O que tem a ver uma castanhola com a
Consciência ? À primeira vista, nada.
Mas antes de começar meu relato deixe-me falar aos leitores que talvez não
conheçam deste fruto, para situá-los melhor. Aqui no Ceará tem uma árvore muito comum
conhecida pelo nome de castanhola. Ela é frondosa, alta e o fruto de um sabor muito peculiar. O
Juazeiro do Norte de antigamente era rico em “pés de castanhola”. Havia muitos em cada rua,
cada quarteirão, talvez por ser frondosa e sua sombra convidativa ajudando, assim, a amenizar os efeitos do Sol escaldante e do clima quente.
As crianças faziam a festa comendo desses
frutos já os adultos em geral não fazem questão. Quantas vezes não sentávamos no chão, pernas abertas com uma bacia cheia
de castanholas entre elas- comendo até se “empanturrar”. Atualmente nem me
lembro mais do seu sabor. Mas veio-me à mente um fato crucial na minha
infância relacionado à castanhola que marcou para sempre a minha vida.
Não lembro qual idade eu tinha. Mas
com certeza era menos de nove . Talvez uns sete ou oito. Éramos um grupo de
três: eu, minha prima Ivana Lígia e meu primo Júlio, a quem chamávamos de Neto.
Estávamos andando os três na avenida Padre Cícero quando, de repente caiu uma castanhola próximo a gente. Um de nós correu
para pegá-la. Era só uma castanhola que tinha que ser dividida pra três . Eu
sempre fui muito matreiro. Convenci-os a comer a minha parte primeiro. O
problema é que comi a castanhola quase toda. Não deixando quase nada pros
outros dois. Naquela época, meus instintos eram muito apurados, principalmente
os da gula. Eu era famoso na família por comer bastante de tal forma que me chamavam de “
Esmeril” ( instrumento de afiar ferramentas).
Minha prima olhou para a castanhola
quase toda comida, fitou-me furiosa e fez uma pergunta num tom de voz que até hoje ecoa nos meus ouvidos :
- Menino , tu não tem consciência
não?????
Ora, eu lá sabia o que era aquilo. Mas
aquela palavra deu um estalo na minha mente. Foi a partir daquele
momento que eu aprendi que havia algo chamado "consciência" que até então eu não sabia. Obviamente, o
sentido que ela usou foi de “ ter ciência, conhecimento do que é justo”. Ou seja, um sentido
interno de justiça para agir da forma correta em determinadas situações. No caso
específico: a partilha do fruto da castanhola para os três . Eu me lembro que na
hora fiquei confuso , me sentindo muito mal pelo meu erro. Mas, daí por diante , aquela palavra não saiu mais da minha cabeça. A
palavra “consciência” virou um mote, um mantra
que passou a fazer parte do meu repertório linguístico desde então.
Não é que deixei de ser danado , comilão ou passei a ter "consciência" de
uma hora pra outra. Mas aquela palavra me deu algo novo que até então eu não
conhecia: a de que você deve fazer o
certo independente dos outros ou do medo da punição. É entender que o certo deve ser feito independente de alguém estar olhando ou não .Isso é a tal da consciência.
Daí por diante essa palavra fez
morada na minha mente e no meu coração. E ao longo dos anos foi tomando novas nuances e sentidos. Hoje sei da importância de se ter uma consciência ética e moral bem formada. Não estou dizendo que já tenho esse sentido perfeitamente desenvolvido em mim, mas
busco fortalecê-lo e aplicá-lo no meu dia-a-dia. Nem sempre
consigo , todavia, eu tento. Mas também tenho consciência de que nem sempre consigo obedecer a
essa "consciência".
O outro sentido da palavra
consciência- e que foi fundamental pra mim- é o de " estar consciente", alerta,
vigilante, totalmente atento ao presente, ao que acontece no aqui agora. É a
mesma palavra que ouvi da minha prima na infância, mas com o sentido ampliado.
Estar consciente ou ter consciência de si é o caminho para se alcançar uma Consciência
maior, ou Consciência Suprema também chamada de
Deus.
Agradeço à minha família, meu avô,
avó , tias e tios e também aos meus primos e primas que tanto contribuíram para
que eu tomasse consciência do mundo e de mim mesmo. Eles ajudaram a regar o meu
jardim, jogando sementes que mais tarde
brotariam e me fariam ser quem eu sou hoje : crítico, consciente- mas humano
e falho como todos os outros.
Nessa perspectiva da jornada interior, de ampliação e amadurecimento da consciência , minha prima foi usada por Deus pra me dar meu primeiro "choque de consciência" , sendo assim foi, de uma certa forma, minha primeira Mestra.
Nessa perspectiva da jornada interior, de ampliação e amadurecimento da consciência , minha prima foi usada por Deus pra me dar meu primeiro "choque de consciência" , sendo assim foi, de uma certa forma, minha primeira Mestra.
Júlio, Lígia , Eu (topete) e nossa amada tia Yesus Barbosa |
Obrigado! Muito Obrigado!
Alsibar
2017
Querido sobrinho...
ResponderExcluir... Adorei o texto A Castanhola e a Consciência.
O que tem a ver uma castanhola com a consciência?
Entendo que Deus, naquele momento, se utilizou de três crianças para semear a sabedoria divina nos corações de vocês. A prova disso é que hoje vocês se tornaram pessoas de bem, pessoas justas que se preocupam com o próximo.
Imagina como Deus vai além de tudo. Como uma criança de aproximadamente 8 anos poderia falar sobre consciência... Nem ela própria sabia o que essa palavra significava na época... No entanto foi protagonista da história de cada um de nós..... da dela, da tua e da minha história...
O Texto me reportou, também, as ruas de Juazeiro toda arborizada, as ruas ainda de paralelepípedos e a criançada correndo pelas calçadas, onde os mais velhos, colocavam suas cadeiras de balanço, aquelas de macarrão para pôr seus assuntos em dia.... Que saudades.....
Esse relato trouxe lembranças viva dos ensinamentos dos meus pais queridos, o senso de repartir.... Todos nós sabíamos que precisávamos dividir o pão, a manga, a galinha, tudo que comíamos era dividido pra todos, até um ovo mamãe dividi para todos nós.... Recordo-me da cana caiana que papai descascava e cortava em gomo para todos nós.....Ali ele estava nos educando na Consciência da Partilha......
Obrigada pelo “Amada Titia”.....
YESUS BARBOSA