Quando os grandes mestres autorrealizados como Sankara,
Ramana, Nisargadata dentre outros, proferem sentenças como essas, eles partem
de uma percepção muito avançada acerca da natureza essencial do “eu”. Ou seja, eles se movem da experiência para o
discurso e não o contrário. Isso significa que eles falam de uma experiência real,
direta e objetiva e não do que os outros disseram ou do que leram. Foi essa
vivência que os fez perceber que por
trás da aparência visível da realidade,
existe “ Algo” maior que alguns chamam de Luz, Consciência, Deus, Fonte, Amor,
Imensurável, etc. Até mesmo os
cientistas já reconhecem que a natureza da matéria não é sólida, que tudo é
feito de pequeníssimas partículas de energia, luz e, mais profundamente, espaço
e vazio. Então, não há nada de novo nos discursos dos gurus neo-advaitas. O que há de novo é a má
interpretação que estão fazendo desse conhecimento, gerando um fenômeno perigoso
entre seus adeptos: a desumanização do homem através da insensibilização.
De acordo com essas pessoas, o sentir está ligado ao corpo e,
portanto, não devem sentir pois eles são a “ Consciência” e a consciência não
sente, não muda, não se apega, não se identifica. Desta forma, criam um estado de
completa abstração da realidade para se refugiarem em um estado mental idealizado
em que se sentem seguros e protegidos. Para eles, quanto maior a insensibilidade,
maior a espiritualidade. É claro que não estou dizendo que todos fazem isso,
mas que há uma tendência, por parte de alguns, em confundir insensibilização
com elevação espiritual. O resultado é a temerária construção de um estado mental em que o ser humano é reduzido a coisa, pois
se se lhe tira a sensibilidade, tira-se também sua humanidade.
Ora, Jesus — para alguns, o maior de todos os iluminados —
nunca defendeu tal tese. Pelo contrário, o que se vê nele é uma vida de muita
emoção, sensibilidade, compaixão e paixão. Krishnamurti, um iluminado moderno,
por várias vezes enfatizou a importância da sensibilidade, de sentir o vento,
os cheiros, as cores, a beleza da natureza, etc. Isso nos leva a refletir o
seguinte: embora algumas correntes religiosas conservadoras condenem os
sentidos ensinando, inclusive, a controlá-los, essa atitude pode não passar de
um grande equívoco. De acordo com Krishnamurti o controlador é o controlado e, sendo assim, o controle é
uma ilusão pois cria mais conflito e sofrimento. Outros iluminados de outras
correntes como Yogananda, Sri Yuktéswar, Lahiri Mahasaya e até Babaji, em
nenhum momento deram a entender que a realização espiritual significaria a
extinção total das emoções e dos sentimentos. Então, tudo leva a crer que está
havendo uma espécie de “ilusão de ótica coletiva” nisso tudo.
O problema é o seguinte: cada pessoa só pode falar daquilo
que vivencia. O ideal de Ramana de uma vida ascética, apartada do corpo, das
emoções e da realidade sensorial era verdadeiro para ele que escolheu o caminho
da renúncia. Por ser uma alma elevada,
sua mente mergulhava naturalmente em profundo êxtase, alcançando com facilidade
estados elevados de consciência. Todavia, quando uma pessoa comum, com a mente
inquieta e cheia de conflitos, fica apenas tentando imitá-lo, não é a mesma coisa.
Ao invés de realização espiritual passa a ser invenção mental. Em suma, o que
acontece é que a mente começa a condicionar a si mesma, criando para si um
mundo ideal em que se exclui tudo aquilo que possa significar dor.
Infelizmente, isso não é advaita mas sim uma deturpação do advaita. Quando a mente
se divide em “Personagem e Ser”, ou quando ela resiste a qualquer emoção que possa perturbar
sua suposta paz, ela não está sendo não-dualista. Pelo contrário, ela está
criando resistência pela não identificação, o que constitui uma fuga da
realidade. É uma forma esperta que a mente encontra de evitar a dor e, de
quebra, ainda ganhar o status de “Desperto”.
Mas, a verdade é que isso não funciona por muito tempo. Se a cada desafio,
problema ou situação difícil, houver, por parte do sujeito, apenas uma negação
mental do fato, sob a justificativa de
“não ser real”, o que ele faz
não é muito diferente daqueles que usam drogas , bebem ou tomam remédios
para esquecer dos problemas. Certamente que tal atitude não demonstra lucidez
espiritual, mas fraqueza, imaturidade e covardia.
Grandes mestres como Jesus, Krishnamurti, Sri. Yuktéswar e
Nisargadata não fugiram da vida, não a negaram. Pelo contrário, vivenciaram-na
em todas as suas nuances, desde o prazer de um bom vinho, uma boa comida, uma
boa companhia até a dor de uma crucificação, da traição ou de um câncer mortal.
Não há vida sem sentimentos ou emoção. Jesus nunca seria um grande mestre se
não tivesse sentido em si mesmo a dor dos sofredores e oprimidos. Sendo assim,
se você está começando a estudar o advaita através desses gurus ocidentais
modernos, tenha muito cuidado não só com aquilo que eles lhe transmitem, mas
também com a sua própria interpretação. Não se deixe impressionar pela beleza
dos seus discursos e tenha o máximo de
cautela com aquilo que eles ensinam. Não se deixe levar tão facilmente por suas
palavras e mantenha-se atento para perceber as sutilezas do discurso que podem
levá-lo à desumanização. Mantenha o "desconfiômetro" ligado pois, embarcar numa
ilusão como sendo realidade pode até ser bom no começo, mas, no final, pode
custar-lhe muito mais caro do que você imagina.
By Alsibar Paz
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Muito bom amigo. Saudações e bençãos! 🙏🏻✌🏻
ResponderExcluirOla Felipe, muito obrigado por sua participação. Abcs amigo! Muitas bençãos pra você tb.
ExcluirCirúrgico como sempre! Obrigado!
ResponderExcluirObrigado Thales pela participação e palavras! Abcs
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