sábado, 29 de dezembro de 2018

CHEGOU A HORA, VAMOS EMBORA!


Diante de tantas tragédias de final de ano resolvi fazer um pequeno artigo falando sobre a morte. Não há, aqui, a mínima pretensão de criar novas crenças e hipóteses. A ideia central é mudar atitudes. Fazermos ver as coisas por ângulos diferente dos tradicionais.  Indico a leitura, tanto aos que perderam entes queridos, quanto aos que perderão , ou seja , todo mundo! Feliz Morte de 2018 pois, sem ela, 2019 não pode nascer não é mesmo? Boa Leitura!

Como é difícil lidar com a morte- principalmente as trágicas. Lidar com a morte é uma arte que deveria ser aprendida ao longo da vida- de preferência nos primórdios da infância. Mas é raro  isso.  Lembrei-me de minha filha de 5 anos que, recentemente, ganhou um cachorrinho de estimação. Ela mostrou-me o novo pet com muita empolgação. Eu já tive muitos cachorros- todos morreram. E uma parte de mim sempre morria com eles. A primeira coisa que eu fiz foi encontrar uma maneira apropriada de falar-lhe sobre a possibilidade da morte. “ Você sabe que tem que cuidar dele direitinho não é? Senão ele morre. Você sabe o que é morrer?”. Ela respondeu que sim. Fiquei feliz. Todos vivem assombrados pelo fantasma da morte- afinal, ninguém quer morrer. O pior é a incerteza de não saber quando, nem como. Eis a tragédia humana : a impotência diante do desconhecido.
                      As mortes humanas mais próximas de mim que tive foram dos meus avós e de um irmão  de 5 anos. Meus avós moravam longe e eu os via raramente.  A vida já me arrastava em seus afazeres diários: trabalho, estudos e família. No dia da morte do meu avô eu estava deitado em um sofá e, de repente, senti alguém soprar com toda força no meu ouvido. Não era sonho, eu estava sozinho em casa. Levei um baita susto. Olhei para um lado e pro outro e não havia ninguém. Foi uma sensação física concreta que até hoje sinto ao relembrar. Pouco tempo depois alguém me ligou avisando o inevitável: meu avô havia morrido. Teria sido um sinal? – talvez. 

Aparentemente sou muito forte para a questão da morte. Digo, “aparentemente” porque eu realmente não sei. As emoções e reações são tão imprevisíveis quanto  a vida e o seu oposto. Além disso, sei que sob o efeito do choque,  não adianta racionalizações, nem filosofias, nem crenças... A dor explode como um vulcão. Não há nada que explique, console ou amenize aquela angústia que irrompe poderosamente. O jeito é esperar que ela passe por si mesma e que o equilíbrio e a serenidade cheguem a seu tempo. Mas, penso que, aqueles que ainda não se depararam com a morte tão próxima,  poderiam se preparar. Preparar-se para a morte é saber que ela existe e que isso deve ser visto como um incentivo à vida. Como não sei quando vou morrer, nem meus parentes, amigos e- cachorro- devo viver cada minuto com plenitude, como se fosse  único e último- pois assim o é . Então, não devo adiar nada já que o futuro é escravo da morte. E esta última é implacável, não cede a súplicas, choros ou preces. Chegou a hora, temos que partir!

Ora, mas a morte está em todos os lugares. Sem a morte a vida não seria o que é. Nesse parágrafo , não falo apenas da morte física- mas a morte no sentido de “término”. Afinal, morrer é o término do viver. Assim como quando minha filha está nos brinquedos e chega o fim do tempo estabelecido. Eu tenho que chamá-la. Ela chora, pede, implora mas eu digo: não minha filha, acabou o tempo! Isso também é morte . A morte equilibra a vida. Sem os términos a própria vida não teria seu desenvolvimento, fases, etapas, crescimento. A morte das fases da vida, da gestação de nove meses, do término das fases do bebê, a morte da infância que dá lugar à adolescência, daí para a juventude, fase adulta, madura...  Cada etapa precisa morrer para que a próxima nasça. É inevitável. Para onde você olhar você verá términos, pequenas mortes que impulsionam a vida. A morte física não deve ser diferente.

Em suma, se aprendêssemos desde cedo a ver o papel que a morte desempenha para a própria vida, talvez não a víssemos com tanto pesar. Alguém poderia dizer: mas no caso dos “términos” não há uma grande perda, as coisas continuam de uma outra forma. Exato! Como saber que na morte física também não ocorre o mesmo?  Ou o problema é outro? Não a morte em si, mas a dor da ausência, o impacto de saber que nunca mais encontraremos ou conviveremos com aquela pessoa? Será mesmo que a morte significa a eterna ausência? Será que o fato de  não sabermos o que existe do outro lado da cortina, implica na certeza de nunca reencontrarmos aqueles que um dia amamos e admiramos?  Ora, se não sabemos, como podemos afirmar que assim o é? O fato, a verdade é que ninguém sabe. Há várias teorias e eu poderia citá-las aqui, mas esse não é o escopo desse artigo. Afinal, mesmo as crenças mais consoladoras são apenas chupetas para pararmos de chorar.

O fato concreto é que não há nada, absolutamente nada que nos informe o que acontece nos bastidores da vida e da morte. Sendo assim, se não sei, por que sofrer? A dor do apego e da ausência não é tão difícil de ser curada. O próprio tempo se encarrega disso. Falta ainda a angústia do desconhecimento, do que acontece do lado de lá. Bom... já que não sabemos, que tal imaginar cosas boas que nos tragam esperança? Entenda, não estou defendendo mais uma crença- pelo contrário- é uma atitude diferente. Se não sei e ninguém sabe o que há no “depois”, então posso imaginar mil e uma coisa- por que não pensar nas boas? Com isso, não estou defendendo nenhuma crença- mas o acolhimento do “não-saber”: Ok, não sei. Mas e se...? 
...E se lá do outro lado houver outra dimensão – não como o céu- mas muito parecida com essa que estamos vivendo, com as mesmas características e etapas? E se lá, você renascer como um bebezinho de novo e reencontrar todo mundo que você ama e um dia perdeu- mas não se lembra disso, apenas guarda no inconsciente um sentimento de afinidade e amor gratuitos? Isso lhe é familiar? E se eu lhe disser que isso já pode ter acontecido e você já está vivendo isso agora com os seus familiares, amigos e parentes que estão “vivos” agora? Entendeu? O que você faria? Passaria a amá-los mais ainda? Então faça-o agora!

Nesse momento, você pode  estar revivendo seu próprio renascimento junto aos seus  queridos que supostamente  teriam “morrido” no passado. Essas pessoas que hoje você ama, admira e respeita  podem ser os mesmos que no passado você perdeu ou  eles a você. E se assim o é, então, vamos viver e amar pois é tudo um grande contínuo. A interrupção é só uma ilusão, algo momentâneo, já que o espaço-tempo é uma criação mental. Sendo assim, a morte talvez seja apenas como a voz do seu pai/mãe dizendo para você: vamos embora, acabou o tempo!

Mas isso não significa que a  diversão não continue. Significa?

By Alsibar  


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