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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

A NOVA MODA DA TURMINHA 'PINEO-ADVAITA'.



Tenho observado, de uns tempos para cá, um considerável aumento de indivíduos se apoderando dos conhecimentos espiritualistas, notadamente - mas não exclusivamente - do advaita-vedanta sob um viés perigoso. Aparentemente, tais sujeitos - muitos deles com sérios transtornos psíquicos  - encontraram nessa tradição milenar o veículo ideal para darem vazão à sua própria confusão e loucura. 

 A última mania dos mesmos é dizer que tudo que não presta em si mesmos e nos outros é do 'personagem' . E aquilo que está de acordo com o que eles consideram correto/bom vem do tal "Ser".

Todavia, a primeira pergunta que salta aos olhos é: quem faz esta divisão? Quem julga o que é do personagem e o que é do ' Ser'?

Fiz, certa vez, essa pergunta a uma pessoa adepta desse conhecimento  superficial de inspiração advaita e ela me respondeu: é o Ser!. Mas será que é mesmo? 

Ora, quem é que divide? Quem é que percebe? Quem classifica, analisa e julga senão a própria pessoa baseada em seus referenciais mentais (background)? No que leu, no que fantasiou, no que interpretou e acha que compreendeu? 

Ou seja, quando classifico : tal atitude é do ser e tal atitude é do personagem (ego) quem faz esse trabalho é o próprio ego. E por mais que o ego o negue, continua sendo ele que está à frente de tais procedimentos.

Aquilo que as pessoas conhecem como "ser" não é o verdadeiro Ser, pois esse não pode ser conhecido, muito menos seus atributos e qualidades. Quando a mente qualifica a atitude de outrem como sendo egoica e a de si mesma como sendo 'divina', isso nada mais é do que a própria mente, o  pensamento, o próprio ego do sujeito em ação.

Alguém pode perguntar: mas e suas análises Alsibar, não são também egoicas?

E eu respondo: alguma vez eu disse que não eram? 

É claro que toda minha análise - inclusive esta que estou fazendo agora - parte do meu ego. Mas eu  admito isso, ao contrário daqueles que me acusam de estar sendo vítima do  'personagem'. Estou, agora mesmo, admitindo e  confirmando o que eu próprio ensino: sim, é o ego que  pensa, reflete, raciocina, escreve, analisa e "julga". Eu sou o personagem, eu sou o ego! Nunca me consideraria o Ser pois quem se considera o Ser não é o Ser.

O  que estou falando vem da minha própria experiência, mas  tem respaldo nas mensagens de outros grandes mestres:

Buda, Krishnamurti e UG passaram uma vida afirmando: você nada mais é do que memória, desejo, medo, esperança, ansiedade, conflito, pensamentos, etc. Ou seja, ego/personagem. Em meio a esse caos, criamos uma entidade acima e além de nós mesmos a que chamamos de Ser, Atman, Deus, Consciência, etc. Mas, esse deus nada mais é do que uma ilusão mental, uma idealização, uma fuga.

Ora, qual é o fato?

O fato é que só existe o personagem formado por milênios de cultura, educação, memórias, condicionamentos, tradição, etc. O tal " Ser'  foi inventado pelo próprio personagem para dar a si mesmo um status de nobreza, dignidade, permanência  e elevação espiritual.  Mas, essa entidade ainda é a extensão do próprio 'eu', ou seja, de sua mesquinhez, de sua confusão, de sua mediocridade.

Agora, quando você identifica e vê claramente essa artimanha sutil do ego/personagem aí sim,  começa  a libertação dessa que talvez seja a mais poderosa de todas as ilusões: aquela em que o próprio ego se disfarça de Ser para melhor "passar" e continuar controlando tudo de forma escondida, achando que seu 'plano' nunca será descoberto. Lamento decepcioná-lo.

Por Alsibar Paz

10/12/21

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