quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O CONHECIDO E O DESCONHECIDO

 



Quando Buda alcançou a Iluminação desfez-se a ilusão do "eu" enquanto entidade autônoma e separada. Dizer que o 'eu' não existe seria incorreto pois é ele que cria toda a ilusão do mundo de maya, a divisão e o sofrimento. Afirmar que ele existe seria, igualmente, impreciso pois incorreria no erro de afirmar a existência de algo que está sempre se transformando, em um constante processo de morte e renascimento. O eu, portanto, existe e não existe ao mesmo tempo. Quanto mais apegados à ideia de sua existência concreta/permanente, maior é a resistência à Realidade e, por conseguinte, maior o conflito e o sofrimento.

Quando o ego enquanto entidade autônoma está plenamente cônscio de sua própria existência e, consequentemente, da realidade criada por ele mesmo, seja ela de luz, escuridão ou neutralidade - diz-se que ele vive no 'conhecido'- ou seja, com pleno conhecimento daquilo que vive, sente e experimenta.

O 'conhecido' é a extensão sutil do próprio ego. Imagine o ego como uma lanterna acesa que ilumina o mundo ao seu redor. Sem a luz da lanterna não há mundo visível, não há cores, sensações e percepções. É o ego que torna o mundo perceptível e visível aos olhos da consciência.

Em termos práticos é o seguinte: se estou plenamente consciente da minha própria ascensão, das minhas virtudes, da minha Iluminação e espiritualidade então é tudo ilusório pois é o ego que está 'iluminando' tudo. É essa a dimensão que Krishnamurti apelidou de 'conhecido' pois há um conhecimento pleno do ego acerca de suas próprias ações, conquistas , perdas, ganhos, objetivos, processo, etc, etc.

No Antigo Testamento, há uma vaga alusão a essa questão. Quando Deus diz a Moisés: 'aquele que vê minha face morre' (Êxodo 33:20) é exatamente Isso. Em outras palavras: o ego não pode ver (conhecer) Deus - o Eterno Desconhecido. Assim, apenas com a morte do ego ilusório é que o Desconhecido pode então se apresentar.

Ego é sinônimo de conhecido/conhecimento/consciência de si, o sentido do eu auto-existente e separado. O conhecido é a dimensão onde o Ego governa e reina - inclusive quando trata dos assuntos ditos ' espirituais'.

O Desconhecido é a dimensão onde o ego não mais manda, não resiste, nem existe - exceto nas questões de ordem prática para garantir a sobrevivência, o conforto e a proteção do corpo. No Reino do Desconhecido não há mais o 'mundo do eu'. Internamente, esse mundo perde a consistência, existência e importância.

Por isso que, quem alcança o Desconhecido penetra na imensidão do Infinito. Lá, passado, presente e futuro fundem-se na Eternidade. Nesse estado, tudo está constantemente emergindo e imergindo, aparecendo e desaparecendo, nascendo e morrendo. É como um movimento constante das ondas do mar que quando vem cria o mundo com suas aparências, cores e dores. E quando se vai, leva tudo consigo revelando a natureza essencial da realidade aparente onde tudo se manifesta: o Espaço Imensurável, o Grande Vazio de onde tudo nasce e para onde tudo retorna.

Alsibar Paz

05/01/22

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