O “vício no vazio” é um dos maiores problemas dos buscadores imaturos e
inexperientes. Nesses casos, o vazio mental é usado como uma espécie de fuga à
realidade da vida, da agitação da mente e da dor psicológica que tudo isso provoca. No diálogo abaixo, eu
converso com um amigo que prefere ser chamado apenas de “Juninho”. O drama que
ele viveu me parece ser o mesmo de muita gente, por isso, achei importante
postar o diálogo aqui no blog para servir de ajuda e orientação para buscadores
que estejam passando pela mesma situação. (Alsibar)
Juninho Alves: Olha que frase bonita eu recebi
agora há pouco: “No dia em que não houver perguntas nem respostas dentro de
você, e você estiver apenas sentado aqui, vazio, você voltou para casa — foi da
ignorância à inocência.- Osho, em "Iluminações da Alma"
Alsibar: É linda mesmo mas
está parcialmente correta. O problema do Osho é que ele misturava verdades com
mentiras. Ele falava algo muito profundo e verdadeiro mas logo depois vinha
alguma besteira. Penso que essa frase
ficaria mais correta assim:
No dia em que não houver perguntas nem respostas dentro de você, e você
estiver apenas sentado aqui. E não houver nem mesmo o vazio, você perceberá que
na verdade nunca saiu de casa e que esse
pensamento era apenas uma ilusão, ignorância. Perceber todo esse movimento
ilusório é sair da ignorância para
a inocência ou estado original apontado por Jesus quando se referiu às crianças e ao Reino dos Céus.
Às vezes acho que o Osho
fazia isso de propósito .Esse negócio de "vazio" pode se tornar um
perigo quando não compreendido corretamente.
Juninho Alves : Por que
você não faz um vídeo tratando sobre esse tema do vazio?
Alsibar: Às vezes penso que assuntos desse tipo não agradam muito às pessoas porque são muito profundos e
específicos. Parece só fazer sentido pra
buscadores maduros e sérios como você. O que você acha?
Juninho Alves : Bom voce
está certo, por isso que quanto mais pessoas você quiser atingir, mais básico
tem que ser o ensino. Mas há pessoas de todos os níveis que assistem aos seus
vídeos não acha?
Alsibar: Verdade. Juninho!
Então, me diz aí uma questão que antes de me conhecer não estava muito clara para
você e que agora está?
Juninho Alves : Rapaz... Tu já me esclareceu
tanta coisa... Eu lembro que o principal era aquele condicionamento espiritual
da minha má interpretação do ensino de
Ramana. Lembro-me que eu estava convicto de que deveria permanecer todo o tempo
me esforçando para permanecer num estado paradisíaco conhecido como estado de vazio ou samadhi contínuo , e você me esclareceu
isso... Foi como tirar um fardo da minhas costas! Mas meu entendimento estava equivocado.
Eu não afirmo que Ramana ensina esse esforço ilusório, mas era o que eu
entendia.
Alsibar: Juninho, esse teu
relato é muito importante. Fala ai sobre a relação entre atenção e o vazio-
como você vê isso hoje?
Juninho Alves : Cara, é essa
obrigação que a gente se auto impõe de estar sempre “atento”. Foi disso que você me “libertou”. Como eu te
falei, eu pensava que o permanecer no vazio era um fim em si.
Alsibar: E então o que você fazia?
Juninho Alves: Eu estava viciado nesse vazio
porque trazia muita paz. Ele é o lado oposto da mente confusa e agitada. E, é
claro, focado que estava, eu não percebia que esse vazio era também um outro
objeto que eu estava percebendo. Eu pensava que o vazio era minha real natureza.
Eu pensava que quando eu saía desse vazio eu estava em “maus lençóis”. E isso
causava frustração. Eu vivia “gangorrando” entre a paz do vazio e a frustração
da mente que se agitava quando o esforço cessava. Eu
pensava que eu deveria consolidar o vazio de uma forma contínua e permanente e
não sei porque eu não aceitava o pensamento como algo normal... para mim era um
estorvo pensar.
Alsibar: Muito interessante. E como você está
agora?
Juninho Alves : Agora, eu não ligo mais. Agora
o “vazio e o pensamento” não têm diferença- são instrumentos. Mas, foi muito
difícil sair desse vício porque bastava eu me deitar ou meditar que a mente já
queria cair no vazio de novo.
Alsibar: E como está agora? Está melhor do que
antes?
Juninho Alves: Claro que
está. Agora eu estou muito me sentindo muito mais livre porque estou livre da
obrigação de permanecer no vazio a todo instante. Obrigação essa que eu mesmo, meio
que, me auto impus devido a um entendimento incorreto daquilo que o advaita ensina.
Alsibar: Verdade. Muito
interessante seu depoimento. Você diria que agora tem paz?
Juninho Alves:: Isso. Porque
você sabe que eu sou teimoso e gosto de caminhar com minhas próprias pernas,
por isso eu segui esse caminho errado por um longo tempo.
Alsibar: “Vício” é uma palavra que define bem isso.
Juninho Alves: Mas, olhando para o passado, eu
vejo que isso aconteceu porque eu fui muito torturado pelo pensamento acelerado,
pelo pensamento sem controle, desenfreado que causava sofrimento. Por isso, o
vazio da mente foi tão fascinante pra mim, ele foi refrescante . Hoje eu vejo que esse vazio não é um
problema em si ,até porque ele é meu amigo. O problema era que eu o desejava a
todo custo e acima de todas as coisas, e quando a mente pensava, eu me sentia
derrotado entende? Como se eu estivesse perdendo a luta para a mente. Cara hoje
eu olho pra trás e vejo o absurdo disso!
Alsibar: Mas, com o tempo, esse vazio se tornou um outro drama, um outro problema né?
Juninho Alves: Sim! Agora, eu estou em paz
porque eu não quero nenhuma coisa nem outra, eu não desejo um vazio acima do
pensamento comum e normal. Agora, é como se eu tivesse descansando numa rede e
vendo a vida acontecer e se desenrolar. Sem entrar em conflito com aquilo que
aparece.
Alsibar: Que lindo!
Juninho Alves : Você que me apontou isso!
Alsibar: Então... Já que você descobriu que o
vazio não é sua natureza essencial, o que você responderia hoje para alguém lhe
perguntasse sobre isso?
Juninho Alves: Essa natureza essencial, como
eu a vejo hoje, está fora de toda descrição!
Alsibar: Cara, vejo que você entendeu mesmo!
Fico muito feliz com isso. Sinceramente.
Juninho Alves : Eu tenho
absoluta certeza que as nossas conversas me auxiliaram muito e aceleraram esse
processo. Eu acho que esse vazio é um perigo que todo
meditador sério vai cair um dia. Então, se você fizer um vídeo vai ajudar muita gente.
Alsibar: Certíssimo. Farei
sim e vou postar essa nossa conversa no blog pode ser?
Juninho Alves : Claro! Manda brasa!
Alsibar: Obrigado!
vídeo sobre o "vício do vazio" no you tube:
link do vídeo no you tube sobre o vício do vazio:
vídeo sobre o "vício do vazio" no you tube:
link do vídeo no you tube sobre o vício do vazio:
(Edição: Alsibar)
Pô, cara ! Estive muito mais. Ainda me cobro. E cansativo. Cria culpa. Cobrança, leva a culpa. Chega a tirar a paz que sinto. Por outro lado, percebo que passou o tempo da meditação. Cessou o esforço, sabe. Agora, a paciência, a espera. Você me tirou um peso, como escreveu o Juninho. Muito agradecido
ResponderExcluirOlá Euclides, obrigado por sua participação e palavras amigo. Seu feedback foi valioso pois mostra a importância desse trabalho! Abraços e fica na paz!
ExcluirParabéns por ajudar Juninho, ilustre amigo, a quem conheço desde de pequeno. Pessoa franca, inteligente e sensível. Arremato: o Real Ser, foi, É, é sempre será. Namastê.
ExcluirObrigado pela participação nobre amigo do Juninho- pena que não deixou o nome. Abcs!
ExcluirBelíssimo diálogo!
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