quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A FUNÇÃO DO INTELECTO E O DESPERTAR- The intelect function and the awakening

O intelecto e o Despertar http://alsibar.blogspot.com

Qual a função do intelecto para o ‘despertar”? Intelecto “sofisticado” é sinônimo de sabedoria? Devemos desprezar o intelecto ou ele tem sua importância?Qual a relação entre o intelecto e a percepção da ‘verdade’? Como poderemos considerar esta questão? Vamos refletir?

  Não sou nada. O que vou falar aqui são minhas reflexões pessoais sobre o tema, fruto de leituras, vivências e meditação. Para discorrer sobre isso,  faço  uso das minhas faculdades mentais de raciocínio. Por esse simples fato, já percebe-se que o intelecto tem sua importância. Preciso dele para me comunicar, refletir, investigar etc. Também faço uso dele como uma ferramenta de acesso aos conhecimentos científicos, espirituais e culturais . O intelecto tem sua função no mundo. Sem ele não poderíamos viver em uma sociedade moderna  onde a cultura, a leitura , a produção intelectual e científica são tão importantes para todos. 
Os livros nos dão acesso ao mundo do conhecimento
 Todavia, não podemos afirmar que o intelecto é “absolutamente bom” ou “absolutamente mau”. Tudo depende do referencial. Se temos como referência o acesso a cultura do conhecimento e da informação, então ele é bom e útil . O que os sábios tem dito ao longo dos anos é que ele -o intelecto- não ajuda diretamente na percepção do “Verdade”. Sendo, a Verdade, aquilo que está além das palavras e dos pensamentos. Mas até mesmo para saber sobre a "verdadeira função do intelecto" precisamos ter ouvido isto de alguém ou lido em algum lugar. Como, em geral, não temos acesso aos autênticos mestres iluminados os livros passam a ter grande utilidade. Principalmente no começo da busca, período fértil em leitura e pesquisas, essenciais para ampliação da visão de mundo. 

        Mas, o campo de atuação do intelecto é limitado. O problema surge quando a função intelectual, ou pensamento quer conter em si a compreensão  daquilo que é imensurável e insondável. Questão simples de lógica, pouco compreendido por filósofos e teólogos, mas que já fora dito por sábios e místicos ao longo da história. Ora, se o Desconhecido é como um abismo sem fim, um oceano insondável, ou um universo infinito, o intelecto pode ser comparado a um um carro, um foguete, um meio que nos transporta até certo ponto - não podendo  seguir adiante.  Os praticantes de esportes radicais, um astronauta ou mergulhador usam esses transportes para levá-los até certo ponto, até certa altura, após esse limite devem seguir sozinhos em suas aventuras. Da mesma forma é o buscador: deve usar o intelecto como um transporte, um meio, uma ferramenta. Mas, ao dar o "salto para a morte", deve seguir sozinho , sem muletas, sem nada. 
" Apenas sei que nada sei " - Sócrates
  Será que riqueza intelectual lhe aproxima do despertar? Qual a relação entre entre erudição e sabedoria ? É possível se autoconhecer apenas pela leitura de livros de autoajuda? Quantos eruditos iluminados  você conhece? Geralmente, os eruditos ficam tão presos ao conhecimento intelectual que não conseguem a liberdade necessária para o despertar. 


            No Quinto Evangelho Jesus diz: “Aqueles que conhecem tudo, mas não conhecem a si mesmo- não conhecem nada”. Sócrates costumava dizer: “apenas sei  que nada sei”.  Lao Tsé disse coisas similares no Tao-te-ching . Hui-Neng, o sexto e último patriarca Zen era analfabeto. Ramana, alcançou o despertar pelo método direto, sem a ajuda dos livros. Krishnamurti foi à escola mas, coitado, era considerado um “retardado mental” pelos colegas e professores. Estudou o bastante para falar e escrever bem, mas não se formou. Certa vez, um ex-professor seu foi ouvi-lo em uma de suas palestras e ficou emocionado. Não conseguia compreender como aquele menino tão “parvo”, pôde tornar-se alguém com uma sabedoria tão vasta e profunda. Yogananda não gostava de estudar. Mas seu mestre pressionou-o para que terminasse seus estudos formais. Missão que ele só conseguiu devido a intervenção e "ajudazinha" espiritual do seu guru, Sri. Yuktéswar.
"Quem não se conhece, não conhece nada" 

 Pelas evidências, se conclui, que não há necessidade de grandes dotes intelectuais para o despertar da consciência . Por que? É simples: quanto maior o conhecimento, maior a tendência à egolatria. Além disso, o apego ao conhecimento nos impede de perceber as coisas como são. A mente de um intelectual está muito pesada, sobrecarregada de conhecimentos "mortos" que funcionam como “filtros” alterando e distorcendo a percepção direta do Real - daquilo que é. Infelizmente, em geral,  quanto maior o conhecimento, maior é a prepotência. É o que acontece, por exemplo, com muitos estudantes de filosofia. Agem e falam como se tudo soubessem e tudo pudessem. Talvez lhes falte a humildade que surge do verdadeiro autoconhecimento. Muitos são completamente vazios, outros sofrem de sérios distúrbios comportamentais. Eu mesmo conheci  um filósofo que era pedófilo. Fato esse que lhe trouxe grandes problemas para a  vida profissional e pessoal.
É fundamental compreender a função e os limites do intelecto
  Um dos caminhos para o esclarecimento dessa questão é compreender a função e os limites do intelecto. O intelecto é um instrumento que deve ser usado com humildade e sabedoria . Ele é um poder que, se usado de forma errada, poderá trazer grandes infortúnios aos seu "usuário". O intelecto, por sua natureza limitada, não pode ir além dele mesmo. Sendo assim, não lhe é dado acesso à dimensão do Desconhecido. Todos os mestres autênticos são unânimes em dizer que Deus ou a Verdade, está além dos limites do pensamento e que apenas quando este se acalma ou silencia é que a Verdade se manifesta.
Iluminação não significa intelecto morto, apagado.
     Um último esclarecimento: iluminação não significa intelecto morto , apagado. A capacidade intelectual continua a ser usada na hora apropriada e da forma adequada. Ele apenas entra em "standby" . Veja o exemplo do nosso aparelho fonador. Quando não está sendo usado, ele fica quieto, em silêncio. Assim também é a mente  iluminada pela consciência. Usa do pensamento intelectual com parcimônia e funcionalidade. Após seu uso, retorna ao silêncio. Em suma, não podemos desprezar ou demonizar o intelecto.   Mas, para ver a Verdade,  para perceber diretamente Deus, "QUE É” - o intelecto não tem nenhum papel relevante direto. Sendo, na verdade, um empecilho.

Sabedoria é não confundir as coisas e saber o lugar , a função e os limites de cada uma delas.
Alsibar ( intelectualmente inspirado )
http://alsibar.blogspot.com
msn: alsibar1@hotmail.com

6 comentários:

  1. Gostei muito deste artigo Alsibar. Estou iniciando a viagem pelo teu blog. Muito interessante!

    ResponderExcluir
  2. Olá Marina Paz, seu nome já diz tudo. Sim, o blog é uma espécie de preparação para a grande viagem ao interior de si mesmo. Obrigado por sua visita e participação! Fraterabraços!

    ResponderExcluir
  3. O senhor continua inspirado, rapaz!!!! Fica bem claro pelo exposto que "iluminação" representa uma descontinuidade, uma quebra, um salto qualitativo. Isso representa o fim de uma continuidade - o fim especialmente da forma como vivenciamos e concebemos o todo (com o intelecto). Ainda, é este intelecto que se coloca entre a coisa em si e nossa compreensão. Chamo isso de "hipertrofia do pensamento" - o uso deste formidável instrumento para coisas antagônicas à sua natureza. Parabéns, rapaz!!!! Grande texto!!!

    ResponderExcluir
  4. Alsibar ,


    Seu texto concorda com um texto bem mais curto de Saikawa Roshi:

    " Muitos dos problemas podem ser resolvidos dentro da sua atividade mental.Mas esta questão acerca da verdadeira identidade, do verdadeiro si mesmo, da nossa verdadeira natureza, da questão da vida e da morte, não pode ser dissolvida dentro da atividade mental, não pode ser resolvida na psicologia, não pode ser resolvida na ciência, nem na filosofia porque todas essas respostas, esses métodos, vêm do dualismo.Esta questão de vida e morte está além dessa atividade mental."

    ResponderExcluir