Para alcançarmos a totalidade de uma percepção gravada em qualquer mídia — seja escrita, oral, em vídeo ou áudio — é fundamental termos alguém que não esteja separado da época e da interconexão social do momento da transmissão. Um instrutor busca auxiliar as pessoas que vivem naquele contexto histórico e o impacto causado nas futuras gerações é uma consequência natural de sua ação solícita em promover uma vida social embasada na inteligência amorosa, fraternal e cooperativa.
Por exemplo, o emissário Paulo de Tarso conseguiu traduzir em sua vida e escritos, a essência de Cristo: profundamente amoroso e benigno para com todos os povos, muitas vezes rigoroso com as autoridades religiosas de sua cultura. Após o seu grande despertar, Saulo alcançou uma maior percepção da mensagem de Cristo compreendendo as injustiças e divisões que ele tanto combateu, injustiças essas que ele próprio, quando ainda era um extremista religioso, cometeu.
Avançando para a nossa era e falando de Jiddu Krishnamurti, é fundamental entender o mundo em que ele atuava: um cenário de guerras mundiais, corrupção religiosa, afloramento da psiquiatria e psicanálise, surgimento de diversas teorias científicas com grandes impactos na medicina e tecnologia. Além disso, havia uma invasão de sociedades filosóficas e espiritualistas, criando um sincretismo entre dogmas, culturas e pensamentos orientais e ocidentais, resultando em impactos profundos nos ensinamentos tradicionais como a Yoga e a meditação, com seus inúmeros autoproclamados gurus e líderes espirituais.
Hoje, em meio à transformação gerada pela internet, computadores e smartphones, enfrentamos um excesso de informações fragmentadas, gerando, muitas vezes, desinformação. A ideia de misturar tudo e criar uma "vitamina" para livrar o ser humano da angústia é ilusória. Nesse contexto, a Sabedoria Universal trouxe pessoas como o Professor Alsibar Paz com a missão de organizar e colocar cada coisa em seu devido lugar. Num momento em que há muita confusão sobre a equivalência entre os ensinamentos de Osho e Krishnamurti, é vital que alguém com a vivência e percepção profunda desses movimentos possa esclarecer e orientar acerca do caminho do correto aprendizado, ou seria melhor dizer, desaprendizado?
O Professor Alsibar, com sua experiência e profundo entendimento, afirma categoricamente que há grandes diferenças entre os ensinamentos de Jiddu Krishnamurti e os líderes da Nova Era — algo que ele pode afirmar com propriedade devido à sua experiência, práticas e vivência nesses movimentos. Muitos, como eu, já foram seduzidos por palavras bonitas e poéticas de escritores e líderes espirituais famosos. Essas palavras servem, muitas vezes, como um anestésico para nossos conflitos internos, mas não nos libertam do ciclo vicioso do conflito, hipnose, torpor e prazer.
Imaginemos que estávamos na Galileia ouvindo o Sermão da Montanha diretamente de Cristo há dois mil anos. Embora maravilhados, nosso intelecto não conseguia traduzir completamente aquilo que ouvimos. Depois, ao longo dos séculos, ouvimos muitas inverdades sobre Cristo e a humanidade acabou esquecendo suas palavras. Hoje, ouvimos que devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, ou que o “observador é a coisa observada”. Mas apenas saber recitar essas palavras não nos garante nada.
Então, por que ainda vivemos em sofrimento e conflito? Por que não existe uma transformação individual e social que faça da vida uma escola onde possamos aprender a cada dia e momento? Como alguém pode defender uma ideologia política e, ao mesmo tempo, citar Krishnamurti ou afirmar que existe um método de meditação krishnamurtiano?
Tais incongruências são esclarecidas pelo Professor Alsibar neste livro. Uma obra incrível e factual, nascida da didática e da busca de um homem comprometido em aliviar o sofrimento humano, elucidar dúvidas e que é, ele mesmo, a prova viva das suas descobertas e constatações. Ele fala com propriedade, verdade e simplicidade sobre assuntos tão complexos que ficamos perplexos e com aquele sentimento de : " poxa era só isso? Agora tudo faz sentido! ”
Os apontamentos deste livro são frutos de uma vida dedicada ao ensino e à busca sincera pela percepção clara e simples da espiritualidade. Muitos deles são respostas a questões propostas por pessoas em diálogos. De uma forma única e original, o professor nos proporciona explicações que servem para todas as gerações, independente se a pessoa conhece Krishnamurti há anos ou nunca ouviu falar dele. A vida é exaltada nesta obra de uma forma que abrange todos os campos da nossa mente, independentemente da profissão, crença ou formação. O único requisito para a leitura deste livro é ser humano. Se você deseja ter um encontro profundo e genuíno com a sua humanidade, é isso que encontrará nas páginas seguintes.
Já para os fãs e admiradores de Krishnamurti, o autor possibilita uma tradução fidedigna do grande instrutor indiano, graças ao seu profundo conhecimento do inglês e a vivência direta dos ensinamentos. Meu propósito com estas palavras é unicamente incentivar aqueles que estão na caminhada espiritual a se aprofundarem em cada apontamento aqui publicado. Não percam a oportunidade de perceber, aprender e desaprender.
É uma grande oportunidade, e se este livro chegou até nós, é porque a graça nos sobreveio.
Por: Paulo Pacheco
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