Krishnamurti: Responderei a todas estas perguntas, segundo o meu ponto de vista, sem basear as minhas respostas em qualquer autoridade que seja. Sei que todos vós desejaríeis que se fundassem as minhas respostas na autoridade, mas sinto dizer-vos que ficareis desapontados a esse respeito. Não vou instar-vos a aceitar aquilo que tenho como a Verdade absoluta; deixo-o ao vosso critério, pois somente este é valioso, somente este é duradouro, e somente ele vos deve guiar, sustentar e proteger. Prosseguiremos, pois, tendo isso em mente, e peço-vos paciência e atenção, pois bem sei que no próximo ano se não compreenderdes inteligentemente, fareis as mesmas perguntas.
Pergunta: Certos conceitos que tem sido emitidos a respeito de vós e de vossa obra parecem diferir tão fundamentalmente de vossa doutrina e da Verdade que expondes, que gratos vos seríamos se nos pudésseis expressar uma opinião, a esse respeito. Em 1925 elegestes sete Apóstolos, sendo que cinco restantes não haviam ainda alcançado o necessário grau de Arhat. Dizeis agora que não tendes discípulos.
Krishnamurti: Repito que não tenho discípulos. Cada um de vós é discípulo da verdade, desde que compreenda a Verdade e não se ponha a seguir outros indivíduos. Não tenho seguidores. Espero que não considereis a vós mesmos como meus seguidores, porque, se o fizerdes, estareis pervertendo e traindo a Verdade que eu defendo. Não tenho discípulos; não tenho seguidores; mas, se compreenderdes a Verdade que vos ofereço, em toda a sua simplicidade e grandeza, e amardes essa verdade pela sua própria beleza, tornar-vos-eis então discípulos dessa Verdade. Não tenhais cuidados sobre quem é discípulo e quem não o é. Que empenho o vosso de julgar os outros! Aspirais à qualidade de discípulo com o fito de serdes persuadidos ou dissuadidos, com o fito de vos arrimardes em alguém, de serdes protegidos por alguém; mas, meu amigo, quando dependeis de outra pessoa, ai de vossa vida! – Espero, pois que esteja agora perfeitamente claro que não necessito de discípulos nem de seguidores; porque eu sustento que ser discípulo de um indivíduo qualquer é trair a Verdade. A única maneira de alcançar a Verdade é ser discípulo da própria Verdade, sem necessitar de intermediário. Não vos choqueis, não vos sintais desapontados – a Verdade nem sempre é aprazível. A Verdade é rude para aqueles que não compreendem, mas a Verdade é amável, delicada, generosa e encantadora para aqueles que compreendem. Nessas condições, amigo não existe a categoria de discípulo, a não ser para aqueles que compreendem que ser discípulos não é seguir indivíduos, porém só a Verdade em seu sentido absoluto, a Verdade infinita. E vós que tanto vos deleitais como vosso culto das personalidades, que tanto vos deleitas com vossos intermediários, achareis difícil aceitar a Verdade, mas não estou aqui para vos agradar. Não vos torneis seguidores nem discípulos de indivíduos, mas tornai-vos o tabernáculo da Verdade sem princípio nem fim, e então as questões concernentes a quem é apóstolo, quem é discípulo, quem é Arhat, se dissiparão, porque nenhum valor tem.
Quando galgais uma encosta elevada e encontrais pelo caminho indicadores da direção, vós vos detendes para adorar esses indicadores, ou prosseguis a marcha, deixando-os para trás? Ponderai com toda a seriedade sobre este assunto; deliberai, criteriosamente, com vosso coração, e por esse meio alcançareis o entendimento. Não há compreensão no culto das personalidades. Os rótulos que adorais carecem de significação. Bem sei que terei dúvidas sobre o que estou dizendo, e que minhas afirmativas suscitarão em vós um sentimento de incerteza, mas, meu amigo, eu vos digo que a verdade nada tem que ver com as personalidades mesquinhas e tirânicas que adorais, sejam elas quais forem. A Verdade transcende todas as graduações, porquanto essas graduações só existem por causa das limitações humanas.
Pena que este texto seja, até hoje, de uma gritante atualidade.
ResponderExcluirSeguir a Verdade, somente a Verdade e nada mais do que a Verdade tem se mostrado como uma 'Odisseia' a qual poucos 'Ulisses' se atrevem...
Grato pelo texto e um confraterno abraço.