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quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
terça-feira, 28 de dezembro de 2021
A ESSÊNCIA DOS ENSINAMENTOS DE KRISHNAMURTI
J.
Krishnamurti publicou centenas de livros. A grande maioria foram compilações de
palestras e diálogos que ele fazia quase que diariamente. Por incrível que
pareça, a sua hiper produção que, em tese, deveria ajudar a esclarecer seu
pensamento, teve, em muitos casos, o efeito contrário.
A questão,
me parece, é que JK não queria dar respostas fáceis e prontas. Ele queria que o
ouvinte fosse capaz de investigar a questão juntamente com ele, acompanhando
seu direcionamento. Por isso, ele sempre começava do começo, lançando as bases,
destruindo ilusões e, só então, chegava à conclusão final.
Tendo isso
em vista, seria possível fazer um resumo da sua mensagem sem grandes
imprecisões e mantendo-se fiel à essência dos seus ensinamentos?
Penso que
sim. De fato, Krishnamurti ensina algo extremamente elementar: como
ver/encarar/observar 'aquilo que é'.
O problema é
que, em geral, as pessoas se excluem do fato quando deveriam ver a si mesmas-
seus pensamentos, sentimentos, reações e emoções - como parte integrante do fato.
Vamos pegar um exemplo: a ansiedade é o fato. Mas me separo do fato, tentando
ficar livre dele. Nesse momento crio um outro fato: a separação observador (
aquele que vê o fato de estar ansioso) e a coisa observada (a ansiedade). E aí
gera-se o conflito que passa a ser outro fato. E no momento em que vejo todo
esse processo e tento dele me libertar crio um novo fato. Isso vai aumentando o
conflito, a neurose e agravando o sofrimento.
Então, se
formos fiéis aos apontamentos de Krishnamurti bastaria ver o fato a que
chamamos "ansiedade" sem dar-lhe nome e, por conseguinte, sem tentar
controlá-lo, modificá-lo, nem mesmo
observá-lo já que a "observação" já aconteceu no momento em que você
se dá conta do fato.
Em suma, é
ver "aquilo que é' sem a
interferência da palavra ou pensamento. E, caso ocorra a interferência, vê-la
como parte inevitável do fato e não tentar modificá-lo. E, pronto, eis a
essência dos ensinamentos de Krishnamurti.
Alsibar Paz
22/12/21
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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
sábado, 18 de dezembro de 2021
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
A NOVA MODA DA TURMINHA 'PINEO-ADVAITA'.
Tenho observado, de uns tempos para cá, um considerável aumento de indivíduos se apoderando dos conhecimentos espiritualistas, notadamente - mas não exclusivamente - do advaita-vedanta sob um viés perigoso. Aparentemente, tais sujeitos - muitos deles com sérios transtornos psíquicos - encontraram nessa tradição milenar o veículo ideal para darem vazão à sua própria confusão e loucura.
A última mania dos mesmos é dizer que tudo que não presta em si mesmos e nos outros é do 'personagem' . E aquilo que está de acordo com o que eles consideram correto/bom vem do tal "Ser".
Todavia, a primeira pergunta que salta aos olhos é: quem faz esta divisão? Quem julga o que é do personagem e o que é do ' Ser'?
Fiz, certa vez, essa pergunta a uma pessoa adepta desse conhecimento superficial de inspiração advaita e ela me respondeu: é o Ser!. Mas será que é mesmo?
Ora, quem é que divide? Quem é que percebe? Quem classifica, analisa e julga senão a própria pessoa baseada em seus referenciais mentais (background)? No que leu, no que fantasiou, no que interpretou e acha que compreendeu?
Ou seja, quando classifico : tal atitude é do ser e tal atitude é do personagem (ego) quem faz esse trabalho é o próprio ego. E por mais que o ego o negue, continua sendo ele que está à frente de tais procedimentos.
Aquilo que as pessoas conhecem como "ser" não é o verdadeiro Ser, pois esse não pode ser conhecido, muito menos seus atributos e qualidades. Quando a mente qualifica a atitude de outrem como sendo egoica e a de si mesma como sendo 'divina', isso nada mais é do que a própria mente, o pensamento, o próprio ego do sujeito em ação.
Alguém pode perguntar: mas e suas análises Alsibar, não são também egoicas?
E eu respondo: alguma vez eu disse que não eram?
É claro que toda minha análise - inclusive esta que estou fazendo agora - parte do meu ego. Mas eu admito isso, ao contrário daqueles que me acusam de estar sendo vítima do 'personagem'. Estou, agora mesmo, admitindo e confirmando o que eu próprio ensino: sim, é o ego que pensa, reflete, raciocina, escreve, analisa e "julga". Eu sou o personagem, eu sou o ego! Nunca me consideraria o Ser pois quem se considera o Ser não é o Ser.
O que estou falando vem da minha própria experiência, mas tem respaldo nas mensagens de outros grandes mestres:
Buda, Krishnamurti e UG passaram uma vida afirmando: você nada mais é do que memória, desejo, medo, esperança, ansiedade, conflito, pensamentos, etc. Ou seja, ego/personagem. Em meio a esse caos, criamos uma entidade acima e além de nós mesmos a que chamamos de Ser, Atman, Deus, Consciência, etc. Mas, esse deus nada mais é do que uma ilusão mental, uma idealização, uma fuga.
Ora, qual é o fato?
O fato é que só existe o personagem formado por milênios de cultura, educação, memórias, condicionamentos, tradição, etc. O tal " Ser' foi inventado pelo próprio personagem para dar a si mesmo um status de nobreza, dignidade, permanência e elevação espiritual. Mas, essa entidade ainda é a extensão do próprio 'eu', ou seja, de sua mesquinhez, de sua confusão, de sua mediocridade.
Agora, quando você identifica e vê claramente essa artimanha sutil do ego/personagem aí sim, começa a libertação dessa que talvez seja a mais poderosa de todas as ilusões: aquela em que o próprio ego se disfarça de Ser para melhor "passar" e continuar controlando tudo de forma escondida, achando que seu 'plano' nunca será descoberto. Lamento decepcioná-lo.
Por Alsibar Paz
10/12/21
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
A PIMENTEIRA (Aroeira): A ÁRVORE DA ILUMINAÇÃO DE KRISHNAMURTI
Ojai é
abençoado com uma abundância de árvores de todas as variedades, mas nenhuma é
mais ilustre do que a velha e retorcida pimenteira na extremidade leste do
vale, onde Krishnamurti teve um nascimento espiritual. Ele tinha 27 anos e a
árvore era apenas uma muda. Krishnamurti teve seu nascimento físico em 1895, em
Madanapalle, uma pequena cidade no sul da Índia, mas seu nascimento espiritual
- aquele que importava para o mundo - ocorreu em 1922, logo depois que ele e
seu irmão chegaram pela primeira vez a Ojai. Quando ele morreu, em 1986, a
árvore havia crescido enorme e pesada e caiu uma noite durante uma tempestade.
Mas suas raízes ainda eram vitais e desde então cresceu magnificamente.
Evidentemente, a árvore é imortal e sua história dura para sempre.
A sequência
de eventos que trouxe Krishnamurti a Ojai abrangeu três continentes e quase um
século. A força motriz neste drama foi Annie Besant, a escritora, oradora e
ativista social que conquistou Londres em 1877. Annie foi a primeira mulher a
se defender perante um tribunal na Inglaterra. Em questão estava o direito de
publicar um pequeno volume, composto por um médico americano, com o título
desarmante de “Frutos da Filosofia”. O subtítulo do livro talvez fosse mais
indicativo de seu conteúdo: “The Private Companion of Young Married Couples”. A
intenção geral de “Frutos da Filosofia” era fornecer as informações mais
precisas então disponíveis para a prática do controle de natalidade.
Besant e seu
associado, Charles Bradlaugh, presidente da Sociedade de Pensamento Livre,
publicaram uma reimpressão de “Frutos da Filosofia” e foram prontamente presos
sob a acusação de disseminação de obscenidade. Eles passaram a noite na prisão.
Após a sua libertação, Bradlaugh implorou a ela que concordasse em interromper
a distribuição de "Frutos da Filosofia". Annie Besant, de 27 anos,
recusou. Ela não poderia ceder diante de uma lei tão manifestamente injusta e
negar às mulheres tais informações essenciais. Ela defendeu seu caso no
tribunal por três dias, examinando o mérito da questão de todos os ângulos -
legal, médico, social e ético. O poder de sua voz falando, juntamente com sua
lógica rígida, a catapultou para a fama. No ano seguinte à sua vitória no
tribunal, “Fruits of Philosophy” vendeu mais de 100.000 cópias.
A carreira
de Besant foi caracterizada por sua eloqüência pública, sua defesa apaixonada
dos direitos das mulheres e sua defesa precoce e poderosa pela independência da
Índia. Ao longo do caminho, ela teve uma longa ligação com George Bernard Shaw.
A maior conquista de sua vida, no entanto, pelo menos em sua opinião, foi sua
liderança na Sociedade Teosófica, começando com sua eleição como presidente em
1907. A Sociedade Teosófica (TS) era uma organização nascente, quase religiosa,
dedicada à irmandade do homem e a descoberta de poderes inexplorados no
universo. Os fundamentos da ST eram ocultos e esotéricos, mas com a visão de
Besant, a Sociedade adotou uma missão decididamente mais prática.
Besant
declarou que o estudo da história revela que a humanidade é guiada nas horas
mais sombrias pela presença de um Instrutor do Mundo, alguém como Jesus ou
Buda, que pode apontar o caminho em direção a uma forma nova e mais elevada de
consciência. Era missão da Sociedade, afirmou ela, descobrir um jovem que
pudesse mais uma vez cumprir esse papel e treiná-lo e alimentá-lo
adequadamente.
Dois anos
depois que Annie assumiu a presidência da ST, ela encontrou o que procurava. Em
1909, Krishnamurti era um menino de 14 anos, o oitavo de onze filhos, que vivia
em bairros primitivos fora do complexo que abrigava a sede internacional da
Sociedade Teosófica, em Adyar, na costa sudeste da Índia, do outro lado do rio
Adyar de Madras . Seu pai era um teosofista que serviu como clérigo para a ST.
Krishna, como era chamado, às vezes brincava na praia à tarde com seu irmão
mais novo, Nityananda. O sócio de Annie, Charles Leadbeater, observou
Krishnamurti ali e declarou que sua aura não continha partícula de interesse
próprio. As investigações clarividentes de Leadbeater nas vidas passadas de
Krishna revelaram uma linhagem ilustre, e em sua próxima visita a Adyar,
Krishna e
Nitya eram inseparáveis, então Annie colocou os dois sob sua proteção. Ela os
levou para a Inglaterra, contra as objeções do pai, onde foram devidamente
alojados, vestidos, ensinados e expostos aos melhores elementos da sociedade
inglesa. Krishna desenvolveu um gosto pela qualidade em roupas e carros, e
adquiriu tal habilidade no golfe que seu handicap estava abaixo do
esperado.
Por mais de
dez anos, Krishna concordou com as expectativas extraordinárias que Annie impôs
a ele. Ele parecia aceitar sem questionar o edifício da ideologia teosófica,
incluindo a crença nos "Mestres ascensionados", uma espécie de
panteão de indivíduos espirituais, residentes no plano astral, que se
interessavam pelos assuntos da humanidade e às vezes exerciam poderes ocultos
para o benefício da humanidade. Krishna carregava o manto de seu futuro
ostensivo com leveza e às vezes até brincava sobre isso entre aqueles de quem
era próximo. Mas ele escreveu artigos para revistas teosóficas, apareceu em
eventos teosóficos e parecia, para todos os efeitos, estar no caminho para
cumprir o destino que Annie traçara para ele.
Sob a
superfície, entretanto, outra realidade estava se revelando. Quando chegou aos vinte
e poucos anos, uma sutil sensação de descontentamento estava se enraizando
dentro dele e, pouco depois de chegar a Ojai, veio à tona de uma forma
altamente incomum.
Dois anos
antes de os irmãos virem para Ojai, Nitya contraiu tuberculose, e sua saúde
tornou-se um motivo de preocupação cada vez maior. Como resultado dos
deslocamentos geológicos causados pela Falha de San Andreas, onde duas placas
continentais estão se movendo inexoravelmente em direções opostas, o Vale Ojai
é torcido em uma orientação leste-oeste. Como consequência, o vale recebe uma
quantidade maior de luz solar do que receberia de outra forma, e sua
proximidade com o oceano e ligeira elevação também contribuem para um clima
mediterrâneo. Por esta razão, o vale foi outrora considerado propício para o
tratamento da tuberculose. AP Warrington, o presidente da seção americana da
ST, recomendou que Krishna e Nitya viessem a Ojai, onde havia uma propriedade
de seis acres, pertencente a uma família teosófica,
Duas
estruturas residenciais existiam na propriedade. Uma era uma longa e rústica
casa de fazenda conhecida como Arya Vihara (residência nobre); o outro era um
prédio menor chamado Pine Cottage. Tinha um quarto e uma sala, um alpendre com
vista para o vale e era ladeado por uma pimenteira jovem.
Quando
Krishna e Nitya chegaram ao porto de São Francisco, a caminho da Austrália, em
julho de 1922, foi a primeira vez que pisaram em solo americano. Acompanhados
pelo Sr. Warrington, eles pegaram um trem para o sul, para Ojai, e se estabeleceram
na propriedade na extremidade leste do vale. Foi também a primeira vez que os
irmãos ficaram por conta própria desde que Krishna fora descoberto, oito anos
antes.
Pouco depois
de sua chegada, Nitya descreveu o vale nestes termos:
Em um vale
longo e estreito de pomares de damascos e laranjais é nossa casa, e o sol
quente brilha dia após dia para nos lembrar de Adyar, mas ao anoitecer o ar
fresco vem da cadeia de colinas de cada lado. Muito além da extremidade
inferior do vale corre a longa e perfeita estrada de Seattle em Washington até
San Diego no sul da Califórnia, cerca de 3.200 quilômetros, com um fluxo
incessante de tráfego turbulento, mas nosso vale permanece feliz, desconhecido
e esquecido, por um a estrada vagueia por dentro, mas não conhece saída. Os
índios americanos chamavam nosso vale de Ojai ou o ninho, e por séculos devem
tê-lo buscado como refúgio.
Duas semanas
depois de chegar a Ojai, Krishna começou a tomar medidas para resolver seu
crescente descontentamento consigo mesmo e com a vida que estava levando. Ele
começou a meditar por meia hora todas as manhãs com a intenção geral, conforme
escreveu em uma carta a um amigo, “para aniquilar as acumulações erradas dos
últimos anos”. No início, ele relatou um bom progresso e afirmou que estava trazendo
um maior senso de harmonia aos vários níveis de sua personalidade. Em poucas
semanas, porém, um conjunto de sintomas bastante perturbador começou a surgir.
O que aconteceu depois disso foi registrado em longos e detalhados relatos
escritos separadamente por Nitya e Krishna; suas lembranças independentes se
encaixam em muitos aspectos, embora uma tenha sido escrita de uma perspectiva
objetiva e a outra conforme os eventos foram vivenciados subjetivamente. A
avaliação geral de Nitya foi que suas vidas mudaram para sempre; como ele
disse: "Nossa bússola encontrou sua estrela guia."
As
dificuldades começaram uma noite com uma dor na nuca de Krishna, e Nitya
observou ali um caroço, como se de um músculo contraído, mais ou menos do
tamanho de uma bola de gude. Na manhã seguinte, os sintomas tornaram-se
sistêmicos e mais agudos. Krishna reclamou de calor escaldante alternando-se
com períodos de tremores intensos. A dor em seu pescoço se espalhava para sua
cabeça e coluna, e às vezes ele ficava incoerente. Ele dormiu a noite toda, mas
os sintomas recomeçaram com ainda mais força no dia seguinte.
Esses e
outros sintomas persistiram por três dias. Na noite do terceiro dia, de acordo
com Nitya, Krishna declarou seu desejo de dar um passeio na floresta:
Agora ele
soluçava alto, não ousávamos tocá-lo e não sabíamos o que fazer; ele havia
deixado sua cama e se sentou em um canto escuro do quarto no chão, soluçando
alto que queria ir para a floresta na Índia. De repente, ele anunciou sua
intenção de dar um passeio sozinho, mas com isso conseguimos dissuadi-lo, pois
não achávamos que ele estivesse em condições de deambulação noturna.
Então,
quando ele expressou um desejo de solidão, nós o deixamos e nos reunimos do
lado de fora na varanda, onde em poucos minutos ele se juntou a nós, carregando
uma almofada na mão e sentando-se o mais longe possível de nós. Força e
consciência suficientes foram concedidas a ele para sair, mas mais uma vez ele
desapareceu de nós, e seu corpo, murmurando incoerências, foi deixado sentado na
varanda….
O sol se pôs
há uma hora e estávamos sentados de frente para as colinas distantes, roxas
contra o céu pálido no crepúsculo que escurecia, falando pouco, e a sensação
veio sobre nós de um clímax iminente; todos os nossos pensamentos e emoções estavam
tensos com uma expectativa estranhamente pacífica de algum grande
acontecimento.
É nesse
ponto que a pimenteira entra em ação. A narrativa de Nitya continua,
Então o Sr.
Warrington teve uma inspiração enviada do céu. Em frente à casa, a poucos
metros de distância, ergue-se uma pimenteira jovem, com folhas delicadas de um
verde tenro, agora carregadas de flores perfumadas, e o dia todo é o 'murmúrio
das abelhas', pequenos canários e brilhantes beija-flores. Ele gentilmente
exortou Krishna a ir para debaixo daquela árvore, mas a princípio Krishna não o
fez, então foi por conta própria.
Evidentemente,
sentar-se sob a árvore teve um efeito notável sobre o estado de espírito de
Krishnamurti e efetivamente pôs fim ao período de três dias de provação e
sofrimento. Na verdade, a árvore parecia precipitar uma culminação
extraordinária para toda a sequência de eventos. Nitya lutou para interpretar o
que ocorreu em termos teosóficos, embora Krishna tenha traduzido em uma
linguagem mais secular. Em qualquer caso, o que aconteceu a seguir agora é
lenda. Continuando com a narrativa de Nitya,
Agora
estávamos em uma escuridão estrelada e Krishna estava sentado sob um teto de
delicadas folhas negras contra o céu. Ele ainda estava murmurando
inconscientemente, mas logo veio um suspiro de alívio e ele nos chamou:
"Oh, por que você não me mandou aqui antes?" Então veio um breve
silêncio.
E agora ele
começou a cantar…. Enquanto Krishna, sob a jovem pimenteira, terminava sua
canção de adoração, pensei no Tathagata [o Buda] sob a árvore Bo, e novamente
senti invadindo o vale pacífico uma onda daquele esplendor, como se novamente
Ele tivesse enviado um bênção sobre Krishna.
Ficamos
sentados com os olhos fixos na árvore, imaginando se tudo estava bem, pois
agora havia um silêncio perfeito, e enquanto olhávamos, vi de repente por um
momento uma grande estrela brilhando acima da árvore ... Inclinei-me e contei
ao Sr. Warrington sobre o Estrela….
No dia
seguinte, novamente, houve uma recorrência do estremecimento e da consciência
semi-desperta em Krishna, embora agora durasse apenas alguns minutos e em
longos intervalos. O dia todo ele ficou debaixo da árvore em Samadhi…. Desde
então e todas as noites ele se senta em meditação sob a árvore.
A descrição
de Krishna do que ocorreu foi escrita alguns dias após os eventos:
No primeiro
dia, enquanto estava naquele estado e mais consciente das coisas ao meu redor,
tive a primeira experiência mais extraordinária. Havia um homem consertando a
estrada; aquele homem era eu mesmo; a picareta que ele segurava era eu; a
própria pedra que ele estava quebrando era uma parte de mim; a tenra folha de
grama era meu próprio ser, e a árvore ao lado do homem era eu mesmo. Quase
conseguia sentir e pensar como o curador de estradas, podia sentir o vento
passando pela árvore e a formiguinha na folha de grama que eu podia sentir. Os
pássaros, a poeira e o próprio barulho faziam parte de mim. Nesse momento, um
carro passou a alguma distância; Eu era o motorista, o motor e os pneus;
conforme o carro se afastava de mim, eu estava me afastando de mim mesmo. Eu
estava em tudo, ou melhor, tudo estava em mim, inanimado e animado, a montanha,
o verme,
Krishna
descreveu a noite do terceiro dia da seguinte forma:
Naquela
noite ... me senti pior do que nunca. Não queria que ninguém perto de mim nem
me tocasse. Eu estava me sentindo extremamente cansado e fraco. Acho que estava
chorando de mera exaustão e falta de controle físico. Minha cabeça estava muito
ruim e a parte superior parecia como se muitas agulhas estivessem sendo
introduzidas….
Eventualmente,
eu vaguei pela varanda e sentei-me por alguns momentos exausto e um pouco mais
calmo. Comecei a voltar a mim mesmo e finalmente o Sr. Warrington me pediu para
ir para debaixo da pimenteira que fica perto da casa. Lá eu me sentei de pernas
cruzadas na postura de meditação. Depois de algum tempo sentado assim, senti
que estava saindo do corpo. Eu me vi sentado com as delicadas folhas tenras da
árvore sobre mim. Eu estava voltado para o leste. Na minha frente estava o meu
corpo e sobre a minha cabeça eu vi a estrela, brilhante e clara….
Havia uma
calma profunda tanto no ar quanto dentro de mim, a calma do fundo de um lago
profundo e insondável. Como o lago, eu sentia que meu corpo físico, com sua
mente e emoções, poderia ser revolvido na superfície, mas nada, nada, poderia
perturbar a calma de minha alma.
Fiquei
extremamente feliz, pois tinha visto. Nada poderia ser o mesmo. Bebi das águas
límpidas e puras da fonte da fonte da vida e minha sede foi saciada. Nunca mais
poderia estar com sede, nunca mais poderia estar na escuridão total. Eu vi a
luz. Toquei a compaixão que cura todas as tristezas e sofrimentos; não é para
mim, mas para o mundo.
Já se
passaram cem anos desde que Krishnamurti foi descoberto na praia de Adyar, e o
significado de sua vida e obra ainda não emergiu totalmente. Sete anos após os
eventos sob a pimenteira, ele se afastou totalmente da Sociedade Teosófica.
Declarando que “a verdade é uma terra sem caminhos”, ele afirmou que nenhuma
organização, por mais benigna que seja suas intenções, poderia ajudar alguém a
descobrir a verdade ou levar uma vida de liberdade psicológica. Ele dedicou o
resto de sua vida a proferir palestras públicas destinadas a elucidar os
contornos da vida diária e da consciência. Ele insistiu que não estava falando
como qualquer tipo de autoridade, espiritual ou não, e fez questão de que suas
próprias experiências, incluindo os eventos sob a pimenteira, não fossem
divulgadas publicamente até o fim de sua vida.
Krishnamurti
morreu de câncer pancreático em Ojai, em sua casa em Pine Cottage, em 1986. A
pimenteira permaneceu como uma sentinela, protetora e acolhedora, o tempo todo.
Alguns anos antes de sua morte, um muro baixo de pedra foi construído ao redor
da árvore para proteger suas raízes e seu enorme tronco. Mesmo assim, em 1994,
a árvore tombou em sua base uma noite no meio de uma tempestade. Em vista de
sua história, os zeladores da árvore se abstiveram de removê-la e ela teve um
renascimento notável. Suas raízes ainda estão vivas e novos ramos e folhas
frescas continuam a crescer até hoje.
O
significado último do que aconteceu a Krishnamurti sob a pimenteira é uma
questão que ocupará as gerações futuras. Foi este um momento crucial em seu
desenvolvimento como o Instrutor do Mundo, como Annie Besant previra que ele se
tornaria? Ou marcou o início de sua ruptura com a Teosofia? Ou, paradoxalmente,
eram os dois? Talvez só a pimenteira saiba com certeza.
Postado em 6
de março de 2015 por Eric Williamson
Fonte:
http://krishnamurti-america.blogspot.com/2015/03/the-tree-where-krishnamurti-was-born.html
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
UMA MATRIX DENTRO DA MATRIX
Há uma
tendência entre os espiritualistas modernos a condenar as crenças tradicionais.
Deus, céu, salvação, fé, oração, virtude, etc. são, muitas vezes, vistos com
desdém. Para eles, acreditar nessas coisas é dormir o sono da Matrix, ou seja,
aquele sujeito ainda não "despertou" do sono da 3D.
Ao longo de
quase quarenta anos de pesquisas e investigações, cheguei à conclusão de que
esses espiritualistas, apesar de condenarem as crenças alheias, também têm suas
próprias prisões conceituais. Senão, vejamos:
A crença no
Deus tradicional, antropomórfico, foi substituída pela crença em uma
"Luz", algo abstrato, amorfo, indefinível, universal, eterno,
onipotente e onipresente. A crença na salvação foi substituída pela crença na
Iluminação - um estado de completa conexão com a luz divina que, quando
alcançado, tornará o sujeito rico, próspero, saudável, bem casado e eternamente
feliz. A crença no diabo medieval foi substituída pela crença na Matrix, em
Maya, nos Arcontes, nos reptilianos e nos iluminates. Os santos tradicionais
foram substituídos pelos gurus, espíritos de luz, deuses com quatro braços e
cabeça de animais, mestres ascencionados, etc.
Não estou
criticando as crenças de ninguém mas apenas apontando que nenhuma crença se
torna melhor do que a outra simplesmente por que uma foi abandonada e a outra
aceita como verdade absoluta; continua sendo crença.
Em suma:
tudo aquilo que não é vivenciado e experimentado é uma crença, seja o que for.
Sei que muitos podem contra-argumentar dizendo que viram os mestres, os ets,
que tiveram contato com eles em sonhos, viagens astrais, viram e ouviram tudo
aquilo que afirmam ser verdade. Mas os manicômios ainda estão cheios de gente
que veem, ouvem e interagem com um monte de coisas imaginárias. Assim, qual
seria a atitude mais sábia?
Não tenha
nada como uma verdade absoluta. E nunca ache que suas crenças são mais
verdadeiras do que as dos outros simplesmente por serem suas. Isso o protegerá
de suas próprias ilusões. Afinal de contas, você não tem como saber até que
ponto você mesmo, com suas crenças, não criou sua própria Matrix dentro da
grande e poderosa Matrix.
(Alsibar
Paz)
29/11/21
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sexta-feira, 26 de novembro de 2021
A UNIDADE DA CONSCIÊNCIA E A CONSCIÊNCIA DA UNIDADE
Uma reflexão sobre o texto do vídeo “CONSCIOUSNESS WITHOUT LIMITS” ( CONSCIÊNCIA
SEM LIMITES)
Acabei de assistir ao vídeo, “ Consciousness Without Limits” (Consciência Sem Limites) pela quarta vez. O vídeo é sem dúvidas muito bom e muito bem narrado, todavia, passa a impressão de ser o último palito de fósforo na escuridão da caverna da ilusão. Lamento decepcioná-lo mas não é. Apesar da boa intenção, das lindas figuras de linguagem, das belas imagens, do ótimo som e da narração primorosa, em termos de conteúdo não apresenta muita novidade. É o mesmo clichê das tradições e dos gurus, um pouco mais floreado, sem dúvidas. E, talvez, resida aí o seu grande perigo.
O vídeo começa criando um ambiente de expectativa ao afirmar que ele lhe proporcionará uma experiência única. Sim, como eu disse, é um vídeo muito bem produzido e, obviamente, que em casos assim, a experiência é bem diferente mesmo. Mas, insisto, aí reside mais um motivo de prudência e cuidado: apesar do vídeo proporcionar uma experiência bastante singular aos sentidos, ele pode criar a ilusão de que aquilo que é sentido ao longo da audição é uma pequena amostra do despertar. Não é. Explico: através dos diversos estímulos sensoriais, o vídeo cria uma experiência muito parecida com aquelas produzidas festas "raves" e tecno. É exatamente a mesma coisa: estimulação dos sentidos e nada mais. Todavia, no caso em questão, com uma roupagem mais “nobre” para dar um quê de espiritual.
Mas o conteúdo se supera em imprecisões e confusões ao misturar verdades profundas com afirmações duvidosas. Vamos analisar algumas:
1. Reconhecimento da Realidade
Esse é um dos maiores erros dos gurus e de seus seguidores. Por definição, a Realidade é sempre o Desconhecido, portanto, não pode ser re-conhecida. Como pode se ela é viva, sempre nova e se está sempre se renovando? Aquilo que é re-conhecido foi conhecido anteriormente e, se foi conhecido, NÃO é o verdadeiro Desconhecido. Sendo assim NÃO é a Verdade Atemporal.
2. A limitação da linguagem
O vídeo acerta quando fala da limitação da linguagem. Mas erra quando, contrariando sua própria premissa, adentra em um campo onde a linguagem não pode penetrar sob o risco de imprecisões e adulterações. Daí por que você só pode atuar dentro dos limites do conhecido e nunca tentar penetrar no Desconhecido. A linguagem pode apenas apontá-lo vagamente.
3. O limite entre o “eu” e o “não-eu”
O vídeo fala de uma forma como se houvesse realmente um limite, visto que esse seria o “primeiro limite que traçamos”. Logo depois ele afirma que não existe limite nenhum. Na verdade tanto o “eu”, quanto o “não-eu” e os “limites” são todos conceituais, tudo está no campo do eu, do conhecido. Ou seja, o próprio “não-eu” — enquanto conceito, ideia, percepção — é a continuidade do eu.
4. Quem tira o “limite primário”?
Outro equívoco importante; o vídeo diz: “ se tirarmos esse limite primário, todo o edifício se desmorona”. A pergunta é : quem tira? O próprio eu de quem estou tentando me libertar? Quem faz esse serviço? Se não existe eu, quem vai tirar o “limite primordial” do eu?
5. “Se conseguirmos ver através do limite primário a unidade não estará
longe”
Novamente, faço a pergunta: quem vê, para quê e por quê? Sutilmente, o vídeo cria um objetivo, um tempo, um “vir-a-ser”, uma condição: “se conseguirmos...” Automaticamente o sujeito pensa: se eu conseguir, estarei livre. Está inserido o fator tempo, o futuro psicológico que é, ele mesmo, a própria prisão da qual o eu tenta se libertar.
6. Entrar na “ Consciência da Unidade”?
Quem entra? Entra aonde? Não há lugar, nem ninguém, nem estado nenhum para se entrar. Caso haja, então não é a Unidade pois o “eu” estará lá “entrando”. E se o “eu” está lá conscientemente entrando na unidade, então, por definição, não é a unidade, já que “eu” e “unidade” são excludentes.
7. Nos comportamos como se o “eu” existisse
Exatamente, o vídeo acerta nesse ponto, mas não percebe que ele mesmo, o próprio autor do texto/vídeo está se comportando como se o “eu” fosse uma realidade, nos diversos pontos que já detalhei aqui.
8. “Quando formos em busca do “eu” primário, não descobriremos qualquer vestígio”.
O autor já revela o final da investigação. Ele já diz o que você vai encontrar: nada. Sim, parece correto. Mas esqueceu de apontar que ali ainda existe um “eu” procurando por si mesmo. E esse “eu” que procura e constata sua própria inexistência, ainda é a continuação sutil do “eu”. Falando de outra forma: quem faz essa constatação? Quem fica consciente de todo esse processo? Não é o próprio “limite primário? Ou seja, o “eu consciente de si”, sendo assim, ele continua ali, ou não?
9. Procurar a “sensação de um eu separado”
Vamos destrinchar essa afirmação. Quem busca a sensação do “eu separado”? Não é o próprio “eu separado”? Ou seja, o “eu separado” se distancia de si mesmo, para procurar a si mesmo. Faz algum sentido? Óbvio que não. O próprio “eu separado” ao buscar a si mesmo, continua se separando a si mesmo. O que, novamente, é um disparate.
10. O observador, a observação e o observado
Nessa altura do vídeo, temos a impressão que finalmente vai sair algo profundo, todavia, logo depois vem a decepção. Ele diz: o observador, a observação e o observado são aspectos de um mesmo processo e que “nunca, em tempo algum, um deles pode ser encontrado sem os outros”. Como assim? É uma outra confusão. Krishnamurti passou uma vida falando da ausência de separação entre observador e coisa observada. Ou seja, não existe a ‘separação” pois o observador é uma criação da mente. Só isso. Mas, a observação sem a divisão “observador versus coisa observada” existe, claro. Isso é um ponto chave dos ensinamentos de JK. E, particularmente, comprovei essa verdade por minha própria experiência. Sendo assim, você encontrará sim a “observação” sem o “observador”. Nesse ponto do vídeo, há um problema de tradução. E, aparentemente, o tradutor o fez exatamente porque ficaria contraditório e sem sentido. No original ele diz “ não existe o observador, o observado, nem o observar. São três aspectos que designam a experiência da observação.” Mas essa última parte foi traduzida assim: “são três aspectos que designam a experiência do testemunhar”. Ou seja, no original ele fala que há sim somente a observação.
11. A experiência: você não pode ouvir o próprio ouvinte
Como assim? Óbvio que pode, basta fazer algum barulho. Se o ouvinte está em silêncio, obviamente que ele não poderá ser ouvido. Como se vai ouvir algo que não faz barulho? Então, a afirmação: “você não pode ouvir o ouvinte dos sons” é inválida. Faça algum barulho que você ouvirá sim o ouvinte. Onde está o ouvinte? Ouvindo, oras. Novamente, o vídeo cria uma nova divisão: se você apenas ouvir os sons, não haverá nenhum problema, estará tudo certo. Mas quando ele diz para procurar o ouvinte, aí, nesse momento ele cria a divisão, ele cria a separação: ouvinte e som. Ou seja, o próprio texto cria uma nova separação, um problema onde, antes, não existia nenhum.
12. “Fundir-se com a totalidade de sons lá fora”
Quem se funde? O “eu” que o próprio vídeo afirma não existir? Novamente, a divisão, a separação é criada através de um suposto apontamento de unidade. A unidade já está aí, não existe nenhum “eu” pra fundir-se com nada. Simples.
13. “Quando ouvi o sino, havia apenas o som!”
Certíssimo, há apenas o ouvir, assim como há apenas o observar. A meu ver esse pequeno relato da iluminação do mestre zen foi o ponto máximo do vídeo. De forma simples, clara e objetiva o mestre foi mais conciso e preciso do que todo o palavreado do vídeo.
14. Ninguém jamais encontrou um “eu” separado da experiência.
É o tipo de afirmação vaga, parcial e, portanto, temerária. Toda a humanidade vive a experiência do “eu” separado. E ele pode sim ser encontrado; é isso o que o verdadeiro autoconhecimento faz: lhe aponta onde está o “eu separado” para que você possa identificá-lo, ver sua verdade e, assim dele se libertar.
15. Você não ouve o som do trovão, você é o som do trovão!
Ora, óbvio que você ouve. Para isso que existem os ouvidos. Mas só existe o escutar. Assim como disse o mestre zen citado pelo próprio autor: só existe o som. Ora, se o mestre não ouvisse o som do sino, como ele poderia percebê-lo e dizer que só existia o som do sino? Então, melhor do que dizer: “você é o som” seria dizer: “só existe o ouvir do som”. Ou seja, a ação, a experiência sem a entidade separada, sem o ouvinte.
16. Seu estado atual é de
consciência da unidade
Não. O estado atual é de separação. O “Estado de Unidade” pode acontecer caso haja uma percepção, um vislumbre dessa verdade não como uma teoria ou conceito, mas como uma vivência direta. E isso não pode ser feito pelo próprio “eu” pois o eu só pode atuar dentro do seu próprio campo de experiência. Ou seja, do conhecido, da fragmentação, da dualidade.
17. Não existe “alguém” que faça nada!
Ao final, ele fala sobre a ideia de “anatta”— não átman, não eu — do Budismo. Todavia, até chegar a essa compreensão profunda e transformadora, o eu continuará existindo como ilusão, como ignorância, como névoa, como miragem. E o indivíduo só se livrará dela se ele mesmo perceber e ver essa verdade. Até lá, ele não pode simplesmente acreditar que não é um “eu separado”. Muito pelo contrário, ele terá que ver o funcionamento do seu próprio “eu” em ação e de como sua mente cria o observador separado. Somente, aí, ao ver e constatar diretamente essa verdade é que ele pode realmente se libertar da separatividade. Até lá, todas essas afirmações não farão sentido nenhum pra ele pois o fato, a verdade para ele é a separação, não a unidade.
18. Quando nos desapegarmos da ideia de um “eu isolado”.
Novamente a pergunta: quem se desapega? O próprio eu que já é, por natureza, isolado? Separado?
19. Medite, olhe para dentro!
O vídeo termina reafirmando os clichês e as práticas milenarmente repetidas pelas religiões, tradições e gurus. Quem olha para dentro e por quê? Quem medita e por quê? São questões cruciais que todo aquele que anseia pela verdade deve se fazer caso queira realmente descobrir a verdade sobre si mesmo e sobre as questões apontadas nesse artigo e no vídeo.
20. Nós nos identificamos com nossa mente!
Pronto! Nos identificamos com as ideias, as crenças e os conceitos — como esses que o vídeo aponta. Então, é preciso questionar isso que o autor chama de “ Filosofia Perene”, mas que, a meu ver, é uma deturpação da mesma. Sendo assim, não se identifique com nada, nem com os supostos conceitos da filosofia perene, nem mesmo com os apontamentos desse texto. Investigue e descubra por si mesmo sua veracidade ou falsidade.
Por fim, quero dizer que a UNIDADE DA CONSCIÊNCIA não tem consciência de sua própria unidade. Se tiver, não será a verdadeira unidade e sim, mais uma ilusão.
P.S: Quero apenas fazer outra observação: ao longo do vídeo é claramente citado vários pontos chaves dos ensinamentos de Krishnamurti: observador e coisa observada, experimentador e experiência, pensador e pensamento, etc. todavia, em nenhum momento seu nome é citado, por que será? Uma pessoa que conhece Alan Watts, a tradição Zen, os ensinamentos de Buda, certamente deve ter conhecido os ensinamentos de JK. O curioso é que só seu nome foi excluído do vídeo, não suas ideias e ensinamentos. Muito estranho, não?
By Alsibar Paz
26/11/21
Link do vídeo: Consciousness Without Limits
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
O LEGADO ( MALDITO) DO OSHO ( Bhagwan Shree Rajneesh)
Melanocetus johnsonii, mais conhecido como Peixe Diabo Negro, é uma espécie que vive nas profundezas oceânicas abissais onde não a luz não penetra. Ele atrai suas presas através de uma pequena “falsa luz” que é usada como isca para atrair peixes menores. Fascinados por aquela luz, as presas não têm chances contra a mordida e o veneno poderoso do Peixe Diabo Negro. Quando esse texto começou a ser gestado, logo de cara me veio a lembrança desse peixe como a imagem perfeita para simbolizar o Osho: uma falsa luz espiritual cujo único objetivo era prender aqueles que, por sorte ou azar, entravam em contato com ela. O veneno do Osho não era apenas viciante e paralisante, espiritualmente falando, ele era muito mais perigoso do que se imaginava.
Peixe Diabo Negro |
É inegável a contribuição do Osho para a libertação espiritual e sexual de toda uma geração de buscadores. É inegável o quanto ele ajudou a espalhar nomes de místicos, líderes e sábios famosos como Krishnamurti, Kabir, Ramana, UG Krishnamurti, Gurdjieff, mestres do budismo e do sufismo Zen, etc. Ninguém pode negar também que muitos dos seus ensinamentos são belos, poéticos, sábios e , por que não, profundos?
Mas, o que pouca gente sabe, principalmente aqueles que não viveram na época em que o mesmo estava vivo, é que todos esses aspectos positivos do fenômeno Osho tinha um endereço certo, uma clara intenção por trás: fazer adeptos, criar uma nova religião, criar um séquito de fanáticos seguidores, criar uma comuna poderosa e autossustentável, fundar uma cidade com o nome do Rajneesh, dominar tudo o que estivesse pela frente, passar por cima de todos, etc. o objetivo final parece trama de filme de ficção : dominar o mundo ou, pelo menos, uma boa parte dele. Muita gente despertou a tempo desse pesadelo — eu mesmo fui um deles. Quando ele morreu, havia uma sensação de que finalmente, o maldito Osho deixaria de fazer suas vítimas ao redor do mundo. Ledo engano!
Recentemente recebi um vídeo de um ex-sanyasin do Osho em que ele dizia que não estava nem aí para o que Osho fazia, pois sua presença era o que havia de mais importante nele. É desse tipo de coisa que falo: Osho se foi, mas deixou um séquito de seguidores cegos que estão dando continuidade ao seu projeto malicioso. Ao redor de todo o mundo e, principalmente, no Brasil pessoas ávidas por poder espiritual estão ocupando o espaço vazio deixado pelo Osho. Não é um fenômeno isolado e também não é algo novo. O próprio Michel Holly Hell da Netflix já usava as mesmas técnicas do Osho para enganar e explorar sexualmente os jovens. Basta assistir ao documentário Holly Hell para ver as incontestáveis semelhanças entre os dois: gestos, técnicas, termos, linguagem, abordagem, etc. Os sociopatas viram no Osho a receita infalível para conseguirem alcançar a excelência no campo da manipulação e controle mental usando a espiritualidade como pano de fundo. E o resultado?
Michel Holly Hell ou Andreas |
Não há uma pesquisa séria nesse campo pois é um assunto
delicado e tabu, afinal, estamos falando de liberdade religiosa que, no Brasil,
é sagrada e intocável. Não é à toa que João de Deus passou uma vida estuprando,
enganando e explorando as pessoas sem nunca ter acontecido nada com ele —
apesar das várias denúncias ao longo do tempo. Se não tivesse sido a
repercussão nacional trazida pelas reportagens da TV, com certeza, ele ainda estaria
fazendo vítimas.
No caso dos imitadores do Osho, muitos ainda estão em começo
de carreira, suas vítimas ainda são poucas e muitos das suas nefastas atitudes
não podem ser tipificadas como crimes ou ilegalidades. Em geral, são pequenos
deslizes: exploração da fé, preços exorbitantes por uma sessão, lavagem
cerebral, hipnotismo, mentiras, ameaças veladas e desonestidade. Coisas
realmente tão subjetivas que fica difícil tipificar e provar seu caráter
perigoso e ilegal. Alguns desses gurus procuram se prevenir juridicamente,
fazendo com que a vítima assine um termo em que exime o guru e sua organização
de toda e qualquer responsabilidade por qualquer dano, financeiro, psicológico
ou emocional que a vítima venha eventualmente a sofrer . Um total absurdo.
Ao longo desse meu contato com as redes sociais, tenho conhecido muitos gurus ou protótipos de gurus: pessoas que sonham em se tornar tão famosos, ricos e poderosos quanto o mestre. Alguns estão seguindo direitinho a cartilha maligna deixada pelo seu líder: minta, engane, explore, afague, hipnotize, controle. Use palavras bonitas, verdadeiras e tocantes: mesmo que não sejam suas, não precisa dar os créditos. Apenas fale as palavras que as pessoas querem ouvir. Denuncie os gurus, diga que não é guru, mas, na prática, seja seu líder e guru supremo. Faça seu marketing em cima da imagem de um homem sábio, iluminado e autorrealizado. Manipule de forma sutil para que as pessoas não percebam que estão sendo manipuladas. Fale, sempre que possível, palavras sem nexo. Quando a mente está dominada, não importa o que você fala nem o que você faz. E, assim, aos poucos vá fazendo sua carreira de guru de sucesso.
Osho se foi, mas deixou um legado maldito que sem dúvidas
repercutirá por muitos anos e, talvez, séculos através daqueles que estão copiando
seus métodos nocivos de controle mental. Muitos desses candidatos a Bhagwan
brasileiro usam a imagem de outros gurus mais populares e menos polêmicos: uma
forma de penetrarem mais facilmente na mente das pessoas sem grandes resistências.
Afinal, se apresentassem o Osho como mestre, a resistência seria bem maior por
motivos óbvios. Mas, logo se vê que seu modus
operandi é exatamente igual ao do Osho, não do outro guru que ele apresenta
ao público como sendo seu mestre.
Frequentemente, escuto notícias de alguém que foi vítima
desses gurus, alguns chegaram, inclusive, a me procurar — totalmente arrasados
e destruídos: espiritualmente, emocionalmente e financeiramente. Não penso que
quem causa essas coisas, de forma consciente e intencional, se livrará do carma
que estão acumulando para si. Lamentavelmente, a droga do poder e do sucesso,
não os permite enxergar que não estão agindo como iluminados, mas como
monstros. A ilusão de maya ataca a
todos, inclusive aos supostos gurus. Em sua sanha por poder, fama e dinheiro,
usam de tradições espirituais sérias e da imagem de gurus autênticos para
satisfazer seus intenções megalomaníacas. O estrago que fazem na psique das
pessoas é incomensurável. Até onde isso vai dar?
Enfim, pouco ou nada posso fazer. O que posso estou fazendo:
esclarecendo, avisando as pessoas para não caírem nesses golpes. Para ficarem
atentas contra os perigos e armadilhas nesse campo da espiritualidade. A falsa
luz é uma realidade, um fato. Pesquise, analise, questione, duvide, não siga,
não obedeça, investigue por si mesmo, seja seu próprio mestre. Não entregue sua
vida nas mãos de ninguém. Não se deixe atrair pela falsa luz. E, aos que estão
fazendo isso, mesmo sabendo o mal que estão causando, fica aqui o recado de
Jesus, o mestre dos mestres: “ a quem mais foi dado, mais será pedido!”
By Alsibar Paz
24/11/21
sexta-feira, 19 de novembro de 2021
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
MEU DEUS NÃO É O DE SPINOZA
O Deus de Spinoza' é no mínimo estranho e contraditório. Ao mesmo tempo que desautoriza os Mandamentos, ao longo do texto, não faz outra coisa a não ser mandar. Manda a pessoa parar de rezar e ir desfrutar a vida, como se as duas coisas fossem excludentes. Não dá pra rezar e, ao mesmo tempo, aproveitar a vida?
O Deus de Spinoza me parece bastante neurótico. Ao mesmo tempo que ele diz que não se incomoda com nada, ele passa o texto todo falando exatamente das coisas que não quer e que, portanto, parece incomodá-lo sim. Se incomoda com as rezas, as escrituras e até com os louvores.
O Deus de Spinoza ao mesmo tempo que diz estar nas montanhas, nos rios, nas praias, também diz para pararmos de procurá-lo fora. Realmente, me parece uma imagem muito mais neurótica do que aquela apresentada pelas religiões tradicionais.
Meu Deus não é o deus de Spinoza. Meu Deus é amoroso, compassivo e compreensivo com nossos erros, falhas e limitações.
Meu Deus é o Deus de Krishna que diz: ' Aquele que me oferecer, com amor e devoção, uma folha, uma flor, frutas ou água, Eu as aceitarei.'
Meu Deus é o Deus de Yogananda que diz: eu estou em todas os lugares e em todos os templos onde quer que haja um coração sincero e devocional, independente de crenças e tradição religiosa.
Meu Deus é puro amor e, por amor, ele faz a justiça, não para castigar ninguém mas porque é através das leis divinas que as entidades vivas aprendem, amadurecem e evoluem espiritualmente.
Meu Deus está tanto dentro quanto fora de mim. E se ele está em tudo, então os cânticos, rituais, símbolos e orações - quando feitos com sinceridade e amor - são meios limitados, mas legítimos, de se buscar uma aproximação com o Sagrado.
O meu Deus aceita sim o perdão como meio de cura, mas nunca o sentimento de culpa. O perdão é um artifício útil para elevar a consciência daquele que, por ignorância, cometeu algum ato leviano e imprudente. Nem todos precisam do perdão, mas alguns sim: tanto para si mesmos, quanto para com os outros.
Sim, não existe o inferno enquanto lugar ou uma região específica. Mas existe o inferno da consciência, da dor do conflito, do sofrimento mental. É impossível dizer quanto tempo durará, anos, séculos, vidas? Vai depender da dureza do coração de cada um. Deus não castiga ninguém, é o próprio homem quem se castiga através de suas atitudes, pensamentos e sentimentos.
Deus não é contra as crenças, se o fosse, não teria feito o homem com o poder de criá-las. Cada pessoa acessa Deus conforme suas condições e entendimento. Algumas pessoas precisam da crença para lhes dar força, motivação e esperança. O nível das crenças é como o 'leite' do Apóstolo Paulo, o nível do 'místico' é como a carne. O alimento Espiritual é dado conforme a capacidade e limitação de cada um.
Deus não rejeita ninguém pois é pura fonte de Amor e Compaixão. Apesar disso, suas Leis são perfeitas, eternas e imutáveis. E se ele está em um amanhecer, no anoitecer e na Natureza, ele também está em todos os objetos, inclusive nos livros sagrados. E mesmo que elas tenham sido deturpadas pelos homens, é possível extrair-lhes o tesouro do Dharma, quando o coração se abre à Verdade. Dizer que Deus está em tudo e em todos não o exclui, obviamente, das escrituras, da literatura, da música, da arquitetura, da dança, da pintura e das Artes em geral.
Esse é o meu Deus. Que não é meu, mas de todo mundo, inclusive de crentes e ateus.
By Alsibar Paz
quarta-feira, 10 de novembro de 2021
CORRA, ANTES QUE VOCÊ MORRA!
De uns tempos desses para cá, talvez por conta do advento da
internet e a facilidade de acesso às informações, tem aumentado o
questionamento acerca da natureza da realidade tangível. Afinal, essa dimensão
na qual nascemos, crescemos, vivemos e morremos é real ou tudo não passa de um
sonho? Há muito tempo que cientistas, gurus, religiosos, místicos, estudiosos,
sábios, filósofos, ateus e pessoas comuns debatem essas questões em seus
artigos, escritos, conversas, ensinamentos e, agora, nas páginas, grupos, cursos
da internet e whatsapp. E eu fico pensando: que diferença faz quem está certo
ou errado nessa questão? O que vai mudar? O sofrimento diminui no sonho ou, ao
contrário, aumenta? O que muda na vida da pessoa se ela acreditar em uma coisa
ou noutra?
A meu ver é um debate totalmente inútil. Fico tentando descobrir algo mais útil: por
que as pessoas se debruçam sobre tais questões cuja resposta nunca saberão com
certeza? Desde o tempo de Sidarta Gautama, o Buda, já havia calorosos debates
sobre tais assuntos. Buda evitava respondê-las pois sabia que a resposta não
iria fazer diferença nenhuma na vida do sujeito . Certa vez ele contou a
parábola de um homem que fora atingido por uma flecha e que dizia que só
permitiria que lhe tirassem a flecha depois que soubesse sua origem, quem a
atirou, porquê, qual casta etc etc. Então, Buda perguntou aos discípulos: o que
provavelmente aconteceria a este homem? Os discípulos responderam: certamente
morreria. Então, ele disse: da mesma forma, não se preocupem com esses tipos de
questões por que elas são inúteis. Tratem de tirar a flecha causadora do
sofrimento, caso contrário morrerão antes de encontrar as respostas.
Particularmente, acredito que há níveis de realidade. O sonho
é um nível de realidade, a vida que vivemos nesse mundo é um nível de realidade
mais concreto em relação ao mundo onírico; o despertar é um nível mais real em
comparação ao estado mental ordinário; depois que morrermos iremos para outro nível de realidade e assim por diante. Mas, repito, que diferença faz você concordar ou
discordar de mim? Ou ao contrário, se eu concordar ou discordar de você? Por
que não tentamos ser mais práticos e inteligentes? Qual é o fato? O fato é que sofremos
e criamos todo tipo de artifícios para fugir da nossa realidade – seja ela de
que natureza for.
Mais recentemente, Krishnamurti, um buda moderno, afirmava
que a casa está em chamas e quando você percebe esse fato, o que você faz? Vai
ficar se perguntando se é realidade ou um pesadelo ou vai tentar sair
imediatamente da casa? Como você saberá se é sonho ou não? Você vai ficar
esperando encontrar as respostas para só depois tomar as providências necessárias? Penso que
essa é uma atitude, no mínimo, imprudente.
Se sua casa interna arde no fogo do sofrimento esse é o fato,
o que é. Em meio ao incêndio, a própria mente se torna confusa e sem clareza
para responder corretamente a tais questões. Além do mais, não há tempo. O
tempo está passando, gaste suas energias e foque sua atenção no que realmente
importa: salvar sua vida. Se for só um sonho, você acorda. Se for real, você se
livra da morte. Se percebeu que o prédio está caindo desça e saia
imediatamente. Se o barco está afundando, coloque logo um salva-vidas - sua
vida pode depender de uma ação rápida e enérgica. E se começar um incêndio em
sua casa, apague-o, saia ou chame os bombeiros. É totalmente tolo, inútil e
imprudente ficar se perguntando se a tragédia que está acontecendo diante da
sua cara é sonho ou realidade.
A nossa casa interior está sendo consumida pelo fogo do sofrimento.
O conflito e a ansiedade estão diariamente fazendo vítimas fatais. Mesmo que a
vida nesse plano seja uma ilusão, o sofrimento que se vive é bem real. Negar a
realidade não nos livrará das consequências de nossas ilusões, fugas e imprudências.
É necessário assumir o protagonismo da nossa vida e agir no sentido de evitarmos,
dentro das nossas possibilidades, mais sofrimentos além daqueles que a vida nos
impõe. Aja, antes que seja tarde demais.
Tire a flecha ou corra, antes que você morra!
sexta-feira, 29 de outubro de 2021
terça-feira, 26 de outubro de 2021
O NEO-ADVAITA E A DESUMANIZAÇÃO PELA INSENSIBILIZAÇÃO
Quando os grandes mestres autorrealizados como Sankara,
Ramana, Nisargadata dentre outros, proferem sentenças como essas, eles partem
de uma percepção muito avançada acerca da natureza essencial do “eu”. Ou seja, eles se movem da experiência para o
discurso e não o contrário. Isso significa que eles falam de uma experiência real,
direta e objetiva e não do que os outros disseram ou do que leram. Foi essa
vivência que os fez perceber que por
trás da aparência visível da realidade,
existe “ Algo” maior que alguns chamam de Luz, Consciência, Deus, Fonte, Amor,
Imensurável, etc. Até mesmo os
cientistas já reconhecem que a natureza da matéria não é sólida, que tudo é
feito de pequeníssimas partículas de energia, luz e, mais profundamente, espaço
e vazio. Então, não há nada de novo nos discursos dos gurus neo-advaitas. O que há de novo é a má
interpretação que estão fazendo desse conhecimento, gerando um fenômeno perigoso
entre seus adeptos: a desumanização do homem através da insensibilização.
De acordo com essas pessoas, o sentir está ligado ao corpo e,
portanto, não devem sentir pois eles são a “ Consciência” e a consciência não
sente, não muda, não se apega, não se identifica. Desta forma, criam um estado de
completa abstração da realidade para se refugiarem em um estado mental idealizado
em que se sentem seguros e protegidos. Para eles, quanto maior a insensibilidade,
maior a espiritualidade. É claro que não estou dizendo que todos fazem isso,
mas que há uma tendência, por parte de alguns, em confundir insensibilização
com elevação espiritual. O resultado é a temerária construção de um estado mental em que o ser humano é reduzido a coisa, pois
se se lhe tira a sensibilidade, tira-se também sua humanidade.
Ora, Jesus — para alguns, o maior de todos os iluminados —
nunca defendeu tal tese. Pelo contrário, o que se vê nele é uma vida de muita
emoção, sensibilidade, compaixão e paixão. Krishnamurti, um iluminado moderno,
por várias vezes enfatizou a importância da sensibilidade, de sentir o vento,
os cheiros, as cores, a beleza da natureza, etc. Isso nos leva a refletir o
seguinte: embora algumas correntes religiosas conservadoras condenem os
sentidos ensinando, inclusive, a controlá-los, essa atitude pode não passar de
um grande equívoco. De acordo com Krishnamurti o controlador é o controlado e, sendo assim, o controle é
uma ilusão pois cria mais conflito e sofrimento. Outros iluminados de outras
correntes como Yogananda, Sri Yuktéswar, Lahiri Mahasaya e até Babaji, em
nenhum momento deram a entender que a realização espiritual significaria a
extinção total das emoções e dos sentimentos. Então, tudo leva a crer que está
havendo uma espécie de “ilusão de ótica coletiva” nisso tudo.
O problema é o seguinte: cada pessoa só pode falar daquilo
que vivencia. O ideal de Ramana de uma vida ascética, apartada do corpo, das
emoções e da realidade sensorial era verdadeiro para ele que escolheu o caminho
da renúncia. Por ser uma alma elevada,
sua mente mergulhava naturalmente em profundo êxtase, alcançando com facilidade
estados elevados de consciência. Todavia, quando uma pessoa comum, com a mente
inquieta e cheia de conflitos, fica apenas tentando imitá-lo, não é a mesma coisa.
Ao invés de realização espiritual passa a ser invenção mental. Em suma, o que
acontece é que a mente começa a condicionar a si mesma, criando para si um
mundo ideal em que se exclui tudo aquilo que possa significar dor.
Infelizmente, isso não é advaita mas sim uma deturpação do advaita. Quando a mente
se divide em “Personagem e Ser”, ou quando ela resiste a qualquer emoção que possa perturbar
sua suposta paz, ela não está sendo não-dualista. Pelo contrário, ela está
criando resistência pela não identificação, o que constitui uma fuga da
realidade. É uma forma esperta que a mente encontra de evitar a dor e, de
quebra, ainda ganhar o status de “Desperto”.
Mas, a verdade é que isso não funciona por muito tempo. Se a cada desafio,
problema ou situação difícil, houver, por parte do sujeito, apenas uma negação
mental do fato, sob a justificativa de
“não ser real”, o que ele faz
não é muito diferente daqueles que usam drogas , bebem ou tomam remédios
para esquecer dos problemas. Certamente que tal atitude não demonstra lucidez
espiritual, mas fraqueza, imaturidade e covardia.
Grandes mestres como Jesus, Krishnamurti, Sri. Yuktéswar e
Nisargadata não fugiram da vida, não a negaram. Pelo contrário, vivenciaram-na
em todas as suas nuances, desde o prazer de um bom vinho, uma boa comida, uma
boa companhia até a dor de uma crucificação, da traição ou de um câncer mortal.
Não há vida sem sentimentos ou emoção. Jesus nunca seria um grande mestre se
não tivesse sentido em si mesmo a dor dos sofredores e oprimidos. Sendo assim,
se você está começando a estudar o advaita através desses gurus ocidentais
modernos, tenha muito cuidado não só com aquilo que eles lhe transmitem, mas
também com a sua própria interpretação. Não se deixe impressionar pela beleza
dos seus discursos e tenha o máximo de
cautela com aquilo que eles ensinam. Não se deixe levar tão facilmente por suas
palavras e mantenha-se atento para perceber as sutilezas do discurso que podem
levá-lo à desumanização. Mantenha o "desconfiômetro" ligado pois, embarcar numa
ilusão como sendo realidade pode até ser bom no começo, mas, no final, pode
custar-lhe muito mais caro do que você imagina.
By Alsibar Paz
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domingo, 24 de outubro de 2021
SOBRE KRISHNAMURTI E YOGANANDA
Recentemente, houve no grupo de mentoria
que oriento, uma discussão acerca da validade de ensinamentos espirituais
diferentes daquele apontado por Krishnamurti e no caso específico, o caminho de
Yogananda. É inevitável que haja um choque entre essas duas visões tendo em
vista que ambos apontam caminhos diversos para o mesmo objetivo. Mas quem está
correto? Por que essas duas correntes, aparentemente verdadeiras, são tão
diferentes entre si?
Paramahansa Yogananda e seus
mestres estão inseridos no contexto da tradição religiosa hindu. Mesmo que sua
mensagem seja universal, não tem como se desprender da influência da tradição,
sociedade e cultura em que viviam. Isso aconteceu com todos os grandes mestres.
Buda dialogou com o Brahmanismo, a corrente hindu predominante na sua época.
Seus ensinamentos e visão estão recheados de termos e expressões dessa
tradição, seja afirmando, refutando ou simplesmente referenciando. Jesus,
apesar de ter vivido a experiência do Despertar como um fenômeno Universal, Eterno e Humano, não
teve como se livrar do peso da cultura e da sociedade em que estava inserido.
Os elementos de seu discurso e ensinamentos, tais como: termos, linguagem,
exemplos e expressões foram inevitavelmente tirados do seu próprio background,
do contexto em que ele vivia e fora criado. O discurso é um fenômeno social,
influenciado e condicionado pelo meio em que se vive. No caso de Krishnamurti,
por mais que tenha se livrado do peso da sua educação e cultura em que crescera,
e por mais universalista que se tentasse ser, era inevitável falar sobre
mestres, tradições, religiões, condicionamentos, organizações, meditação,
iluminação, etc. —até mesmo como forma de refletir sobre suas influências e limitações
em nossas vidas. A questão, portanto, não é se livrar totalmente dessas
influências, mas saber até que ponto ela atrapalha e altera nossa percepção da Verdade, daquilo que é
verdadeiro.
Yogananda não lutou contra o
seu meio, condicionamento e tradições — pelo contrário, ao reafirmar e
confirmar seus valores e crenças, tornou-se ele mesmo uma peça fundamental para
sua legitimização e validação. É preciso ter o discernimento para saber onde
termina o campo puramente social, cultural e religioso e começa a experiência
pura da verdade universal. Os elementos puramente culturais são, por definição,
superficiais e convencionais. Servem para comunicar, dentro de suas limitações,
a experiência que está além de toda linguagem. Por isso que JK sempre
enfatizava que a experiência não é palavra, a coisa não é o objeto, a palavra
não é a coisa. A “coisa” está muito além de toda expressão, mas a linguagem é
fundamental para poder transmiti-la aos outros. Consciente dessa questão e
vendo que, muitas vezes, as pessoas se apegam ao meio e esquecem o fim, adoram
o dedo mas esquecem a Lua, JK enfatizou essa problemática de uma maneira
radical, como nem mesmo o Zen o fez. Assim fazendo evitou, dentro dos limites
do possível, usar palavras e expressões com significados estabelecidos pelas
tradições religiosas. Muitas vezes, perdia quase uma hora tentando explicar os
novos sentidos que estava dando a cada palavra e expressão. Assim, termos como
: observação, atenção, inteligência, meditação, verdade, ordem, tempo, Deus, ação, religião, etc. foram todos ressignificados.
Yogananda e seus mestres não foram por essa direção. Ao contrário, tentaram
trazer para a humanidade um novo impulso, um novo ânimo e esperança dentro da
própria tradição. Conseguiram? Talvez sim, talvez não.
O caminho de Yogananda e
seus mestres se apresenta como uma nova perspectiva dentro do caminho milenar
da Yoga Tradicional. Sua Kriya Yoga nada mais é do que a releitura do caminho
dos grandes mestres do passado, os Rishis ou grandes sábios da Índia antiga. Ao
apresentar ao mundo a existência de grandes almas iluminadas (Yogues) vivendo
nesse mundo, alguns deles, como seu próprio mestre, a poucas quadras de sua
casa, ele ajudou a tirar o iluminado do pedestal de distanciamento e
sacralidade presente no imaginário popular. O próprio Yogananda, talvez
influenciado por essa perspectiva idealizada, duvidou da iluminação de seu
próprio mestre e o abandonou, indo em busca de um Yogue distante, recluso e
renunciante. Ora, por que será que Yogananda abandonou seu mestre? Claro que
ele não fala. Todavia, é óbvio que de alguma forma ele não estava satisfazendo
suas expectativas e aspirações. O fato é que Sri. Yuktéswar era um homem
inserido na sociedade e foi
caracterizado no livro como um mestre rígido, às vezes imaturo, às vezes
infantil — quando, por exemplo, não cumprimentou Babaji mostrando-se ressentido por ele não
ter lhe esperado no Kumb Mela — e muito emotivo ( por exemplo, quando Yogananda
foi para o Ocidente ele caiu em prantos). Ou seja, talvez ele fosse, “humano
demais” para os padrões de Yogananda. Mas, ficou a grande lição que aponta na
mesma direção de Krishnamurti: somos todos seres humanos sujeitos a falhas,
erros e imperfeições.
Krishnamurti e Yogananda são
muito diferentes, por certo. Seus ensinamentos não têm nada a ver um com o
outro exatamente porque um segue a tradição e o outro a nega. Enquanto
Yogananda diz que há um caminho científico para Deus, Krishnamurti, por sua
vez, o nega radicalmente. Ambos, têm lá suas razões. Particularmente, acredito
que o sucesso de Yogananda se deve à presença física dos mestres. Como descrito
por ele mesmo, os próprios mestres intervinham de forma direta na evolução
espiritual do discípulo. Um fenômeno realmente raro, mas que nem sempre dava
certo. O próprio Yogananda descreve que vivia pedindo a seu mestre pela experiência
da Consciência Divina ou Samadhi e este, por sua vez, lhe dissera várias vezes
que ele não estava preparado. Mas, o certo é que só o Samadhi em si não é o
bastante para revelar Deus. A pessoa precisa estar também preparada para
entender seu significado profundo e estar madura o bastante para que aquela
experiência cause uma transformação positiva em sua vida. Além disso, um
Samadhi muito intenso, ou na hora errada, pode trazer grandes problemas na
psique do sujeito. Daí o cuidado e a cautela do seu mestre. Samadhi por
Samadhi, o chá está aí para quem quiser, mas quantos se iluminaram através de um
Samadhi artificialmente provocado? Ou até mesmo por um Samadhi acidental?
Ninguém. Muitos ficaram com sérios problemas psicológicos.
Em Krishnamurti não existem
mestres, nem métodos, nem organizações. Os mestres da tradição de Yogananda já
se foram. E o que começou como um movimento vivo de almas espiritualmente elevadas, agora tornou-se
mais um movimento religioso nos moldes das religiões tradicionais. O dedo
sobrepujou-se à Lua. Atualmente, não há
apenas uma organização da tradição iniciada por Babají, há diversas, sem falar nas brigas
jurídicas em torno da verdadeira “Kriya Yoga “, da verdadeira tradição e dos
direitos autorais do legado deixado por esses grandes mestres que, diga-se de
passagem, não estavam nem aí para isso. A história se repete, os mesmos erros
do passado se repetem. E aí fica mais claro entender por que Krishnamurti
evitou com todas suas forças criar uma nova organização religiosa.
Se por um lado as organizações são importantes para perpetuar a memória e
preservar os ensinamentos dos grandes mestres, por outro lado elas se tornam
fator de divisão e conflito.
Por fim, cada um siga o
caminho que mais lhe apetece e com o qual mais se identifica. Independente do
caminho de Yogananda estar certo ou não, não é isso que vai iluminar ou impedir
a iluminação daqueles que realmente estão preparados para ela. Ramana Maharshi
nunca praticou nada, não seguiu método nenhum e não teve mestres, mesmo assim, naturalmente, a Verdade despertou dentro dele. Já Nisargadatta Maharaj
teve um guru que lhe ensinou um método que ele seguiu e em poucos anos se
iluminou. Como disse UG, não há regras, não há meios, ninguém sabe como isso
acontece. De repente, “por um golpe de sorte você tropeça nisso”. Mas, sinceramente acredito que tanto Yogananda quanto Krishnamurti têm sua validade.
Aquilo que falta em Krishamurti - uma abertura maior ao misticismo mesmo que seja
apartado da tradição convencional- pode ser encontrado em Yogananda. E o que
falta em Yogananda - essa percepção de que Deus/a Verdade não pode ser
subjugada, nem alcançada por nenhum método direto - pode ser encontrada em Krishnamurti.
Na dúvida, duvide de ambos e descubra por você mesmo a verdade acerca dessa
questão.
By Alsibar Paz
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