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sábado, 22 de outubro de 2011

GENIALIDADE X ESPIRITUALIDADE : O CASO STEVE JOBS OU O DRAMA PÚBLICO DOS ÍCONES HUMANOS




Quem foi Steve Jobs e o que ele  representou para muitos de nós?O que seu drama pessoal tem a nos ensinar? Será que o Zen é para relaxar ou para acordar?Quais os problemas da genialidade sem espiritualidade ? Vamos fazer essa viagem juntos, refletindo sobre nossa condição existencial humana?

Quem foi Steve Jobs? Além de um gênio da informática, grande empresário e marqueteiro, Steve, certamente, encarna um ideal que povoa a mente de muitas pessoas, de todas as idades, principalmente de jovens idealistas e amantes da tecnologia. Apesar de não ser unanimidade, o fundador da Apple tornou-se símbolo de um vanguardismo que tem na inovação empresarial, no marketing e no visionarismo- suas principais características. Jobs sonhou alto, conquistou, conseguiu. Provou que mesmo as ideias aparentemente absurdas, seriam realizáveis. Homem de vontade e persistência notáveis, representou toda uma geração que busca obsessivamente a excelência em tudo que faz. Lamentavelmente, a vida o levou muito jovem. O poderoso empresário, homem de vontade férrea e gênio da informática, sucumbiu ante o poder da vida. Que mensagem pode-se tirar daí? Será que a vida não nos está alertando para algo? O que o drama de Steve Jobs pode nos ensinar ?

Há um provérbio hindu muito famoso que diz: “ alguns aprendem vendo, outros ouvindo e outros apanhando”. E há ainda os que nem apanhando aprendem. Gostaria de me dirigir aos primeiros e aos segundos. A vida está constantemente nos enviando  lições . Se fôssemos mais atentos, certamente, evitaríamos muitos problemas em nossas vidas. Vamos refletir não sobre o ser humano Steve Jobs mas sobre o que ele representava. Quais valores ele encarnou? Além da notável persistência e genialidade- o que mais ele inspira em uma legião de admiradores?  Não será salutar refletirmos sobre o significado de sua vida e de sua morte - supostamente precoce? Steve representa uma espécie de filosofia de vida, que é seguida por uma boa parcela da sociedade. Sua ganância e incessante busca pelos avanços tecnológicos exemplifica uma atitude comum a vários seguimentos empresariais. Afinal, estamos falando de negócios. O problema  é que, muitas vezes, colocamos os avanços tecnológicos, a fama e o poder como algo central em nossas vidas. Esquecemos completamente de nutrir outras áreas do nosso ser e de nossa da vida- tais como a espiritual, a mental, a emocional etc.

Quem não quer ser famoso? Quem não quer dinheiro, poder e… reconhecimento? Steve Jobs teve tudo isso. Tudo o que muita gente sonha noite e dia. Há pessoas que vivem completamente para isso. Isso é o centro e a razão de suas vidas. Mas, penso, em minhas humildes reflexões: isso é tudo? Será que estamos agindo corretamente? Será que a vida, quando desequilibrada, não traz consequências ? Será que viver se resume ao desenvolvimento de coisas materiais- mesmo que estas tragam mais “benefícios”  ao mundo? Não questiono o valor dos avanços tecnológicos- isso seria absurdo. Questiono porque muitos de nós não se empenham no auto-desenvolvimento com a mesma garra e energia que se empenham em descobrir engenhocas cada vez mais esquisitas - e muitas vezes inúteis. Só me pergunto por que com tantos avanços tecnológicos e com tanto conhecimento científico, ainda não fomos capazes de curar doenças como, por exemplo, o câncer. Só me questiono porque nós não acordamos para o fato de que desenvolvimento tecnológico, sem autoconhecimento, não representa muita coisa. Principalmente quando estamos diante da velhice, da doença, da morte e da dor.

Na biografia de Steve Jobs, diz-se que ele passou um tempo em um templo Zen-budista. Muitos fazem isso. É chique. É moda: “ Se Steve Jobs foi, eu vou também”. Muitos pensam que Zen é como uma espécie de Spa. Algo, “tipo…” Para descansar,  desestressar, ficar relax! Fico aqui refletindo… que espécie de Zen é esse? Só há duas possibilidades nesse caso: ou o Zen se perdeu, ou eu perdi o Zen. Se depois de conhecer o ZEN eu continuo dormindo, provavelmente eu não entendi o Zen. Ou o Zen não me serviu de nada. Foi inútil. Não creio no Zen que faz o homem dormir . Não penso que este é o verdadeiro espírito dos grandes patriarcas do passado. O Zen não é para dormir. Dormindo já estamos. O Zen não é um calmante… é uma “porrada”. É um choque no nosso sonambulismo materialista. Um homem que passa pelo Zen e não se transforma, realmente não passou pelo Zen. Talvez tenha olhado. Talvez tenha visto a cor e ouvido o som das águas. Mas não mergulhou. Não houve realmente um “batismo”. Uma transformação interior.

Infelizmente, muitos continuarão usando práticas como o Zen, a Ioga e a religião para continuarem seus lindos e confortáveis sonhos. O Zen, a Ioga e a religião só são verdadeiros quando lhe levam a um estado de consciência fora da sua “normalidade”. Ora, se continuo o mesmo, de que me servem estes caminhos? Mas, o fato é que estamos tão anestesiados que tudo já se tornou trivial e comum. Por isso que muitos continuam do mesmo jeito, anos e anos- sem nunca experimentarem algo além de seus próprios sonhos. O verdadeiro espírito da religião - seja ela qual for- deveria ser o de transformação e despertar. De que adianta ler a Bíblia se não mudamos nossas atitudes e comportamentos? De que adianta praticarmos o Zazen se ao voltarmos para nossa rotina- trabalho e família- continuamos agindo da mesma forma tirânica e cruel? Do que vale a Ioga, se isso não se reflete na minha vida e nas minhas relações? Do que vale qualquer coisa,  se isso  não me traz  sabedoria , felicidade e paz interior?

Provavelmente, o símbolo da Apple- o da maçã mordida- é uma referência à Nova York, também chamada de Big Apple. Mas em nossos inconsciente coletivo, sabemos que a maçã também é símbolo de tentação e queda. Tanto no mito bíblico de Adão e Eva quanto nas fábulas infantis- como Branca de Neve- a maçã estava lá simbolizando o mal e a tentação. Não sou purista, nem conservador. Mas quando o homem esquece-se de seu crescimento espiritual e só pensa obsessivamente no crescimento material isso, certamente, é deplorável e maléfico. Seja que homem for. Do mais anônimo transeunte, ao mais famosos e poderoso dos homens.  A vida não perdoa aqueles que não a escutam.  E não é possível que não consigamos enxergar o que ela está nos dizendo. Não é possível que não tenhamos a capacidade de ler os fatos nas entrelinhas . As mensagens nos chegam diariamente. O Universo está gritando, nos alertando sobre nossos erros, mas muita gente finge que não é consigo- será que não é mesmo?

Quando acontecem casos como o de Jobs, fico pensando qual será a grande mensagem do Universo para nós. E uma das respostas é esta:  somos seres materiais e espirituais, portanto, quando cuidamos apenas de um em detrimento do outro- este último se enfraquece e causa um desequilíbrio. E quando isso acontece surgem as doenças, as tragédias, as mortes e as crises. Através de exemplos dramáticos como os de Steve Jobs, Christopher Reeve (Super-man) e Patrick Swayze ( Ghost - do outro lado da vida), a Divindade nos alerta sobre a importância de buscarmos algo mais do que o ouro e a prata. Aquilo que Jesus chamou de o Reino dos Céus - e que está dentro de nós. Ora, tudo mais é consequência desse encontro. Sem este encontro interior, sem  despertarmos esta dimensão interna , nos reduziremos a simples máquinas superinteligentes e potentes. Mas se não despertarmos  “ a dimensão do sagrado” dentro de nós, essa inteligência não servirá para muita coisa. Não estou advogando uma espiritualidade conservadora e tradicionalista, estou defendendo que o homem sem autoconhecimento e meditação, não passa de uma espécie de máquina útil e inteligente . Nada além disso. O que falta a este robô humano? Falta a dimensão sagrada do Amor, da Consciência, do Sagrado, do Eterno, do Atemporal. É isto que nos faz superar  nossa natureza animal e despertando-nos nossa essência divina.

Essa dimensão não pode ser comprada, nem vendida. Não tem preço no mercado, nem podemos fazer marketing dela. Não podeis manipulá-la, nem dela se apoderar para fins pessoais e egoístas. Mas ela é o que há de mais sagrado no Universo. O que há de mais valioso e importante. É o encontro com o que alguns chamam de Deus interior. Isso está ao alcance de todos. Não importa o quê ou quem você é: se  um Steve Jobs ou um monge  Zen. Ambos serão iguais se ambos não se autoconhecerem e não despertarem sua própria luz interior. Do contrário, só haverá escuridão e ilusão. Que importa ser um pai de família, um  grande empresário, ou um monge, se todos viverem sob domínio da ignorância do EGO ? Não estou falando de atitudes externas. Falo do essencial, que é interno e “invisível aos olhos”.

Steve Jobs nos deixou. Com ele o mundo pôde conhecer o drama humano-individual e pessoal- de um ícone. O drama dele é o nosso drama. É o drama de toda humanidade. Através de Steve Jobs, o Universo mais uma vez nos alerta sobre a fragilidade e impermanência da vida. Exatamente como Jesus disse, na parábola do  rico insensato : “Louco! Esta noite te pedirão tua alma, e o que tens juntado para quem ficará?” (Lc 12:20). Não importa se você não crê em alma, ou coisa parecida. O homem coisificado é um homem sem alma  no agora-não no pós-morte. Um homem angustiado e infeliz vive seu inferno no agora- não no depois. Que importa o depois? Todo drama humano acontece no agora. O depois é apenas uma extensão do “que ele é” agora.

O homem do Novo Milênio não pode pensar apenas em desenvolver novas tecnologias. Tem também que se autodesenvolver, verdadeira e profundamente. A Verdade Universal está aí disponível através das diversas tecnologias e mídias. Desde os antigos rishis hindus até os patriarcas Zen; passando por seres como Buda, Jesus, Babaji e por último Krishnamurti, a vida está nos mostrando o que precisamos “fazer” para sermos felizes. Para sermos livres da dor e da ilusão. Jesus exortou-nos a buscar até encontrar. Se queres realmente encontrar a paz , a luz e a libertação- não pare de buscá-la. Isso não significa ir aos mosteiros, à India ou à procura de gurus e mestres. Isso significa ir fundo dentro de si mesmo. Os mestres apenas “apontam” como isso deve ser feito. Mas ninguém, abolutamente ninguém pode fazer essa viagem por você. Ninguém pode dar-lhe aquilo que você tem que conquistar por seus próprios “esforços”. Ninguém pode perceber a Verdade por você.  Assim como ninguém pode enxergar por você, dormir por você, comer por você, ou aprender por você. Essa é uma viagem que, certamente, você terá o apoio e a colaboração de muitos “mestres”- não necessariamente humanos. O Universo e a Natureza, além de pessoas como nossos pais, familiares e amigos nos ajudam nesta caminhada. E certamente, todos os iluminados que já passaram por este mundo e deixaram suas mensagens de libertação. Os fatos , as tragédias e os dramas também podem nos ensinar, fazendo-nos refletir  sobre o significado  de nossa própria vida .

Que Steve Jobs descanse em paz. Esteja onde estiver. Mas que, mesmo ele, sirva de exemplo para gerações futuras. Que sua morte trágica e, supostamente precoce, faça-nos refletir sobre a condição existencial humana . Que ela nos ensine o quanto somos frágeis e o quanto somos impotentes diante do poder inexorável  da vida. E que saibamos que  alimentar a arrogância, a ganância e a ambição, mesmo que seja em prol de um suposto avanço “científico”, não nos livrará do nosso drama pessoal e único. E que  não esqueçamos algo fundamental : que genialidade sem espiritualidade de nada vale. Somente a sabedoria e o autoconhecimento podem nos tornar mais plenos, sábios e felizes. Que a humanidade continue buscando o crescimento e a superação das barreiras materiais e tecnológicas, mas que nunca, nunca, esqueça-se de superar e libertar sua própria mente da ignorância, da ilusão e do egoísmo!

“Inútil vencer na batalha milhares de inimigos- a vitória sobre si mesmo é a maior das vitórias”- Buda.

Alsibar (inspirado)

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