sábado, 2 de novembro de 2019

SOBRE AS CARTAS DE CRISTO E OS ÚLTIMOS INSIGHTS


                             
Depois que comecei a ler as “Cartas de Cristo”, algumas coisas diferentes têm acontecido comigo . Além da emergência de  sensações e percepções diferenciadas, consegui entender problemas complexos da jornada espiritual que antes estavam confusos . Esses pontos não estão explicitamente expressos nas cartas.  Mas podem ser concluídos a partir das leis que elas expõem. Por exemplo,  o caminho para a iluminação deve ser  feito de forma consciente ou inconsciente? Essa é uma questão fundamental .

Durante toda minha vida, desde que conheci a meditação, eu achava que a “consciência”  era tudo no caminho para Deus. Quanto mais consciente mais próximo de Deus. As pessoas, em geral,estão inconscientes de si, do seu interior, do momento, do que fazem, pensam e sentem. Então,  para aproximar-se de Deus você teria que aumentar , elevar esse nível de consciência  o máximo possível, momento em que a pessoa se tornaria um iluminado, um Buda. Desse ponto em diante, a pessoa passaria a ter consciência plena- que, nesse caso- seria tornar-se uma pessoa  sempre e constantemente alerta, presente, atento aos movimentos e acontecimentos do agora, tanto internos quanto externos- sem oscilação.

Ora, passei uma vida tentando desenvolver e alcançar esse estado de consciência total sem sucesso. Muitas vezes eu conseguia produzi-lo por um breve período de tempo o que me trazia alguns resultados : êxtase, claridade, paz, harmonia e alguns poderes como  sonhos lúcidos, intuições etc. Mas isso não durava.  E quando passava, voltava a dor, a miséria e o sofrimento. Então eu tentava de novo.  E quando não conseguia, procurava novos métodos , técnicas e estratégias e nisso se passaram quase trinta anos. Foi quando, um dia me cansei,  e comecei a pensar que  aquilo talvez estivesse errado. Que iluminação não tivesse nada a ver com o tornar-se consciente no sentido comumente dado a esse termo.

Foi então que resolvi “deixar fluir”. Não me esforcei mais para ficar atento ao momento,  nem procurei mais o tal estado de “presença”. Simplesmente relaxei, esqueci, soltei... abandonei. E foi aí que depois dessa “soltura”,  aconteceu algo inesperado. A claridade veio por si mesma, sem que eu a procurasse. Um novo estado “explodiu”  e tudo ficou muito diferente.  O silêncio,  a paz e a serenidade se fizeram presentes  na minha mente mesmo na presença dos pensamentos.  Todavia, algo havia mudado: o sentido do “eu”estava ausente . Não existia mais o “eu” como centro
controlador de tudo. Havia um “algo silencioso”, que não se abalava nem se identificava com os fenômenos. Esse estado não se parecia nada com o que eu já tinha vivido outras tantas de vezes pois nem era apatia , nem era euforia.  Isso iniciou um novo capítulo na minha jornada interior , transformou-me totalmente e me deu a certeza interior de que eu tinha finalmente encontrado o rumo certo.

Hoje passei a noite pensando e vendo imagens das Cartas de Cristo na   minha mente  e  então  me lembrei dessa questão da consciência. Enfim,  será que as cartas apontam alguma coisa nesse sentido para reconfirmar o que eu já havia intuído em relação ao caminho da iluminação espiritual?
Não só as cartas confirmaram tudo, como  explicaram com mais detalhes  todo esse processo . Como está sendo dito lá, tudo no universo é feito de “impulsos”:  os dois impulsos básicos fundamentais de toda criação ele chamou de  “Pai-inteligência e o da Mãe-amor”  são eles que geram, impulsionam e mantém toda a vida do universo. Isso lembra a “Lei de Três” já exposta nos tratados esotéricos. No caso do caminho da iluminação,  pensei, deve haver essa relação  também porque essas leis se aplicam a tudo e a caminhada espiritual não poderia ficar de fora desse esquema.

No caso da jornada interior, a consciência seria o primeiro impulso- o do Pai. Mas se alguém ficar só no primeiro impulso, nada vai realizar de verdadeiro, concreto e permanente. Precisa então do impulso “mãe”. Se o Pai é o da vontade consciente, o “impulso mãe” é o da entrega  ao inconsciente. Ambos harmonizados e em equilíbrio geram o movimento certo, a ação correta que leva à Verdade- ao Despertar, Iluminação, Deus.

Por isso que se a pessoa ficar só no “ impulso consciente” não chegará a nenhum resultado real e duradouro. Precisa ter a fase do inconsciente , do intuitivo, do silêncio, da não-ação. É verdade que, à primeira vista, isso parece familiar pra muita gente . Talvez devido ao fato de que grandes e verdadeiros mestres como Krishnamurti, por exemplo, já tenha mostrado isso- mas raras pessoas entenderam ou conseguiram vivenciar isso.  Apesar de  JK ter defendido durante muito tempo essa tal “ presença” com a observação dos pensamentos, atitudes e do momento etc, depois de um tempo ele deixou de dar esse tipo de orientação porque os resultados não estavam sendo os esperados.  Uma análise mais acurada dos discursos de Krishnamurti revela que geralmente estes eram divididos em dois momentos : o do “Pai-Movimento- Vontade Consciente- ” e o da “Mãe- quietude-silêncio-Inconsciente” .  Percebe que ele sempre começava sua explanação pelo “conhecido”, pelo movimento, análise e investigação e ao chegar ao limite desse domínio, ele desembocava na quietude, vazio, silêncio, não-ação, inconsciência?  Então, isso é a manifestação dos dois impulsos revelados nas Cartas. Apenas esses dois em conjunto pode produzir a Vida, um novo Ser Espiritual, uma Nova  Consciência Iluminada. E aí está a razão porque “ninguém se iluminou”.

Muita gente lê JK e também outros gurus , mestres e líderes que defendem essa tal “consciência” como se ela fosse o suprassumo do caminho da iluminação – mas dificilmente alguém chegou “lá” usando essa técnica. Na melhor das hipóteses, produziram um estado mental temporário, fraco e artificialmente causado pelo próprio esforço da mente, ou seja, do ego. Esse tal estado de  “presença”  pode até trazer alguns benefícios para a mente /corpo,  mas não representa  muito em termos de mutação espiritual pois o “ego” continua no “centro de comando do eu”.

Para dar um exemplo claro:

Toda a jornada começa com o CONSCIENTE: ou seja, a pessoa percebe sua propria condição de infelicidade , conflito e dor e então ela busca CONSCIENTEMENTE  e por decisão própria, a libertação, o nirvana, a Verdade, Deus.

Depois de passar um bom tempo buscando CONSCIENTEMENTE a libertação e trabalhando por isso de todas as formas -orando,  praticando técnicas, investigando, fazendo o bem etc.-o aspirante deveria, agora, mergulhar no “IMPULSO INCONSCIENTE MÃE” . Ou seja, relaxar, esquecer, deixar no escuro do útero para que um novo “estado de consciência” seja gerado. Esse segundo momento , era para ser o o da MEDITAÇÃO mas o que acontece na prática?

A meditação  tornou-se mais um momento de “presença” , de movimento, da vontade, do “Pai-Consciência” e, assim,  o momento seguinte que seria o do “impulso-Mãe” o do relaxamento do ego,  da entrega, da quietude e inconsciência - não é vivenciado. Em outras palavras,  o momento do “impulso-mãe”, tornou-se uma continuação do “ IMPULSO PAI CONSCIENTE”. E o resultado é que o impulso dado pelo aspirante em direção à geração da luz espiritual permanente não se realizou, ficou incompleto.  É como caminhar, caminhar, caminhar.... e ficar caminhando sem parar sem chegar a lugar nenhum até vir a paralisia,  a estagnação, falta de energia, desesperança  e até odesespero. Percebe-se, com o tempo, que o ego continua sutilmente em forma de esforço, de busca pelo tal “estado sublime de presença”.

As cartas confirmam e esclarecem em detalhes que é nesse movimento de CONSCIÊNCIA  e INCONSCIÊNCIA que o buscador é impulsionado cada vez mais para a meta.  Ou seja, no primeiro momento, a pessoa fica consciente das coisas, dos problemas,  reflete e investiga sobre elas , compreende a natureza da mente, do pensamento, do ego, do tempo e suas limitações etc. Depois disso,   vem o outro o outro momento, o do relaxar, do esquecer, do aquietar-se , do entregar-se ao silêncio e à INCONSCIÊNCIA DE SI para que a própria natureza possa fazer seu trabalho de maturação e  comece a gestação de um centro permanente de silêncio e luz interior.
As cartas também confirmaram outra questão que eu havia tentado solucionar várias vezes e até cheguei  intuitivamente a algumas conclusões  que é sobre a questão do “fazer ou não fazer”. Sadhana ou não Sadhana? É o que vou aprofundar no próximo tópico.

A questão do “fazer ou não fazer”, sadhana ou não-sadhana.

Será que preciso fazer alguma coisa para alcançar Deus ou ele vem independente do fazer? Alguns mestres dizem que você não precisa fazer nada porque Deus não pode ser alcançado,  nem “causado”. A iluminação não é um estado  em que o ego, o pensamento possa produzir a bel prazer porque está fora do seu próprio raio de ação e atuação.

Outros mestres defendem que sim, que temos que praticar muitas sadhanas ( práticas espirituais), rituais, ações, técnicas de  meditação,oração, boas ações etc para purificar a mente num processo constante e gradual até atingir os  mais altos picos da consciência, como  quando alguém ferve uma panela de água e espera ela finalmente o ponto de ebulição e ferver.

Baseado nisso, perguntei-me se as inspirações, epifanias, insights e compreensões que  tive ao longo da vida teriam ocorrido independente dos meus constantes esforços e práticas nesse sentido, ou se elas teriam ocorrido de qualquer jeito independente de eu ter feito alguma coisa ou não. Então, para se ter essas inspirações, epifanias, intuições, insights etc é necessário fazer alguma coisa ou NÃO, já que o pensamento/desejo não pode alcançar essa dimensão além dele mesmo?

E a resposta é a seguinte:

Deus é Amor, Luz , Sabedoria , Felicidade e Compaixão. Ele está sempre enviando seus impulsos de luz para todo mundo porque Deus é primariamente “ Expressão”.  Ora, se Deus está sempre enviando sua Luz e Presença então porque há tantas pessoas na escuridão, no conflito, na prisão escura dos seus egos? Por que ninguém  “capta” essas manifestações divinas?

A resposta é absurdamente simples: porque  elas estão tão preocupados com seus próprios problemas e  suas mentes , tão agitadas pelo medo, conflito  e desejo que elas não conseguem “captar” esses impulsos de luz.  Daí a importância do sofrimento que leva a pessoa a parar, refletir e “ouvir” o que a alma tem a lhe dizer. É nos momentos de crise, quando busca a solução para seus problemas, que a pessoa se torna mais sensível  às inspirações divinas . Todavia, logo depois  que se encontram aliviadas, elas  esquecem das lições recebidas  e voltam ao seu estado normal de distrações,  desejo  e retornam à roda desenfreada da  busca insensata  pelo “mais. Em casos, a pessoas tenta  ao máximo evitar o voltar a esses momentos de quietude e serenidade, talvez por que elas os associam aos momentos de dor e sofrimento.

Já há outras pessoas que se “ligam” mais nesses momentos de abertura à Luz e aproveitam para reavaliar sua vida, identificar sua própria parcela de culpa no processo de crise e, assim, mudar  suas atitudes e consequentemente sua vida.  Então, quanto mais elas estão conscientes desses “impulsos divinos de luz”,  mais fortes, constantes e significativos eles se tornam. No meu caso,  por exemplo, sempre aproveitei essas crises para uma reflexão, avaliação e redirecionamento das minhas próprias ações e atitudes. Claro que nem sempre  segui totalmente as lições aprendidas, muitas vezes as esquecia e caía nos mesmos erros de antes. Mas , mesmo nos meus piores períodos de mundanidade, eu estava sempre “consciente” dos meus limites, daquela “luz” que  me protegia e dos riscos que eu corria caso não os respeitasse. 

Ora, a questão então não é exatamente o “fazer ou não –fazer”. Se o teu “fazer” (oração, meditação, leituras, ações etc) te ajuda a “purificar a mente” -não no sentido moral ou coisa parecida mas no sentido de ficar mais sensível e aberto às inspirações do Pai- então o teu fazer é válido e importante. O cerne da questão  é que muita gente só se conecta com as inspirações divinas durante a meditação, a oração ou através de um  ritual religioso qualquer- mas  logo ao findar deste, ela já esquece tudo o que sentiu, absorveu e viveu, retornando à velha rotina de hábitos e pensamentos antigos. É o momento em que o ego ( pensamentos, desejos, conflitos etc) assume novamente o controle de tudo.
Em outras palavras: se a “prática espiritual” da pessoa a torna realmente mais sensível à voz do  Pai interior, então  ela deve praticar  tudo o que puder. Mas se a pessoa não precisa fazer algo específico

ou formal para ouvir melhor essa “voz” e se, ao contrário, ela precisar de paz , silêncio, reclusão e liberdade para captar melhor sua voz interna, então ela não precisa de nenhuma sadhana tradicional. A forma com que cada um “afina”  seu instrumento mental é muito pessoal - não há uma receita única para isso porque cada pessoa  está num ritmo ou nível diferente e , consequentemente, sua necessidades também são muito pessoais e específicas . Assim, cada pessoa deve descobrir como fazer  para melhor “captar” as inspirações divinas, se numa igreja, numa mesquita , num ritual qualquer, ou mergulhar na inatividade do silêncio, do ócio, do nada interno, entregando seu ego e ficando aberto à  própria voz interior.

O que está sendo dito aqui não é que sadhana não seja importante ou necessária. Mas que sua utilidade vai depender das atitudes e abertura interna de cada um, não da sadhana em si. Se práticas e rituais por si mesmos funcionassem, não haveria tantos monges, padres, pastores e líderes religiosos cometendo crimes , abusos e servindo de instrumento do mal . Se sadhana funcionasse por si só, ela os teria purificado a mente e o espírito o que os teria impedido de entrar cometer certos atos. Mas  o que acontece de fato não é isso.

Pra concluir essa parte, a  sadhana deve ter a medida daquilo que você é, das suas necessidades. Uma pessoa muito grosseira e dominada pelos impulsos do ego precisa fazer muita sadhana do contrário ela pode perecer na escuridão de si. Precisa ir à missa, igreja, orar, rezar, meditar, fazer boas ações e sacrifícios porque é a única possibilidade de abertura para a Luz.  As sadhanas proporcionam, nesse caso, o equilíbrio necessário para que a pessoa não se perca e entre em colapso total . Para muitos, esse pode ser o único momento  em que uma pequena brecha de luz divina consegue penetrar na escuridão de seu poderoso e sombrio ego. Então, nesses casos, a sadhana não apenas é importante, como também fundamental.

Já para alguém que tem uma vivência interior mais profunda, que naturalmente silencia a  voz da mente/ego e se volta para Deus em seu  coração - a sadhana externa é apenas um detalhe.  Naturalmente, ela já faz esse trabalho de sensibilização do “canal” , ao longo do dia , pois aproveita todas as oportunidades disponíveis para relaxar o ego e estar interiormente em contato com a sua luz interna. Sua sadhana está, desta forma, integrada à  sua vida diária. Não é uma questão de formalidades , nem de obrigação- mas porque é/tornou-se natural para ela viver nesse estado de paz e abertura às inspirações divinas que estão sempre surgindo- mas que poucas pessoas percebem ou sentem.  Como disse Ramana a UG Krishnamurti quando  este último foi visitá-lo e perguntou-lhe : “Você pode me dar isso que você tem?”  Ao que o sábio  respondeu: eu posso lhe dar, mas você pode pegar?

Deus está sempre nos enviando impulsos de amor, luz e inspiração- a todos sem distinção. Mas quantos podem, conseguem, tem a sensibilidade e a capacidade de “captar” isso. E daquele  que captam, quantos os guardam no coração de forma a transformar suas ações e sua vida ?
Essa é  a diferença.

Quero deixar registrado que algumas dessas conclusões e esclarecimentos vieram misteriosamente após a leitura das Cartas de Cristo. É verdade que parte dessas respostas já tinham me chegado antes por intuição, mas as cartas ou confirmaram  o que eu já sabia, ou ampliaram e aprofundaram meu entendimento do tema. Agradeço a Deus por tudo e a Cristo que usou vários canais para enviar sua mensagem redentora de Luz nesse finalzinho de milênio, dentre eles , o próprio Jiddu Krishnamurti, o canal do Cristo Universal.

Alsibar

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