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domingo, 25 de outubro de 2015

O Caminho Direto (Vichara Marga) de Sri Atmananda Krishna Menon




Muitos consideram que Atmananda Krishna Menon foi um dos três titãs do ensinamento advaita do século XX, uma pequena lista na que também se incluem a Ramana Maharshi e Nisargadatta Maharaj.

Krishna Menon nasceu em 1883 em Peringara, próximo de Tiruvalla no estado de Travancore (agora parte do atual Kerala). Com a idade de 10 anos, Krishna Menon foi visitado por um sábio, um sannyasin que lhe deu japa, uma iniciação em forma de mantra ioga. Praticou durante vários anos sem êxito, regressou à escola e, enquanto permanecia na cama desperto pelas noites atormentado pela necessidade de Deus, de repente se encontrou com o mesmo sannyasin que havia conhecido quando era criança e lhe disse que logo encontraria a um mahatma.
Depois de completar seus estudos de leis, se converteu em advogado do governo e inspetor de polícia.

Se diz que Krishna Menon rezou intensamente durante muito tempo para encontrar a um verdadeiro sat-guru, um autêntico mestre ou rishi/santo iluminando. Finalmente, isto conduziu ao seu primeiro encontro em Calcutá com um Swami Yogananda, que não deve confundir-se com Paramahansa Yogananda, o guru que tornou conhecido a muitos ocidentais o Kriya Ioga e a meditação.
Seu encontro durou somente uma noite, porém alterou o curso de sua vida. Depois deste encontro começou a praticar Bhakti Ioga e Raja Ioga, assim como jnana ioga, o caminho do conhecimento, Krishna Menon realizou o Ser em 1923, chegando a ser conhecido como Sri Atmananda. Mais tarde, depois de começar a ensinar, ele utilizou unicamente o jnana ioga, criticando abertamente os iogas Bhakti e Raja.

Ele dizia que sua carreira profissional lhe auxiliou a descobrir a Verdade, já que uma profissão dentro da polícia ou o exército oferece uma base ideal para uma prática espiritual, porque esta profissão oferece em particular o máximo de obstáculos e tentações. Isto é particularmente importante para os estudantes ocidentais, que vivem numa cultura moderna de distração e tentação que não tem comparação.

Sri Atmananda Krishna Menon influenciou profundamente muitos ocidentais, incluindo a John Levy, que escreveu A Natureza do Homem Segundo o Vedanta relacionado com o enfoque de Atmananda, e Wolter Keers, o estudante holandês de Sri Atmananda e Ramana Maharshi. Ananda Wood, um discípulo direto de Sri Atmananda Krishna Menon, também escreveu extensamente sobre ele.
Sri Atmananda foi uma importante influência para Jean Klein e, através dele, para seus estudantes, incluindo a Francis Lucille. Francis Lucille por sua vez influenciou Rupert Spira.

Alguns ensinamentos de Sri Atmananda Krishna Menon

"Como podem pensamentos que nascem e somem em mim, ser diferente de Eu mesmo? Quando há pensamentos, eu estou Me vendo mesmo; quando não há pensamentos, estou permanecendo na Minha própria glória."

"A Verdade é aqui e agora. Assim é em toda parte. Se não for encontrada, em primeiro lugar, aqui e agora, ela não será encontrada em nenhum outro lugar e em nenhuma outra hora."

"Por mais que você possa tentar matar o eu, ele só vai se tornar mais forte. Então você tem que abordá-lo do outro lado. Todo mundo entende, apesar do eu. A verdade é que o eu morre automaticamente quando você entende alguma coisa. Você nunca terá sucesso em trazer à luz para dentro, se você insistir em retirar toda a escuridão de seu quarto, antes! Por isso, simplesmente ignore o eu e tente entender, e o entendimento em si vai remover o eu."

"O mundo bilha por causa da Minha luz: sem Eu, nada é. Eu Sou a luz na percepção do mundo."
"O esforço humano consiste em criar escravidão para si, se agarrando bem forte a ela, e querendo se tornar livre, sem abandonar a escravidão em si."

"Você é um ser humano? Defina um ser humano. Um ser humano é uma mistura incongruente de corpo, sentidos e mente, junto com o 'Eu'-Princípio. Todos, exceto o 'Eu'-Princípio estão mudando em cada momento. Mas você vai admitir que você é este 'Eu'-Princípio. Como o 'Eu"-Princípio, você fica como o fundo permanente que liga todas essas mudanças que vêm e vão. Este 'Eu'-Princípio é diferente e separado do corpo, dos sentidos e da mente, quais estão em fluxo contínuo. Aonde está o ser humano, durante o sono profundo, quando você não tem corpo, sentidos ou mente? Certamente em lugar nenhum. Ainda assim, Você está lá como aquele 'Eu'-Princípio. Portanto, você não é um ser humano, mas um princípio - imutável e permanente. Como tal, você pode entender a Verdade além de tudo."

"Deus é apenas um conceito, embora seja o (conceito) mais alto que a mente humana pode criar. Mas você não é um conceito."

"Vichara-marga (o caminho direto), é a remoção da mentira por argumentos - deixando, apenas, a Verdade Absoluta como o Eu Real."

"Para a alma individual (eu) tudo está no exterior. Para Deus, tudo está dentro. Para o Sábio (Jnanin), não existe nem dentro nem fora. Ele está além de ambos."

"Quando você olha minuciosamente, você vai achar que ele não estava lá. O executor não estava lá; o pensador não estava lá, o observador não estava lá; o desfrutador não estava lá; o sofredor não estava lá, mas tudo está no fundo; na fonte."

"Ao falar sobre a Verdade, você (o eu) deve deixar de falar, e permitir Ele (a Verdade ou o Eu Real) falar, ou se expressar, em sua própria língua."

"Todos os métodos dos Upanishads tentam separá-Lo do Anatma e estabelecê-Lo no Atma. Mas aqui, de acordo com o método direto, é mostrado que você nunca pode fugir nem da sua própria sombra, nem da sua realidade. Peço só para vocês olharem profundamente ao que vocês chamam de Anatma, e ver além de qualquer dúvida, que isso é apenas o próprio Atma, a Realidade."

"Será que eu sou o corpo, os sentidos ou a mente? Não. Se eu proclamar de ser 'alguma coisa', aquilo deve ser comigo onde quer que eu vá. Fazer, pensar, perceber e sentir não vão comigo onde quer que eu vá. Apenas 'Sabendo' é sempre comigo. Então, eu estou o Saber da Consciência sem igual. Eu sou aquilo sempre, e eu sou desprendido. Eu posso ser apenas aquilo o que permanece quando o objeto ou parte ativa está separada do percebedor, da percepção, ou do percebido."


Fontes: Advaita Vision, Advaita Info e o livro Notes on Spiritual Discourses of Shri Atmananda

Saiba mais no link : https://www.facebook.com/VicharaMarga

3 comentários:

  1. Olá amigo Alsibar, tudo bom? Grande texto! É sempre bom termos contato com esses grandes sábios, pois inevitavelmente eles acabam injetando centelhas de sabedoria em nós. Não conhecia quase nada deste Sri Atmananda Krishna Menon, e pelo visto seu ensinamento é bastante consistente. A única coisa que eu sabia é que o Rupert Spira provinha da sua linhagem. O Rupert eu conheço um pouco melhor, pois já assisti a alguns vídeos dele no youtube, e gosto muito. Desculpe eu desviar um pouco do assunto desta postagem, mas eu gostaria de fazer pra você uma pergunta sobre o Cristianismo. Gostaria de saber sua opinião acerca de uma religião institucionalizada, organizada por vários dogmas e rituais. Como não pertenço a nenhuma religião, acredito apenas em um Deus absoluto, me incomoda um pouco a postura de alguns católicos ou evangélicos, que parecem querer reivindicar o "monopólio de Cristo" para si. Reconheço que o fato de a Igreja Católica ter acumulado um poder gigantesco possibilitou que as palavras de Cristo chegassem a lugares distantes, ou seja, possibilitou a manutenção e a difusão das palavras de Cristo. Mas tenho a impressão que há um certo excesso na valorização da instituição, que acaba atribuindo a si própria uma autoridade e um dogmatismo, que acaba soando como estridente arrogância. A Igreja Católica se coloca como o exclusivo porta-voz de Jesus Cristo, como se todos os outros seres fossem incapazes de compreender as palavras de Jesus Cristo, a não ser pelo intermédio da própria. Posteriormente, surgiram as vertentes protestantes/evangélicas, que também possuem, talvez em menor intensidade, esse traço monopolista no que se refere à mensagem de Cristo. No caso particular da Igreja Católica, às vezes eu acho que ela está mais interessada em poder e dominação do que colaborar para a compreensão da mensagem de Cristo em si. Por exemplo, um católico praticante ou um sacerdote católico ortodoxo, (até mesmo um evangélico também), jamais reconheceriam a sabedoria espiritual/religiosa de grandes sábios como esses três citados no post. Seriam capazes até de rotulá-los de hereges, anticristo ou qualquer outro termo análogo. Estão sempre na paranoia de que isso ou aquilo pode enfraquecer o poder dogmático e ideológico da instituição. Sinto que essa sede de poder, embora possa ter sido útil no passado, acaba maculando/desvirtuando e, consequentemente, inviabilizando o propósito ao qual a religião deveria servir: a salvação, a libertação da matéria e da mente. Gostaria de saber sua opinião acerca dessas questões.

    Abraço!

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  2. Ola amigo Rogério tudo bem?

    Eu era católico quando criança. Conheço bem essa realidade. Depois sai e fui pesquisar, estudar e frequentar outras religiões. Acredita que hoje frequento o catolicismo? Vou explicar: a igreja católica tem uma diretriz geral- óbvio. Mas ao longo dos anos aprendeu a aceitar tendências e movimentos diversos, como as diversas ordens existentes em seu seio.
    Atualmente faço parte do Movimento Mundial da Meditação Cristã, criada por John Main. Ele aprendeu a meditar com um monge indiano discípulo de Ramakrishna e levou, reviveu, essa tradição pra dentro da Igreja Católica. Existem grupos no Brasil e no mundo todo.
    O movimento é marcado por uma forte tolerância e um sentido de troca de experiência e aprendizado com outras religiões.
    Aqui em Fortaleza quem coordena é a comunidade Shalom- que não é a carismática- mas uma Ordem de Padres de Portugual que tem na Meditação um de seus pilares.
    Agradeço pela sua postagem pois me deu a ideia de falar sobre esse Monge Beneditino que criou esse movimento dentro da Igreja , dando um novo fôlego ao Cristianismo Católico, tornando-o mais humano e universalista.

    Abraços amigo!

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    1. Olá Alsibar, obrigado pela resposta! Estou fazendo este comentário com bastante atraso, é que minha vida está um pouco engarrafada.. (rsrs). Fico feliz em saber que mesmo dentro do universo católico, onde a tradição tende a ter colossal peso, existem vertentes que não são reféns de uma ortodoxia e sabem reconhecer e aproveitar ensinamentos de outras tradições religiosas e de grandes sábios que não pertencem ao cristianismo.

      Isso é muito bom, até porque não obstante algumas críticas, eu jamais iria me colocar contra a Igreja Católica, pois reconheço que esta desempenha função importante e positiva na sociedade, pois ainda que possua alguns equívocos ou falhas, ela é um grande ponto de referência relacionado a Jesus Cristo. Ademais, acaba também contribuindo para que não se forme um ambiente propício para a instalação e expansão do ateísmo, que eu considero como uma das maiores estupidezes da mente humana.

      Entendo que uma instituição milenar com tais características não deve ser subestimada nem combatida; o mais inteligente seria aproveitá-la a serviço do bem, daquilo que é benéfico para as pessoas em geral. Essa vertente de catolicismo que você frequenta aponta exatamente nesta direção, tendo a sensatez de notar que reconhecer a valia de outras formas de abordagem religiosa não implica descaracterizar ou inviabilizar o catolicismo.

      A Igreja Católica é um fator muito forte em nossa formação cultural e moral, está bastante presente no nosso dia a dia, ou seja, “não há como fugir” da Igreja Católica (rsrs). Eu mesmo embora não tenha nenhum vínculo formal com esta, inclusive sequer sou batizado, estudei em colégio de freiras e me formei em uma universidade católica. Além disso aqui em casa existe uma bíblia evangélica, desde que eu nasci. Minha irmã, mesmo também não sendo católica, usa crucifixo. Etc. e etc... E eu vejo tudo isso como algo realmente positivo.

      Enfim, até a próxima, desejo a todos um 2016 bastante auspicioso!!

      Abraço!

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