A Criação e o Caos |
Como explicar o fato de uma criança inocente ser raptada durante uma missa e ser cruelmente assassinada? Como entender o fato de uma pessoa sofrer um acidente fatal ao fazer uma peregrinação religiosa de agradecimento por ter sido salva de um acidente? Abaixo refletiremos sobre estas e outras questões que desafiam a visão antropomórfica de Deus pregada pela maioria das religiões tradicionais.
FATOS QUE DESAFIAM A VISÃO ANTROPOMÓRFICA DE DEUS
Alguns fatos são tão intrigantes que põe em cheque a lógica das religiões tradicionais, no que concerne à visão de Deus. Estes eventos sinistros, desafiam a nossa compreensão, o bom senso, e abalam a coerência do discurso teológico tradicional. Será mesmo que Deus pode ser considerado um ser antropomórfico? ( forma e atributos humanos). Quando, diante de tragédias dolorosas, dizemos: “é a vontade de Deus!” não estamos tornando-o igual a nós e, consequentemente, reduzindo-o a nossa condição? Mas será que esta visão de um Deus pessoal é correta? Ora, se Deus é Onipotente, Onisciente e Onipresente e se tem vontades e emoções similares aos humanos por que permitiria tais acontecimentos ? Essa tese não tornaria Deus um ser sádico, cruel e omisso? Obviamente que isso não faz sentido. Então como poderemos lidar com tais questões de maneira, no mínimo, coerente?
COMO SABER QUAL É A VONTADE DE DEUS?
Há, certamente, muitas coisas além de nossa compreensão. Todavia , este argumento não pode ser usado sempre que nossas crenças são desafiadas pelos fatos chocantes. O problema é que muitas religiões defendem a concepção de um deus antropomórfico somente quando assim lhe parece conveniente. Por exemplo, quando querem impor regras estritamente humanas , em nome de Deus. Como alguém pode saber o que Deus quer ou não de nós? Alguns podem responder: “está nos livros sagrados”. Mas existem tantos e vários livros sagrados, tantas traduções e interpretações que não dá pra sabermos qual a mais verdadeira ou "autorizada".
A verdade é que, durante muito tempo, as religiões tradicionais usaram tais expedientes para explorar, dominar e oprimir. A história já nos provou que este é um caminho perigoso , cujas consequências danosas a humanidade conhece muito bem. Quando edificamos uma “autoridade espiritual” o resultado são as divisões, os conflitos e as guerras. Não há religião, livro sagrado, ou intérpretes mais verdadeiro, sagrado ou autorizado do que o outro. Tais concepções fortalecem o fanatismo possibilitando a prática da crueldade em nome do Amor. No novo milênio, a humanidade precisa ultrapassar esse nível de compreensão puramente sectária, para uma visão mais essencial e universalista acerca da vontade divina.
A verdade é que, durante muito tempo, as religiões tradicionais usaram tais expedientes para explorar, dominar e oprimir. A história já nos provou que este é um caminho perigoso , cujas consequências danosas a humanidade conhece muito bem. Quando edificamos uma “autoridade espiritual” o resultado são as divisões, os conflitos e as guerras. Não há religião, livro sagrado, ou intérpretes mais verdadeiro, sagrado ou autorizado do que o outro. Tais concepções fortalecem o fanatismo possibilitando a prática da crueldade em nome do Amor. No novo milênio, a humanidade precisa ultrapassar esse nível de compreensão puramente sectária, para uma visão mais essencial e universalista acerca da vontade divina.
NÃO EXISTEM AUTORIDADES OU INTERMEDIÁRIOS
Temos que entender uma coisa simples: ninguém é dono da verdade e ninguém é autoridade espiritual de nada. Aqueles que se autointitulam intermediários entre Deus e o Homem estão mentindo e explorando. Ninguém deveria aceitar como VERDADE concepções radicadas no sectarismo, na fé cega, em teorias e especulações . A história nos mostra que muitas dessas visões e princípios são impostas pelo poder estabelecido como forma de dominar as massas. Muitas delas, caíram, por terra com o passar dos anos diante da incontestabilidade dos fatos. Hitler pregava a pureza e superioridade da raça ariana sobre outras "assim chamadas" sub-raças. A igreja católica pregava que o negro não tinha alma, que a Terra era o centro do Universo e que o papa era infalível. Dizia-se na antiguidade que o Império Romano era invencível e, mais recentemente, que o Titanic era o navio mais seguro da época. Exemplos de crenças aceitas como verdade incontestável e que posteriormente provaram-se infundadas é o que não falta. Ou seja, frequentemente nos vemos diante de situações que desafiam nossas crenças e certezas acerca da vida, levando-nos a reinventá-las ou repensá-las. Mas, infelizmente, muitos preferem continuam acreditando cegamente em algo - mesmo que seja totalmente sem fundamento.
NADA SABEMOS
Esses fatos apontam para uma coisa básica, mas que teimamos em não aprender : NADA SABEMOS. Os cientistas vivem refazendo suas teorias e explicações acerca do Universo. Debruçam-se anos e anos à procura de fórmulas matemáticas e equações que consigam explicá-lo e não encontram. Assim também é na nossa vida. Como explicar a crueldade? As coincidências sinistras? As fatalidades? Devemos simplesmente fazer de conta que Deus estava ausente ou estava “ocupado” demais e não viu o que estava acontecendo? Sabemos que não é assim. Uma concepção antropormófica de Deus não se sustenta diante de tais fatos . Assim , não podemos considerar Deus uma pessoa, com sentimentos e emoções humanas pois, desta forma, ele perderia seus principais atributos: o de Amor, Sabedoria e Poder Ilimitados e não seria, portanto, Deus. Infelizmente, é devido a concepções tradicionalistas como estas, que muita gente abandona a espiritualidade para abraçar o ateísmo. Que nada mais é do que outra forma de crença. Isso é lamentável. Essas concepções equivocadas, ao invés de aproximar as pessoas de Deus , tem o poder de afastá-las.
SOMOS CO-CRIADORES DO UNIVERSO
Também é comum vermos alguns religiosos pregarem que se deve “exigir” coisas de Deus. Alguns pedem, gritam, tentando impor suas vontades, como se Deus fosse alguém que cedesse às pressões humanas. Agimos com Ele como se fôssemos crianças choronas e teimosas que pedem aos pais coisas que não podem ser atendidas. E, por incrível que pareça, boa parte dos desejos são atendidos ( não esqueçamos que a própria Bíblia diz que "somos deuses", portanto, co-criadores do Universo). Assim, quando pelejamos ou insistimos com Deus, muitas vezes somos atendidos. Mas isso não significa que essa seja “a vontade de Deus”- talvez seja a nossa própria vontade posta em ação. Apesar de Jesus ter dito “pedi, pedi e dar-se-vos-á”, ele enfatizou várias vezes, que devemos nos resignar à Vontade do Pai que sabe, melhor que ninguém, o que é melhor pra nós. Não é à toa que na oração do Pai Nosso, ele diz " Seja feita a tua Vontade assim na terra como no céu."
SEJA FEITA A TUA VONTADE !
No Pai Nosso, Jesus diz : seja a feita a Tua Vontade. Significando que não devemos pelejar contra a vontade de Deus. Mas, muitas vezes não ficamos satisfeitos. Vivemos reclamando ou infelizes e, muitas vezes, praguejando. O que se deve entender é que há momentos na vida para cada coisa. Há momentos de ação e momentos de resignação. Aprender a diferenciar os dois é o começo da sabedoria. Certa feita, Jesus disse : até o cabelo de vossas cabeças estão contados e não cai uma folha que não seja pela vontade do Pai. Eis então o argumento perfeito para os ateus : se Deus é ilimitadamente poderoso e compassivo porque não age de forma a evitar calamidades, injustiças e crueldades? A resposta do senso comum seria: ele é bom, mas é justo. Todavia, há centenas e milhares de casos em que crianças inocentes são vítimas de crueldade e injustiça. Sabemos que as religiões orientais, notadamente budismo e hinduísmo, explica tudo isso através da crença na reencarnação e no carma. Mas será que essas explicações são capazes de nos trazer a paz e conforto? Para alguns, talvez sim. Todavia, não podemos considerar as crenças como sendo fatos. O fato é que são crenças. Será que não haveria uma outra forma de se considerar a questão, sem precisarmos recorrer às crenças?
CONHECER A VERDADE PELA EXPERIÊNCIA DIRETA
Os verdadeiros místicos e sábios dizem que sim. Eles não defendem qualquer posição radicada na fé cega ou crenças. Em geral, são contra todo tipo de radicalismos e sectarismos, pois sabem que tanto a crença quanto a descrença , impedem a experiência direta da Verdade ou Deus. Por isso defendem que o homem deve conhecer a Verdade diretamente. Sendo este o única caminho capaz de nos trazer a verdadeira paz e libertação da dor.
A IDÉIA ANTROPOMÓRFICA DE DEUS TRAZ DIVISÕES
Deus não pode ser reduzido às proporções humanas. Quando assim o fazemos, nós o destruímos . Como o Imensurável pode se encaixar dentro dos estreitos limites e medidas humanos? A idéia antropomórfica de Deus, torna-o mais próximo da gente mas, ao mesmo tempo, o distancia pois deixamos de vê-lo como a Essência de tudo que há no Universo. Essa centelha essencial se manifesta em todas as coisas, inclusive no homem. O deus antropomórfico, traz divisões e guerras pois as religiões dominantes sempre brigam pela supremacia do seu deus, em detrimento dos outros "deuses". A verdade é que, as diversas formas e imagens existentes sobre Deus refletem a cultura de um determinado povo, região e época. Talvez o Hinduísmo seja uma das poucas religiões tradicionais que aceitam a multiplicidade de manifestações divinas. Mesmo assim, ainda há grupos que discutem sobre qual é a forma mais original, a mais poderosa ou suprema se é Brahma, Krishna, Shiva, Kali etc
DEUS É INFINITO, INCONCEBÍVEL E INCOGNOSCÍVEL
Os grandes místicos e sábios não se preocupam com tais dilemas. Suas experiências de Deus vão além de todo sectarismo . Assim, se entendemos que Deus é inconcebível, incognoscível, atemporal e ilimitado então resolvemos vários dilemas. Quando consideramos Deus como sendo "alguém"- no sentido humano, os fatos tomam aparência de crueldade e injustiça. Ora, se Deus é ILIMITADO e INFINITO, não podemos querer “abarcá-lo” ou “prendê-lo” nas garras da nossa lógica finita e limitada . Consciente disso é que o sábio reconhece sua própria limitação e lida com a questão de outra maneira : se a vida no parece incompreensível isso se deve ao fato de atribuirmos a Deus valores e medidas estritamente humanos. Então, concluímos que há coisas no Universo que nossa limitada capacidade nunca compreenderá. Ora, se não conseguimos compreender o simples universo visível, como compreenderemos o que é Invisível, Incondicionado, Atemporal e Infinito? Por isso, Lao Tsé dizia no Tao Te Ching: “o Inconcebível que se pode conceber não é o Inconcebível… o Sábio deve auscultá-lo no silêncio”. Posições bastante similares são compartilhadas por outros místicos e iluminados como Krishnamurti, Buda, dentre outros.
RECONHECENDO NOSSAS LIMITAÇÕES
Desta forma, quanto mais tentamos entender as razões e o sentido das coisas, mais confusos e perturbados ficamos. Por isso é dito que o “sábio cala”. Não há nada a se falar ou discutir sobre Deus pois nunca teremos capacidade para compreendê-lo em sua magnitude e amplidão. Neste particular, os mitos e os símbolos exercem uma função importante : são tentativas de comunicar de maneira simples e inteligível, concepções complexas e profundas. Como entender quando Krishna diz no Bhagavad- Gita: “ Eu sustento todo o Universo com apenas uma centelha do meu esplendor”? Como entender o Amor de Deus? Como entender a morte, a solidão, as perdas, as tragédias e o sofrimento que atingem a todos- muitas vezes sem nenhum motivo aparente e de forma "injusta" pelos padrões humanos? Como entender o episódio que envolveu Hitler e sua escalada ao poder, permitindo assim, o Holocausto? Só nos resta reconhecer nossas limitações e abandonarmos essa mania de querer entender as razões de tudo.
SOBRE A NECESSIDADE DAS CRENÇAS
Uma outra questão seria : será que as crenças são necessárias a uma conduta ética e uma vida plena, equilibrada e saudável? Talvez para algumas pessoas a resposta seja sim. Todavia, algumas vezes, elas são verdadeiros empecilhos e até mesmo prejudiciais. Mas se tua crença não cria divisões, não incita ao ódio, ou à ilusão, então não há problemas, desde que você esteja plenamente consciente de que crenças não são a VERDADE. É algo que você escolhe confiar porque lhe parece razoável, ou lógico, ou porque lhe ensinaram assim. Mas temos que compreender que podem não ser exatamente como acreditamos que seja. Então a questão sobre se Deus existe, qual sua aparência e quais suas "vontades e desejos"- nunca serão completamente respondidas. E qualquer que seja a conclusão que cheguemos, por mais confortadoras que sejam, não deixarão de ser crenças. Falando isso não estou afirmando que são falsas- as crenças podem ser verdadeiras ou não. Simplesmente não temos como comprová-las, se tivéssemos não seria crença. Mas, será possível irmos além das crenças? Sim, é possível.
INDO ALÉM DAS CRENÇAS E CONCEPÇÕES INTELECTUAIS
Para aqueles que não se satisfazem com as crenças, mas querem encontrar a Verdade, experimentá-la e vivê-la como uma experiência direta, então só resta um caminho : a MEDITAÇÃO. Todos os grandes mestres sem excepção, a ensinaram. A meditação pode transformar, iluminar, libertar e unir os homens pois não está radicada em concepções teóricas, mas na experiência direta e objetiva da verdade . A meditação pode libertar os homens das falsas concepções e fazê-los penetrar na dimensão do Desconhecido. Lá estão todas as respostas e o bálsamo para todas as dores. Quando o homem se liberta das limitações do pensamento, do tempo e do desejo passa ele a sintonizar-se com aquela Energia ilimitada, infinita e atemporal chamada Deus. Chegando aí o indivíduo não se questiona mais, não se confunde mais, nem exige, nem pede mais nada. Passa também a compreender que Deus é simplesmente o Absoluto, sendo assim, é tudo o que existe: o perceptível e o imperceptível, o imanente e o transcendente; o que está dentro, fora, acima, abaixo e além.
HUMILDADE E FÉ DO HOMEM SÁBIO
Quando a mente questionadora silencia, não há mais espaço para sectarismos, radicalismos ou discussões teóricas acerca do transcendental. Ao reconhecer suas limitações, o homem sábio demonstra humildade e fé no Absoluto. Também demonstra verdadeira confiança no Amor e na Proteção Divina pois não suplica ou impõe nada à Divindade. Se Deus é o criador e mantenedor Supremo, ele nunca pode estar “ausente” ou “omisso”. Mas não compete a nós questionar suas atitudes e os movimentos do Destino Inexorável. Quando sentimos a existência de uma Força Superior do Universo, então qual o sentido da inquietação, medo ou preocupação? O sábio relaxa pois sabe que Universo existe por si mesmo e que sua vida não depende de sua medíocre e limitada vontade. Tudo que existe vive pela “vontade” do PAI. A "vontade do Pai" é apenas uma metáfora usada por Jesus para expressar o fato de que o Universo é regido por Leis e Forças Superiores, matematicamente exatas, Infinitas, Inteligentes e Autocriadoras.
DEUS “É O QUE É”
E se aceitamos que Deus é o Absoluto Insondável, e portanto cria, destrói, comanda, sustenta e controla tudo no Universo, desde o pequeno átomo até as galáxias infinitas, então compreenderemos quando Ele afirma na Bíblia que “É O QUE É”. E assim compreendemos quando os sábios afirmam que perceber "o que é", é perceber a Verdade, o Desconhecido, Deus, enfim.
AUTOR : ALSIBAR (inspirado)
http://alsibar.blogspot.com
excelente texto.também recomendo leituras de alan watts,onde ele critica bastante a visão antropomórfica de deus e suas contradições contrapondo-a com a visão oriental.recomendo particularmente"A SABEDORIA DA INSEGURANÇA"à venda em sites de livros usados.
ResponderExcluirOla amigo Anônimo, grato por seus comentários e sugestões! Fraterabraços!
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