quarta-feira, 21 de setembro de 2011

É POSSÍVEL LIBERTAR-SE DO SOFRIMENTO? Is it possible to be free of the suffering?

O homem sempre buscou a libertação do sofrimento

O sofrimento é algo muito complexo. O que os mestres têm a dizer sobre isso?  Existe um estado livre do sofrimento físico ? E do psicológico? Neste texto, faremos algumas reflexões sobre o sofrimento e sua libertação.

    Há pessoas que se “acostumam” com o sofrimento por vários motivos. Por medo, comodismo ou por que aprenderam a ver o sofrimento como uma coisa natural. Há muitas pessoas nesta situação. É a esposa que sofre com a violência do marido. É o casal acostumado às brigas e à infelicidade; os solitários, as viúvas e aqueles que sofrem grandes perdas. Mas, acostumar-se com o sofrimento não é a mesma coisa que libertar-se dele. O que realmente nos interessa é a libertação do sofrimento psicológico. Não é disso que os mestres iluminados falaram ao longo dos séculos?
É possível libertar-se do sofrimento?
   É possível alcançarmos a Libertação ou Moksha?  Buda chamou esse estado de Nirvana. Ele compreendeu a cadeia do sofrimento e ensinou à humanidade o caminho de sua  extinção. Outros mestres, como Cristo e Krishnamurti, também ensinaram este caminho- cada um a seu modo.  Para Buda, todo homem deve buscar as causas do sofrimento em sua origem. Extirpando-se as causas, eliminam-se os efeitos.O homem assim liberto não retornaria mais a esse mundo. Livra-se do Samsara- a roda de nascimentos e mortes. 
Jesus: a Verdade liberta do inferno interior
         Para Jesus, a Verdade liberta o  homem da angustia e do tormento do inferno- um estado de espírito sintetizado pela expressão "choro e ranger de dentes". Krishnamurti, advoga uma libertação realizável no aqui agora. Ora, a liberdade só pode acontecer no agora. Mesmo que exista um paraíso ou um céu não há salvação para o homem que não extirpou de si a causa da dor, a saber: o EGO. Assim, onde ele estiver seja na Terra, nos céus, no paraíso ou em qualquer outro suposto plano invisível-lá estará o seu inferno particular . Por isso que o céu e o inferno são considerados estados da alma. Pois "onde estiver seu coração- aí estará o seu tesouro”.
A libertação é possível no aqui agora
     Infere-se, então que a libertação deve ser “buscada” no agora e dentro do homem. E será possível ao homem alcançar a libertação ao longo da vida? Sim, é possível. Do contrário, qual seria o sentido de tudo isso?  Essa libertação deve estar acessível a todos os homens- se eles não encontram é por que não a buscam. Mas o que é esta libertação? Como vive alguém que alcançou ou descobriu este estado? 
No passado o anacoreta simbolizava a  espiritualidade

        Essa é uma questão complexa que confundiu muita gente ao longo dos séculos. Antes, muita gente tinha mente que uma pessoa liberta viveria como um anacoreta, um sanyasin (renunciante). Assim, muitas pessoas se afastavam da vida mundana, abandonavam casa, família e emprego e iam para as cavernas ou para algum mosteiro dedicar-se à vida espiritual. Acreditavam, assim, estar trilhando o caminho da Libertação ( Moksha). Mas essa concepção mudou radicalmente. Depois do advento de mestres como Lahiri Mahasaya, Sri Yuktéswar e Krishnamurti- hoje compreendemos melhor este estado que tem mais a ver com   renúncias internas do que externas.

Lahiri Mahasaya- o iogue pai de família
  Conta-se que certa vez Yogananda foi dominado por um intenso desejo de ir para os Himalayas para dedicar-se completamente à meditação e alcançar a Graça Divina. Sri. Yuktéswar, seu mestre alertou-lhe “Deus não está nos Himalayas”. Lahiri Mahasaya foi um outro exemplo atípico. Apesar de ser um grande iogue, de profunda sabedoria e elevação espiritual não se isolou do mundo, nem abandonou seu lar. Continuou tendo uma vida familiar relativamente normal, trabalhando e cuidando da esposa e dos filhos.

          Krishnamurti também ensinou-nos  que um iluminado não está obrigado a viver isolado do mundo. Ao questionar os motivos ocultos que fazem uma pessoa fugir da sociedade sob o pretexto de uma suposta renúncia, fez-nos refletir que nem sempre a atitude exterior corresponde à interior- sendo, esta última, mais importante. Se alguém renuncia com o intuito de alcançar algo, isto é renúncia? Ou seria apenas uma troca? Ou seja, se alguém   abandona o mundo “ material” mas deseja alcançar as riquezas do mundo espiritual- isso é renúncia? Ou a verdadeira renúncia é ação que nada pede, nada almeja, sendo assim, completa em si mesma?
Krishnamurti: a verdadeira  renúncia é interior.
     Destarte, a vida espiritual foi mal compreendida durante muito tempo. Hoje sabemos que que só há um tipo de renúncia : a interna. É quando o sujeito se desapega das sua posses internas, dos desejos, do pensamento, da ambição, da arrogância, do orgulho, do EGO enfim. Ser interiormente livre é a verdadeira libertação. Ninguém precisa deixar família, rotina, trabalho, amigos Se  ocorrer alguma mudança exterior, isso terá sido de forma natural e espontânea. Resultado de uma compreensão mais profunda da vida e de si mesmo. 
  Compreender o sofrimento,  penetrá-lo, ver a verdade sobre ele- é certamente o começo de sua libertação. O sofrimento físico decorrente de doenças, velhice, fome, violência, privações etc sempre existirão. Como disse Buda  : viver é estar sujeito ao sofrimento ; a velhice, a doença, a morte e a dor sempre acompanharão a todos. Mas existe a libertação do sofrimento psicológico?

 Este é outro ponto que pouca gente compreendia e que Krishnamurti esclareceu de forma magistral. Muita gente pensava que Buda falava de um estado de total dormência ou vazio em que não era possível sentir dor alguma- nem mesmo a física. Hoje graças à visão lúcida de um Buda moderno como K. compreendemos que a libertação só se pode dar no nível psicológico e não físico. O próprio K., inclusive, sofreu muitas dores em seus últimos dias de vida levando-o a tomar altas doses de morfina. O corpo continua sensível não só as dores, mas ao prazer físico. O ideal de insensibilidade buscado erroneamente por muita gente, mudou para uma busca pela hiper sensibilidade. Como dizia K. "precisamos de uma mente sensível aos sons, ao ambiente, à natureza".
Nosso sofrimento é de natureza perceptiva
      A libertação, portanto,  pode ser encontrada, ainda nesta vida .Alguém disse certa vez, que todos os nossos problemas são de natureza perceptiva. Sendo assim, a forma como você percebe as coisas, a si mesmo e ao mundo determina a intensidade do seu sofrimento. Essa mudança de PERCEPÇÃO  não carece de esforço, tempo, disciplina, método ou mestres.  Pode e deve ser feito no aqui agora . Ela  não é um resultado de um longo processo, nem está no fim de uma longa jornada. Está além do tempo e do espaço. Krishnamurti novamente   dá uma reviravolta nas crenças estabelecidas e subverte a lógica cartesiana do pensamento religioso dominante e explica que "A liberdade está no começo- não está no fim.”
Se você realmente compreendeu isso, então já encontrou a Libertação.
       Namastê!
Alsibar (inspirado)
http://alsibar.blogspot.com

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