É possível compreender e se libertar do apego ? Qual a relação entre apego e dor? É possível alguém viver desapegado, sem se tornar insensível, cruel e frio?O que a meditação tem a ver com isso tudo?
As tradições religiosas em geral pregam que o apego é uma das causas do sofrimento humano. Na vida diária, não é difícil perceber o quanto o apego causa dor. Não é fácil separar-se das coisas que tanto se ama -seja o que for: um amor, um parente, um amigo, um trabalho, um animal, um objeto, uma rotina, um lugar, nosso corpo, a juventude, a vida etc. Essas coisas são muito caras e ninguém quer perdê-las ou delas se separar. Diante das inevitabilidades da vida- a perda, a separação, a velhice e a morte -a pessoa sente o quanto aquele apego pode custar-lhe caro. Em geral, as pessoas não sabem lidar com aquela dor tão peculiar a esses momentos. Será possível compreender o apego e dele se libertar? É possível gostar, amar, sentir, sem se apegar e sem se tornar uma pessoa distante, fria e insensível?
Não é possível compreender o desapego sem compreender o apego. Por que a mente se apega a qualquer coisa? É por que lhe dá prazer não? Ninguém se apega ao que não traz satisfação, conforto e felicidade. Ao analisar bem esse assunto, apesar do apego estar ligado a uma sensação de prazer, o que o alimenta não é a experiência em si- mas sim o desejo de continuidade . Posso ter várias experiências prazerosas, senti-las, vivê-las plenamente e quando elas cessarem, não permitir que a lembrança daquela experiência se transforme em um "desejo por mais"? Afinal, é isso que causa o sofrimento, não ? Ou seja, posso viver cada instante, sem desejar a continuidade daquele instante? Por exemplo: posso viver o prazer de estar ao lado da pessoa amada- mas quando não estiver, não sofrer por isso? Posso viver a alegria de estar em um lugar lindo e maravilhoso- mas quando não estiver mais- posso deixar as experiências e lembranças lá- sem transformá-las em um motivo de pesar? Posso viver cada momento, tão plenamente, que não reste nenhuma sensação de insatisfação e incompletude?
O apego nada mais é do que o desejo de continuidade de uma experiência de prazer ligado a algo ou alguém. Uma vez que perco aquilo que me dava prazer, sendo o meu presente triste e vazio, lembro-me das experiências do passado e desejo ardentemente sua continuidade como forma de amenizar meu sofrimento. Em suma: o ciclo do apego pode ser resumido na seguinte fórmula:
PRAZER> PERDA> DOR> MEMÓRIA> DESEJO DE CONTINUIDADE
não necessariamente nesta sequência. O ser humano está acostumado a considerar essa cadeia como algo normal e natural. E, por nunca questionar sua validade, de repente, se vê nas garras da dor e do sofrimento. Mas é possível ser uma pessoa saudável, ter uma vida normal e equilibrada- sem cair nas armadilhas do apego?
PRAZER> PERDA> DOR> MEMÓRIA> DESEJO DE CONTINUIDADE
não necessariamente nesta sequência. O ser humano está acostumado a considerar essa cadeia como algo normal e natural. E, por nunca questionar sua validade, de repente, se vê nas garras da dor e do sofrimento. Mas é possível ser uma pessoa saudável, ter uma vida normal e equilibrada- sem cair nas armadilhas do apego?
Conhecer o ciclo do apego é o primeiro passo para a libertação. O problema, pelo que percebo, não está na experiência do prazer- mas no desejo de continuidade, ativado pela memória, tendo como causa principal, a dor causada pela separação. Posso olhar minha dor diretamente sem medo- sem justificá-la, sem nomeá-la, sem procurar dela fugir? Posso simplesmente olhar como minha mente cria este ciclo, ficar consciente dele, percebê-lo claramente sem querer alterá-lo ou dele escapar? Posso ficar com o “fato” e compreendê-lo em sua totalidade-de forma que aja apenas o fato e nada mais?
Certamente que perceber o fato inclui a percepção de todo o ciclo- minha dor, minhas memórias e meu desejo de fuga ou continuidade. Em geral, são as memórias a causa dos tormentos pois a mente é escrava das memórias, das imagens do passado. As imagens da pessoa, coisa ou situação continuam, ainda por muito tempo, vivas em na mente. Quando a mente percebe que a realidade é outra, que estas coisas não existem mais, o que ela faz? Ela reativa as lembranças como forma de evitar a realidade dolorosa. Mas -você pode perguntar- apenas a compreensão e a percepção de tudo isso é capaz de libertar do apego e da dor ?
A resposta a esse questionamento é a seguinte : enquanto não houver o percebimento de que o próprio desejo de se libertar da dor é em si o alimento da dor- nunca haverá libertação. Assim, o que fazer? Diretamente nada. Indiretamente, muita coisa. A própria percepção clara e direta deste ciclo – “percepção sem escolha” como diz Krishnamurti- faz a mente libertar-se deste ciclo. Em outras palavras, quando a mente percebe que qualquer movimento da sua parte não pode transformar ou mudar esse ciclo- então o que ela deve fazer? Relaxar, não? E esse próprio perceber e consequente relaxamento e quietude- produzirá uma mudança independente de qualquer ação direta por parte da mente.
Certamente que perceber o fato inclui a percepção de todo o ciclo- minha dor, minhas memórias e meu desejo de fuga ou continuidade. Em geral, são as memórias a causa dos tormentos pois a mente é escrava das memórias, das imagens do passado. As imagens da pessoa, coisa ou situação continuam, ainda por muito tempo, vivas em na mente. Quando a mente percebe que a realidade é outra, que estas coisas não existem mais, o que ela faz? Ela reativa as lembranças como forma de evitar a realidade dolorosa. Mas -você pode perguntar- apenas a compreensão e a percepção de tudo isso é capaz de libertar do apego e da dor ?
A resposta a esse questionamento é a seguinte : enquanto não houver o percebimento de que o próprio desejo de se libertar da dor é em si o alimento da dor- nunca haverá libertação. Assim, o que fazer? Diretamente nada. Indiretamente, muita coisa. A própria percepção clara e direta deste ciclo – “percepção sem escolha” como diz Krishnamurti- faz a mente libertar-se deste ciclo. Em outras palavras, quando a mente percebe que qualquer movimento da sua parte não pode transformar ou mudar esse ciclo- então o que ela deve fazer? Relaxar, não? E esse próprio perceber e consequente relaxamento e quietude- produzirá uma mudança independente de qualquer ação direta por parte da mente.
Agora, ao se perceber todo esse ciclo o que se pode fazer em relação a isso? É possível tornar cada experiência um momento novo e único? É possível olhar diretamente para a realidade independente do que ela seja, de forma que não haja mais a tristeza, nem a memória, me impelindo a evitar a dor e desejar o prazer? Em outras palavras, posso viver cada momento, sem permitir que a memória me roube a experiência direta com o agora -que é único -seja ele o que for ? Isso é uma maneira de viver que poucos, muito poucos conhecem. Em geral só vive-se de memórias, lembranças, medo e desejos e a vida se torna uma eterna busca pelas experiências passadas e que se tenta revivê-las. Nesse ínterim, perde-se o aquiagora- que não é bom nem ruim- somente é.
Sim- é possível um novo caminho. Mas para isso, é necessário aprender a experimentar a realidade do agora- “que é”- sem medos, receios e sem a interferência da palavra, das memórias e imagens do passado. A meditação é exatamente a vivência dessa outra maneira viver a vida. Na meditação, vive-se o presente plenamente. No presente não há perdas, pois ele é completo em si- não deixa margens para ideais, imagens, desejos ou lembranças. Na meditação, tudo o que existe, existe neste momento de percepção. E se tudo- absolutamente tudo o que precisamos está no aquiagora- não haverá carência psicológica de espécie alguma e- consequentemente- nenhum espaço para o apego, nem para a dor.
Experimente e constate por si mesmo!
Alsibar- (inspirado)
Excelente texto, fico encantado com a forma amorosa que compartilha suas experiências, de uma forma tão didática e convidativa, levando àquele que lê não só há um reflexão mas a uma visão direta daquilo que você aponta com tanta clareza! Muito obrigado Alsibar por compartilhar conosco aquilo que você é!
ResponderExcluirObrigado!