Um animal selvagem quando colocado em uma pequena cela torna-se arredio e impaciente. A percepção de sua precária condição parece potencializar sua inquietação. Isso significa que o stress é proporcional à consciência da prisão. Sendo assim, quanto menos o animal tiver consciência de seu cativeiro, mais dócil será e mais tranquilo ficará. Com o ser humano não é diferente.
No começo da jornada espiritual é comum o sujeito querer mais liberdade. Há um impulso interno que o empurra para buscar novos caminhos e possibilidades. Em geral, ele se desprende das religiões tradicionais e sai em busca de novas ideias e ensinamentos.
Em alguns casos, as religiões tradicionais são vistas como verdadeiras prisões pois condicionam o indivíduo a pensar em uma determinada direção. O sujeito passa a atacar tudo que diz respeito às velhas tradições sem, contudo, perceber que ele mesmo pode ter caído noutra prisão mais sutil e de difícil detecção: a do guru.
Dentre as diversas ciladas ensinadas pelos gurus da moda está a prática da 'observação silenciosa passiva não-reativa' (OSPNR). Algo que, à primeira vista, soa verdadeiro e profundo mas que, de fato, é uma das prisões mais sutis e perigosas de todas. E vou explicar o porquê:
O sujeito que pratica esse tipo de observação pensa que esse é o caminho para um estado elevado de consciência . Ele acredita que quanto mais observar, maior será a chance de fixar tal estado. Pior ainda: ele crê que a fixação daquele estado depende exclusivamente de seu esforço e dedicação. Ledo engano.
Mas qual é o problema com esse tipo de prática?
É o seguinte: nesse tipo de observação ainda existe um 'observador' só que muito mais sutil e que, por ser passivo, parece ausente. Além disso, continua um 'vir-a-ser' sutil: o de manter-se constantemente naquele estado . E ainda tem uma 'entidade' fazendo tudo isso ao mesmo tempo que prega a ausência de um 'fazedor'. O esforço continua - apesar deles negarem; mas toda vez que alguém tenta observar algo de forma silenciosa, passiva e sem reações há aí um controlador sutil atuando sobre a mente para mantê-la silenciosa e sem reações. Óbvio!
Ou seja, a ilusão do controle/controlador continua, de forma menos ostensiva, mas continua. Em suma, é o mesmo caso dos animais cativos que vivem em reservas florestais ou 'santuários' selvagens: devido a prisão ser maior e mais confortável não se percebem prisioneiros, não se sentem cativos.
Assim é a OSPNR! Nela, o sujeito se sente livre, mas só enquanto a está praticando. Fora dela, ele se vê angustiado, descentrado, perdido e confuso. E, por isso, se apega à essa prática como sendo sua única e última esperança de paz. Todavia, é a própria OSPNR a causa de sua miséria . Ela se tornou mais uma prisão e enquanto o sujeito não se der conta disso será um eterno prisioneiro acreditando ser livre. E, assim, nunca provará o gosto da verdadeira liberdade.
Alsibar Paz
28/01/22
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