terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O CONCEITO DE GURDJIEFF SOBRE O DESTINO

 


Nesse diálogo que tive com a Valéria Peixoto, ela me perguntou sobre o conceito Gurdjieffiano de destino. Afinal, o que há de verdadeiro ou falso nos ensinamentos de G. sobre essa questão? Foi sobre isso que conversamos. Leia, reflita e tire suas próprias conclusões!

 Valéria : Alsibar, o que você acha do conceito de Gurdjieff sobre destino? Ele fala que o destino é para homens superiores. E que aos "inferiores" resta o “acidente” ou “acaso”.

Alsibar : Olá Valéria bom dia! Quase todos os ensinamentos de G têm sempre uma ressalva porque  ele acrescentou muita coisa. Tudo indica que ele não entendeu corretamente os ensinamentos das tradições esotéricas e orientais que ele acessou em suas viagens pelo oriente.

 Valéria : O que me pareceu é que proporcionalmente ao nível de conhecimento/consciência do homem ele é um tanto “dono” de seu destino dadas as escolhas que faz.

Alsibar : Sim! É isso mesmo ! Mas eu vou explicar de onde ele, provavelmente, tirou isso.

 Valéria : Opa !

Alsibar : Essa concepção de G. é resultado de um outro conceito equivocado. Para G. no homem comum, ordinário, tudo “acontece” e, consequentemente , se  ele não comanda seus processos internos,  da mesma forma será o seu destino. Já em sua concepção de “Homem Superior” tudo nele é consciente e intencional. Então, como consequência, seu destino pode ser controlado. São dois conceitos parcialmente corretos. O homem 'Superior' seria o que Jesus Cristo, Buda e Krishnamurti  chamaram de “ Homem Desperto/iluminado. Como o desperto “influencia” o seu destino?

O iluminado conhece a si mesmo e como ele se conecta naturalmente com a Fonte então ele pode direcionar seu destino positivamente. Todavia ele NÃO ESCOLHE tudo conscientemente — como defendia G. O erro do bigodudo foi não perceber que sua visão de “Homem Superior” na prática, nada mais  é do que um homem com o “ego poderoso’. E quanto mais poderoso o ego, maior o desastre. Uma pessoa com um ego muito forte — força de vontade, mente, energia,  inteligência, etc. — pode sim criar ou influenciar seu destino no que concerne às questões materiais. Vide Edir Macedo, Valdomiro Santiago, R. R. Soares, Osho, etc. — São pessoas que usaram conscientemente seu poderes/dons para criar sua própria realidade. Só que foi O EGO— em sua ilusão e busca por riquezas/prazeres materiais — que criou... E, nesses casos, os problemas aparecerão mais ou cedo ou mais tarde.

Com Gurdjieff foi basicamente a mesma coisa. Seu conceito de Homem Superior infla e robustece o ego. Por isso que, no geral, todos seus empreendimentos e projetos NO CAMPO MATERIAL deram certo. Mas.... Não tardou para a conta chegar, pois o ego é como a imagem mítica de Satanás: ele te 'dá" mas depois te cobra alto pelo que te “deu. G. apesar de toda fama, reconhecimento e dinheiro que ganhou passou grandes perrengues na vida. Situações terríveis que o fez questionar tudo aquilo que ele acreditava. E isso é revelado por ele mesmo no último livro “ Sobre tudo e todas as Coisas”, que mais parece um desabafo do que um livro de ensinamentos. Lá, ele revela todo seu sofrimento devido a dois acidentes que lhe deixou sequelas graves e do quanto ele estava, interiormente, mal. Dizem que esses acidentes foram provocados conscientemente por ele mesmo como uma forma de alcançar o Despertar. Mas isso é outra história...

Como seria a compreensão correta da questão do destino?  O homem comum está sujeito a uma quantidade maior de forças mecânicas e casuais uma vez que ele não se compreende, nem se conhece. A diferença entre um homem comum e um iluminado é que este último, por se autoconhecer, não está mais totalmente sob o poder dos impulsos do ego - que é uma força instintiva da natureza. Obviamente, que quem está totalmente controlado pelos impulsos do ego está mais “inconsciente” e mais sujeito a desgraças e problemas, uma vez que ele não sabe como alterar as causas profundas do seu destino que se encontram na psique.

Já o homem "desperto" também está sujeito a problemas na vida. Todavia, por estar mais ligado à Fonte Divina e mais livre dos impulsos primitivos do ego, sua vida tende a ser mais tranquila e feliz.  E, mesmo diante das adversidades, ele tem paz de espírito e sabedoria para lidar com elas da melhor maneira possível.

Outro erro de G. foi acreditar que o nível espiritual ou de consciência do homem seria proporcional a tal 'CONSCIÊNCIA DE SI'. Isso está parcialmente correto. O nível espiritual é proporcional ao CONHECIMENTO DE SI, ou seja, ao autoconhecimento. Você pode ter conhecimento de si, e não estar sempre  “consciente de si”- na acepção de G.  Para ele,  uma pessoa com "consciência de si" estaria sempre e constantemente “lembrando de si”, o que, na prática, significa estar sempre atento a tudo que pensa, sente e faz — o tal “estado de presença”.

A “consciência de si” na perspectiva de G. é de fato uma utopia. E esse foi um dos motivos de suas angústias pois ele viu que o que ele passou uma vida ensinando era tão impraticável quanto ficar sem respirar. Nem ele, nem seu famoso discípulo Ouspenski, nem nenhum dos seus seguidores, conseguiu alcançar tal estado de consciência plena. A “consciência de si” é um estado diferenciado de consciência que surge naturalmente como consequência do autoconhecimento e NÃO pode ser praticado, nem mantido, nem controlado — como G. pregava.

Valéria : Muito bom! Gratidão pela explicação clara! De fato é um engodo pensar em termos absolutos e rígidos. Acho que esse pensamento foi o precursor do mindfullness como é usado hoje para o “sucesso”. Mas, como você disse,  a conta vem.

Alsibar: Portanto, a “consciência de si” na forma que ele ensinava — que era ficar prestando atenção diretamente e constantemente a tudo que se faz, pensa, sente, vive, faz, etc. — era uma ilusão, uma fantasia, uma armadilha do próprio ego.

Valéria : De novo a confusão “diabólica” entre psíquico e espiritual.

Alsibar :  Perfeito, isso mesmo! É bom ressaltar que G.  influenciou toda uma geração de líderes espirituais com suas ideias estapafúrdias, inclusive o OSHO, que, por suas vez, influenciou vários  gurus e líderes espirituais modernos como Eckhart Tolle,  dentre outros. É muito difícil perceber a sutil diferença entre “ consciência de si” e “ ciência de si”. Passei uma vida para entender tudo isso. E foi pela GRAÇA DIVINA que a compreensão me chegou pois, sozinho, confiando apenas em minha própria capacidade, eu não teria conseguido.

 Valéria : Claro!  Maravilhoso perceber isso.

Alsibar Terapeuta: Essa mesma confusão que G. fez, Osho fez, Tolle faz, e os SEGUIDORES DE KRISHNAMURTI também  o fazem. Principalmente aqueles que acham que tudo é a mesma coisa. Não têm essa percepção e esse cuidado que você está tendo de saber separar o joio do trigo! Parabéns!

Valéria: Gratidão por compartilhar!

Alsibar: Disponha!

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2 comentários:

  1. Fala grande Alsibar, como vai amigo?
    Vou deixar meu feedback. Como participo de uma escola do quarto caminho há alguns anos, vou tentar dar alguns pontos de vista

    Antes de mais nada sou um grande aprendiz, mas posso dizer que me sinto abençoada em ter ingressado em uma escola e vivenciar ensinamentos que os livros dificilmente iriam me mostrar. Assim como vc e muitos, também tive uma jornada parecida no que diz respeito às questões relacionadas a lembrança de si permanente e coisas do tipo

    De início, existe uma fala do Ouspensky que diz que o “Eu Verdadeiro não deveria ser chamado de Permanente pois os Eus inferiores devem fazer seus trabalhos também”

    Ter controle sobre o destino e por assim dizer, ter Vontade, está muito mais ligado a nos conhecer e ter força para não nos identificar com certas coisas da vida que simplesmente são ilusões da falsa personalidade (ego). Aliás, distinguir a falsa personalidade da essência é algo muito belo e que levei um certo tempo pra observar com mais clareza em mim e nos outros

    Tem uma outra citação de Ouspensky que ele diz que G perguntou a ele dois anos antes, se ele sentia algo novo dentro dele e na ocasião ele disse que não. Porém ele diz agora o seguinte: “Agora posso falar o contrário, a mudança não ocorre de uma vez. Toda a vida continua de maneira normal, com todos aqueles comuns, estúpidos e pequenos eus. Mas se algo grande acontece, esse algo seria enfrentado não pelo pequeno eu comum que agora está falando e que pode ser amedrontado - mas por outro, um grande Eu, que nada pode assustar e que seria igual independente do que acontecesse… pra mim é um fato. E este fato está definitivamente conectado a este trabalho”

    E só pra finalizar, quando você diz que teve compreensões divinas sobre certos assuntos, eu arrisco a dizer que isso tem uma relação com um grande Eu

    Grande abraço amigo
    Espero ter contribuído em algo

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    1. Ola Felipe Abreu TD bem? Sim, com certeza contribuiu. Obrigado pela participação e até a próxima.Abcs💥☺️🙏

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