sábado, 8 de agosto de 2020

LIBERTANDO-SE DA MATRIX

 

Há crises que são decisivas em nossas vidas. Certas situações são tão  dolorosas que deixam marcas profundas na psique e no corpo tais como: doenças físicas e psicológicas, distúrbios e desequilíbrios emocionais que podem levar à tragédias . O pior é que  certas situações parecem estar sempre retornando. Muda o cenário, os atores, o diretor, o figurino, o tempo mas o roteiro é essencialmente o mesmo. Quem nunca teve uma sensação de Dejavú ou de estar preso em um “looping” do tempo? A questão é : como libertar-se destes repetitivos   “sonhos acordados" ?

 Perceber sua própria parcela de culpa no encadeamento das crises é o começo da libertação. Fugir para religiões, igrejas, drogas, futebol, sexo, festas ou alguma outra fuga superficial não impede que o fantasma das crises nos acompanhe como sombra nefasta e sinistra. É importante compreender que mudanças superficiais  não arrancam as raízes do problema . E somente extirpando-as é que poderemos evitar esse círculo vicioso . Mas onde estão estas raízes ? Como exterminá-las de vez?

  O primeiro passo é assumir que as causas estão dentro de nós mesmos. Mas admitir isso é muito difícil. Há que haver uma busca incessante, sincera e corajosa pela verdade. Não a "Verdade Universal", abstrata e distante- mas a verdade sobre si mesmo. Temos que olhar para nós mesmos assumindo a culpa  pela configuração do "agora". Há que se ter coragem  para admitir que tudo o que está ocorrendo de ruim é, em grande parte, resultado de nossas próprias ações e falhas. O sofrimento simboliza a hora do resgate e do redirecionamento .


Depois dessa "mea culpa"-  temos  que saber como arrancar de vez as causas inconscientes do sofrimento. Ora, isso não pode ser feito através de uma ação direta e deliberada do ego. Terá que haver uma ação que seja o antídoto dele. Essa "ação"  surge com o percebimento da verdade acerca do fato sem idealizações. 
O ideal é o que desejamos, ou imaginamos. O real é aquilo que realmente somos. Se imaginamos que somos "seres perfeitos", budas, deuses ou iluminados - nunca nos tornaremos de fato. Os  iluminados não chegaram ao despertar imaginando pontinhos de luz. Eles vêem  a Verdade da vida de forma direta. Mas qual a sua verdade no seu atual estágio de consciência?  Uma delas  é que quando o EGO se identifica com algo maior do que ele,  o resultado é frustração e dor.

A tal partícula divina talvez exista em algum lugar dentro e fora de nós. Ela pode existir enquanto potencial. Mas, assim como um ovo não é um pinto e assim como uma semente não é uma árvore- mas tão somente possibilidades- assim também  é a essência divina nos seres humanos.  Os potenciais internos não se atualizam através de idealizações mas apenas através da percepção da VERDADE. 


Temos que encarar  o que realmente somos . Aquilo que somos em potencial deve ser esquecido, do contrário, não se atualizará. O "ideal" é uma ilusão e, por isso, não liberta.  Ver o que realmente somos é que liberta . Mas o que somos realmente? 
 Afinal, não passamos de uma gama de desejos contraditórios, fragmentos de egos, pensamentos condicionados, lixos do passado, memórias escravizantes, medo, esperança, ilusões, sonhos, projeções, conflito e dor. Na verdade, somos uma montanha de  lixo acumulado através de milênios. Talvez haja um valioso tesouro por baixo desse entulho - mas não sabemos ainda. Se ele existir, será em estado de latência. 

Assim como a lama não deixa de ser a água pura que desceu da fonte, assim também são os seres humanos em sua essência. Mas para encontrar essa fonte de água pura,  o sujeito deve passar por um processo de purificação. Só assim tornar-se-á aquilo que ele é essencialmente. Em outras palavras, enquanto não encararmos nossa própria verdade interior, continuaremos sendo enganados pelas ilusões da MATRIX. Daí a importância fundamental do autoconhecimento.

 

Lamentavelmente, poucas pessoas sabem como empreender a viagem interior . Até mesmo aqueles que se julgam muito sábios e espiritualizados se enganam. Muitos não entendem algo simples: o pensador não pode analisar a si mesmo. Como poderia? Uma ilusão analisando outra ilusão?A auto-análise  é um processo dual e, por isso mesmo, não liberta. Ela é útil apenas no começo. É um start, um ponto de partida. Depois deve ser abandonada como um foguete que abandona a carga para tornar-se leve e passar para o próximo estágio de propulsão.


Há muitos erros e equívocos sendo ensinados por aí. A busca pela autoconsciência, a prática do agora, o esforço para  "lembrar-se de si", o tal "estado de presença" tudo isso são importantes como processos iniciais e intermediários- mas podem tornar-se impedimentos se não forem abandonados na hora certa .   O motivo é muito simples : quando há esforço, desejo ou idealização cria-se o tempo, o "vir-a-ser" que é a própria raiz do sofrimento. O esforço e o desejo, nunca libertarão ninguém da prisão do tempo pois eles são os próprios causadores de todo esse caos. Como libertar-se desse movimento contraditório ?  


 É preciso ver a verdade de que o ego não pode libertar a si mesmo. Que a não-dualidade NÃO pode ser alcançada por meios duais.  E que o autoconhecimento não se realiza na dualidade sujeito x objeto. Ele acontece na não-dualidade.  Isso é um paradoxo difícil de ser entendido . Vou tentar explicar de outra forma: o ego não pode se autoanalisar. É como usar o fogo para apagar o incêndio. Ou usar água para secar a roupa. O despertar é a compreensão da inexistência da dualidade observador x coisa observada, sujeito x objeto. 


Portanto, não há um "eu" para analisar nada, nem nada para ser analisado. Tampouco existe um objetivo a ser alcançado . O que realmente existe  é algo que não pode ser descrito,  neti, neti: nem isso, nem aquilo. Assim sendo, palavras como autoconsciência, observação de si, autoconhecimento, atenção etc só têm sentido em situações muito peculiares e específicas- não são o estopim do Despertar da Consciência.


Isso acontece porque o ser humano atual é predominantemente ego. O mundo é percebido como extensão de si mesmo. Então,  o ego distorce tudo, deturpa tudo, destrói  e corrompe tudo. Esse EGO é como uma droga poderosa que nos impede de despertar para a Verdade do que somos.  A verdade é o que você  é agora, não o que será no futuro. Evitar as idealizações e projeções acerca de si mesmo é o começo do verdadeiro  autoconhecimento. Olhar para si, perceber  e ver suas própria reações, atitudes, pensamentos etc representam apenas o começo, o estágio inicial da jornada espiritual. É o nível mais básico do autoconhecimento. Mas e depois? 

 Essas práticas têm seu tempo e limite e se não forem abandonadas na hora certa o sujeito não se jogará no Desconhecido.  Por isso que buscar a autoconsciência de forma permanente e contínua assemelha-se a jornada insensata de Dom Quixote. Afinal, o desejo e a expectativa criam um novo problema. Por isso, esqueça essas práticas que todo mundo repete feito papagaio. Deixe que as coisas "venham" naturalmente, por si mesmas. Na hora certa, algo muito forte e valioso eclodirá dentro de você. Seja através de um insight, de uma súbita compreensão ou do apontamento de alguém. Não precisa perseguir ou buscar nada. Apenas esteja aberto para a compreensão, sempre fazendo a sua parte, morrendo para si mesmo, para o ontem, para as opiniões , crenças e experiências do passado, sempre se renovando.


Se preferir,  reserve alguns momentos do dia  para ficar quieto, sozinho, relaxado e em paz. Mas isso não pode virar um esforço ou um ideal. Ou acontece ou não acontece. Ou está ali ou não está. Se não tiver, levante-se e vá fazer outra coisa. Repito : o esforço para alcançar um ideal, mesmo que seja o simples observar ou ficar consciente, cria e mantém o fazedor, o observador, o sujeito do tempo, o vir-a-ser , o tornar-se, o tempo psicológico. E aí você terá um novo problema a ser resolvido.


 A verdadeira Meditação só surge se o meditador/observador estiver totalmente ausente.   Quando não houver nada para ser alcançado, nada para ser transformado, nem ninguém para alcançar nada- então você terá acordado do sonho da separação. Esse estado não é mórbido, nem passivo. Nele há muita energia, vida pulsante e abundante. Krishnamurti dizia que a meditação é um movimento do Desconhecido. 


Quando se percebe  que nada pode ser feito, uma vez que, "o observador é a coisa observada" inicia-se um novo capítulo que nada tem a ver com o velho movimento da mente. Um movimento que o pensamento não pode sondar, controlar, direcionar, nem manipular. Nesse "estado", surge uma energia totalmente nova cujas palavras e pensamentos são incapazes de definir. Só nesse estado de completa ausência de si mesmo como "observador" é que você estará realmente livre das ilusões da Matrix- até lá você apenas sonhou que estava livre. 


A Matrix está dentro e fora de você! Não sonhe que está acordado! O que sinaliza que você acordou não é o que você pensa, faz ou acredita, mas a paz, a felicidade, a bem-aventurança, o amor, a compaixão e o sentido de estar finalmente livre de si mesmo!


por Alsibar


Fonte para repostagem: 
https://alsibar.blogspot.com/p/noticias.html

Data da revisão: 26/06/2020
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