado como expressão inesgotável de luz
cambiante. Também cheiram, saboreiam e tocam a luz. Assim, seus desejos
relacionam-se com seu poder de condensar todos os objetos e experiências
em formas de luz ou em pensamentos condensados ou sonhos.

“Desejos causais são realizações do intelecto. Os seres quase livres,
alojados apenas no corpo causal, vêem o cosmo inteiro como projeções das
idéias - sonhos de Deus; tudo experimentam em puríssimo pensamento.
Consideram o gozo de sensações físicas e deleites astrais, por isso,
grosseiros e sufocantes para a requintada sensibilidade da alma. Os seres
causais realizam seus desejos, materializando-os373 instantaneamente. As
almas que se cobrem somente com o delicado véu do corpo causal, podem
materializar universos, à semelhança do Criador. Tendo todos os mundos
uma só textura, a do sonho cósmico, uma alma, na diáfana veste causal, tem
vastos poderes de realização.

“Sendo invisível por natureza, a alma só pode ser percebida pela
presença de seu corpo ou corpos. A mera presença de um corpo significa
que sua existência se tornou possível devido a desejos irrealizados374.
“Enquanto a alma do homem se encontra encerrada em um, dois, ou
três frascos corporais, tampados hermeticamente com as rolhas da
ignorância e dos desejos, não pode mergulhar no oceano do Espírito.
Destruído o denso receptáculo físico pelo martelo da morte, seus dois outros
invólucros - o astral e o causal - ainda persistem e impedem que a alma se
una, com absoluta consciência, à Vida Onipresente. Quando se alcança,
através da sabedoria, a ausência do desejos, seu poder desintegra os dois
vasos remanescentes. A diminuta alma do homem emerge, livre afinal,
unificada com a Amplidão Imensurável.”

Pedi a meu divino guru que me desse maiores esclarecimentos sobre a
superior e misteriosa esfera causal.

“- O mundo causal é indescritivelmente sutil - respondeu ele.
Para entendê-lo, o homem teria de possuir poderes de concentração
tão extraordinários que o habilitariam a fechar os olhos e visualizar, como se
existissem unicamente em idéias, os cosmos astral e físico em toda a sua
vastidão: o aeróstato luminoso com sua sólida barquinha. Se, por meio desta
concentração sobre-humana, ele pudesse reconverter em idéias puras esses
dois cosmo, com todas as suas complexidades, alcançaria então o mundo
causal: a fronteira de fusão entre a mente e a matéria. Ali, percebem-se
todas as coisas criadas - sólidos, líquidos, gases, eletricidade, energia, os
seres todos: deuses, homens, animais, plantas, bactérias, como formas de
consciência; exatamente como um homem, ao fechar os olhos, percebe que
ele existe, apesar de seu corpo ser invisível aos seus olhos fisicos, uma
presença mental, uma idéia apenas.

“Tudo o que um ser humano apenas imagina, um ser causal converte
em realidade. Um homem dotado de grande imaginação e inteligência é
capaz - em sua mente, apenas - de saltar de planeta em planeta, de
deixar-se cair interminavelmente num abismo de eternidade, de subir como
um foguete ao pálio de galáxias, e de incidír como um holofote sobre as
vias-lácteas e os espaços constelados, Os seres do mundo causal, porém,
gozam de liberdade muito maior: projetam seus pensamentos, objetivandoos
instantaneamente, em esforço, sem qualquer obstrução material ou astral,
e sem limitação cármica.

“Os seres causais sabem, por experiência própria, que o cosmo físico
não se compõe primordialmente de eléctrons, nem o cosmo astral se
constitui basicamente de vitátrons, mas, em realidade, ambos se originam de
diminutas partículas do pensamento de Deus, fendidas e fragmentadas por
máya, a lei da relatividade que intervém para separar, aparentemente, a
criação de seu Criador.

“No mundo causal, as almas se reconhecem umas às outras como
fragmentos individualizados do Espírito beatífico; seus objetos pensados são
os únicos que as rodeiam. Os seres causais percebem que a diferença entre
seus corpos e pensamentos é uma idéia, simplesmente. Assim como o
homem, fechando os olhos, pode visualizar uma ofuscante luz branca ou
uma névoa azul desbotada, os seres causais também, por intermédio
exclusivo de seu pensamento, enxergam, ouvem, cheiram, saboreiam e
apalpam; eles criam tudo, ou tudo dissolvem, pelo poder de sua mente
cósmica.

“Tanto a morte como o renascimento no mundo causal ocorrem em
pensamento. O alimento delicioso dos seres causais é um só, a ambrosia do
conhecimento eternamente novo. Bebem dos mananciais de paz, vagam
pelo solo sem trilhas das percepções, nadam no oceano sem praias da
beatitude. Oh, contemple! Seus brilhantes corpos-pensamentos passam
zunindo vertiginosamente por trilhões de planetas criados pelo Espírito, por
recentes borbulhas de universos, por moradas estelares de sábios, e por
sonhos espectrais de áureas nebulosas, no seio azul-celeste do Infinito!

“Muitos seres permanecem durante milhares de anos no cosmo causal.
Então, depois de êxtases progressivamente mais profundos, a olma se libera
do pequeno corpo causal e incorpora-se à imensidão do cosmo causal.
Todos os 'estanques remoinhos de idéias, as ondas particularizadas de
poder, amor, vontade, alegria, paz, intuição, calma, autodomínio e
concentração, fundem-se no inesgotável Oceano de Beatitude. Não mais a
alma fruirá sua ventura como onda individualizada de consciência; agora
mergulha no Oceano Cósmico único, na totalidade das ondas - e é riso
eterno, comoção, pulsação perene.

“Quando uma alma rompe o casulo dos três corpos, escapa para
sempre à lei da relatividade, e converte-se no inefável Sempre-Existente375.
Ei-la, a borboleta da Onipresença, com estrelas e luas e sóis rebrilhando em
suas asas! A alma expandida no Espírito paira sozinha na região da luz sem
luz, da treva sem treva, do pensamento sem pensamento; inebriada com seu
êxtase beatífico, imersa no mesmo sonho de Deus, o da criação cósmica.”
Uma alma livre! - exclamei com reverência.

Quando uma alma se livra, finalmente, das três ânforas de ilusões
corpóreas - prosseguiu o Mestre - unifica-se com o Infinito sem qualquer
perda de individualidade, Cristo conquistara sua liberdade derradeira, antes
mesmo de nascer como Jesus. Em três. etapas de seu passado,
simbolizadas aqui na Terra pelos três dias de morte e ressurreição, ele
alcançara o poder absoluto de subir aos céus em Espírito.
“O homem não-desenvolvido submete-se a incontáveis encarnações
terrestres, astrais e causais, a fim de desprender-se de seus três corpos. Um
mestre que conquista a liberdade final pode escolher, se há de voltar à Terra
como profeta, para ajudar outros seres humanos a regressarem a Deus, ou
se, como eu, há de residir no cosmo astral. Lá, um redentor carrega, em
parte, o peso do carma dos habitantes e assim os ajuda a abreviar seu ciclo
de reencarnações no cosmo astral, a fim de partirem definitivamente para as
esferas causais
 Ou, então, uma alma liberada pode entrar no mundo
causal para ajudar seus habitantes a encurtarem seu prazo no corpo causal
e assim conquistarem a Liberdade Absoluta.”

_ Mestre ressurrecto, quero saber mais a respeito do carma que obriga
as almas a regressarem aos três mundos. - Eu poderia ouvir meu Mestre
onisciente, pensei, por toda a eternidade. Nunca em sua vida terrena eu fora
capaz, em tão pouco tempo, de assimilar tanto de sua sabedoria. Agora, pela
primeira vez, eu obtinha percepção clara e definitiva das casas enigmáticas
no tabuleiro de xadrez da vida e da morte.

“- O carma físico, ou seja, os desejos do homem, devem ser
completamente esgotados antes que se torne possível sua residência
permanente nos mundos astrais - esclareceu meu guru com sua voz
emocionante. - Dois tipos de moradores vivem nas esferas astrais. Os que
ainda possuem carma físico insatisfeito e devem, por isso, reabitar um corpo
denso a fim de saldar suas dívidas cármicas, classificam-se, após a morte
física, mais como visitantes temporários do n-iiindo astral que seus
moradores permanentes.

“Após a morte astral, seres que não expiaram seu carma físico, não
têm permissão de entrar na excelsa esfera causal das idéias cósmicas, mas
estão obrigados a viagens de ida e volta entre os mundos astrais e físicos,
alternativamente conscientes de seu corpo físico de 16 elementos grosseiros
e de seu corpo astral de 19 elementos sutis. Contudo, uma criatura
não-desenvolvida, depois de cada perda de seu corpo terreno, permanece a
maior parte do tempo no profundo estupor do sono da morte e dificilmente
tem consciência do formoso reino astral. Terminado o descanso astral,
regressa ao plano físico para novas lições, acostumando-se gradualmente,
através de repetidas viagens, aos mundos de sutil textura astral.

“Ao contrário, residentes normais, isto é, há longo tempo no universo
astral, livres para sempre de todos os anseíos materiais, já não precisam
regressar às vibrações grosseiras da Terra. Eles só têm carma astral ou
causal para esgotar. Na morte astral, transferem-se para o mundo causal
infinitamente mais sutil e delicado. No fim de certo prazo, determinado pela
lei cósmica, estes seres evoluídos voltam, então, a Hiranyaloka ou a um
planeta astral de idêntica elevação onde renascem em novo corpo etéreo
para redimir os remanescentes de seu carma astral.

“Meu filho, agora você pode compreender melhor que ressuscitei, por
decreto divino - continuou Sri Yuktéswar - como um redentor de almas
reencarnadas no astral, especialmente das que baixam da esfera causal e
não das que sobem da Terra. Estas últimas, se ainda conservam vestígios
de carma físico, não sobem aos mais altos planetas astrais como
Hiranyaloka.

“Muitos habitantes terrestres não aprenderam, através do olho desenvolvido
pela meditação, a apreciar as alegrias e vantagens superiores da
existência astral e, por isso, após a morte, desejam regressar aos prazeres
limitados e imperfeitos da Terra; assim também muitos seres astrais, durante
a normal desintegração de seus corpos sutis, não chegam a vislumbrar o
excelso estado de alegria espiritual no mundo das idéias; demorando-se em
recordar a felicidade astral mais grosseira e de vistosos adornos, eles
anseiam revisitar o paraíso astral. Esses seres devem redimir-se do pesado
carma astral que possam obter, após a morte astral, residência permanente
no mundo causal, o das idéias, este, aliás, tão superficialmente secionado de
sua origem, o Criador.

“Só quando um ser não deseja mais experiências no cosmo astral, tão
agradável à vista, e já não sente a tentação de voltar a ele, é que permanece
no mundo causal. Completando ali a obra de redimir-se do carma causal ou
sementes dos desejos passados, a alma aprisionada faz saltar a última das
três rolhas da ignorância e, emergindo da derradeira ânfora do corpo causal,
mistura-se ao Eterno.”

Do livro: Autobiografia de um Yogue- Paramahansa Yogananda – Self- Realization Fellowship.
http://alsibar.blogspot.com