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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

KRISHNAMURTI E A IMAGEM ESTEREOTIPADA DO ILUMINADO- PARTE I Krishnamurti and the enlighted's stereotyped image


Como deve ser um iluminado? Como age, fala e anda? Como movimenta os olhos e como gesticula? O que sente e como sente? Em geral temos muitas imagens estereotipadas sobre como deve ser um iluminado mas será que correspondem à realidade? Vamos refletir sobre este assunto tendo como exemplo o caso de Krishnamurti.

Krishnamurti quebrou todos os estereótipos, padrões e paradigmas erigidos ao longo dos séculos pelas religiões e seus líderes medíocres.  Ele pode ser considerado, com propriedade, como o último grande iconoclasta religioso, comparável, neste ponto, a Buda e Jesus. Não é nada fácil ir contra toda uma tradição  dominante, que sustenta as estruturas de poder de muitos movimentos e instituições religiosas. Poderia ter sido assassinado  por algum fanático religioso. Mas não foi. Dizia ele que sentia a “proteção” de uma força desconhecida e abençoada. Segundo ele sua missão era  a de ensinar, pregar e libertar a humanidade das ilusões .  E assim o fez. Ele libertou a humanidade de vários conceitos errados, visões equivocadas e caminhos  enganosos. Muitos seguiam estes caminhos, na ilusão de estarem se libertando quando- na verdade- fortaleciam seus próprios grilhões.
Sem o advento de Krishnamurti ainda estaríamos ouvindo e seguindo os sadhus, os saniasyns, os gurus, os monges e suas visões conservadoras, tradicionais e equivocadas sobre religião. O inferno do conflito e da repressão ainda seria considerado a via dolorosa necessária para purificação da alma daqueles que almejam o céu ou nirvana. Estaríamos ainda iludidos  pela compreensão incorreta de conceitos no âmbito da espiritualidade tais como: renúncia, bondade, castidade, caridade, altruísmo etc. Hoje sabemos  que enquanto não nos libertarmos do EGO essas palavras nenhum significado tem para o verdadeiro despertar. Como perceberíamos isso se alguém não nos “alertasse”? É verdade que todos os grandes mestres falaram  nesta mesma linha mas, infelizmente, ao longo dos séculos, a essência de seus ensinamentos  se perdeu, e o que temos hoje são apenas ecos quase ininteligíveis de um ensinamento outrora  original e profundo.

Hoje sabemos que não há padrões que possam prender um iluminado- apesar de nossas expectativas em contrário. Mesmo assim, ainda há aqueles que pensam que um iluminado deve ser uma pessoa de fala calma, mansa e compassada. Talvez com um olhar vazio no infinito.  Se  posar de  casto, pobre e renunciante, melhor ainda. Outros acham que o iluminado, por ser “desperto”, tem que parecer uma pessoa “alerta” com olhos esbugalhados e gestos totalmente conscientes- sem o automatismo das pessoas comuns. Ainda há os que acreditam que o iluminado é aquele que fala bem e tem argumentos para tudo. Ou que faz malabarismos com as palavras, verdadeiras retóricas ao gosto do público consumista, mas que não toca no cerne da questão: a transformação interior. Afinal, o que importa é manter as pessoas hipnotizadas, do contrário, como poderão ser exploradas? Ele está ali como “garoto propaganda” de um movimento que na verdade é uma grande empresa e, como tal, tem que crescer e se expandir. Não foi este o caso de vários gurus das décadas passadas?
Mas, com Krishnamurti surgiu outra visão acerca do ser iluminado. Ele não fazia tipo, nem poses .Até mesmo suas roupas eram comuns, vestia-se de acordo com a cultura e o país. Era  “ele mesmo” o tempo todo, natural e espontâneo como uma criança. E por isso, algumas vezes parecia mal humorado ou impaciente. Mas, todos são unânimes em citar a poderosa atmosfera espiritual que o envolvia. O amor  e a doçura que por vezes demonstrava. A humildade com que agia, falava e tratava as pessoas ao seu redor independente de casta ou classe. Notável também era o seu amor e o respeito para com todas as criaturas vivas. A verdade é que Krishnamurti não tinha padrões pré-estabelecidos nem para consigo mesmo. Estava além dos padrões criados pelo nosso pensamento limitado. Por isso, todos que o descreveram pareciam falar de pessoas diferentes e não do mesmo K. Se compararmos as descrições de seu cozinheiro particular  Michael Krohnen com as de seu amigo de infância Sidney Field e também com as descrições do escritor Rom Landau, parece que eles falam de pessoas diferentes. Seus outros biógrafos e biógrafas também traçam perfis diferentes  sobre ele.  Como pode ser?
Há, ainda, outras curiosidades sobre K. Em alguns momentos ele poderia parecer “rude” como o fez após uma entrevista com o renomado escritor e apresentador  Huston Smith * . Após a entrevista, Krishnamurti não o saudou, levantou-se e foi embora, sem nem mesmo se despedir. Todavia, esse mesmo repórter  relatou anos depois, que  foi visitá-lo em sua casa anos mais tarde e que Krishnamurti lhe pareceu uma outra pessoa, de um amor, generosidade e doçura surpreendentes.
 Assim, conclui-se que  K. era simplesmente indefinível e livre dos padrões sociais impostos pela sociedade o que está de acordo com seus ensinamentos. O iluminado não está preso a padrões ou estereótipos mortos, ele se renova continuamente, morrendo para o passado e renascendo para o novo. Eles são como a vida: dinâmica, fluídica, imprevisível, em constante movimento e mutação.
 O Iluminado vive na dimensão do DESCONHECIDO que é indefinível, imprevisível, inclassificável e impensável. Quando nós mesmos penetrarmos nesta dimensão e nos tornarmos também Iluminados é que poderemos compreender este estado além das palavras e definições. O que existe lá? Não sabemos e, segundo Sócrates, Lao Tsé e Krishnamurti : “aquele que diz que sabe, não sabe”.

ALSIBAR ( inspirado)
Link da entrevista de Huston Smith sobre Krishnamurti :


6 comentários:

  1. Alsibar, tomei a liberdade de postar este texto no Confraria, com os devidos créditos.
    Um fraterabraço

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  2. Vi a postagem no Confraria e cá estou para registrar minha gratidão a ALSIBAR!
    Confraternos abraços, amigo ALSIBAR.

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  3. Belo texto. Só um esclarecimento: J.Krishnamurti nunca se apresentou como iluminado, mestre ou Guru.Ele recusava aplausos em suas palestras e sempre dizia:"Vocês não precisam acreditar no que eu digo". Além do tradicional " Vamos investigar juntos". Se existiu uma pessoa realmente mais próxima da "impessoalidade", esse foi o Jiddu

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  4. Acho que Krishnamurti era sincero no que dizia e tinha boas intençõoes, mas, iluminado....não sei. Li alguns de seus livros, mas quando o vi pela 1º vez na internet reparei que ele escondia a careca com o cabelo de baixo mais crescido, acho que essa técnica se chama interlace. Depois disso desacreditei, porque, esconder a careca é vaidade, que tem a ver com o ego. Pelo que eu saiba, quem é iluminado ja transcendeu o ego e alem do mais, acho, que mesmo para quem não é iluminado, é bacana a atitude de se assumir na sua totalidade.

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    1. Cara... Eu notei exatamente a mesma coisa... especialmente nas últimas palestras. A vaidade é algo extremamente poderoso no ser humano. Assim como a ausência dela também não significa iluminação, pode ser simplesmente alguém desleixado, retardado ou doente. Mas um homem que eu achei desapegado no quesito físico foi Ramana Maharshi, apesar de ter uns tronos invocados e outras coisas... Acho que nunca vi nem li sobre alguém totalmente desapegado. Talvez o calvário de Cristo tenha sido um exemplo de desapego total, do conforto, da vaidade, da humilhação, uma doação total.

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