Muita gente considera a Meditação
algo confuso e difícil . Isso ocorre devido ao grande paradoxo: para compreender o conceito
de Meditação precisamos da mente, mas para meditar - não. O conceito teórico de
meditação nada tem a ver com a prática. Esta última dispensa a compreensão no nível mental-intelectual.
Não se pode compreender a meditação da mesma forma que se entende um assunto ,
uma novela, um livro, uma pessoa, ou um problema de matemática .
Meditar é ir além até
mesmo da compreensão. O que normalmente chamamos de compreensão pode e deve ser
usado para atuar no mundo do pensamento. Mas esse tipo de compreensão não
funciona no estado meditativo. Talvez resida aí um dos maiores obstáculos .As
pessoas não estão acostumadas a abordagem “não-mental”, na qual a mente conceitual, pensante - não participa do
processo de cognição. É difícil à mente aceitar que ela mesma não pode meditar.
O fato é que são tantos anos sondando o mundo através do pensamento condicionado
que isso se tornou um poderoso hábito- difícil de quebrar e quase impossível de se perceber.
Alguns especialistas
dizem que as crianças e os animais vivem
em eterno estado meditativo. De forma natural e sem nenhum esforço, essas
criaturas abençoadas já vivem no estado original búdico -tão procurado pelos espiritualistas.
O desafio dos adultos é retornar a este espaço interno de forma consciente,
deixando de lado vícios e posturas que envenenam o
cérebro, a mente e o espírito.
Na verdade, quando alguém começa a meditar
está ressignificando seu mundo. Meditar
é um reaprendizado. A pessoa irá aprender
uma nova forma de apreender o
mundo. O primeiro grande obstáculo é compreender que você é a mente. Quando a abandonamos, sentimo-nos como se não
existíssemos. E é exatamente assim.
Psicologicamente abandonamos uma dimensão- a do ego- e passamos a atuar
numa dimensão muito maior e desconhecida.
Nesta, os limites não são tão claros e por isso precisa-se de uma certa
dose de coragem e confiança para penetrá-la .
O fato é que não é
fácil se libertar dos hábitos mentais doentios consolidados ao longo dos anos. Mesmo
assim é importante não desistir. Não importa se a meditação não flui de forma
adequada no começo. A desintoxicação da mente é um processo que pode levar dezenas de
anos. Não é necessário esforço, mas o meditador precisa de atenção,
sensibilidade, intenção , energia e ainda uma grande capacidade desapego de si. Isso não significa abandonar o gosto por coisas materiais
ou sexo-por exemplo. Esse tipo de abandono
é ilusório pois é uma ação da própria
mente. O verdadeiro abandono é interior. É a coragem de ver a si mesmo como um
grande, indecifrável e misterioso “nada”.
O maior desafio do
meditador é desprender-se de si mesmo. Sendo o “si mesmo” a vontade de
experimentar, de entender, de colocar tudo dentro dos limites de sua
compreensão mental- mesmo "aquilo" que está além de sua capacidade e fora do seu campo de atuação.
Enquanto existir a sensação de “eu entendo” a meditação não flui. Até mesmo
isso tem que terminar. É nessa hora que a vivência autêntica e profunda começa.
Daí em diante, nada pode ser dito, pensado ou definido. Nada do mundo do pensamento
pode penetrar na dimensão do
Desconhecido- nem mesmo aquilo que pretensiosamente chamamos de compreensão.
Namastê!
Alsibar
http://alsibar.blogspot.com
Grande texto!!! Um dos paradoxos da mente: meditação. Somos aquilo que pensamos (como o corpo é o que comemos). Somos este fluxo caótico de pensamentos que passa, arrebata, desloca a consciência do centro. Meditar significaria começar a ser o além - pensamento, o além - condicionamento. Ser o selvagem sagrado, o inefável.
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