RESPOSTA
AO COMENTÁRIO DO FLÁVIO CASTELANI NO VÍDEO SOBRE A ENCARNAÇÃO E O SOFRIMENTO DE
JESUS
By
Alsibar Paz
Primeiramente,
reproduzo o comentário dele com a devida numeração para facilitar a
identificação das partes que estarei comentando:
“Parabéns
pelos estudos, mas permita-me acrescentar algo sobre reencarnação, carma e
iluminação.
(1). Primeiro
temos que ter a liberdade de questionar nossas próprias crenças, a reencarmação
é um dogma muito forte nas doutrinas orientais e algumas doutrinas místicas do
ocidente, mas existe um mecanismo sutil no ego que se reconforta com esse
dogma, que é a possibilidade de continuidade desse eu que fabricamos durante a
vida, ou de parte dele, sendo o pensamento e a memória um processo material,
pois é armazenado atravez processos químicos e elétricos nos neurônios, (2) ou
seja, fabricados por nós e armazenados de forma biológica no cérebro, veja que
uma pessoa com alzheimer deixa de ser quem é até ficar em estado vegetativo, ou
seja, o ego depende do cérebro biológico para sobreviver, então (3) pode esse
ego ser transcendental após a morte do cérebro ? Se leu até aqui continue sem
julgar.
(4) Outro
ponto é que no reino natural, onde as criaturas não possuem ego, ou seu ego é
primitivo como o de macacos e golfinhos o comportamento de todos eles são
extremamente parecidos de acordo com sua espécie, ou seja, cumprem exatamente
seus propósitos no reino natural, já (5) o homem desenvolveu esse senso de
"eu" devido a complexidade do cérebro e isso ele quer perpetuar após
a morte.
(6) Voltando
ao dogma da reencarnação, devido ao condicionamento do homem, ele acredita que
a reencarnação ocorre no nível do eu, no nível do ego, mas isso não é verdade,
na dimensão da criação, no reino imanifesto, somos uma coisa só, um campo de
consciencia humana, quando algum
sensitivo diz que se lembra de vidas passadas, na verdade ele acessou esse
campo, essa lembrança não era necessáriamente ele, porque essa entidade
"ele" não existe.
Seria
como se Deus, ou o absoluto enviasse milhôes de particulas suas para experienciar
a si próprio em outros planos de existência, nesse aspecto tudo é Deus, nada do
que é manifesto não é o próprio Deus, nós, as plantas e os animais, a matéria
inanimada é Deus. (7) Sendo assim não existe castigo e recompensa, não existe
carma como as pessoas acreditam, tudo que fazemos é refletido no campo total da
consciência humana.
(8) Nesse
aspecto um unico indivíduo, no sentido físico da palavra é a encarnação de toda
a humanidade , sendo assim o campo de existência humano é como se fosse uma
grande massa "reencarnante" em que Deus está experienciando a si
mesmo.
(9) O
objetivo da vida e desse campo humano é encontrar esse reino de Deus e criar
uma revolução na consciência, em que tal atitude reflete na totalidade desse
campo.
(10) Então
o dogma da evolução desse "eu" no tempo atravez de reencarnações ou
em uma unica vida é inválido, pois seria um processo acumulativo no tempo, ou
seja, é o próprio ego entrando pela porta dos fundos com outra roupa.
(11.a) A
iluminação é um processo que só pode ocorrer fora do tempo, sendo assim todos
os dogmas humanos de carma, darma, castigo, recompensa e evolução espiritual se
tornam inválidos, (11.b) pois tentam
retratar algo vivo, algo que tem vida e movimento em si mesmo, seria como pegar
um copo de água cristalina de um rio e levar para um altar e escrever milhares
de teorias e livros sagrados sobre aquela água, em algum tempo ela vai estar
corrompida e jamais vai retratar a realidade do rio, com sua vida, beleza e
movimento.” Flávio Castelani
Minha
resposta:
Olá Flávio
Castelani, tudo bem?
Já me
inscrevi no seu canal. Vou fazer um breve comentário acerca de algumas coisas
que você escreveu:
1. Você tem razão ao dizer que “ o
eu se reconforta com a possibilidade de continuidade após a morte”. Só para
esclarecer, eu nunca disse que o “eu continua após a morte”. Apenas não entrei
no mérito sobre “ a natureza daquilo que continua”, como o objetivo do vídeo
era mostrar que Eliseu e Cristo foram a reencarnação do mesmo campo de
consciência, não quis entrar em detalhes para não ficar muito extenso, confuso
e fugir ao tema central do vídeo que era tratar das causas do sofrimento de
Jesus.
2. Na parte que você diz que “ o
pensamento e a memória são armazenados no cérebro” está correto. Todavia, a
conclusão que se segue a isso — a de que
o ego depende do cérebro biológico para sobreviver — está, digamos, equivocada
ou incompleta. Explico: realmente a memória e o pensamento são armazenados nos
neurônios e quando estes são afetados perdemos o acesso às memórias e também a
capacidade de pensar de forma consciente e organizada. Outra coisa que perdemos
é “ o sentido do ego, de ser individual” pois isso é processado no cérebro. Mas
isso não significa que deixamos de existir. O campo de informação, a que
chamamos de consciência, continua. É esse campo que irá tomar um novo corpo e,
a partir daí criar um novo sentido de individualidade, um novo ego se formará. Por
isso que quando perguntaram a João se ele era Elias, ele disse: não sou. Sim,
porque agora era um novo eu, um novo personagem, um novo nome/forma. Mas era o
mesmo campo de informação que um dia animou aquele a quem no passado foi
conhecido como Elias.
3. “ Pode esse ego ser transcendental
após a morte do cérebro”? O ego não continua após a morte do ego. Mas o campo
de consciência que o originou, a informação inconsciente que forma o carma, que
produzirá um novo corpo e um novo ego, com certeza é sim.
4.
Sobre o
comportamento dos animais serem “extremamente parecidos dentro da sua espécie”
é verdade. Mas, essas diferenças que existem, apesar de serem parecidos, já
forma um sentido de diferenciação ou individualidade. Eu assisto muito a
documentários sobre animais e mais especialmente sobre macacos e há sim
diferenças bastante significativas em seus comportamentos — mesmo entre aqueles
da mesma espécie.
5.
É verdade
: “ o homem quer perpetuar o eu após a morte” o que é impossível. Pois, na
verdade, ele não o perpetua nem mesmo durante a vida.
6.
Sua próxima
afirmação é muito boa, mas quero fazer algumas ponderações. Sim, o sensitivo
não acessa o “eu do morto”, mas apenas suas lembranças e memórias “mortas” pois
não há mais um “eu” ali. Já a sua segunda afirmação, no entanto, merece alguns
esclarecimentos. Você disse “no reino imanifesto somos uma coisa só”. Temos que
ter cuidado com essa afirmação pois, em última instância, tanto no reino manifesto, quanto no imanifesto TUDO É
UMA COISA só (ou como você disse depois: tudo é Deus). Tudo é um campo de
energia ou campo de informação ou consciência. Não faz diferença aqui ou lá. A “diferença”
é que quando manifestos em um corpo temos um sentido mais apurado de
separatividade ou individualidade, um recurso fundamental, criado pela própria
Natureza, para garantir a sobrevivência
das espécies.
7.
Verdade,
não existe “carma” como as pessoas ACREDITAM. Mas daí não se pode concluir que
não exista a Lei de Causa e Efeito, que é bastante diferente do conceito de carma
como “castigo e recompensa”.
8.
Minha
próxima ponderação é mais um pequeno ajuste nas suas palavras que podem dar
abertura a má interpretações. “ O indivíduo é a reencarnação de toda humanidade”.
Como não sei exatamente em qual sentido você está falando isso, vou tentar
esclarecer. A “consciência individual encarnada” é parte da humanidade, como
uma célula é parte do corpo. Ela não é TODO o corpo, mas apenas um fragmento que
é basicamente da mesma natureza do todo, mas não é, obviamente, o todo. Sim,
Deus experimenta a si mesmo através de todos os seres sencientes, não apenas
através dos seres humanos.
9.
Eu
concordo com você que o sentido da existência é “encontrar o Reino de Deus”.
Mas, só pra deixar bem claro, não é ele quem cria a revolução na consciência,
ela se manifesta nele. Ele apenas cria as condições para que ela possa
acontecer.
10.
Sim, sua
próxima afirmação está correta com algumas ressalvas: realmente, não existe “eu
que evolui no tempo através das encarnações”. Mas existe a aparência, o sentido
do ego que está sempre morrendo e nascendo, mas que o sujeito (nome/forma) —
por não perceber essa verdade — cria a ilusão de uma permanência, de uma
continuidade que de fato não existe. Todavia, isso não significa que o “espirito”,
aqui entendido como o campo de energia, informação ou consciência que se
encarna, não evolua. O problema não está na evolução em si, mas no conceito
equivocado de evolução. Em geral, as pessoas pensam que o ego vai evoluindo — o
que já concordamos que não é assim. Já o “espírito”, no entanto, evolui em um
movimento inversamente proporcional ao do ego: ou seja, quanto menor o sentido
de ego e separatividade, maior a evolução da consciência espiritual. Por isso
que Cristo diz nas Cartas de Cristo, “não sou mais “material” estou vivo apenas
em “consciência”. Algo que para nós é quase impossível de entender devido aos
parcos recursos linguísticos disponíveis. Outro ser que também está num nível
de elevação espiritual além da nossa compreensão é Buda Maitreya e, por isso, ele
criou uma contraparte de si mesmo nesse mundo para servi-lo de “canal” para
transmitir sua mensagem para o mundo.
11.
Sua
próxima fala sobre a “iluminação” é, a meu ver e com todo respeito, desastrosa.
Sim, a iluminação só pode ocorrer fora do tempo “PSICOLÓGICO”, mas não do
cronológico. Como você não fez essa diferenciação, isso pode dar margens a diversas
interpretações equivocadas, como as que você fez depois:
a) “sendo assim todos os dogmas
humanos de carma, dharma, castigo, recompensa e evolução espiritual se tornam
inválidos.” What? Porque a humanidade não compreende uma coisa, não quer dizer
que ela não exista. Além dos “dogmas humanos” existe a Verdade, a Realidade. E
esta não depende dos “dogmas humanos”. Como já disse antes, embora não seja
como as pessoas acreditam, o carma existe, o dharma (lei) existe e existe também
a evolução espiritual. E é para isso que iluminados como Buda, Cristo e
Krishnamurti vêm ao mundo: para restabelecer o verdadeiro sentido das coisas
deturpadas pelos “dogmas humanos”. Sendo assim, os conceitos dogmáticos podem
ser inválidos, mas não os conceitos verdadeiros, que comunicam, expressam ou
apontam para a Verdade ou Realidade da Existência.
b) “…pois tentam retratar algo vivo,
algo que tem vida e movimento em si mesmo, seria como pegar um copo de água
cristalina de um rio e levar para um altar e escrever milhares de teorias e
livros sagrados sobre aquela água, em algum tempo ela vai estar corrompida e
jamais vai retratar a realidade do rio, com sua vida, beleza e movimento.”
Essa é a
parte mais estranha e confusa de todo seu comentário. Quando os mestres e
iluminados “retratam”, ou seja, descrevem a realidade da Vida com seus movimentos,
estrutura e LEIS, eles estão exatamente comunicando para a humanidade qual é a
natureza das coisas. Sua analogia é absurda, pois ela se aplica apenas aos
líderes religiosos tradicionais, não aos grandes e verdadeiros mestres
iluminados. Ao contrário das religiões tradicionais que, em geral, fazem o que
você disse: pegam apenas um copo de agua do rio e passam a adorá-lo, dissecá-lo,
teorizá-lo, os grandes mestres, ao contrário, falam da verdadeira natureza
dinâmica e mutável do rio. Ou seja, eles explicam para a humanidade como você
deve proceder para atravessar o rio da vida, com todas as suas complexidades,
dificuldades, perigos e nuances.
O rio da
existência tem sim “vida, beleza e movimento”, como você disse. Mas não só
isso. Tem também muita “feiura”, violência, crueldade, falsidade, perversidade,
tristeza, dor, confusão, ilusão, sofrimento, etc. Os verdadeiros iluminados
sempre falaram isso. Eles não têm culpa se, após a sua morte, os homens
deturparam seus ensinamentos e os transformaram em meros “dogmas humanos”.
Infelizmente, seu comentário não abordou esse aspecto da questão e, por isso,
eu o fiz para evitar mal entendidos.
No mais,
agradeço também pela oportunidade de esclarecer todas essas questões. Abraços e
obrigado pela participação!
By Alsibar Paz