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sábado, 26 de janeiro de 2019

A GUERRA DE NARRATIVAS



Quando  adolescente, eu achava que para se entender um fato, fosse qual fosse, bastaria ter conhecimento do mesmo. Por exemplo, aconteceu um acidente, um assassinato, uma eleição, uma guerra etc.  e isso encerrava o caso. Ledo engano. Muito mais tarde,  fui  entender que por trás de todos os fatos existe algo fundamental que funciona como uma espécie de lente através do qual o fato é percebido por um ou outro ângulo: a narrativa. Então, aqueles que fazem a narrativa detêm o poder da lente. E esse poder é tão forte que pode mudar os rumos da história e os destinos dos povos e nações.

Sim, vivemos uma guerra de narrativas e não há como escapar disso. Elas nos bombardeiam todos os dias, desde a infância, através dos meios mais simples aos mais complexos de tal forma que um dos maiores desafios do homem moderno é saber separar a narrativa do fato. Ora,  se quando se é um adulto já é difícil tal habilidade, imagina quando se é criança ou adolescente- ainda incapaz de perceber  que há sempre uma intenção por trás das narrativas. Assim, os bombardeios de narrativas começam ali mesmo na família. Desde cedo, nos ensinam narrativas de cunho  religioso ou mítico,  que nos ajudam na formação dos valores e personalidade. Mais tarde, na escola, começam as narrativas históricas, políticas e sociais que dizem pretender preparar os jovens para a vida e o trabalho.  Depois, começam as narrativas da mídia que supostamente nos informam  mas que, de fato,mais manipulam do que informam.

Entre o fato e a narrativa existe a verdade.  E a grande dificuldade é saber extrair da narrativa  sua casca de manipulação e subjetividade para que reste apenas a pura polpa da verdade. Peguemos alguns exemplos práticos para ilustrar o tema: o período histórico brasileiro de exceção entre os anos 1964 e 1985 foi uma ditadura militar ou regime militar? O impeachment da Dilma foi golpe ou ação natural da democracia? E o impeachment de Collor? Venezuela é ditadura ou democracia? Maduro é um tirano ou um estadista democrático? Lula é  um perseguido político ou apenas um político corrupto? E assim por diante. Ao ler cada uma dessas questões, cada pessoa terá uma reação diferente dependendo de sua própria lente-narrativa que traz dentro de si.

Em um mundo cada vez mais multimidiático o papel e a importância das narrativas não pode ser ignorado, nem subestimado. Faz parte do processo de autoconhecimento conhecer seus próprios filtros através do qual se faz a percepção,  leitura e  compreensão do mundo . Libertar-se dos seus próprios filtros pode ser difícil e até doloroso, pois pode  significar abrir mão de suas próprias opiniões, convicções  e supostas verdades. Então, da próxima vez em que ouvir uma notícia, saiba que existe uma narrativa por trás dela e que esta pode não ser necessariamente a verdade. Estar consciente do papel das narrativas como processos internos de filtragem para a interpretação e compreensão do mundo externo pode libertar o homem da tirania invisível que o reduz a um mero marionete de ideologias- sejam elas de esquerda, centro ou direita.

Alsibar, Jan- 2019

https://alsibar.blogspot.com/2019/01/a-guerra-de-narrativas.html

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