sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A UNIDADE DA CONSCIÊNCIA E A CONSCIÊNCIA DA UNIDADE

 




Uma reflexão sobre o texto do vídeo “CONSCIOUSNESS WITHOUT LIMITS” ( CONSCIÊNCIA SEM LIMITES)

Acabei de assistir ao vídeo, “ Consciousness Without Limits” (Consciência Sem Limites) pela quarta vez. O vídeo é sem dúvidas muito bom e muito bem narrado, todavia, passa a impressão de ser  o último palito de fósforo na escuridão da caverna da ilusão. Lamento decepcioná-lo mas não é. Apesar da boa intenção, das lindas figuras de linguagem, das belas imagens, do ótimo som e da narração primorosa, em termos de conteúdo não apresenta muita novidade. É o mesmo clichê das tradições e dos gurus, um pouco mais floreado, sem dúvidas. E, talvez, resida aí o seu grande perigo.

O vídeo começa criando um ambiente de expectativa ao afirmar que ele lhe proporcionará uma experiência única. Sim, como eu disse, é um vídeo muito bem produzido e, obviamente, que em casos assim, a experiência é bem diferente mesmo. Mas, insisto, aí reside mais um motivo de prudência e cuidado: apesar do vídeo proporcionar uma experiência bastante singular aos sentidos, ele pode criar a ilusão de que aquilo que é sentido ao longo da audição  é uma pequena amostra do despertar. Não é. Explico: através dos diversos estímulos sensoriais, o vídeo cria uma experiência muito parecida com aquelas produzidas festas "raves" e tecno. É exatamente a mesma coisa: estimulação dos sentidos e nada mais. Todavia, no caso em questão, com uma roupagem mais “nobre” para dar um quê de espiritual.

Mas o conteúdo se supera em imprecisões e confusões ao misturar verdades profundas  com afirmações duvidosas. Vamos analisar algumas:

1. Reconhecimento da Realidade

Esse é um dos maiores erros dos gurus e de seus seguidores. Por definição, a Realidade é sempre o Desconhecido, portanto, não pode ser re-conhecida. Como pode se ela é viva, sempre nova e se está sempre se renovando? Aquilo que é re-conhecido foi conhecido anteriormente e, se foi conhecido, NÃO é o verdadeiro Desconhecido. Sendo assim NÃO é a Verdade Atemporal.

2. A limitação da linguagem

O vídeo acerta quando fala da limitação da linguagem. Mas erra quando, contrariando sua própria premissa, adentra em um campo onde a linguagem não pode penetrar sob o risco de imprecisões e adulterações. Daí por que você só pode atuar dentro dos limites do conhecido e nunca tentar penetrar no Desconhecido. A linguagem pode apenas apontá-lo vagamente.

 

3. O limite entre o “eu” e o “não-eu”

O vídeo fala de uma forma como se houvesse realmente um limite, visto que esse seria o “primeiro limite que traçamos”. Logo depois ele afirma que não existe limite nenhum. Na verdade tanto o “eu”, quanto o “não-eu” e os “limites” são todos conceituais, tudo está no campo do eu, do conhecido. Ou seja, o próprio “não-eu” — enquanto conceito, ideia, percepção — é a continuidade do eu.

4. Quem tira o “limite primário”?

Outro equívoco importante;  o vídeo diz: “ se tirarmos esse limite primário, todo o edifício se desmorona”. A pergunta é : quem tira? O próprio eu de quem estou tentando me libertar? Quem faz esse serviço? Se não existe eu, quem vai tirar o “limite primordial” do eu?

5. “Se conseguirmos ver através do limite primário a unidade não estará longe”

Novamente, faço a pergunta: quem vê, para quê e por quê? Sutilmente, o vídeo cria um objetivo, um tempo, um “vir-a-ser”, uma condição: “se conseguirmos...” Automaticamente o sujeito pensa: se eu conseguir, estarei livre. Está inserido o fator tempo, o futuro psicológico que é, ele mesmo, a própria prisão da qual o eu tenta se libertar.

6. Entrar na “ Consciência da Unidade”?

Quem entra? Entra aonde? Não há lugar, nem ninguém, nem estado nenhum para se entrar. Caso haja, então não é a Unidade pois o “eu” estará lá “entrando”. E se o “eu” está lá conscientemente entrando na unidade, então, por definição, não é a unidade, já que “eu” e “unidade” são excludentes.

7. Nos comportamos como se o “eu” existisse

Exatamente, o vídeo acerta nesse ponto, mas não percebe que ele mesmo, o próprio autor do texto/vídeo está se comportando como se o “eu” fosse uma realidade, nos diversos pontos que já detalhei aqui.

8. “Quando formos em busca do “eu” primário, não descobriremos qualquer vestígio”.

O autor já revela o final da investigação. Ele já diz o que você vai encontrar: nada. Sim, parece correto. Mas esqueceu de apontar que ali ainda existe um “eu” procurando por si mesmo. E esse “eu” que procura e constata sua própria inexistência, ainda é  a continuação sutil do “eu”. Falando de outra forma: quem faz essa constatação? Quem fica consciente de todo esse processo? Não é o próprio “limite primário? Ou seja, o “eu consciente de si”, sendo assim, ele continua ali, ou não?

9. Procurar a “sensação de um eu separado”

Vamos destrinchar essa afirmação. Quem busca a sensação do “eu separado”? Não é o próprio “eu separado”? Ou seja, o “eu separado” se distancia de si mesmo, para procurar a si mesmo. Faz algum sentido? Óbvio que não. O próprio “eu separado” ao buscar a si mesmo, continua se separando a si mesmo. O que, novamente, é um disparate.

10. O observador, a observação e o observado

Nessa altura do vídeo, temos a impressão que finalmente vai sair algo profundo, todavia, logo depois vem a decepção. Ele diz: o observador, a observação e o observado são aspectos de um mesmo processo e que “nunca, em tempo algum, um deles pode ser encontrado sem os outros”. Como assim? É uma outra confusão. Krishnamurti passou uma vida falando da ausência de separação entre observador e coisa observada. Ou seja, não existe a ‘separação” pois o observador é uma criação da mente. Só isso. Mas, a observação sem a divisão “observador versus coisa observada” existe, claro. Isso é um ponto chave dos ensinamentos de JK. E, particularmente, comprovei essa verdade por minha própria experiência. Sendo assim, você encontrará sim a “observação” sem o “observador”. Nesse ponto do vídeo, há um problema de tradução. E, aparentemente, o tradutor o fez exatamente porque ficaria contraditório e sem sentido. No original ele diz “ não existe o observador, o observado, nem o observar. São três aspectos que designam a experiência da observação.” Mas essa última parte foi traduzida assim: “são três aspectos que designam a experiência do testemunhar”. Ou seja, no original ele fala que há sim somente a observação.

11. A experiência: você não pode ouvir o próprio ouvinte

Como assim? Óbvio que pode, basta fazer algum barulho. Se o ouvinte está em silêncio, obviamente que ele não poderá ser ouvido. Como se vai ouvir algo que não faz barulho? Então, a afirmação: “você não pode ouvir o ouvinte dos sons” é inválida. Faça algum barulho que você ouvirá sim o ouvinte. Onde está o ouvinte? Ouvindo, oras. Novamente, o vídeo cria uma nova divisão: se você apenas ouvir os sons, não haverá nenhum problema, estará tudo certo. Mas quando ele diz para procurar o ouvinte, aí, nesse momento ele cria a divisão, ele cria a separação: ouvinte e som. Ou seja, o próprio texto cria uma nova separação, um problema onde, antes, não existia nenhum.

 

12. “Fundir-se com a totalidade de sons lá fora”

Quem se funde? O “eu” que o próprio vídeo afirma não existir? Novamente, a divisão, a separação é criada através de um suposto apontamento de unidade. A unidade já está aí, não existe nenhum “eu” pra fundir-se com nada. Simples.

13. “Quando ouvi o sino, havia apenas o som!”

Certíssimo, há apenas o ouvir, assim como há apenas o observar. A meu ver esse pequeno relato da iluminação do mestre zen foi o ponto máximo do vídeo. De forma simples, clara e objetiva o mestre foi mais conciso e preciso do que todo o palavreado do vídeo.

14. Ninguém jamais encontrou um “eu” separado da experiência.

É o tipo de afirmação vaga, parcial e, portanto, temerária. Toda a humanidade vive a experiência do “eu” separado. E ele pode sim ser encontrado; é isso o que o verdadeiro autoconhecimento faz: lhe aponta onde está o “eu separado” para que você possa identificá-lo, ver sua verdade e, assim dele se libertar.

15. Você não ouve o som do trovão, você é o som do trovão!

Ora, óbvio que você ouve. Para isso que existem os ouvidos. Mas só existe o escutar. Assim como disse o mestre zen citado pelo próprio autor: só existe o som. Ora, se o mestre não ouvisse o som do sino, como ele poderia percebê-lo e dizer que só existia o som do sino? Então, melhor do que dizer: “você é o som” seria dizer: “só existe o ouvir do som”. Ou seja, a ação, a experiência sem a entidade separada, sem o ouvinte.

16. Seu estado atual é  de consciência da unidade

Não. O estado atual é de separação. O “Estado de Unidade” pode acontecer caso haja uma percepção, um vislumbre dessa verdade não como uma teoria ou conceito, mas como uma vivência direta. E isso não pode ser feito pelo próprio “eu” pois o eu só pode atuar dentro do seu próprio campo de experiência. Ou seja, do conhecido, da fragmentação, da dualidade.

17. Não existe “alguém” que faça nada!

Ao final, ele fala sobre a ideia de “anatta”— não átman, não eu — do Budismo. Todavia, até chegar a essa compreensão profunda e transformadora, o eu continuará existindo como ilusão, como ignorância, como névoa, como miragem. E o indivíduo só se livrará dela se ele mesmo perceber e ver essa verdade. Até lá, ele não pode simplesmente acreditar que não é um “eu separado”. Muito pelo contrário, ele terá que ver o funcionamento do seu próprio “eu” em ação e de como sua mente cria o observador separado. Somente, aí, ao ver e constatar diretamente essa verdade é que ele pode realmente se libertar da separatividade. Até lá, todas essas afirmações não farão sentido nenhum pra ele pois o fato, a verdade para ele é a separação, não a unidade.

18. Quando nos desapegarmos da ideia de um “eu isolado”.

Novamente a pergunta: quem se desapega? O próprio eu que já é, por natureza, isolado? Separado?

19. Medite, olhe para dentro!

O vídeo termina reafirmando os clichês e as práticas milenarmente repetidas pelas religiões, tradições e gurus. Quem olha para dentro e por quê? Quem medita e por quê? São questões cruciais que todo aquele que anseia pela verdade deve se fazer caso queira realmente descobrir a verdade sobre si mesmo e sobre as questões apontadas nesse artigo e no vídeo.

20. Nós nos identificamos com nossa mente!

Pronto! Nos identificamos com as ideias, as crenças e os conceitos — como esses que o vídeo aponta. Então, é preciso questionar isso que o autor chama de “ Filosofia Perene”, mas que, a meu ver, é uma deturpação da mesma. Sendo assim, não se identifique com nada, nem com os supostos conceitos da filosofia perene, nem mesmo com os apontamentos desse texto. Investigue e descubra por si mesmo sua veracidade ou falsidade.

Por fim, quero dizer que a UNIDADE DA CONSCIÊNCIA não tem consciência de sua própria unidade. Se tiver, não será a verdadeira unidade e sim, mais uma ilusão.

P.S: Quero apenas fazer outra observação: ao longo do vídeo é claramente citado vários pontos chaves dos ensinamentos de Krishnamurti: observador e coisa observada, experimentador e experiência, pensador e pensamento, etc. todavia, em nenhum momento seu nome é citado, por que será? Uma pessoa que conhece Alan Watts, a tradição Zen, os ensinamentos de Buda, certamente deve ter conhecido os ensinamentos de JK. O curioso é que só seu nome foi excluído do vídeo, não suas ideias e ensinamentos. Muito estranho, não?

By Alsibar Paz

26/11/21

Link do vídeo: Consciousness Without Limits




 

 

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

O LEGADO ( MALDITO) DO OSHO ( Bhagwan Shree Rajneesh)

 



Melanocetus johnsonii, mais conhecido como Peixe Diabo Negro, é uma espécie que vive nas profundezas oceânicas abissais onde não a luz não penetra. Ele atrai suas presas através de uma pequena “falsa luz” que é usada como isca para atrair peixes menores. Fascinados por aquela luz, as presas não têm chances contra a mordida e o veneno poderoso do Peixe Diabo Negro. Quando esse texto começou a ser gestado, logo de cara me veio a lembrança desse peixe como a imagem perfeita para simbolizar o Osho: uma falsa luz espiritual cujo único objetivo era prender aqueles que,  por sorte ou azar, entravam em contato com ela. O veneno do Osho não era apenas viciante e paralisante, espiritualmente falando, ele era muito mais perigoso do que se imaginava.

Peixe Diabo Negro

É inegável a contribuição do Osho para a libertação espiritual e sexual de toda uma geração de buscadores. É inegável o quanto ele ajudou a espalhar nomes de místicos, líderes e sábios famosos como Krishnamurti, Kabir, Ramana, UG Krishnamurti,  Gurdjieff, mestres do budismo e do sufismo Zen, etc. Ninguém pode negar também que muitos dos seus ensinamentos são belos, poéticos, sábios e ,  por que não, profundos?

 Mas, o que pouca gente sabe, principalmente aqueles que não viveram na época em que o mesmo estava vivo, é que todos esses aspectos positivos do fenômeno Osho tinha um endereço certo, uma clara intenção por trás: fazer adeptos, criar uma nova religião, criar um séquito de fanáticos seguidores, criar uma comuna poderosa e autossustentável, fundar uma cidade com o nome do Rajneesh, dominar tudo o que estivesse pela frente, passar por cima de todos, etc. o objetivo final parece trama de filme de ficção : dominar o mundo ou, pelo menos, uma boa parte dele. Muita gente despertou a tempo desse pesadelo — eu mesmo fui um deles. Quando ele morreu, havia uma sensação de que finalmente, o maldito Osho deixaria de fazer suas vítimas ao redor do mundo. Ledo engano!

Recentemente recebi um vídeo de um ex-sanyasin do Osho em que ele dizia que não estava nem aí para o que Osho fazia, pois sua presença era o que havia de mais importante nele. É desse tipo de coisa que falo: Osho se foi, mas deixou um séquito de seguidores cegos que estão dando continuidade ao seu projeto malicioso. Ao redor de todo o mundo e, principalmente, no Brasil pessoas ávidas por poder espiritual estão ocupando o espaço vazio deixado pelo Osho. Não é um fenômeno isolado e também não é algo novo. O próprio Michel Holly Hell da Netflix já usava as mesmas técnicas do Osho para enganar e explorar sexualmente os jovens. Basta assistir ao documentário Holly Hell para ver as incontestáveis semelhanças entre os dois: gestos, técnicas, termos, linguagem, abordagem, etc. Os sociopatas viram no Osho a receita infalível para conseguirem alcançar a excelência no campo da manipulação e controle mental usando a espiritualidade como pano de fundo. E o resultado?

Michel Holly Hell ou Andreas

Não há uma pesquisa séria nesse campo pois é um assunto delicado e tabu, afinal, estamos falando de liberdade religiosa que, no Brasil, é sagrada e intocável. Não é à toa que João de Deus passou uma vida estuprando, enganando e explorando as pessoas sem nunca ter acontecido nada com ele — apesar das várias denúncias ao longo do tempo. Se não tivesse sido a repercussão nacional trazida pelas reportagens da TV, com certeza, ele ainda estaria fazendo vítimas.

No caso dos imitadores do Osho, muitos ainda estão em começo de carreira, suas vítimas ainda são poucas e muitos das suas nefastas atitudes não podem ser tipificadas como crimes ou ilegalidades. Em geral, são pequenos deslizes: exploração da fé, preços exorbitantes por uma sessão, lavagem cerebral, hipnotismo, mentiras, ameaças veladas e desonestidade. Coisas realmente tão subjetivas que fica difícil tipificar e provar seu caráter perigoso e ilegal. Alguns desses gurus procuram se prevenir juridicamente, fazendo com que a vítima assine um termo em que exime o guru e sua organização de toda e qualquer responsabilidade por qualquer dano, financeiro, psicológico ou emocional que a vítima venha eventualmente a sofrer . Um total absurdo.

                 Ao longo desse meu contato com as redes sociais, tenho conhecido muitos gurus ou protótipos de gurus: pessoas que sonham em se tornar tão famosos, ricos e poderosos quanto o mestre. Alguns estão seguindo direitinho a cartilha maligna deixada pelo seu líder: minta, engane, explore, afague, hipnotize, controle. Use palavras bonitas, verdadeiras e tocantes: mesmo que não sejam suas, não precisa dar os créditos. Apenas fale as palavras que as pessoas querem ouvir. Denuncie os gurus, diga que não é guru, mas, na prática, seja seu líder e guru supremo. Faça seu marketing em cima da imagem de um homem sábio, iluminado e autorrealizado. Manipule de forma sutil para que as pessoas não percebam que estão sendo manipuladas.  Fale, sempre que possível, palavras sem nexo. Quando a mente está dominada, não importa o que você fala nem o que você faz. E, assim, aos poucos vá fazendo sua carreira de guru de sucesso.

Osho se foi, mas deixou um legado maldito que sem dúvidas repercutirá por muitos anos e, talvez, séculos através daqueles que estão copiando seus métodos nocivos de controle mental. Muitos desses candidatos a Bhagwan brasileiro usam a imagem de outros gurus mais populares e menos polêmicos: uma forma de penetrarem mais facilmente na mente das pessoas sem grandes resistências. Afinal, se apresentassem o Osho como mestre, a resistência seria bem maior por motivos óbvios. Mas, logo se vê que seu modus operandi é exatamente igual ao do Osho, não do outro guru que ele apresenta ao público como sendo seu mestre.


Frequentemente, escuto notícias de alguém que foi vítima desses gurus, alguns chegaram, inclusive, a me procurar — totalmente arrasados e destruídos: espiritualmente, emocionalmente e financeiramente. Não penso que quem causa essas coisas, de forma consciente e intencional, se livrará do carma que estão acumulando para si. Lamentavelmente, a droga do poder e do sucesso, não os permite enxergar que não estão agindo como iluminados, mas como monstros. A ilusão de maya  ataca a todos, inclusive aos supostos gurus. Em sua sanha por poder, fama e dinheiro, usam de tradições espirituais sérias e da imagem de gurus autênticos para satisfazer seus intenções megalomaníacas. O estrago que fazem na psique das pessoas é incomensurável. Até onde isso vai dar?

Enfim, pouco ou nada posso fazer. O que posso estou fazendo: esclarecendo, avisando as pessoas para não caírem nesses golpes. Para ficarem atentas contra os perigos e armadilhas nesse campo da espiritualidade. A falsa luz é uma realidade, um fato. Pesquise, analise, questione, duvide, não siga, não obedeça, investigue por si mesmo, seja seu próprio mestre. Não entregue sua vida nas mãos de ninguém. Não se deixe atrair pela falsa luz. E, aos que estão fazendo isso, mesmo sabendo o mal que estão causando, fica aqui o recado de Jesus, o mestre dos mestres: “ a quem mais foi dado, mais será pedido!”

By Alsibar Paz

24/11/21

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

MEU DEUS NÃO É O DE SPINOZA




O Deus de Spinoza' é no mínimo estranho e contraditório. Ao mesmo tempo que desautoriza os Mandamentos, ao longo do texto, não faz outra coisa a não ser mandar. Manda a pessoa parar de rezar e ir desfrutar a vida, como se as duas coisas fossem excludentes. Não dá pra rezar e, ao mesmo tempo, aproveitar a vida?


O Deus de Spinoza me parece bastante neurótico. Ao mesmo tempo que ele diz que não se incomoda com nada, ele passa o texto todo falando exatamente das coisas que não quer e que, portanto, parece incomodá-lo sim. Se incomoda com as rezas, as escrituras e até com os louvores.


O Deus de Spinoza ao mesmo tempo que diz estar nas montanhas, nos rios, nas praias, também diz para pararmos de procurá-lo fora. Realmente, me parece uma imagem muito mais neurótica do que aquela apresentada pelas religiões tradicionais.


Meu Deus não é o deus de Spinoza. Meu Deus é amoroso, compassivo e compreensivo com nossos erros, falhas e limitações.


Meu Deus é o Deus de Krishna que diz: ' Aquele que me oferecer, com amor e devoção, uma folha, uma flor, frutas ou água, Eu as aceitarei.'


Meu Deus é o Deus de Yogananda que diz: eu estou em todas os lugares e em todos os templos onde quer que haja um coração sincero e devocional, independente de crenças e tradição religiosa.


Meu Deus é puro amor e, por amor, ele faz a justiça, não para castigar ninguém mas porque é através  das leis divinas que as entidades vivas aprendem, amadurecem e evoluem espiritualmente.


Meu Deus está tanto dentro quanto fora de mim. E se ele está em tudo, então os cânticos, rituais, símbolos e orações - quando feitos com sinceridade e amor - são meios limitados, mas legítimos, de se buscar uma aproximação com o Sagrado.


O meu Deus aceita sim o perdão como meio de cura, mas nunca o sentimento de culpa. O perdão é um artifício útil para elevar a consciência daquele que, por ignorância, cometeu algum ato leviano e imprudente. Nem todos precisam do perdão, mas alguns sim: tanto para si mesmos, quanto para com os outros.


Sim, não existe o inferno enquanto lugar ou uma região específica. Mas existe o inferno da consciência, da dor do conflito, do sofrimento mental. É impossível dizer quanto tempo durará, anos, séculos, vidas? Vai depender da dureza do coração de cada um. Deus não castiga ninguém, é o próprio homem quem se castiga através de suas atitudes, pensamentos e sentimentos.


Deus não é contra as crenças, se o fosse, não teria feito o homem com o poder de criá-las. Cada pessoa acessa Deus conforme suas condições e entendimento. Algumas pessoas precisam da crença para lhes dar força, motivação e esperança. O nível das crenças é como o 'leite' do Apóstolo Paulo, o nível do 'místico' é como a carne. O alimento Espiritual é dado conforme a capacidade e limitação de cada um.


Deus não rejeita ninguém pois é pura fonte de Amor e Compaixão. Apesar disso, suas Leis são perfeitas, eternas e imutáveis.   E se ele está em um amanhecer, no anoitecer e na Natureza, ele também está em todos os objetos, inclusive nos livros sagrados. E mesmo que elas tenham sido deturpadas pelos homens, é possível extrair-lhes o tesouro do Dharma, quando o coração se abre à Verdade. Dizer que Deus está em tudo e em todos não o exclui, obviamente, das escrituras, da literatura, da música, da arquitetura, da dança, da pintura e das Artes em geral.


Esse é o meu Deus. Que não é meu, mas de todo mundo, inclusive de crentes e ateus.


By Alsibar Paz

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

CORRA, ANTES QUE VOCÊ MORRA!

 


De uns tempos desses para cá, talvez por conta do advento da internet e a facilidade de acesso às informações, tem aumentado o questionamento acerca da natureza da realidade tangível. Afinal, essa dimensão na qual nascemos, crescemos, vivemos e morremos é real ou tudo não passa de um sonho? Há muito tempo que cientistas, gurus, religiosos, místicos, estudiosos, sábios, filósofos, ateus e pessoas comuns debatem essas questões em seus artigos, escritos, conversas, ensinamentos e, agora, nas páginas, grupos, cursos da internet e whatsapp. E eu fico pensando: que diferença faz quem está certo ou errado nessa questão? O que vai mudar? O sofrimento diminui no sonho ou, ao contrário, aumenta? O que muda na vida da pessoa se ela acreditar em uma coisa ou noutra?

A meu ver é um debate totalmente inútil.  Fico tentando descobrir algo mais útil: por que as pessoas se debruçam sobre tais questões cuja resposta nunca saberão com certeza? Desde o tempo de Sidarta Gautama, o Buda, já havia calorosos debates sobre tais assuntos. Buda evitava respondê-las pois sabia que a resposta não iria fazer diferença nenhuma na vida do sujeito . Certa vez ele contou a parábola de um homem que fora atingido por uma flecha e que dizia que só permitiria que lhe tirassem a flecha depois que soubesse sua origem, quem a atirou, porquê, qual casta etc etc. Então, Buda perguntou aos discípulos: o que provavelmente aconteceria a este homem? Os discípulos responderam: certamente morreria. Então, ele disse: da mesma forma, não se preocupem com esses tipos de questões por que elas são inúteis. Tratem de tirar a flecha causadora do sofrimento, caso contrário morrerão antes de encontrar as respostas.

Particularmente, acredito que há níveis de realidade. O sonho é um nível de realidade, a vida que vivemos nesse mundo é um nível de realidade mais concreto em relação ao mundo onírico; o despertar é um nível mais real em comparação ao estado mental ordinário; depois que morrermos iremos para outro nível de realidade e assim por diante. Mas, repito, que diferença faz você concordar ou discordar de mim? Ou ao contrário, se eu concordar ou discordar de você? Por que não tentamos ser mais práticos e inteligentes? Qual é o fato? O fato é que sofremos e criamos todo tipo de artifícios para fugir da nossa realidade – seja ela de que natureza for.

Mais recentemente, Krishnamurti, um buda moderno, afirmava que a casa está em chamas e quando você percebe esse fato, o que você faz? Vai ficar se perguntando se é realidade ou um pesadelo ou vai tentar sair imediatamente da casa? Como você saberá se é sonho ou não? Você vai ficar esperando encontrar as respostas para só depois  tomar as providências necessárias? Penso que essa é uma atitude, no mínimo, imprudente.

Se sua casa interna arde no fogo do sofrimento esse é o fato, o que é. Em meio ao incêndio, a própria mente se torna confusa e sem clareza para responder corretamente a tais questões. Além do mais, não há tempo. O tempo está passando, gaste suas energias e foque sua atenção no que realmente importa: salvar sua vida. Se for só um sonho, você acorda. Se for real, você se livra da morte. Se percebeu que o prédio está caindo desça e saia imediatamente. Se o barco está afundando, coloque logo um salva-vidas - sua vida pode depender de uma ação rápida e enérgica. E se começar um incêndio em sua casa, apague-o, saia ou chame os bombeiros. É totalmente tolo, inútil e imprudente ficar se perguntando se a tragédia que está acontecendo diante da sua cara é sonho ou realidade.

A nossa casa interior está sendo consumida pelo fogo do sofrimento. O conflito e a ansiedade estão diariamente fazendo vítimas fatais. Mesmo que a vida nesse plano seja uma ilusão, o sofrimento que se vive é bem real. Negar a realidade não nos livrará das consequências de nossas ilusões, fugas e imprudências. É necessário assumir o protagonismo da nossa vida e agir no sentido de evitarmos, dentro das nossas possibilidades, mais sofrimentos além daqueles que a vida nos impõe.  Aja, antes que seja tarde demais. Tire a flecha ou corra, antes que você morra!