... Foi então que começaram as mirações:
Nesse exato momento, senti algo muito estranho: uma energia que
vinha de dentro da minha cabeça, rodopiando na região da testa, subindo da base do cérebro para cima. Parecia que a glândula pineal estava envolvida numa força espiral , semelhante a um pequeno vórtice, que a fez girar . Depois, todas as mandalas começaram a girar rapidamente como um carroçel.
Fiquei apreensivo. Pensei se aquilo não poderia causar uma crise de labirintite
. Então, abri os olhos para ver se o mundo estava rodando também ,como numa
labirintite mas, surpresa, estava tudo estável, normal. O rodopiar acontecia
dentro da minha cabeça e eu só o via quando fechava os olhos. Fechei-os o
novamente e fiquei apenas “observando” os acontecimentos.
Finalmente , as imagens se estabilizaram. E mentalmente
comecei a repetir o mantra “Eu sou” foi aí que vi surgir uma luz muito
intensa, brilhante e que transmitia muita paz. Na hora, senti como se fosse a própria
Iluminação acontecendo. Era uma sensação muito prazerosa e diferente. Depois disso, tive a intuição de que
algo muito forte estava para acontecer e que eu poderia perder a consciência . Eu não queria perder o sentido de mim mesmo.
Foi aí que criei uma estratégia para manter-me consciente durante
todo o processo. Era o seguinte : sempre que eu me lembrasse, eu moveria um dos
dedos das mãos, batendo três vezes na minha perna e, logo em seguida, os pés responderiam com três batidas no chão . Isso me daria a certeza de que eu estava no
comando de mim mesmo- e consequentemente- consciente . Eu tinha muito medo de
perder a consciência, de esquecer quem eu era e o que estava fazendo ali.
Foi uma sessão com
muita música e risos. As músicas eram cantadas ou tocadas- tanto canções
do movimento, quanto músicas pop conhecidas. Enquanto eu as ouvia apareciam
imagens que correspondiam ao conteúdo da música, além de sensações que
coincidinam com a letra . Por exemplo: se a música falasse de amor- isso
correspondia a uma intensa sensação de amor. Se falasse de paz- eu sentia uma
profunda e intensa paz. Quando o mestre fazia as “chamadas” ou “ invocações” da
“força” , meu corpo se fechava involuntariamente, minhas pernas e braços se
cruzavam e o corpo se contorcia. Era como se ele estivesse se protegendo para suportar o
impacto daquela força estranha que o
invadia.
A voz do mestre era hipnótica, grave e marcante. Era uma voz firme e lembrava o timbre de um velho índio . Tinha o poder de encantar. Mas em alguns momentos, ele se demonstrava inteligência e bom humor. À medida que a sessão
ia avançando ele dava oportunidade para que as pessoas fizessem-lhe perguntas
sobre o chá ou sobre a vida de um modo em geral. Ele sempre respondia com uma
pitada de humor e os risos ecoavam dentro do meu cérebro:
- Mestre, o que é o sentimento Dejavu?
- Uma falha na Matrix!
- Mestre, o que é o encanto da natureza?
- É Deus se manifestando.
Logo depois alguém fez a mesma pergunta
e ele disse de uma forma engraçada:
- De novo?
Todo mundo riu. E eu também. Eu ria com muita facilidade. As
emoções e sensações são potencializadas pelo chá ficando tudo muito forte e intenso.
Os sentidos
Os sentidos ficaram super, hiper apurados e sensíveis. A
primeira coisa que ouvi foi o que me parecia o som das asas de um mosquito
batendo muito próximo de mim. Não sei exatamente o que era. Mas era um som
muito alto, vivo e forte que vinha de algum lugar atrás de mim. Fiquei com
medo de olhar para trás para checar.
Começou a tocar uma música da Zizi Possi. Eu via a cantora em miniatura
cantando dentro da minha cabeça, como uma imagen holográfica. As músicas de um modo geral provocavam uma forte vibração
energética que vinha acompanhada de sensações acústicas vívidas e diferentes.
Os cheiros eram intensos , misturados e variados. Eles
apareciam e desapareciam rapidamente de forma ligeira e dinâmica. Eu conseguia sentir o cheiro dos alimentos da cozinha , dos perfumes e outros não identificados. Isso causava um certo enjoo. Os sons
também ficaram confusos e caóticos. Quando as pessoas riam, os risos pareciam estar dentro da minha cabeça. O tato também ficou hiper sensível. Eu botei
a mão dentro do bolso e senti com os dedos o formato da chave do
carro. Fiquei
maravilhado com a textura e formato. De repente, vejo a chave e uma fechadura
que tomam formas de órgãos sexuais e outras figuras eróticas. Nessa hora, pude sentir meu tórax se expandindo e se contorcendo. A visão também se alterou. Quando abri os olhos eu vi as luzes , as
cores, os objetos e as paredes etc. como se fossem uma tela de cinema de filme antigo :
tudo se passava em modo lento, quadro a quadro. As cores e formas estavam
alteradas e desfocadas .
Os movimentos involuntários
Havia muitas sensações: paz, alegria , angústia e frio- muito
frio. Meu corpo tremia muito e nunca ficava parado- havia sempre alguma parte
do corpo fazendo movimentos involuntários. A cabeça , como se não fosse minha, virava
de um lado para o outro sem parar. E as pernas se movimentavam seguindo o
compasso da música que estava sendo tocada . Eu poderia pará-las se
quisesse. E muitas vezes parei os movimentos para saber se eu ainda estava no
controle. Mas logo depois que eu relaxava, os movimentos involuntários reiniciavam. A boca começou a fazer “
mugangos” e beijos- acho que dei uns 100 beijos involuntários para ninguém.
Eram beijinhos e selinhos. Eu poderia pará-los , mas era só relaxar que eles
voltavam. Meu corpo continuou se movimentando muito. Meu peito se arqueava e se contorcia na cadeira, como se estivesse sob a pressão de alguma força.
Mas havia também movimentos belos e graciosos. Ao longo da
sessão, involuntariamente meu corpo tomou três posições muito significativas
para mim: a do pensador de Rodin, a posição de lótus de meditação budista e,
por último, a posição fetal. Era muito interessante observar tudo isso
acontecendo independente da minha vontade.
O sistema sob ataque
Eu li em algum lugar que o bocejo significa que o corpoestá buscando energia através do oxigênio como
forma de se proteger e se fortalecer . Em vários momentos eu sentia como se
meus centros energéticos estivessem sendo invadidos ou bombardeados. Era como
se eu fosse um sistema de computador sofrendo ataque de harkers. Sentia como se
algum vírus superpoderoso estivesse invadindo meu sistema de comando, revirando
e remexendo em todos os arquivos que formam o meu software (programa). As defesas do corpo, como poderosos
anti-vírus, detectaram a invasão e tentavam de todas as formas destruir ou se proteger daquele vírus, mas
não conseguiam. Era semelhante a um poderoso ataque em massa , algumas vezes parecia um tsunami arrastando e
derrubando tudo que encontrava pela frente.
Em alguns momentos, tive a impressão de que todas as defesas psíquicas,
espirituais, mentais e energéticas se uniam em um enorme esforço contra aquela
força desconhecida. Ela ameaçava destruir ou desestabilizar todo o sistema. Isso
explicaria os vários bocejos, respirações profundas, contorções e cruzamento de
pernas e braços. Era o sistema se auto protegendo da forma que podia. Tudo isso fazia muito barulho, mas eu não
estava consciente que o barulho estava incomodando os outros. Foi aí que o cara
gordo ao meu lado me cutucou , eu abri os olhos e ele fez sinal de silêncio .
Depois disso, tentei segurar os bocejos mas continuei respirando, afinal-
pensei- será que nem respirar eu posso?
Aproveitei para olhar ao redor e
vi que todo mundo estava quieto mas eu
estava muito inquieto e tenso. Então resolvi meditar , na tentativa de relaxar e me
aquietar mais . Deu certo, fiquei tão relaxado , calmo e silencioso que parecia
estar morto.
O Frio
Em determinado momento, comecei a sentir muito frio. Um frio
como eu nunca havia sentido antes. Antes disso, eu conseguia até sentir o calor
das mãos. Mas, de repente, começou um frio terrível e eu comecei a tremer como se estivesse no Pólo Norte –
sem agasalho. De repente, senti uma voz que parecia me chamar. Abri os olhos e
vi alguém me entregando um cobertor quentinho. Era o rapaz que estava sentado
do outro lado da “moça-gnomo”. Eu nem pude acreditar . Era tudo o que eu
precisava naquele momento crítico. Agradeci e rapidamente me recolhi e me cobri
na cadeira . Lembro que notei o cheiro e
a limpeza do cobertor . Aquilo era tudo que eu precisava naquele momento . Mais tarde, depois da sessão, eu reencontrei esse rapaz e soube que
ele era namorado da moça que estava do meu lado. Eu o agradeci de novo por
aquele gesto de gentileza, ou compaixão, devido ao meu estado crítico. Ele disse que me
viu tremendo muito e que não entendia o porquê. Mas logo ele
pensou : deve ser frio! E então, teve a ideia de me oferecer o cobertor. Ele
também explicou que o frio não é do ambiente, mas que vem de dentro de nós, pois
naquela hora estamos vivendo a experiência arquetípica da morte. Ou seja,
mesmo com o cobertor o frio continuaria- mas o cobertor ajuda psicologicamente a se ter a impressão de que o frio diminuiu.
O fato é que o frio realmente continuou. Então tive uma
ideia: concentrar minha mente no oposto do frio, o calor. Lembrei-me de uma
máxima do Caibalion : para mudar uma vibração, mentalize o seu contrário. Foi o
que eu fiz. Mas não surtiu efeito. Eu precisava de outra coisa. Foi aí que tive
outra ideia: ao invés de pensar, visualizei uma situação de calor imaginei que eu
estava numa praia, de óculos escuros, em um domingo de sol escaldante e
sentindo muito calor. Foi aí que a temperatura começou a mudar e o corpo foi
voltando ao normal. Como não foi uma mudança automática, mas aos
poucos, até hoje não sei se a mudança foi por conta da visualização mental ou
porque o efeito já iria passar mesmo- já que tudo era muito dinâmico. Foi assim
que conclui que as sensações e visões
não me obedeciam automaticamente, mas eu acabava de alguma forma influenciando-as
.
A ânsia de vômito
Eu sabia que muita gente vomitava durante a sessão, principalmente
na primeira vez. Eu fiz de tudo para não vomitar. Se eu vomitasse, eu achava que
ia parecer fraco ou passar vergonha. O vômito é considerado uma espécie de
“pêia” ou limpeza. Mas a energia viva do chá parecia mover-se pela barriga
perpassando por diversos orgãos- um de cada vez. Em alguns momentos, eu
consegui controlar a ânsia de vômito com
a meditação. A minha sensação era de que
seria muito constrangedor para mim e para quem me convidou, se eu passasse mal.
Por isso, procurei manter-me calmo,
equilibrado e no controle da gastura que era causada pelas várias sensações
estranhas ao longo de todo o corpo- algumas dessas sensações eram angustiantes.
Eu sentia algo estranho se movimentando dentro do meu corpo . Era uma sensação
muito desagradável e angustiante que piorou quando eu percebi que eu não
conseguia controlar “aquilo”.
A voz interna
Durante toda a sessão do chá eu “escutei”
uma voz muito nítida que conversava comigo. É como um pensamento que, apesar de
ser o seu, não é você pois esse pensamento
dialoga com você. Se você perguntar algo a ele, ele responde. Eu fiz
várias perguntas a essa “voz” interior- que não deve ser confundida com a voz
silenciosa da intuição. No caso do chá. você escuta nitidamente o pensamento
conversando com você da mesma forma que você escuta os seus próprios
pensamentos- mas nesse caso você sabe que não é você porque essa voz lhe
responde e atende a algumas coisas que você pede. É como se existisse alguém
conversando telepaticamente com você.
O silenciar dos pensamentos
Não custei muito a perceber qual era o modus operandi do chá: ele respondia aos pensamentos e anseios.
Então comecei a acalmar meus pensamentos e ficar quieto para ver o que acontecia.
Parecia que a “força” perdia sua potência quando eu não pensava. Mas quando soltava tudo, ela dominava -exatamente como acontecia com os movimentos
involuntários do corpo. Mas quando, eu me distraia e pensava alguma coisa, o chá “aproveitava”
para criar sensações e visões. Quanto mais eu bloqueava o pensamento, mais
o corpo tremia e se contorcia. Lembrei-me que, logo no começo, alguém comentou
que o vegetal é conduzido pela palavra. Isso explicaria, por exemplo, o porquê
do mestre fazer “chamadas” , invocações
e cânticos. Foi aí que procurei
silenciar os pensamentos e manter-me o mais quieto possível. Ficar no
centro, na paz, no silêncio, seria a melhor maneira de “controlar” aquela força
e atravessar aquela experiência avassaladora.
Em meio a esse turbilhão caótico de coisas, eu pensei noutras
formas de evitar perder a sensação de mim mesmo. Uma delas foi repetir
mentalmente o mantra “ Eu sou” mas eu só
conseguia repeti-lo em Inglês : I am.
Tentei também repetir mentalmente : “eu estou aqui” mas, novamente, só saia em
Inglês : I am here. Comecei também a
fazer perguntas pessoais sobre mim mesmo e respondê-las, tipo : qual é o seu
nome? Quem é você? Qual sua profissão? Qual o seu endereço? O que está fazendo aqui?
E respondia cada uma na sequência. Depois terminava fazendo o teste do 1,2,3
com os dedos. Me esforcei para não esquecer onde eu estava e quem eu era. Teve
uma vez que o meu pé estava batendo no
chão, como resposta ao 1, 2, 3 da mão e, mentalmente,
eu vi o formato e a cor da chinela e me vinha uma sensação de encantamento
porque ela me parecia muito linda .
Continua no próximo post... link abaixo:
Alsibar
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