sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

A FAMIGERADA 'OBSERVAÇÃO SILENCIOSA PASSIVA NÃO-REATIVA' (OSPNR)


Um animal selvagem quando colocado em uma pequena cela torna-se arredio e impaciente. A percepção de sua  precária condição parece potencializar sua inquietação. Isso significa que o stress é proporcional à consciência da prisão. Sendo assim, quanto menos o animal tiver consciência de seu cativeiro, mais dócil será e mais tranquilo ficará. Com o ser humano não é diferente.

No começo da jornada espiritual é comum o sujeito querer mais liberdade. Há um impulso interno que o empurra para buscar novos caminhos e possibilidades. Em geral, ele se desprende das religiões tradicionais e sai em busca de novas ideias e ensinamentos. 

Em alguns casos, as religiões tradicionais são vistas como verdadeiras prisões pois condicionam o indivíduo a pensar em uma determinada direção. O sujeito passa a atacar tudo que diz respeito às velhas tradições sem, contudo, perceber que ele mesmo pode ter caído noutra prisão mais sutil e de difícil detecção: a do guru.

Dentre as diversas ciladas ensinadas pelos gurus da moda está a prática da 'observação silenciosa passiva não-reativa' (OSPNR). Algo que, à primeira vista, soa verdadeiro e profundo mas que, de fato, é uma das prisões mais sutis e perigosas de todas. E vou explicar o porquê:

O sujeito que pratica esse tipo de observação pensa que esse é o caminho para um estado elevado de consciência . Ele acredita que quanto mais observar, maior será a chance de fixar tal estado. Pior ainda: ele crê que a fixação daquele estado depende exclusivamente de seu esforço e dedicação. Ledo engano.

Mas qual é o problema com esse tipo de prática?

É o seguinte: nesse tipo de observação ainda existe um 'observador' só que muito mais sutil e que, por ser passivo, parece ausente. Além disso,  continua um 'vir-a-ser' sutil: o de manter-se constantemente naquele estado . E ainda tem uma 'entidade' fazendo tudo isso ao mesmo tempo que prega a ausência de um 'fazedor'. O esforço continua - apesar deles negarem; mas toda vez que alguém tenta observar algo de forma silenciosa, passiva e sem reações há aí um controlador sutil atuando sobre a mente para mantê-la silenciosa e sem reações. Óbvio!

Ou seja, a ilusão do controle/controlador continua, de forma menos ostensiva, mas continua. Em suma, é o mesmo caso dos animais cativos que vivem em reservas florestais ou 'santuários' selvagens: devido a prisão ser maior e mais confortável não se percebem prisioneiros, não se sentem cativos. 

Assim é a OSPNR! Nela, o sujeito se sente livre, mas só enquanto a está praticando. Fora dela, ele se vê angustiado, descentrado, perdido e confuso. E, por isso, se apega à essa prática como sendo sua única e última esperança de paz. Todavia, é a própria OSPNR a causa de sua miséria . Ela se tornou mais uma prisão  e enquanto o sujeito não se der conta disso será um eterno prisioneiro acreditando ser livre. E, assim, nunca provará o gosto da verdadeira liberdade.

Alsibar Paz

28/01/22

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Face: Alsibar Paz


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O CONHECIDO E O DESCONHECIDO

 



Quando Buda alcançou a Iluminação desfez-se a ilusão do "eu" enquanto entidade autônoma e separada. Dizer que o 'eu' não existe seria incorreto pois é ele que cria toda a ilusão do mundo de maya, a divisão e o sofrimento. Afirmar que ele existe seria, igualmente, impreciso pois incorreria no erro de afirmar a existência de algo que está sempre se transformando, em um constante processo de morte e renascimento. O eu, portanto, existe e não existe ao mesmo tempo. Quanto mais apegados à ideia de sua existência concreta/permanente, maior é a resistência à Realidade e, por conseguinte, maior o conflito e o sofrimento.

Quando o ego enquanto entidade autônoma está plenamente cônscio de sua própria existência e, consequentemente, da realidade criada por ele mesmo, seja ela de luz, escuridão ou neutralidade - diz-se que ele vive no 'conhecido'- ou seja, com pleno conhecimento daquilo que vive, sente e experimenta.

O 'conhecido' é a extensão sutil do próprio ego. Imagine o ego como uma lanterna acesa que ilumina o mundo ao seu redor. Sem a luz da lanterna não há mundo visível, não há cores, sensações e percepções. É o ego que torna o mundo perceptível e visível aos olhos da consciência.

Em termos práticos é o seguinte: se estou plenamente consciente da minha própria ascensão, das minhas virtudes, da minha Iluminação e espiritualidade então é tudo ilusório pois é o ego que está 'iluminando' tudo. É essa a dimensão que Krishnamurti apelidou de 'conhecido' pois há um conhecimento pleno do ego acerca de suas próprias ações, conquistas , perdas, ganhos, objetivos, processo, etc, etc.

No Antigo Testamento, há uma vaga alusão a essa questão. Quando Deus diz a Moisés: 'aquele que vê minha face morre' (Êxodo 33:20) é exatamente Isso. Em outras palavras: o ego não pode ver (conhecer) Deus - o Eterno Desconhecido. Assim, apenas com a morte do ego ilusório é que o Desconhecido pode então se apresentar.

Ego é sinônimo de conhecido/conhecimento/consciência de si, o sentido do eu auto-existente e separado. O conhecido é a dimensão onde o Ego governa e reina - inclusive quando trata dos assuntos ditos ' espirituais'.

O Desconhecido é a dimensão onde o ego não mais manda, não resiste, nem existe - exceto nas questões de ordem prática para garantir a sobrevivência, o conforto e a proteção do corpo. No Reino do Desconhecido não há mais o 'mundo do eu'. Internamente, esse mundo perde a consistência, existência e importância.

Por isso que, quem alcança o Desconhecido penetra na imensidão do Infinito. Lá, passado, presente e futuro fundem-se na Eternidade. Nesse estado, tudo está constantemente emergindo e imergindo, aparecendo e desaparecendo, nascendo e morrendo. É como um movimento constante das ondas do mar que quando vem cria o mundo com suas aparências, cores e dores. E quando se vai, leva tudo consigo revelando a natureza essencial da realidade aparente onde tudo se manifesta: o Espaço Imensurável, o Grande Vazio de onde tudo nasce e para onde tudo retorna.

Alsibar Paz

05/01/22

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