domingo, 12 de julho de 2020

O ERRO DE JAMES ARTHUR RAY DE “ O SEGREDO”




O caso envolvendo um dos mais famosos gurus da auto-ajuda motivacional acende um alerta importante. Nesse artigo, eu falo sobre a importância das ações motivacionais mas também chamo a atenção para seus limites e o perigo dos exageros. Leiam o artigo até o final e reflitam sobre suas considerações para não cair no mesmo erro do James e de suas vítimas.

Se você assistiu ao documentário ou leu o livro “ O Segredo” com certeza deve se lembrar de James Arthur Ray. Na série, Ray cita uma bonita frase de um poema indiano : “Deus dorme nas pedras, respira nas plantas, sonha nos animais e desperta no homem”. Ele também é aquele que fala na hora do gênio da lâmpada  dizendo: “você provavelmente já ouviu falar em Aladin e o gênio da lâmpada. Aladim acha a lâmpada, esfrega-a e aparece o gênio que sempre diz: “seu desejo é uma ordem”.Então você terá o universo representado como seu gênio e o seu consciente como a lâmpada. Qualquer coisa que você desejar de forma consistente, com seu pensamento, sentimento e ação- estará vindo para você.”

Essa visão de que o homem tem poder ilimitado para alcançar qualquer coisa que quiser, pensar e imaginar- sem nenhum limite ou critério- custou caro ao James. Ele perdeu sua credibilidade e quase dois anos de sua liberdade por conta de uma tragédia que aconteceu em 2009 durante um retiro espiritual promovido e coordenado por ele, em Sedona no deserto do Arizona. Durante um treinamento inspirado em um antigo ritual indígena,  os participantes tinham que ficar confinados embaixo de uma tenda hermeticamente fechada  sob um sol escaldante. O cenário perfeito para uma tragédia que, de fato, aconteceu: várias pessoas passaram mal e três morreram. James não era nenhuma criança quando o tal "incidente" aconteceu. Ele já era um homem maduro, experiente e milionário. O documentário da Rhonda  Byrne alçou várias figuras anônimas ao estrelato instantâneo. O problema , no caso do Ray, é que ele aparentemente não aprendeu lições básicas que qualquer  ser humano mediano aprende ainda criança como, por exemplo, ter humildade para ouvir e aceitar os limites da vida.

Ray é um caso típico da mentalidade que impera no mercado da auto-ajuda: vender a ilusão do "Super-Homem com super poderes". “Você pode tudo!”, “ Seja forte!”, “ Não desista!”, “ Não seja fraco!”, “ Não seja covarde”! “ Acredite em seu potencial”- tudo isso tem um fundo de verdade mas sempre dentro de certas condições.  Cada frase dessa não expressa uma verdade absoluta, mas relativa-são válidas mas têm seus limites. Você pode usá-las para motivar a si mesmo e aos outros, mas não pode esquecer outros valores importantes  geralmente  ensinados no seio da família ou na escola como: equilíbrio, comedimento, temperança e prudência.  Infelizmente, muitas vezes, a fama vem acompanhada de um aumento da arrogância e da prepotência. Os sábios nunca se encantam pela fama pois aí estariam pavimentando o caminho da ruína.

Assim como Ray, Osho, Bikran Yogi, Michel Holy Hell, Jim Jones etc- todos seguiram o caminho da imprudência e inconsequência. Talvez confiando que a sorte , a fama, o poder e o dinheiro iriam livrá-los de todas as consequências de seus atos. Esse é um problema comum entre os gurus. Parece que eles realmente acreditam que são semideuses acima das leis que se aplicariam apenas aos “reles mortais”. Por isso, abusam de seus poderes, agem de forma
inescrupulosa, inconsequente, irresponsável e descuidada. Quem mais sofre com tudo isso são as vítimas. Em geral, seus algozes conseguem se safar das leis através da contratação de caríssimos advogados. Ray conseguiu baixar uma sentença de seis anos para 20 meses- mesmo assim- ao contrário do que acontece geralmente no Brasil- penso que foi uma sentença razoável. Afinal, alguém tinha que ser responsabilizado pelas mortes trágicas e ele era o supervisor direto do que estava acontecendo na tenda indígena.

De fato, bastava algo simples e básico como o "ouvir" e talvez isso tudo não tivesse acontecido. Se todas as pessoas estavam embaixo de uma tenda indígena coberta com uma lona quente debaixo de um sol escaldante no deserto de Sedona- ao primeiro sinal de mal estar, ele deveria ter ouvido  os apelos e deixar sair quem não quisesse continuar. E mesmo que ele tenha dito em sua defesa que ninguém era obrigado a ficar, havia uma poderosa pressão psicológica no sentido contrário: aqueles que desistissem seriam considerados  fracos e covardes- e ninguém queria assumir esse papel diante dos outros e de si mesmo. Além disso, dependendo da intensidade e da rapidez do mal estar ,  é provável que algumas pessoas não tenham tido nem a chance de pensar que uma tragédia poderia lhes acontecer. Daí porque, segundo o que se apontou nos autos, algumas pessoas  tentaram avisar ao Ray de que algo errado estava acontecendo, mas ele não lhes deu ouvidos.

Se ele tivesse prestado atenção aos apelos daqueles que viram os companheiros passando mal, certamente nada disso teria acontecido e hoje o Ray estaria na mídia e no mundo espalhando sua mensagem parcialmente verdadeira. Ao contrário do que dizem os “coaches” e “gurus de auto-ajuda”-  o homem em sua complexidade não pode ser reduzido a uma espécie de máquina movida por chavões e conceitos motivacionais.  A vida é muito maior do que isso e demanda uma visão holística que alcança o profundo sem esquecer o raso, que domina o complexo, sem desprezar o básico. Bondade, serenidade, prudência e sensibilidade- são princípios básicos tão importantes quanto  os conceitos da neurolínguística ou da física quântica.

Aceitar  o ser humano em todas as suas dimensões significa compreender sua complexidade e que há em sua constituição espiritual,  psíquica e física elementos que não podem ser controlados. Não é vergonhoso ou humilhante assumir as fraquezas e limitações humanas-uma lição que o próprio guru/líder deveria ser o primeiro a saber. Ray aprendeu essa lição da forma mais dramática e difícil possível. É óbvio que ele merece uma segunda chance, mas também é verdade que sua credibilidade conquistada duramente ao longo de anos dificilmente será recuperada. Por mais que tente, ele nunca mais será visto com o mesmo olhar de antes da tragédia. Será sempre lembrado  como o responsável pelas mortes da Tenda indígena de Sedona, pois teve o poder de evitá-las, mas que, por imprudência, irresponsabilidade ou burrice- não o fez.

By Alsibar

Julho-2020


4 comentários:

  1. É ISSO MESMO, MESTRE ALSIBAR! MESMO QUE ESTEJAMOS USANDO O SEGREDO (A LEI DA ATRAÇÃO) AINDA CONTINUAMOS SOB OS "DITAMES" DA CONDIÇÃO HUMANA!

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  2. Verdade Prof. Tony! Exatamente isso amigo! Obrigado pela valiosa participação !

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  3. Uma outra falha bem básica nesses discursos de Auto-Ajuda, de Pensamento Positivo e de livros como "O Segredo" está em supor que temos um completo discernimento a respeito do que seria melhor para nós, o que, quase sempre, não é verdade.

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