segunda-feira, 10 de maio de 2021

“EM BUSCA DE SHEELA” NOVO DOCUMENTÁRIO DA NETFLIX SOBRE A EX-SECRETÁRIA DO OSHO



Acabei de assistir ao documentário da Netflix, “Em Busca de Sheela” sobre a ex-secretária do guru Bhagwan Shree Rajneesh - o Osho. De antemão, achei pouquíssimo o tempo do documentário - apenas cinquenta minutos. Pensei : será uma forma da produtora surfar um pouco mais no grande sucesso de Wild Wild Country que tem basicamente o mesmo tema, apesar das gigantescas diferenças de produção?

Sim, “Em Busca de Sheela” fica muito aquém da produção que revelou os bastidores da história da comuna do Rajneesh nos EUA. Fiquei pensando: qual o sentido desse documentário? O que a protagonista tem mais pra nos revelar? O que ela pode trazer de novo além daquilo que já fora apresentado no documentário anterior? E, como eu desconfiava, absolutamente nada.

Nessa nova produção, o público é levado a acompanhar a ex-secretária do Osho em um tour pela Índia depois de 35 anos longe de sua terra natal. O que mais me surpreendeu foi o quanto ela foi requisitada pela imprensa para participar de programas, encontros, festas e eventos. Sheela, como de praxe, demonstra muita inteligência, personalidade e até um certo “jogo de cintura” para dizer ao mundo aquilo que ela sempre disse depois que fugiu da Comuna, foi presa e, posteriormente, libertada por bom comportamento: “deixem-me em paz!”

Demonstrando grande insatisfação com as perguntas previsíveis e repetitivas dos entrevistadores, aparentemente, Sheela aproveitou a oportunidade que lhe foi dada pela Netflix para viajar, voltar às suas origens, rever sua terra e seu povo- nada além disso. Sim, o público continuará sem saber quem realmente foi o grande culpado(a) pelos abusos e crimes cometidos em Rajneeshpuram: se foi ela, ou o seu amado e idolatrado guru a quem ela diz não guardar nenhuma mágoa.

Sem dúvidas, algo que ninguém pode negar sobre a Sheela é sua personalidade forte, coragem e inteligência. Talvez, a única coisa que tenha de interessante nesse documentário é poder vê-la chorar pela primeira vez. Não por arrependimento , nem pelo que supostamente fizera. Suas lágrimas desceram quando visitou o local onde seu pai se sentava ao receber suas cartas da prisão e as lia para todos na casa ouvirem.

Sim, Sheela é humana e, talvez, toda essa confusão tenha lhe feito relembrar a boa educação que seu pai lhe dera ao longo da vida mas que Osho, a comuna e o poder, fizeram-na esquecer. Continuamos sem entender exatamente quais os seus verdadeiros sentimentos em relação a todas as acusações que pesam sobre ela e que culminaram com o desfecho surreal e imprevisível que destruiu um dos maiores e mais poderosos impérios “espirituais” da história moderna .

E aí? Está afim de fazer um tour pela Índia com a Sheela? Então assista ao documentário. Mas não alimente muitas expectativas pois ela não dirá nada além daquilo que todos já sabem. (Alsibar)

comentários

sexta-feira, 7 de maio de 2021

O MOSAICO DIVINO: AS “DIVERGÊNCIAS” ENTRE KRISHNAMURTI E CRISTO

 


Nesse diálogo, eu abordo uma questão muito pertinente que me foi feita pelo amigo Aramísio sobre algumas supostas divergências entre os ensinamentos de Jesus, mais especificamente nas Cartas de Cristo, e o grande sábio indiano Jiddu Krishnamurti! Vale a pena conferir o teor do diálogo e tirar suas próprias conclusões!

Aramisio: Sei que os ensinamentos podem aparentemente divergir entre dois mestres mas, mesmo divergentes na aparência, podem conduzir para o mesmo alvo. Por exemplo, entre as Cartas de Cristo e Krishnamurti têm alguns contrastes aparentes. Para citar apenas dois, percebo que em todas as Cartas está bem claro que podemos orar e pedir qualquer coisa que quisermos ao Pai (Consciência Universal) e ele nos atenderá. Também fica claro que a meditação é ensinada da maneira mais convencional, “momentos de meditação”. Por outro lado,  como você sabe muito bem, não é o que Krishnamurti  ensina. E são dois pontos importantes! Qual é a sua opinião sobre isso?

Alsibar: Sim, há sempre algumas diferenças entre os mestres porque são pessoas diferentes. Ninguém é igual a ninguém: Buda, Jesus, Ramana, Krishnmaurti, UG e Vimala diferem bastante entre si. Então cada um tem uma visão pessoal acerca do que é mais importante na caminhada espiritual. Por exemplo, vamos pegar a questão da oração . Como eu já expliquei antes, Krishnamurti nasceu em um país em que as pessoas valorizam demais a oração. Mas tais práticas não as transformaram, não as libertaram da agressividade, do ego, do sofrimento, nem do conflito. Então ele escolheu não enfatizar a oração porque sua missão nesse momento era exatamente dá um choque de realidade em parte da humanidade que tanto “ora” mas que continua preso aos grilhões do ego, da ilusão e do sofrimento.

Aramisio: Certo. Na verdade essa realidade sobre a oração se aplica em todo mundo.

Alsibar: Verdade, continuando : outra possibilidade que explicaria o fato de Krishnamurti NÃO enfatizar a oração seria porque ele mesmo nunca precisou orar. E por que não? Por dois motivos principais:

Cartas de Cristo

Primeiro: tudo que ele precisava lhe vinha de forma fácil,  sem nenhum esforço ou dificuldade. Em suma, ele nunca precisou  “pedir” nada a “Deus”.  A outra possibilidade é que ele já estava "unido" à Fonte. Sua mente estava totalmente conectada à Verdade/Deus como se fosse um todo integrado. Então não havia a divisão " devoto" e “objeto devocional”,
sujeito e objeto- ele já era uno com o que ele chamava de “ Desconhecido”. Então para que orar se não existia mais a separação, o distanciamento, a divisão?  A meu ver, são esses os motivos que explicam o fato de Krishnamurti não falar/enfatizar a importância da oração.

Aramisio: Pode ser.

 Alsibar: Já eu falo  muito sobre oração. Faz parte da minha história.  A oração já se mostrou eficaz e útil em muitos momentos difíceis da minha vida, inclusive para clarear questões de cunho espiiritual e filosófico. Eu a acho muito importante, mas tem que saber orar corretamente. As pessoas não sabem orar, só sabem pedir coisas materiais, emprego, dinheiro, casa, ou qualquer outro desejo material. A Verdadeira oração se resume em pedir SABEDORIA, FORÇA E FÉ  a Deus, pra só assim poder dizer de coração: Senhor, fazei a Tua Vontade!

Aramísio: É, de fato, nesse estado não faz sentido nenhum a oração. Mas os outros ainda não estavam naquele estado!

Alsibar: Sim, a meu ver é uma falha na didática de Krishnamurti. Não é à toa que só aqueles que seguiram outros caminhos, se iluminaram ... Porque pelo caminho puro de Krishnamurti dificilmente alguém conseguiria entender ou alcançar alguma coisa. Tanto a Vimala quanto o UG seguiram outros caminhos... e integraram a visão de Krishnamurti com outras percepções e ensinamentos. E assim, chegaram "lá"...

Vimala Thakar
Aramisio: É verdade, mas não diminui em nada a importância de seus ensinamentos. Seus ensinamentos são muitos profundos!

Alsibar:... Mas enquanto Krishnamurti não tinha experiência com a oração, Cristo, por outro lado, era totalmente voltado para a oração. Mas isso também é explicado por vários fatores historicos , culturais e também tinha a ver com a peculiaridade de sua missão. Já Ramana não pregava a oração, mas a aceitação. Por outro lado, Krishnamurti foi um mestre da MEDITAÇÃO- um mestre incomparável. Alguém que conhecia a meditação com uma profundidade única. Já Cristo, também conhecia, claro.... mas ele não era, digamos, “especialista”.

Aramisio: Sim, meditação para ele devia ser um estado permanente.

Alsibar: Cada mestre tem uma característica peculiar. Assim como existem professores de Português, Matemàtica, Geografia, Inglês ,Quìmica, Biologia tc Cada mestre domina um certo aspecto do caminho e isso é importante para poder alcançar a humanidade em sua infinita diversidade. Não é que um ensina uma coisa e o outro, outra. Não é isso. Há um fio que liga todos esses grande ensinamentos. Mas cada professor dá sua ênfase pessoal a um ou outro aspecto. Por exemplo: Jesus foi grande mestre do Amor , da Oração e da Fé. Já Krishnamurti foi expert na Meditação  e Autoconhecimento de uma forma única. Já Ramana enfatizou o silêncio e a entrega... e assim por diante... É isso que explica algumas diferenças superficiais na visão e ensinamentos desses grande mestres, mas no fundo estão ensinando essencialmente a mesma coisa.

Aramisio: Ahhhh... sim. Quando leio as Cartas de Cristo, sinto que minha vibração se eleva, e me sinto nas alturas, mas depois volta tudo ao normal. Mas quando leio Krishnamurti sinto a base do meu ego ser quebrada profundamente.

Alsibar: Sim, ou seja, os ensinamentos se complementam. Um atua no ego, o outro na elevação da frequência/vibração- no fundo são ensinamentos que se complementam. Já eu sou muito místico, mais voltado à oração e devoção. Eu não deixei minha fé por conta de Krishnamurti e, na verdade, nunca vi nenhuma contradição entre ele e Jesus/Krishna/Buda/ Ramana/Lao Tsé por exemplo.

Aramisio: Fazem parte de um todo

Alsibar: Isso. Só pessoas com compreensão superficial acerca desses ensinamentos é que veem contradição. Quando você  alcança o cerne da compreensão....ou seja, os realiza.... então você passa a entender Os Evangelhos, o Gita, Krishnamurti, Tao Te Ching, Cartas de Cristo, Quinto Evangelho como partes de um mesmo “mosaico”- vamos dizer assim.

Aramisio: As contradições aparentes, estão na superfície.

Alsibar: sim, na “aparência”, apenas. Veja... vamos imaginar um mosaico ou vitral. Imagine que o mosaico seja o Dharma, a Verdade Universal. Mas cada mestre fica responsável por confeccionar, pintar ou explicar  apenas uma parte desse “grande mosaico” que é a Verdade. Então cada um vai "pintar" do seu jeito, da sua maneira, dando uma marca pessoal a cada parte dessa grande obra. Mas CADA UMA COMPÕE O TODO, sendo parte indivisível dele. Você pode imaginar também como um longo caminho. Cada mestre cuida de parte do caminho. Sendo assim, ele "Deus", a Inteligência Universal pode alcançar diversas pessoas de diversos níveis de consciência e ajudá-las, assim, a evoluir. Se a Verdade não tivesse essa "versatilidade" ela não poderia alcançar a todos. Então cada um vai entender um pouquinho dessa verdade, desse caminho, de acordo com sua própria capacidade  e nível de compreensão.

Aramisio: Sim, com certeza!

Alsibar: Então, os ensinamentos de Krishnamurti operam num nível altíssimo. É uma verdade muito, muito profunda que ele trouxe para o mundo. Tão profunda que raros foram aqueles que o entenderam. Quem, daqueles que conviveram com ele, realmente realizaram aquilo que ele apontou?   Eu só conheço dois: UG e Vimala. E por que eles conseguiram? A

UG Krishnamurti

meu ver, porque eles já estavam quase “prontos”, precisando apenas de um pequeno “empurrãozinho” o qual foi dado
por Krishnamurti. São pessoas que estão à beira do Abismo Divino... Muito próximas do Grande Salto no Desconhecido! Já Jesus, por seu amor e compaixão, veio para todos. Mas principalmente para buscar o que ele chamou de  "ovelhas perdidas". Por esse ponto de vista, o trabalho de Jesus foi muito maior e mais difícil e necessitou  de uma didática muito própria e singular- o que KRISHNAMURTI, aparentemente, NÃO TINHA!

Aramisio: Há partes que são claríssimas, outras parecem muito distante de nossa compreensão. Até parecem dois autores.

Alsibar: Verdade. O fato é que a Consciência de Krishnamurti estava em contato direto com uma INTELIGÊNCIA ELEVADÍSSIMA.... Ele atuava como uma espécie de "porta-voz" dessa ENERGIA. É algo realmente muito elevado. Mas ele não conseguiu DESCER DE SUAS ALTURAS... Krishnamurti não conheceu a transição de uma mente em conflito, pra uma mente sem conflito. Ele não conseguia se colocar em nosso lugar, sentir nossas dificuldades e limitações. Já CRISTO SIM! Por isso que Jesus foi  um Premavatar,  uma encarnação do Amor. Já Krishnamurti é considerado por muitos mestres/sábios da Índia como um Jnanavatar- Uma encarnação da Sabedoria Divina.

Aramisio: A Léia, a da entrevista, leu só Krishnamurti, né?

Alsibar:  Que eu saiba ela começou com o Joel Goldsmith, você já o leu?

Aramisio: Sim, foi um dos primeiros.

Alsibar: É interessante... ele tipo que, une um pouco da dimensão devocional (oração) com esse aspecto da Meditação ( Silêncio)  E depois, a Leia começou a ler/pesquisar sobre o Krishnamurti, assistiu aos  seus vídeos e foi aí, ao pesquisar sobre ele, que ela me encontrou e começamos a conversar . Mas já conheci  uma pessoa que veio do Chá ( Ayahuasca)... não leram nenhum desses mestres antes e apresentam um nível de despertamento muito avançado. Já outros passaram pelo Krishnamurti e depois o UG....e também compreenderam o essencial. Então os caminhos são variados....

Aramisio: Você acha que o chá foi a razão do despertamento?

Alsibar: Não acho, porque ele me disse que o abandonou . E só depois que abandonou tudo: chá, buscas, leituras, técnicas e gurus é que  passou por uma mutação interna profunda.

Você viu o relato daquele meu amigo que lhe mandei ontem? Tentou de tudo, práticas, sistemas, técnicas e nada.... e de repente, tomando um chimarrão.... ao ouvir o mugido das vacas... sobreveio-lhe o silêncio e vazio.

Aramisio: Sim! Muito interessante! Como já li as Cartas de Cristo 25 vezes, vou ler menos agora, para me dedicar à leitura de Krishnamurti.

Alsibar: A leitura demasiada atrapalha. Você lê pra viver, pra aprender, pra vivenciar... Mas há pessoas que acham que vão chegar a essa realização através da leitura em demasia. Uma coisa  não tem nada a ver uma coisa com a outra. É melhor ler menos, compreender e vivenciar.. do que ler muito, não compreender, nem realizar nada.

Aramisio: Claro, com certeza.

Alsibar: Obviamente, que cada pessoa é diferente. Eu li muito Krishnamurti. Mas não foi a quantidade de leituras que me fez compreendê-lo. Pelo contrário: quando parei de lê-lo....quando o abandonei completamente foi que a compreensão ( insight) brilhou na minha mente. E aí, de repente, tudo ficou claro. Sem necessidade mais de leituras.

Aramisio: Entendo

Aramisio: É bom saber disso.

Aramisio: Eu leio muito (li, agora estou lendo menos), porque  a compreensão da leitura me faz vivenciar a presença divina.

Alsibar: E como é essa "presença divina"?

Aramisio: A presença é onipresente, só que nem sempre temos consciência dela.

Alsibar: Entendi. Então é isso amigo!

Aramisio: Gratidão!

Alsibar: Disponha e até a próxima!