Quem sou eu? |
Como se dá a relação “autoconhecimento” versus EGO? Como o autoconhecimento se realiza na prática? Quais os principais perigos, ilusões e erros que geralmente se comete? Vamos refletir juntos sobre este assunto?
O autoconhecimento é parte da vida e só pode ocorrer nas relações com as pessoas, coisas, pensamentos, sensações, emoções, reações e situações. Assim, a primeira coisa que precisamos ter em mente é a seguinte pergunta: existe o ANALISADOR que irá se autoanalisar ou se autoconhecer? Ora, sabemos que este “analisador” é parte daquilo que se está querendo analisar, sendo, portanto um equívoco separar os dois. O autoconhecimento só pode acontecer quando eu me percebo de uma maneira holística, total, englobando tanto o objeto de conhecimento- que sou eu , meus pensamentos, emoções, reações, desejos etc (EGO) e aquele que está querendo se autoconhecer, que percebe, analisa, faz comparações, julgamentos e conjecturas (EGO também).
Essa compreensão é pouco estudada, tanto nas escolas de mistérios, quanto nos meios acadêmicos. Na área da ciência, notadamente a física e a mecânica Quântica, sabe-se hoje que o observador influe no fenômeno observado, alterando, portanto a própria observação. No campo da psique, Krishnamurti foi o primeiro a ressaltar o perigo de tal processo. Antes dele, não percebíamos o perigo que da divisão “observador-coisa observada”. Quando o sujeito se autoanalisa, ou se autoavalia, o próprio observador “polui, altera, distorce” aquilo que ele observa. O resultado é a ilusão de que ele está se transformando, evoluindo, ou amadurecendo quando- na verdade- está se iludindo pois o centro, o observador, o EGO ainda continua na forma, justamente de “observador-analisador”.
Talvez isso explique porque há tantas competições e conflitos em todas as organizações sociais, políticas , religiosas e também no mundo virtual. O EGO é um câncer malígno e poderoso que penetra o espírito e a mente dos seres humanos impedindo que eles vejam a VERDADE e LIBERTEM-SE. Na Índia é chamado de Maya- Ilusão. No Ocidente é mais conhecido como Satã ou Diabo. Mas, na verdade, somos NÓS MESMOS. É a nossa própria mente, são nossas autoimagens, nossos desejos, nossa insatisfação, nossa ambição, nossa inquietação, nosso vazio, nossa busca por poder e pelo “mais”. Nós mesmos criamos esse monstro, essa entidadade usurpadora, sutil e perigosa. Buda dizia que os homens que protegem o EGO é semelhante a um homem tolo que cuida de uma cobra como se fosse um filho.
Temos dificuldade para aceitar o fato de que nós somos o EGO . Não conhecemos outra forma de ser, não conhecemos outra “entidade” além dele. A mente, em sua sagacidade separa-se do EGO e diz “ Sou EU SUPERIOR, sou a ALMA, o ÁTMAN!”. Será? Será que Átman, Eu Superior estão na dimensão da minha mente? Será que posso afirmar tais coisas assim como afirmo sobre minha casa, profissão, nome ets? Será que quando afirmo isso, não é o EGO quem fala? Será que a “essência incondicionada, eterna, incriada, ilimitada , original e pura” pertence à dimensão das palavras, do pensamento? Por isso, que muitos mestres preferem afirmar que o Átma é mais uma das criações de nossa mente estúpida. E, dependendo do ponto de vista, é mesmo. O EGO se “disfarça” de Átman e Eu Superior como forma de dar continuidade a si mesmo. É uma “armadilha” como disse uma amiga. Átman é apenas uma palavra. “Aquilo” , a essência, não é desta dimensão, nem pode ser pensado, nem nomeado, nem definido, nem conhecido. Enquanto imaginarmos, sonharmos ou buscarmos o Átman como algo alcançável pelo nosso pensamento e desejo- o EGO subsistirá.
ALSIBAR (inspirado)
É, no mínimo, bastante instigador confirmar que estávamos elaborando textos sobre o mesmo tema (O Ego). Pergunto: você elaborou este texto hoje mesmo? Passei meu dia elaborando o 'Pangaré Chucro', entrecortado por compromissos...
ResponderExcluirConfraternos abraços!
Vou postar o mesmo comentário no 'Confraria', ok?
ResponderExcluirNormalmente ouço ao contrário dos "mestres". Ou seja, as pessoas pensam que são o ego, e na verdade não são. Não que elas digam "eu sou o ego". Mas falam "eu sou o Dr Fulano", "eu sou o melhor empresário da cidade"...enfim, se intitulam, se rotulam, colocam como superiores ou inferiores, se identificam com seus papéis na sociedade..enfim.. E daí muitos mestres falam que isso são máscaras, ilusórios, aspectos do ego, que não é nosso verdadeiro ser...
ResponderExcluirE vc vem e diz tudo ao contrário?!
Então sou minha personalidade não essência?
Fiquei confusa agora. Pq faz sentido o que vc disse, mas faz sentido também o que li já de tantos mestres.
obrigada
Ola Isa tudo bem?
ResponderExcluirIsso é muito simples de se resolver: a lagarta é uma borboleta? Ou ela só se torna borboleta quando morre , quando ela se transforma e se liberta da lagarta? Alguém aqui é borboleta (iluminado)? Não. Então, até nos libertarmos do ego, nada mais somos do que EGO! Obviamente, em essência, em potencial somos " aquilo". Mas até a transformação acontecer é tolice ficarmos nos identificando como algo maior do que nós.Isso apenas reforça e amplia o ego que passa se sentir forte e poderoso.
Assim, os mestres não estão errados, pois em essência somos sim o Atemporal. Todavia, no atual estágio de consciência não podemos nos identificar com "Aquilo" através do pensamento, pois o pensamento não pode nunca atingir o Impensável. Para isso ele tem que cessar.
O problema são as pessoas que acham que apenas pensando, afirmando ou se identificando com algo maior do que ela, haverão de alcançar a tal mutação- e definitivamente- não é assim que as coisas acontecem.
Fratabraços!
Namastê!
Entendi..essa questão da borboleta.. (ou da semente..) já havia pensado. Mas será que a proposta de não nos identificarmos com o ego é parar justamente com o egocentrismo? E por outro lado também com a culpa?
ResponderExcluirVc sente inveja, raiva...mas daí vc lembra que não é seu verdadeiro ser, é apenas um "personagem"/ego! Então vc procura "melhorar" esse ego, responsabilizar por seus erros, mas sem ficar se culpando, pq isso gera sofrimentos e paraliza (ou seja, é inutil além de atrapalhar).
E quando ganharmos prêmios,termos sucesso, formos elogiados..também podemos lembrar, com maior consciência, que na verdade, esse que tá sendo "vangloriado" não é nosso verdadeiro ser, é alguém que vai morrer, igual a todos, e a Essência é tão imensa também é igual para todos, igual como a de um mendigo...Isso acho que evitaria que muitas pessoas fossem tão orgulhosas e arrogantes!
A questão do potencial fica sempre por alcançar..e o futuro parece algo que nunca chega né? ficamos sempre na esperança, na busca, nunca chega! Por isso alguns mestres talvez dizem pra gente "não perder tempo", e apenas LEMBRAR quem somos, de olhar (Acordar) AGORA.
Isso de realizar nosso potencial..parece ficar muito no desenvolvimento pessoal, mas na realidade ESPIRITUAL, não seria diferente?
Para gente ser "melhor" parece um processo de construção do ego. Isso seria contraditório então, né?
A maioria está longe de ser "borboleta"... provavelmente a maioria sempre vai ficar achando que será uma lagarta, pq sempre vai ter algo pra evoluir, pra "consertar", pra melhorar...Talvez se descobrir que JÁ É a "borboleta", vai parar essa busca, então a transformação ocorre (pq reconhece-se como sendo, então não tem mais onde procurar, apenas permite-se ser)
Além do quê, não existe aquilo que chamam de projeção? Enxergamos os outros como somos? mais ou menos isso... Os iluminados nos enxergam como iluminados pq eles se iluminaram,e nós enxergamos quase todos como egos, pq nós somos assim também...os outros são espelhos nossos...
Tem alguma coerência nas coisas que disse? Espero seu posicionamento.
Gratidão pela reflexão!
Nemastê =]
Ola Isa tudo bem?
ExcluirHá muitas questões aí e com certeza há muita coerência no que você fala. Vamos só tentar aprofundar algumas coisas. Muito do que você escreveu, ainda está na dimensão do pensamento-ego, não é? É sempre "eu" pensando assim, assim, assado, como, nos exemplos que você deu :" Eu me lembro que isso não é o verdadeiro ser "- ora isso ainda é um pensamento do tal "eu"- não concorda? Culpa, egocentrismo, ego versus eu, essência versus personalidade- ou seja, definições, rótulos, teorias, dicotomias que aprendemos dos livros, teóricos, mestres etc etc.
Ora, tudo isso é usado pelo próprio pensamento-ego pra dizer a si mesmo " preciso me melhorar, preciso me transformar", mas essa transformação é uma armadilha, pois o "eu continua" ali no centro. O problema é que poucas pessoas NÃO percebem a sutileza disso. A questão de "lembrar quem somos" ela é correta, mas essa tal "lembrança" não é uma "lembrança" enquanto imagem, memória... pois não podemos nos lembrar de algo que simplesmente é... desconhecido! Ou seja, "lembrar" é na verdade SER, ESTAR naquele estado, entendeu?
De fato, o tal "estado de presença" só pode ser algo totalmente novo e desconhecido. Um estado tal que o pensamento não pode reconhecer, pois se o reconhecer, estraga-o, deturpa-o. É um estado de consciência em que a separação sujeito-objeto, conhecedor-conhecido, observador-observado deixa de existir. É um estado TOTALMENTE NOVO, totalmente dissociado da mente-pensamento-ego.
Acho que você não me entendeu. Não estou defendendo a melhoria do EGO- pois este não pode ser melhorado. Ele tem de cessar. Isso ACONTECE naturalmente com o aprofundamento da meditação. Mas você (ego) não tem participação direta nisso. É uma consequência desse tal "despertar", que vem com a meditação correta.
Sobre a "lagarta e a borboleta" foi só uma metáfora pra explicar algo que é muito complexo. Na verdade, não podemos nos identificar nem com a lagarta (ego) , nem com a borboleta (essência) pois o próprio processo de identificação é em si um obstáculo, entendeu?
Os iluminados ? Ora os iluminados... esqueçamos eles. Achamos que são isso ou aquilo e , novamente, isso cria paradigmas que podem ser falsos, ilusórios ou imprecisos. Talvez essa tal "iluminação" seja algo extremamente simples, ou talvez não seja nada daquilo que achamos ser. Talvez... para saber mais temos que meditar e encontrar nossa própria luz.
Acabou meu espaço... rsrsrs
Fraterabraços e até a próxima!
Namastê!
O que quero dizer é que não há mais borboletas ou lagartas para aquele que desperta. E que só desperta quem se liberta de tais classificações. Por isso, quem quiser ser livre, deve- desde o começo- libertar-se de tais dicotomias, rotulações e definições.
Excluir_/\_
Olá! tudo bem
ResponderExcluirQuando falei em melhoria do ego..quis dizer no sentido de nos melhorarmos como pessoa mesmo, como muitas pessoas fazem terapia pra isso ou cursos (para autoconhecimento, desenvolvimento pessoal). Por exemplo: para ter mais autoestima, conseguir se comunicar melhor (habilidades sociais), ser mais confiante (menos insegurança, ter menos ciúmes, menos inveja), lidar melhor com as emoções,etc... Entendeu?
Talvez seria outro conceito de ego então (esses "rótulos" só pra confundir, rsrs). Mas enfim... é algo importante para desenvolvermos, não é, ou seria melhor ignorar, pq é muito egocentrismo?
Quanto mais estamos de bem/em paz conoscos mesmos ( somos menos vulneraveis, mais assertivos, resilientes, pacientes, responsáveis, independentes, menos vícios, etc) mais fácil será a iluminação?
Ou pode também ser ao contrário, vc pode ser uma pessoa cheia de "defeitos humanos" mas "de repente DESPERTA" então se torna melhor como pessoa (em todos aspectos) também?? Se puder esclarecer isso please..
Obrigada :D
NEMASTÊ
Ola Isa,
ResponderExcluirO EGO, no sentido de pessoa, sujeito, indivíduo tem que estar bem- obviamente. Assim, tudo o que contribua no sentido de manter, recuperar a saúde e o bem-estar é bem vindo . Terapias e tratamentos que restabeleçam o equilíbrio e a harmonia, são importantes e positivos. Todavia, estamos falando de um nível mais profundo, além da tal "normose", normalidade que é em si mesma, doentia.
Se um sujeito tem alguma espécie de desequilíbrio ou distúrbio em seu aparelho psíquico, este tem que ser trabalhado em primeiro lugar. A questão que se coloca é... e depois? E daí? O trabalho de crescimento e cura interior certamente não termina aí.
Egocentrismo não é querer ser saudável - é querer se "iluminar", se tornar alguém importante, respeitado, famoso etc. Mesmo que seja no campo "espiritual". Por que nestes casos é o "eu" que diz a si mesmo " quero me tornar alguém melhor", "quero me iluminar", "quero me transformar " etc. Nestes casos o "eu" se fortifica e se mantém no comando.
Como eu já disse, esqueçamos a tal "iluminação" pois não passa de um conceito, um nome, um rotulo para algo que não temos ideia do que é. Se assim nao fizermos, o que acontece? A mente se agarra ao conceito e projeta-o como um objetivo a ser alcançado no futuro. E isso em si mesmo representa um obstáculo .
Quando estamos em paz, essa paz não é em mesma "sagrada"? Ela não tem um sentido de luz, de infinitude e completude? Mesmo assim, não satisfeita, a mente logo inventa algo pra lutar, buscar, desejar. Ora, se alguém está REALMENTE em paz, uma paz além das palavras... do que mais precisará? Dessa paz vem a luz, a independência, a alegria,a sabedoria, a força, o amor... Daí por diante, por que se preocupar se a iluminação está longe ou perto? Penso que a paz contem em si a semente da Iluminação, o restante é consequência e flui por si mesmo.
O que é um "defeito humano"? Um simples conceito, simples resultado da cultura e convenção social? Ou estamos falando de algo mais profundo e universal? Ora, isso é muito relativo não acha? Todavia, é certo que quanto mais a pessoa se aprofunda em sua meditaçao e autoconhecimento, mais brota de si naturalmente um sentido de ordem, amor, responsabilidade, luz, ética , justiça e sabedoria. Mas nem sempre isso se ajusta aos conceitos sociais do que é certo ou errado. É como se a pessoa sintonizasse com algo maior, que flui de dentro de si e que está presente em todo universo.
Fraterabraços e até a próxima!
É verdade Alsibar!
ResponderExcluirMuito obrigada pelos esclarecimentos. Por enquanto minhas dúvidas a respeito desse assunto cessaram, heheh.
Abraço!! Nemastê :)
Até a próxima Isa,
ExcluirFico contente de ter ajudado! Você não precisa concordar comigo, encontre suas próprias respostas através do mergulho na meditação.
Fraterabraços!
Namastê!