quinta-feira, 23 de setembro de 2021

LIVRE-ARBÍTRIO VERSUS DETERMINISMO

 



                    O  livre-arbítrio é um dos assuntos mais complexos e difíceis de serem abordados. Dizer que não existe livre-arbítrio seria o equivalente a dizer que somos todos joguetes de forças superiores — tais como bonecos — o que significaria  tirar a responsabilidade por nossas ações. Por outro lado, afirmar que existe um livre-arbítrio incondicional e absoluto seria, da mesma forma, negar as forças reguladoras do equilíbrio universal abrindo caminho para o caos. Assim sendo, como entender essa questão?

                   Jesus disse certa vez: “ Até o cabelo de vossas cabeças estão contados”. O que aponta para a ideia de que existe uma força suprema controlando/coordenando tudo do macrocosmo ao microcosmo. E, de fato, não é difícil perceber que em todo o universo há um princípio inteligente que parece coordenar e manter todas as coisas através de leis matemáticas perfeitas e exatas. O sábio Ramana Maharshi disse certa vez que “ Aquilo que não estiver destinado a acontecer, não acontecerá— não importa o quanto você tente. E aquilo que estiver destinado a acontecer, acontecerá  não importa o quanto você faça para evitar”. Na tradição hindu, essa Lei é chamada de carma. Então, se tudo, de uma certa forma já está programado para acontecer ou não acontecer, onde fica livre-arbítrio?

                   Como eu já citei, o livre-arbítrio total e absoluto não existe. O que existe é uma “margem de liberdade”, por exemplo, quando precisamos fazer algumas escolhas. Apesar de acreditarmos que escolhemos livremente, nossas vontades estão condicionadas por uma cadeia de causas e efeitos. É através dessas escolhas  que a vida nos testa, impulsionando ou não o processo evolutivo. É como quem vai por uma estrada que de repente se divide em duas e você tem que escolher por qual delas seguirá. Nem sempre escolhemos a certa — mas mesmo a “errada” servirá para nós como uma importante lição no futuro. Mas, ao contrário, quando escolhemos a “certa” então nossa vida pega um novo impulso rumo ao despertar. Sendo assim, quando não tomamos uma atitude que lá no fundo sabemos ser a correta, por medo ou covardia, por exemplo, é como se traíssemos  nossa alma e , lá na frente, veremos o quanto fomos tolos. Em suma, as nossas escolhas são “pré-determinadas” por forças cármicas que nós mesmos colocamos em ação.

                  Vou usar meu próprio exemplo para ilustrar essa questão. Quando completei oito anos de casado, em um casamento desgastante e sem sentido, vi que tudo que eu estava vivendo tinha sido resultado de meus próprios desejos imaturos. Eu mesmo operei aquelas forças que se voltavam contra mim em forma de dor, angústia e infelicidade. Diante de situações como essa, cada um reage de uma forma diferente: alguns se acomodam, outros piram, adoecem, cometem besteiras, etc. Mas eu me voltei para um poder maior que eu sabia existir e que era o único que poderia me livrar daquela escravidão. Então, pedi a Deus com todo o fervor e sinceridade do meu coração para que me libertasse daquela situação dolorosa. E , assim aconteceu. No outro dia, eu estava me sentindo forte o bastante para me desfazer daquele casamento infeliz. Ou seja, o carma não é uma lei irredutível. Há forças mais poderosas do que ele que o homem precisa aprender como “controlá-las”. Na verdade, ninguém controla nada, mas você aprende como usar uma força maior para anular a ação de uma lei menor.

                    O carma não pré-determina as ações, ele apenas as condiciona. Se tudo já fosse determinado de antemão não haveria chances de salvação — todos estariam condenados para sempre. Afinal, em uma corrente fixa de causas e efeitos não há possibilidade de libertação. A realidade, porém, é outra: causas e efeitos podem ser transformados pela intervenção de forças superiores ao carma. De fato, quando o homem se conecta com sua luz interna — seja através da oração, meditação, compreensão, ação, etc. — ele atua nas raízes profundas do carma e, então, sua vida começa a mudar. No entanto, caso o sujeito não busque meios para mudar a si mesmo, o carma não mudará e , assim, os efeitos também não mudarão, levando o sujeito a viver preso em uma cadeia de fenômenos recorrentes e repetitivos.

                     No fundo,  precisamos ter a ilusão do livre arbítrio pois, sem ela, não amadureceríamos como seres humanos. É através do sentido do livre-arbítrio que desenvolvemos valores como razão, prudência, responsabilidade, discernimento, compaixão, etc. Além disso, quanto maior a liberdade, maior a responsabilidade. Aprender a equilibrar esses dois é um dos maiores desafios da escalada humana rumo ao despertar. Essas virtudes precisam de liberdade para serem desenvolvidas. Do contrário, não terão os alicerces que lhe dão vitalidade e sentido. Em outras palavras, as pessoas precisam acreditar que são livres para que possam fazer o uso correto e responsável dessa liberdade e, assim, evoluírem espiritualmente. Mas nada está totalmente solto e ao acaso.

                    Pouca gente sabe, mas Krishnamurti tinha um forte sentido de proteção de que nada, nenhum tipo de mal poderia atingi-lo. E, de fato,  ao longo de sua história sabe-se de, pelo menos, três vezes que tentaram matá-lo — sem sucesso. Em suma, lá no fundo, ele sentia que era protegido por forças superiores que cuidavam para que sua missão pudesse ser cumprida com êxito.

                    Mas, Jesus, ao contrário, já sentia o que viria pela frente e que, por mais que tentasse, não iria se livrar do destino que o aguardava. Além disso, tentaram pegá-lo várias  vezes antes de “sua hora” mas forças desconhecidas o protegiam da cólera violenta dos seus algozes. Ao chegar  sua hora, no entanto, qualquer  esforço no sentido contrário seria em vão.

                    O livre-arbítrio, portanto, está atrelado à outras forças como carma, dharma, etc. Em suma,  você tem o livre-arbítrio, mas ele é limitado e comandado por leis que estão muito além de nossa compreensão. Ou seja, o livre-arbítrio incondicional é apenas uma ilusão. Sem essa ilusão, o ser humano não daria vazão aos seus extintos e impulsos primitivos pois não se sentiria livre para fazê-lo. Já, com a ilusão da liberdade, ele , equivocadamente, considera que pode fazer o que quiser, com quem quiser e que isso não lhe trará consequências. Todavia, ele só faz aquilo que lhe é permitido fazer. Já aquilo que não lhe for permitido,  ele não faz . Entretanto, o próprio sujeito não percebe esse jogo e, por isso, sofre. E enquanto não se der conta de que sua vida e ações estão sendo comandadas pelas forças internas ocultas e desconhecidas do inconsciente ( carma) — ele não encontrará  a paz e a verdadeira liberdade.

                      Mas, ao contrário, ao compreender que ele mesmo é sua prisão, então ele começa a se libertar dos condicionamentos do passado, do nascimento, da genética, das experiências e  de outras encarnações — caso haja — que criam as tais “vássanas” ou tendências  inatas. E, assim, ao começar o processo de libertação dessas forças limitantes, o homem  vai se conectando com os poderes da luz dentro de si. Dessa forma, ele liberta-se das forças opressoras do carma e se conecta com um Poder Maior, que Jesus chamava de Pai e que Krishnamurti chamava de Suprema Inteligência. É nessa mudança profunda de paradigma que o homem finalmente se liberta dos seus algozes internos. 

O homem livre é aquele que libertou-se das garras do seu próprio ego. Dai por diante, haverá total harmonia e equilíbrio em sua vida e um sentido de liberdade cujas palavras não podem exprimir.

( Alsibar Paz)

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