sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CRISES REPETITIVAS - Repeated Crises

  


O que são as crises? 
São situações de ruptura que desencadeiam mudanças . Elas são decisivas para produzir transformações necessárias à expansão da vida. Certas situações críticas são tão dolorosas que deixam marcas profundas em nossa psique - e até no corpo. Doenças  físicas e  psicológicas tais como: stress, pressão alta, depressão, distúrbios mentais e comportamentais- são alguns exemplos de marcas deixadas pelas crises.  Algumas crises são passageiras, outras estão sempre se repetindo, numa espécie de "eterno retorno"- mudam o cenário e os personagens - mas o roteiro básico é essencialmente o mesmo. É difícil entender como os mesmos problemas  teimam em retornar- por mais que tentemos evitar. Quem nunca teve uma sensação de " Dejavú" do tipo: "eu já vivi isso antes". A impressão é de estar preso  numa espécie de  “looping” do tempo. A questão é : como libertar-se desse círculo vicioso?

O COMEÇO DA LIBERTAÇÃO
 Perceber a própria parcela de culpa no encadeamento das crises é o começo da libertação. Entender o processo de fuga também. Fugir para as igrejas, drogas, futebol, relacionamentos, estudo, trabalho, sexo ou alguma outra atividade superficial, não impede o reaparecimento desses pesadelos recorrentes. Mudanças superficiais não atingem o cerne do problema e, por isso, eles voltam a aparecer. É necessário que se extraia as raízes do problema, de forma que não cresçam mais.  Mas onde estão estas raízes? Como exterminá-las de forma que não voltem a brotar?

PRIMEIRO PASSO : ASSUMIR A CULPA

  Ao admitir que as raízes estão dentro de si , um trabalho sério de libertação começa a ser realizado. Mas admitir isso não é fácil . A dor causada pela percepção da verdade sobre nós mesmos é muito forte- em alguns casos- insuportável . Olhar para si mesmo, ver os próprios erros e falhas é um verdadeiro chute em nosso orgulho . Isso pode ser angustiante, principalmente para aqueles que  idealizam demais a si mesmos.  Todavia, a verdade é que a situação crítica é criada pelas atitudes, pensamentos e sentimentos plantados no ontem. É preciso ter coragem  para admitir que tudo o que está ocorrendo - todas as crises e suas repetições - é resultado de nossas próprias ilusões e falhas do passado.

SEGUNDO PASSO: ARRANCANDO AS RAÍZES

Depois do primeiro passo, vem o segundo: arrancar as raízes causadoras das crises . Ora, isto poderá ser feito através de alguma ação direta da vontade? Ou haverá outra possibilidade?  Existe uma ação que não parta do ego, do centro- causador de todo o problema? Esta ação não é algo que se faz -mas surge com o percebimento da verdade sobre si mesmo- sem condenação ou julgamento- de qualquer espécie. É nessa hora que se deve ter muito cuidado . Deve-se olhar para si mesmo como realmente se é- e não a imagem idealizada criada por nós. Ora, se já nos vemos como seres perfeitos, completos e acabados - não há chances de mudanças ou transformação.  O que somos realmente? Ego, tristezas, desilusões, sofrimento, esperanças, condicionamentos, memória, vazio, desejo, conflitos etc. E, partindo desse pequeno feixe de retalhos - nos identificamos com algo maior que nós: Deus, Luz, Eu Sou etc. Mas quando o ego se  identifica com algo maior do que ele o resultado final é sofrimento e decepção. Tem-se que ver a realidade do que somos- não através do filtro do ego, da palavra, do pensamento- e sim no silenciar destes.

TERCEIRO PASSO : A VERDADE LIBERTA

Encarar a verdade transforma e liberta . Talvez, em nossa essência, sejamos luz, amor, paz etc. Mas não é isso que importa  nesta questão. É preciso que a pessoa se veja como é na atualidade e não na possibilidade.   E o que somos atualmente? Somos um movimento de forças em perpétuo conflito e contradição . Um emaranhado de energias desconexas e impessoais buscando a supremacia, a continuidade e a felicidade permanente . Um monte de lixo , metais comuns sendo cuidado como se fosse ouro . Talvez haja ouro por baixo de tanto lixo, mas isso é apenas uma possibilidade .
Enquanto a pessoa  não encarar sua própria verdade interior, a MATRIX da ilusão continuará dominando e escravizando .Daí a importância do estar consciente de seus próprios movimentos e realidade interna de forma direta- sem intermediários.

O AUTOCONHECIMENTO NÃO É UM PROCESSO DUAL

Compreender que o autoconhecimento não é um processo de análise dual constitui o quarto passo. Infelizmente,  poucas pessoas não compreendem o que é autoconhecimento. Muitos acham que é encontrar defeitos, julgá-los, admiti-los, e lutar contra eles. Nada mais equivocado . A análise parte do ego e como o ego iria analisar a si mesmo? Não pode .  A liberdade não está na autoanálise ( processo dual EGO-OBSERVADOR x EGO-OBJETO OBSERVADO). Nem mesmo na busca ansiosa pela autoconsciência, estado de alerta ou lembrança de si .  O motivo é muito simples : se há esforço, expectativa ou desejo, então o resultado será frustrante pois o ego não tem como por cabo a si mesmo. O desejo não pode cessar o próprio desejo, através do desejo. Esses são sinais claros de que o Ego "poluiu" o processo do autoconhecimento. No verdadeiro autoconhecimento, não existe dualidade. Isso é um paradoxo difícil de ser entendido. Em outras palavras: o estado de percepção/observação/autoconhecimento só se realiza através do não-esforço e da não-dualidade. Se alguém quer despertar seus poderes adormecidos tem que entrar na dimensão da unidade -onde não há nem o eu que busca (observador), nem o desejo (a ânsia pela observação), nem o objeto de busca (a transformação). Há simplesmente o observar, o perceber, o conscientizar.

APENAS FIQUE CONSCIENTE !
Quinto passo: apenas observe- sem fazer nada . Percebemos o mundo ao nosso redor através da "cortina" do EGO.  Esse EGO é como espelho distorcido que impede de ver a realidade como ela é . Essa verdade é o que você  é agora, não o que será no futuro. Evite as idealizações e projeções. Este é o verdadeiro  autoconhecimento. "Olhe" para si mesmo. Olhar é ficar consciente de seus pensamentos, desejos, emoções, sentimentos, reações e atitudes diante dos desafios e circunstâncias reais.  Mas se no começo for difícil- não deixe a ansiedade lhe dominar ."o desejo, a expectativa" de se alcançar este estado , ou mesmo de prolongá-lo -cria um novo problema. Por isso, não se esforce, não ansei por isso. Deixe que este estado "venha" naturalmente, que ele se estabeleça por si mesmo. Mas, faça sua parte: sempre que se lembrar mergulhe nisso. Evite analisar, criticar ou julgar aquilo que você percebe em você- seja o que for.  Tais atitudes apenas fortalecem o EGO, impedindo seu enfraquecimento e a transformação do centro . 

A CONSCIÊNCIA TRAZ A LIBERTAÇÃO
O sexto passo : consciência passiva . Se preferir, você pode reservar alguns momentos do dia  para entrar neste estado.   Mas , não se prenda a horários e rotinas. Todavia, se quiser, você pode reservar alguns momentos do dia - pela manhã ao acordar, à noite antes de dormir- para "VER".
Lembre-se : nesse estado, não há ator, não há entidade, não há Ego. Há apenas uma "consciência passiva" daquilo que é percebido. Mas não se deve achar que este é um estado de passividade mórbida. Não é. Há muita ação na observação silenciosa- apenas ela não é percebida pelo cérebro .Krishnamurti dizia :  "o observador é a coisa observada" . A partir daí, inicia-se um movimento, sutil, misterioso, além da atuação do ego. Esse "movimento" ativa as energias poderosas inerentes ao ser humano e elas estão fora do campo de atuação do EGO, do pensamento.

 Somente a CONSCIÊNCIA PASSIVA faz nascer o poder capaz de enfraquecer e vencer as atitudes recorrentes, mecânicas e condicionadas do EGO- responsáveis pelas crises repetitivas. Ao estabelecer-se uma mudança no centro controlados, as coisas mudam. E as crises cumprirão sua verdadeira função: a de desencadeadora de mudanças profundas no sujeito, fazendo com que ele evolua, cresça e se expanda em sua viagem rumo ao infinito!
               
Autor: Alsibar




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