Páginas

domingo, 22 de abril de 2012

SEPARANDO O JOIO DO TRIGO: GRATIDÃO À KRISHNAMURTI


Krishnamurti: o joio e o trigo ( Alsibar)


Krishnamurti: edições Planeta
Conheci Krishnamurti através dos livros.  Quando seu corpo faleceu eu havia apenas treze anos. Aos dezesseis, comprei um livro das Edições Planeta sobre ele. Este foi o meu primeiro contato com aquele que iria tangenciar e influenciar toda minha vida. Não senti nada de especial em sua aparência. Vi o rosto amarelado de um homem , cabelos grisalhos, pele aparentemente branca, olhar vago e tristonho. Não parecia indiano, mas europeu. Talvez por que, na época, a tecnologia de impressão dos livros ainda era muito tosca. Mas como eu já havia comprado outros livros da mesma coleção: Ramakrishna e Ramana Maharshi, resolvi comprar este também. Ainda tenho o dito comigo. Velhinho, as pontas carcomidas pelas traças e  pelo tempo.
Sua mensagem, em princípio, não me tocou. Li o livro mas quase nada ficou dele em mim. Talvez fosse muito profundo para minha mente imatura. Todavia, percebi que ali estava alguém que compartilhava e confirmava muitas das minhas opiniões. Primeiramente, fui lendo sua fascinante e intrigante biografia: um menino pobre indiano que havia sido reconhecido como o novo messias, o novo Instrutor do Mundo. Para isso o prepararam e o educaram. Mas… que surpresa não foi a minha, ao perceber que, já adulto, ele havia rejeitado tal título, abdicando do seu status de messias. Vibrei com a coragem, retidão e sabedoria de alguém tão jovem e desprovido de ambição. Pensei… “e agora, Krishnamurti. Como viverás?”.  Mas ele pôs sua missão acima de qualquer objetivo pessoal e perseverou até o fim . Só lhe importava uma coisa: “tornar o homem absoluta e incondicionalmente livre”. Que importava os milhares de seguidores com suas bajulações? A fama, o dinheiro e o poder? Refleti sobre mim mesmo e minha própria condição. Lembrei-me dos homens da nossa sociedade. Muitos dariam tudo para estar no lugar dele e regalar-se com tudo o que ele abandonou espontaneamente.
Após saber da existência de Krishnamurti e sua mensagem, passei a me interessar mais sobre ele. Nesse tempo eu já lia de tudo na área de ocultismo e espiritualidade. Notadamente Bhagwan Shree Rajneesh ( Osho) e Gurdjieff através de seu discípulo Ouspensky, além de Blavatsky, Trigueirinho e outros. Mas o que eu mais apreciava nessa época era o guru Rajneesh.  Gostava principalmente quando lia seus comentários sobre Buda, Cristo e Krishnamurti. Neste ponto, o guru indiano era uma enciclopédia. Com ele conheci as principais correntes espiritualistas da época.E assim, vivi a efervescência do movimento Rajneeshiano. Comprávamos os livros, jornais, revistas, debatíamos sobre pontos discordantes, visitávamos centros de meditação, presenciamos palestras, nutrimos o sonho de visitá-lo na Ìndia ou nos Estados Unidos para onde , posteriormente, ele se mudou. Até que vieram os escândalos, a queda, a prisão do “mestre”, a dissolução da comuna americana e, finalmente, sua morte misteriosa. Mas o tempo… ahhh o tempo… iria cuidar de separar o joio do trigo.
Após todos esses acontecimentos, nos sentimos meio órfãos. Mesmo assim, ainda continuava firme na leitura dos livros e palestras de Osho. Quanto tempo durou a admiração e o encanto? Até quando aquelas palavras bonitas e, até certo ponto, revolucionárias, satisfizeram minha mente inquieta e insaciável? O tempo foi passando e com ele muita coisa virou cinza. Aos poucos fomos aprendendo a diferenciar o que era bijuteria do que era ouro puro. O que realmente tinha consistência daquilo que era apenas produto enfeitado exposto no mercado da espiritualidade falaciosa.  O que é verdadeiro, profundo e essencial não falha nas horas mais difíceis, nem morre com o tempo.  Por isso Cristo, Buda , Krishna e Babaji são eternos e Universais. E ao invés de morrerem, renascem e se fortalecem com o tempo. Mas o que não tem essência, vai morrendo logo que passa a efervescência. Não foi o caso de Krishnamurti.
A mensagem de Krishnamurti se sobressaiu na minha vida, não porque é bonita, fácil e confortadora. Mas porque esclareceu, iluminou e me ajudou a compreender a mim mesmo e a minha vida. E isso não foi nada fácil. Isso não me consolou, a princípio. Pelo contrário, dilacerou minha alma. Destruiu minhas crenças, minhas ilusões e minha zona de conforto que eu zelosamente tentava preservar. Sua mensagem – é verdade- como já disse um amigo blogueiro “ destruiu tudo e  não me deixou nada”. Mas… refletindo hoje: o que deixaria? E como poderia deixar? Tudo que era ilusão tinha que ser demolido. E assim foi que os destroços acumulados de uma vida explodiram num piscar de olhos. Desse meu cataclisma interior surgiu uma nova pessoa. Um novo ser que não era, e não é seguidor de Krishnamurti. Nem de ninguém. Que reconhece e sabe diferenciar ilusão da realidade. Que não busca, nem se satisfaz com palavreados e discursos bonitos. Que não se apega a nada, nem a ninguém, nem mesmo àquele que tanto contribuiu com o seu renascimento. Uma pessoa que não se sente superior ou melhor do que ninguém. Mas que se sente livre e procura ajudar àqueles que também querem sê-lo.
Gratidão… talvez essa seja a palavra que melhor expresse meu sentimento em relação a Krishnamurti. Ele foi o coroamento de toda uma vida de busca, pelejas, erros e ilusões.  O que seria de mim e da minha vida hoje se não tivesse apreendido parte dos seus ensinamentos que pra mim foram cruciais? Hoje sei que os mestres existem. Não porque me disseram, ou porque eu li. Mas porque suas mensagens de libertação e sabedoria afetaram significativamente a minha vida. Sei porque comprovo a veracidade e utilidade de suas palavras na minha vida diária. Sei porque vejo os resultados concretos, mundanças positivas, em minha vida e na vida dos que me rodeiam.  Sejam familiares, parentes e amigos –mesmo aqueles que vivem à distância.
Sou profundamente grato a todos os mestres. Ressalto, todavia, meu agradecimento especial à Krishnamurti  a quem coube a difícil missão de revisar o significado dos princípios fundamentais do Dharma ou Verdade Universal –há muito esquecido, abandonado ou adulterado pelas intempéries do tempo e ação de pessoas inescrupulosas. Krishnamurti,  adaptou a Verdade para a mentalidade do homem moderno , abrindo, assim, novos paradigmas para a espiritualidade do Novo Milênio. Contudo,  ele não abandonou o passado, mas reformulou-o, revalidando  e confirmando, assim, a essência dos ensinamentos deixados por aqueles que vieram antes dele. Sei que muitos não compreendem ou rejeitam a visão revolucionária de K. Mas é bom que se reflita sobre a seguinte questão:
Os ensinamentos são universais e eternos, mas por causa da dureza dos nossos corações sua essência se perde ao longo do tempo. Essa essência, precisa ser relembrada, revitalizada e adaptada conforme a época , o contexto e a cultura. Se não fosse seres como Buda, Jesus, Babaji, Krishnamurti dentre outros, o ser humano estaria fadado a errar na escuridão e no sofrimento, perdido em ensinamentos equivocados, ultrapassados e corroídos pelo tempo.
Muito Obrigado !
Alsibar
http://alsibar.blogspot.com

5 comentários:

  1. Boa! Meu contacto com K. foi antes 84, se não me falham os neurônios... Meu pai me trouxe uma xerox de uma de suas palestras... Levei anos para conseguir o primeiro livro. Como dissestes, nunca mais somos os mesmos depois do Velho Krishnamurti...

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Na época que eu conheci Krishnamurti, eu era uma descrente em todos os sentidos. Nunca procurei gurus ou me apeguei a religiões embora tenha sido apresentada a esse mundo como católica e, aos 15 anos abandonei o catolicismo. Eu vivi mais 15 anos sem crença de espécie alguma mas, claro que havia aí uma revolta. Conheci Rajneech, através de um livro e na época ele era "moda" mas suas belas palavras não me convenceram. Confesso que Krishnamurti foi o único que chamou minha atenção e se mantem presente até hoje. Nunca o vi com fanatismo, como guru. Mas não posso negar que ele se mantem constante ainda em minha vida.
    Conclusão:
    "Os ensinamentos são universais e eternos, mas por causa da dureza dos nossos corações sua essência se perde ao longo do tempo. Essa essência, precisa ser relembrada, revitalizada e adaptada conforme a época , o contexto e a cultura. Se não fosse seres como Buda, Jesus, Babaji, Krishnamurti dentre outros, o ser humano estaria fadado a errar na escuridão e no sofrimento, perdido em ensinamentos equivocados, ultrapassados e corroídos pelo tempo."

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Carmen,
      Muito bonito seu relato. Grato por sua participação.

      Fraterabraços!

      Excluir
  4. Você não encontra um ponto ou uma vírgula nas asserções de Krishnamurti que dê margem a negação dos intelectuais.

    ResponderExcluir