Esse texto foi retirado de um comentário feito por uma pessoa
de nome Liliane lá no vídeo que fiz para
o Youtube sobre o UCEM e as Cartas de Cristo. No vídeo, eu comparo as duas
obras e defendo a tese de que o autor de um dos dois é um impostor, ou seja,
não é Cristo, uma vez que falam coisas totalmente diferentes e opostas. Aqui no
Blog, deixo registrado tanto o comentário dela, quanto minha refutação,
comentando e, às vezes, refutando, cada
ponto de seus argumentos. O comentário foi enumerado para facilitar a
compreensão e a identificação entre o argumento e a refutação.
“(1) Com todo respeito Alsibar, mas só de ver seus
argumentos pegando trechos isolados do UCEM para comparar com as Cartas de
Cristo já deu pra perceber que não entendeu o propósito prático do UCEM, em
momento nenhum tem dizendo no UCEM que quem criou o ego foi o Homem, (2) esse
"Tu" não se refere ao homem, mas a consciência/a observação, que se
identifica com a separação (Ego), tem uma pegada de reconhecer na experiência
direta isso. (3) E Ego no UCEM se refere a ideia mental de separação, a todo um
sistema de pensamento de separação que é o que gera todos os conflitos e
confusões que acontecem no mundo, ou é mentira?
(4) Basta olhar pro mundo e ver a realidade nua e crua, não
que seja mal ou bom, mas é um equívoco que nos leva a pensar que somos todos
separados e não uma Unidade como apontam todos os caminho não-duais.
(5) Já nas cartas de Cristo o Ego refere-se a mesma coisa
que na psicologia, questões de individualidade no mundo para um viver cotidiano
aqui, já o UCEM aponta para a não-dualidade, no não-eu não tem ego nenhum,
senão não é não-eu/não-dual, tem 2,3,4....
(6) Claramente as cartas de cristo falam do relativo e o
UCEM aponta para o absoluto e nos convida a ver o mundo sem um óculos cor de
rosa. Essa palavra Cristo é utilizada por muitas tradições espirituais e
religiosas onde cada uma dá um significado a ela, (7) no fim as palavras pouco importam, quando
se desapega das palavras e se entende para onde elas estão apontando fica mais
fácil de entender para onde os caminhos apontam, (8) que é para dentro de si,
onde a mente cai (Conceitos, palavras e narrativas) e o imutável UM sem segundo
é reconhecido.
(9) A iluminação é um reconhecimento: Todos os caminhos
não-duais falam a mesma coisa, (10) o
imutável não muda, a iluminação é o reconhecimento do imutável na prática, na
sua experiência direta. (11) Se já aconteceu um mínimo de lucidez ai, já
reconheceu que na verdade última não tem nem Eu, nem Você, nem Cristo, nem
Krishnamurti, etc.
(12) Automaticamente com esse reconhecimento pode-se dizer
que as situações melhorem, mas não pelo que acontece, mas pelo olhar que você
vai ter sobre tudo a partir desse reconhecimento da verdade.
(13) Utopia achar que tudo vai ser mil maravilhas na forma
onde tudo é transitório e muda o tempo todo e ficar criando expectativa, e se
não acontecer cair em uma frustração, quem tem coragem para observar tudo no
mundo e não só para o próprio umbigo consegue ver isso.
(14) Até se levarmos essas histórias de Jesus como verdade
veremos que até pra ele próprio não foi mil maravilhas, mas com o
reconhecimento da verdade imutável pouco importa o que aconteceu em um mundo
onde tudo passa.
(15) Esse papo das Cartas de Cristo ainda falam muito de
dualidade, não vejo nada de Não-Dual. (16) Mas respeito e que pode ser um caminho
totalmente útil para determinadas pessoas em determinados momentos, assim como o
UCEM também pode ser útil para determinadas pessoas em determinados momentos,
até porque tanto os livros quanto qualquer coisa que qualquer pessoa fale,
serve apenas como apontamento e que cada um vai reconhecer a verdade
diretamente.
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Minha resposta:
Olá Liliane, tudo bem?
Primeiramente, quero dizer que as explicações expostas
abaixo são totalmente impessoais. A intenção aqui não é mostrar mais
conhecimento ou sabedoria. Mas poder mostrar com mais detalhes aquilo que penso
sobre tudo o que o UCEM representa.
Então, com todo respeito, vamos por partes:
1. “Com todo respeito Alsibar, mas só de ver
seus argumentos pegando trechos isolados do UCEM para comparar com as Cartas de
Cristo já deu pra perceber que não entendeu o propósito prático do UCEM…”
Bom, quando se compara duas obras,
certamente é por partes, trechos, ou não? Já fui pesquisador de Literatura
Comparada e sempre pegamos partes ou que concordam ou que discordam entre si.
No caso, peguei pontos específicos que são discordantes. Uma metodologia usada
universalmente nos meios acadêmicos. A própria análise que vou fazer de seu
comentário, é por partes, não é necessário pegar aquilo que não interessa à
tese que estou defendendo.
2. “…esse "Tu" não se refere ao
homem, mas a consciência/a observação, que se identifica com a separação (Ego)”
“Tu” é segunda pessoa do singular e se
refere a quem o texto se destina, ou seja, o leitor. Por mais que vocês queiram fazer malabarismos
linguísticos, isso não funciona na prática. Você pode até tentar reinterpretar o
significado do que é uma pessoa, mas isso não muda o português. Aliás,
a gramática não está interessada em questões filosóficas. O que você e esse tal
livro considera ser a natureza do leitor é assunto para a
filosofia.
Já
sobre o “tu” ser a consciência/observação, que aparentemente você interpreta
como impessoal, é uma falácia. A observação sempre é pessoal porque parte de um
ser humano, de uma pessoa ou de um ser vivo com olhos para ver. O problema é
que o UCEM se apodera de conceitos e o mistura numa grande salada incoerente e indigesta.
A observação pode ser impessoal, mas apenas
no “campo psicológico”. E para se chegar
a ela, há um longo caminho a ser trilhado. Com certeza não é fácil e não
decorre da repetição exaustiva de palavras e conceitos de livros.
Como dizia Krishnamurti: a observação é o
observador. Caso queira entender melhor o que ele quis dizer com isso, eu
escrevi um livro só explicando essa pequena frase dele e, de antemão, lhe aviso
que ela não tem nada a ver com a destituição dos pronomes pessoais da
gramática.
3. “E Ego no UCEM se
refere a ideia mental de separação, a todo um sistema de pensamento de
separação que é o que gera todos os conflitos e confusões que acontecem no
mundo, ou é mentira? “
Assim como o UCEM se utiliza sempre de meias
verdades, sua afirmação acima está parcialmente correta. Senão vejamos:
a)
A sua definição de ego de acordo com a visão do
UCEM está correta. Não que eu concorde com ela, estou apenas dizendo que sua
explicação está de acordo com a explicação do UCEM. E eu discordo
categoricamente dela.
b)
“ A ideia
mental de separação é o que gera todos os conflitos e confusões do mundo, ou é
mentira”? Sim, é mentira. A ideia mental de separação, ou seja, de me sentir
separado de tudo como um sujeito, uma pessoa, um indivíduo, é totalmente
salutar e importante. Simplesmente não haveria humanidade, nem vida se não houvesse
a ideia mental de separação. Busque saber sobre a experiência da neurocientista
Jill Bolte Taylor. Ela teve um AVC e de repente perdeu o sentido de ser uma
entidade separada. E isso foi um pesadelo para ela. Ou seja, a própria criação,
natureza, Divindade, etc, criou em nosso cérebro uma área específica
responsável pelo sentido de separatividade. Sem ele, não seria possível ter uma
vida social funcional. E essa experiência da cientista está em completo acordo
com o que diz as Cartas de Cristo: o sentido de separatividade é importante e
fundamental para a sobrevivência do ser humano.
4. “…Basta olhar pro mundo e ver a realidade
nua e crua, não que seja mal ou bom, mas é um equívoco que nos leva a pensar
que somos todos separados e não uma Unidade como apontam todos os caminho
não-duais.”
Quase isso. Você já ouviu falar da
expressão: unidade na diversidade? Significa que ver apenas Unidade em um mundo
tão diverso acarretará problemas. Assim como ver somente diversidade, sem
considerar a unidade fundamental, também. A Unidade é o aspecto elementar do universo
porque essencialmente somos feitos da mesma matéria prima básica. Todavia, essa
Unidade se desdobra na diversidade Universal que é o próprio Universo. Não
reconhecer isso representa um grande perigo
e ignorância. Em resumo: em essência somos unos. Mas quando manifestos na
relatividade da existência, somos múltiplos e diversos. E é uma benção que seja
assim.
5. “…Já nas cartas de Cristo o Ego refere-se a
mesma coisa que na psicologia, questões de individualidade no mundo para um
viver cotidiano aqui, já o UCEM aponta para a não-dualidade, no não-eu não tem
ego nenhum, senão não é não-eu/não-dual, tem 2,3,4...”
Vê-se que você não leu as Cartas de Cristo
e se leu não entendeu. O conceito de “ego” das Cartas nada tem a ver com a
Psicologia. A visão das Cartas é única. Sua abordagem difere de tudo o que li
sobre a Psicologia. Algumas coisas “batem”, mas não tudo. Como a minha
refutação já vai ser enorme, não há espaço aqui para eu entrar nos pormenores
da questão. Seria bom lê-las, pois a abordagem pode ser muito profunda e
complexa para alguns.
E a última revelação que talvez lhe choque:
no “não eu” o EGO continua sim. Mas isso é um outro assunto. Sugiro ler
Krishnamurti, um verdadeiro mestre advaita, ou meu livro: “ A Observação Sem Observador” para entender
melhor esse ponto. O livro está disponível no site do Clube de Autores.
6. “…Claramente as cartas de cristo falam do
relativo e o Ucem aponta para o absoluto e nos convida a ver o mundo sem um
óculos cor de rosa.”
Primeiro porque não é “claramente”. E
segundo que você está dizendo que as Cartas estão falando do “relativo” e não
do absoluto. Há dois problemas aí: sua conceituação é dual (a relativa e a
absoluta). Além disso, as Cartas tratam esse mundo como parte do absoluto e não
como algo à parte dele. Significa que você e o UCEM é que estão separando as
coisas apesar de falarem sempre em não separação.
De fato, como diz o Budismo: “o vazio é a
forma, a forma é o vazio”. Não existem duas visões. Apenas uma. E ela é essa:
tanto o mundo do fenômeno, mentalmente solidificado na 3D, quanto nas mais
altas esferas, tudo É ABSOLUTO. Brahma Satyam!
7. “…no fim as palavras pouco importam, quando
se desapega das palavras e se entende para onde elas estão apontando fica mais
fácil de entender para onde os caminhos apontam”.
Sério isso? Seu UCEM tem quase 600 páginas
de pura repetição e verborragia conceitual — fora os outros dois livros — e
você vem me dizer que as palavras pouco importam? “ Tá Ok”!
8.
“…que é para dentro de si, onde a mente cai (Conceitos,
palavras e narrativas) e o imutável UM sem segundo é reconhecido. “
Deixa eu ver se entendi: quer
dizer que no UM “conceitos, palavras e narrativas” caem…. Mesmo assim vocês precisam se apegar a uma
enorme quantidade de conceitos e narrativas para entender isso. Sim, porque o
UCEM não passa de conceitos, palavras e narrativas. Nada mais do que isso.
E então” O Um sem segundo é
reconhecido” quem reconhece? Questão básica de lógica, só se reconhece o que
foi conhecido antes. Aquilo que é reconhecido através da memória não pode ser o
Eterno que é sempre novo e não pode ser reconhecido pela mente. Além disso, se
não há, como vocês dizem, a entidade, o eu, o ego, etc. Quem reconhece no
reconhecimento? Simplesmente não faz sentido nenhum.
9. “A iluminação é um reconhecimento: Todos os
caminhos não-duais falam a mesma coisa.”
Dizer que todos os caminhos não duais falam a mesma
coisa acerca do tal “reconhecimento” é um argumento falso para defender um
posicionamento. Um dos maiores mestres do advaita moderno chama-se Jiddu Krishnamurti
e, ao longo de sua obra, ele repetiu varias vezes que a Verdade não pode ser
reconhecida.
Além disso, as próprias Cartas falam
literalmente, como citei no vídeo: a iluminação NÃO é um reconhecimento, mas
sim um acontecimento.
10. “Todos os
caminhos não-duais falam a mesma coisa, o imutável não muda”.
Sério
que o Imutável não muda? Mas a mudança faz parte da natureza imutável do
Absoluto. Assim como mudar faz parte da natureza imutável do vento ou da água,
por exemplo.
11.“…Se já aconteceu
um mínimo de lucidez ai, já reconheceu que na verdade última não tem nem Eu,
nem Você, nem Cristo, nem Krishnamurti, etc.”
Novamente, outro argumento parcialmente
verdadeiro. Isso ocorre durante o Samadhi. Mas quando o Samadhi passa ou
diminui volta a existir eu, você, Cristo, krishnamurti, Buda, etc.
12.
“Automaticamente
com esse reconhecimento pode-se dizer que as situações melhorem, mas não pelo
que acontece, mas pelo olhar que você vai ter sobre tudo a partir desse
reconhecimento da verdade. “
Ou seja, uma simples questão de “ressignificação”
nada mais do que isso. Mas, olha que interessante, as Cartas já dizem outra
coisa. Elas afirmam não só que o seu olhar/percepção vai mudar, mas que a
própria situação, a própria realidade física ao seu redor será transformada a
partir dessa iluminação/mutação interior. Talvez, esteja na hora de você dar
uma olhadinha no que diz as Cartas de Cristo.
13. “Utopia achar que tudo vai ser mil
maravilhas na forma onde tudo é transitório e muda o tempo”
Sério que tudo é “transitório e muda o tempo
todo”? A mesma coisa que Buda disse há dois mil e quinhentos anos? Ou seja, o
óbvio. Preciso mesmo seguir um livro estranho como esse para ver o que é tão
óbvio e ululante?
14. “Até se levarmos essas histórias de Jesus
como verdade veremos que até pra ele próprio não foi mil maravilhas, mas com o
reconhecimento da verdade imutável pouco importa o que aconteceu em um mundo
onde tudo passa. “
Essa foi a “cereja” do bolo. Pouco importa o que aconteceu? Talvez para
você pouco importe mesmo. Mas não para ele. Segundo as Cartas a dor e o
sofrimento foram tão grandes que ele evitou entrar em detalhes sobre o ocorrido
durante a canalização das Cartas devido ao trauma que sentiu e as vibrações
pesadas que ainda podiam ser sentidas ao reviver aqueles fatos. E mesmo sendo
o Cristo, o Avatar dos Avatares, doeu e muito. Mas o livro de vocês, pelo que
me parece, nega o sofrimento não é? Estranho isso, não? Pois no caso de uma
pessoa comum, vocês podem dizer que ela sofre devido “ao não reconhecimento da
verdade”. Mas isso vocês não podem dizer sobre Cristo.
Além disso, se vocês disserem que Cristo
sofreu por não reconhecer a tal “verdade”, vocês tirariam a “autoridade” de Cristo e,
consequentemente, do próprio livro que vocês dizem ser de autoria dele. Como
ele pode defender uma coisa que ele mesmo não viveu? A outra opção seria assumir uma falha na
personalidade terrena de Cristo. Mas tal coisa não existe no livro de vocês.
Existe para o ser humano comum, mas não para o Cristo. Defender essa última
opção seria dar um tiro no próprio pé.
15. “Esse papo das Cartas de Cristo ainda falam
muito de dualidade, não vejo nada de Não-Dual.”
Engraçado, eu digo a mesma coisa sobre o UCEM. Aliás, é ele
que está sempre dividindo tudo ao longo do livro ao falar de: ego x
Espírito Santo; Inspiração x fadiga, luz x escuridão, miséria x alegria, professor
x aluno, ego x “Ser”. Além disso, o autor passa o livro todinho
condenando o EGO, apesar de se dizer contrário aos julgamentos e condenações.
Estranho, não?
16.
E por último:”… Mas respeito e que pode ser um caminho totalmente útil para
determinadas pessoas em determinados momentos, assim como o Ucem também pode
ser útil para determinadas pessoas em determinados momentos, até porque tanto
os livros quanto qualquer coisa que qualquer pessoa fale, serve apenas como
apontamento e que cada um vai reconhecer a verdade diretamente.”
Sim, concordo parcialmente com
você. Livros como o UCEM, O Poder do Agora, O Livro de Urântia, O Caibalion, etc.
podem realmente ser úteis em algumas situações específicas. Mas discordo
totalmente que eles podem lhe revelar a verdade, muito menos através do tal “reconhecimento”.
Abraços e obrigado
pela oportunidade de esmiuçar tudo isso!
Link do meu vídeo sobre o UCEM e as Cartas de Cristo no Youtube:
https://youtu.be/xmrnf-Mv5oA?si=hKLkxjddnbyRYUnG