Qual a função do intelecto para o ‘despertar”? Intelecto “sofisticado” é sinônimo de sabedoria? Devemos desprezar o intelecto ou ele tem sua importância?Qual a relação entre o intelecto e a percepção da ‘verdade’? Como poderemos considerar esta questão? Vamos refletir?
Não sou nada. O que vou falar aqui são minhas reflexões pessoais sobre o tema, fruto de leituras, vivências e meditação. Para discorrer sobre isso, faço uso das minhas faculdades mentais de raciocínio. Por esse simples fato, já percebe-se que o intelecto tem sua importância. Preciso dele para me comunicar, refletir, investigar etc. Também faço uso dele como uma ferramenta de acesso aos conhecimentos científicos, espirituais e culturais . O intelecto tem sua função no mundo. Sem ele não poderíamos viver em uma sociedade moderna onde a cultura, a leitura , a produção intelectual e científica são tão importantes para todos.
Os livros nos dão acesso ao mundo do conhecimento |
Mas, o campo de atuação do intelecto é limitado. O problema surge quando a função intelectual, ou pensamento quer conter em si a compreensão daquilo que é imensurável e insondável. Questão simples de lógica, pouco compreendido por filósofos e teólogos, mas que já fora dito por sábios e místicos ao longo da história. Ora, se o Desconhecido é como um abismo sem fim, um oceano insondável, ou um universo infinito, o intelecto pode ser comparado a um um carro, um foguete, um meio que nos transporta até certo ponto - não podendo seguir adiante. Os praticantes de esportes radicais, um astronauta ou mergulhador usam esses transportes para levá-los até certo ponto, até certa altura, após esse limite devem seguir sozinhos em suas aventuras. Da mesma forma é o buscador: deve usar o intelecto como um transporte, um meio, uma ferramenta. Mas, ao dar o "salto para a morte", deve seguir sozinho , sem muletas, sem nada.
" Apenas sei que nada sei " - Sócrates |
No Quinto Evangelho Jesus diz: “Aqueles que conhecem tudo, mas não conhecem a si mesmo- não conhecem nada”. Sócrates costumava dizer: “apenas sei que nada sei”. Lao Tsé disse coisas similares no Tao-te-ching . Hui-Neng, o sexto e último patriarca Zen era analfabeto. Ramana, alcançou o despertar pelo método direto, sem a ajuda dos livros. Krishnamurti foi à escola mas, coitado, era considerado um “retardado mental” pelos colegas e professores. Estudou o bastante para falar e escrever bem, mas não se formou. Certa vez, um ex-professor seu foi ouvi-lo em uma de suas palestras e ficou emocionado. Não conseguia compreender como aquele menino tão “parvo”, pôde tornar-se alguém com uma sabedoria tão vasta e profunda. Yogananda não gostava de estudar. Mas seu mestre pressionou-o para que terminasse seus estudos formais. Missão que ele só conseguiu devido a intervenção e "ajudazinha" espiritual do seu guru, Sri. Yuktéswar.
"Quem não se conhece, não conhece nada" |
Pelas evidências, se conclui, que não há necessidade de grandes dotes intelectuais para o despertar da consciência . Por que? É simples: quanto maior o conhecimento, maior a tendência à egolatria. Além disso, o apego ao conhecimento nos impede de perceber as coisas como são. A mente de um intelectual está muito pesada, sobrecarregada de conhecimentos "mortos" que funcionam como “filtros” alterando e distorcendo a percepção direta do Real - daquilo que é. Infelizmente, em geral, quanto maior o conhecimento, maior é a prepotência. É o que acontece, por exemplo, com muitos estudantes de filosofia. Agem e falam como se tudo soubessem e tudo pudessem. Talvez lhes falte a humildade que surge do verdadeiro autoconhecimento. Muitos são completamente vazios, outros sofrem de sérios distúrbios comportamentais. Eu mesmo conheci um filósofo que era pedófilo. Fato esse que lhe trouxe grandes problemas para a vida profissional e pessoal.
É fundamental compreender a função e os limites do intelecto |
Iluminação não significa intelecto morto, apagado. |
Sabedoria é não confundir as coisas e saber o lugar , a função e os limites de cada uma delas.
Alsibar ( intelectualmente inspirado )
http://alsibar.blogspot.com
msn: alsibar1@hotmail.com
Excelente !
ResponderExcluirMuito bom Alsibar!
ResponderExcluirGostei muito deste artigo Alsibar. Estou iniciando a viagem pelo teu blog. Muito interessante!
ResponderExcluirOlá Marina Paz, seu nome já diz tudo. Sim, o blog é uma espécie de preparação para a grande viagem ao interior de si mesmo. Obrigado por sua visita e participação! Fraterabraços!
ResponderExcluirO senhor continua inspirado, rapaz!!!! Fica bem claro pelo exposto que "iluminação" representa uma descontinuidade, uma quebra, um salto qualitativo. Isso representa o fim de uma continuidade - o fim especialmente da forma como vivenciamos e concebemos o todo (com o intelecto). Ainda, é este intelecto que se coloca entre a coisa em si e nossa compreensão. Chamo isso de "hipertrofia do pensamento" - o uso deste formidável instrumento para coisas antagônicas à sua natureza. Parabéns, rapaz!!!! Grande texto!!!
ResponderExcluirAlsibar ,
ResponderExcluirSeu texto concorda com um texto bem mais curto de Saikawa Roshi:
" Muitos dos problemas podem ser resolvidos dentro da sua atividade mental.Mas esta questão acerca da verdadeira identidade, do verdadeiro si mesmo, da nossa verdadeira natureza, da questão da vida e da morte, não pode ser dissolvida dentro da atividade mental, não pode ser resolvida na psicologia, não pode ser resolvida na ciência, nem na filosofia porque todas essas respostas, esses métodos, vêm do dualismo.Esta questão de vida e morte está além dessa atividade mental."