quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

COMO ASSIM NÃO HÁ NINGUÉM AQUI?



Uma análise não apaixonada do estilo de vida dos  gurus ocidentais neo-advaitas.

“Você não é uma pessoa”, “ Não há nada acontecendo!”, “ É tudo uma grande brincadeira”, “ Não há ninguém aí” são algumas das frases feitas repetidas à exaustão por qualquer estudante noviço da filosofia  hindu conhecida como Advaita-Vedanta. Advaita significa “não-dual”. É a compreensão profunda de que, em última instância, tudo é UM pois em essência tudo é Deus, Brahman ( aham brahmasmi). Esse despertar profundo para a natureza essencial das coisas surge com a chamada Iluminação espiritual e reflete a visão avançada de grandes mestres espirituais do Oriente e Ocidente. Mas, quando indivíduos repetem essas frases superficialmente sem a devida realização interior,  elas além de superficiais, são perigosas. Quem está de posse de um grande poder, mas não sabe como usá-lo, pode causar grandes danos a si mesmo e às pessoas ao seu redor. Esse é o caso da filosofia Advaita-Vedanta quando usada por indivíduos inteligentes e hábeis oradores, mas sem a devida maturidade espiritual.

O  auto-proclamado guru advaita pode ser um sujeito perigoso e espiritualmente imaturo. Perigoso porque se utiliza de uma filosofia espiritual profunda e milenar para manipular as pessoas. E imaturo pelas mesmas razões. Ele se aproveita da ingenuidade das pessoas, de suas fragilidades emocionais e espirituais e da falta de conhecimento desses, para vender a imagem de um sábio com profunda realização espiritual. Todavia, dificilmente alguém irá culpá-lo por não honrar o que prega, uma vez que o que prega não passa de palavras, chavões e frases de efeito- muitas vezes sem sentido ou lógica. Ao pregar que a lógica, o sentido e a coerência pertencem à mente, ele abre um precedente perigoso. Assim, toda vez que alguém tentar criticar suas atitudes usando a mente lógica analítica, ele dirá: vá além da mente, vá além da lógica, isso é o ego. E, consequentemente, ele estará livre para fazer o que quiser, como quiser, com quem quiser  e quando quiser. 

Os últimos fatos, relatos e acusações envolvendo o  guru advaita  jamaicano conhecido como Mooji poderiam ser  perfeitamente explicados por essa descrição acima. Mas, calma, antes de sair por aí condenando-o é bom fazer uma análise de seus ensinamentos e se estes não corroboram ou até legalizam um tipo de comportamento aético e sem limites. Há rumores diversos desde lavagem cerebral à exploração financeira e comportamento sexual "inapropriado" para um mestre espiritual. Mas, veja bem, alguma mulher o denunciou por abuso sexual? Existe algum processo contra ele por pedofilia, estupro ou assédio sexual? Provavelmente não e sabe por quê? Porque tudo que ele tá fazendo - caso sejam verdades as acusações- pode até ser imoral, vergonhoso e socialmente condenável mas não é ilegal. Os limites do permitido ou não permitido são muito vagos. Além disso, ninguém sabe exatamente o que aconteceu e nem como aconteceu.

Até agora não tive conhecimento de nenhuma acusação formal contra Mooji. O que veio a público é que ele adora as mulheres novinhas e que seu relacionamento com elas não parece ser muito adequado para os padrões morais  mais conservadores de espiritualidade. Mooji, apesar de se dizer da linhagem espiritual direta do grande mestre Ramana -que era um sanyasyn- está muito mais para discípulo  do ex-guru Osho - o Rajneesh-conhecido por sua filosofia hedonista e libertária de defesa do sexo livre e do prazer como forma de se alcançar o despertar espiritual. O problema não está, a meu ver, no comportamento em si, mas na manipulação e uso pessoal de verdades espirituais profundas que estão sendo virtuadas para satisfazer os desejos pessoais do guru.  O que é deveras perigoso e controverso. Não sou contra o sexo. Mas o uso do poder espiritual para ganhos pessoais me parece não ser um comportamento correto e digno de um mestre.

A raiz do problema pode estar , talvez, na própria transmissão do ensinamento . Ao se reduzir algo complexo e profundo como o Advaita-Vedanta a simples chavões como: não há “indivíduo”, não há “ego”, tudo é apenas um grande sonho, sem lei, nem ordem etc não se está dando margem à interpretações errôneas e manipulações grosseiras? Ora, se os gurus advaitas pregam que "não há ninguém fazendo nada” pois tudo é apenas uma “grande ilusão”- então não há limites, nem regras, nem respeito a nada. O “mestre” é o "deus" que ensina aos seus discípulos – mas principalmente às discípulas- como encontrar o paraíso na Terra. Este é sempre ao seu lado, aos seus pés, nos satsangs, nos “retiros” , no seu Ashram ( Comunidade) e se for jovem e bonita- na sua cama. 

               A eterna busca humana  pela Felicidade parece estar na raiz de todo esse problema. Ao perceber esse desejo profundo no aspirante,  o guru esperto cria um ambiente favorável à uma vida livre da pressão  e da exigência moral da sociedade.  Mas que, ao mesmo tempo, cria outros problemas colaterais, outras demandas e pressões. Quando se ensina que a Felicidade deve existir aqui e agora, abre-se mil e uma possibilidades, mas mesmo essas têm seus limites. E,  ao não respeitar os limites e não ensinar o respeito a esses limites, o guru abre a “caixa de pandora”  juntamente com todos os males. 

A grande questão é que o “guru” está sempre numa posição privilegiada de poder. E a tentação para dela se aproveitar é grande e nem sempre ele consegue resisti-la. Em geral, o líder prega que a Felicidade espiritual inclui a temporal- e é verdade. Mas isso não significa o colapso da sensatez e do razoabilidade. Caso  Mooji tenha feito realmente o que apontam as acusações, ele não fez nada diferente do Osho, do Michel/ Andreas do Holly Hell, do  Satya Sai Baba, do Swami Rama e do brasileiro Prem Baba .  Todos eles se aproveitaram de sua posição de poder e status espiritual para ter tudo o que todo homem e toda mulher sonha: o máximo de felicidade e prazer – mesmo que isso custe o sacrifício da ética e do respeito às fragilidades  e limites dos outros. Isso tudo prova  que o chavão de que “não há ninguém aqui” ,  não passa de uma falácia resultante da manipulação de uma verdade profunda e sutil, que é o Advaita.

Se há alguém aqui para ser explorado é porque há alguém numa posição de poder para explorar. Assim como, em casos mais extremos, sempre haverá alguém para responder por seus atos perante a lei e a justiça. E diante dela , não adianta esbravejar o velho chavão de que “não existe ninguém aqui”. O ser humano existe no tempo e espaço como sujeito social e, portanto, deve responder criminalmente por seus atos perante a lei e à sociedade. E quando, porventura, algum guru neo-advaita, ou qualquer outro, for condenado por seus atos ilegais, vai compreender finalmente que por mais que insista na inexistência de “alguém” dentro do ser humano, há sim alguém que chora, que sofre, que pensa , que sente e que merece respeito, consideração e  a proteção da lei quando necessário.

Alsibar

http://alsibar.blogspot.com/



8 comentários:

  1. E se não há “ninguém fazendo nada” este alguém poderia estar tb no caminho da não-ilusão?

    ResponderExcluir
  2. Conheço o Mooji a algum tempo e pude conviver com ele um pouco...só vi bondade e respeito...seja quando ele está com uma pessoa ou duas mil...essas mulheres que estão perto dele são SERES muito lindos ... por isso que estão proximas do Mooji, sua mente talvez veja elas apenas como "mulheres novinhas" mais isso é apenas a "casca" a forma...Mooji dedica sua Vida para facilitar a descoberta de quem realmente somos... e pode ter certeza que ele não usa conceitos Advaitas pata fazer mal a ninguem, pelo contrário...alem de ser um mestre Advaita ele é uma pessoa exemplar e totalmente integro...sua vida é dedicada 26 horas por dia para os seres que buscam a liberade .

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nao se tratava-se falta de bondade e sim sacadora de ética. Se um ginecologista tivesse relações com sua paciente ou um professor com sua aluna, seria diferente? A verdade é que esses que se dizem iluminados tem uma mente é um ego que adora sexo.

      Excluir
  3. 7 Esses falsos mestres são como fontes sem água, como nuvens que são levadas pela tempestade. Para eles está reservado um lugar na mais densa escuridão. 18 Eles se orgulham inutilmente e, apelando para os desejos sexuais, seduzem as pessoas que estavam começando a escapar dos que vivem no erro. 19 Eles prometem liberdade, mas eles mesmos são escravos de hábitos corruptos, pois aquele que é vencido se torna escravo do vencedor. 20 Eles escaparam das contaminações do mundo por terem conhecido a nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Mas, se eles se deixam envolver de novo e são vencidos por elas, o seu último estado se torna pior do que o primeiro. 21 Pois teria sido melhor para eles nunca terem conhecido o caminho do bem do que, após conhecê-lo, se desviarem do mandamento santo que lhes fora dado. 22 Com eles aconteceu o que diz um certo ditado: “O cão voltou ao seu próprio vômito” [d]; e “a porca, depois de lavada, voltou a rolar na lama”.

    ResponderExcluir
  4. Infelizmente, devido as vulnerabilidades emocionais os seres humanos são manipulados por políticos, líderes religiosos, professores, influenciadores digitais etc. Existe um vazio q quer ser preenchido.Temos q ser mestres de nós mesmos, para não sermos marionetes na mão de ninguém.

    ResponderExcluir