“Somente na união conhecemos plenamente o que somos. A tarefa central de nossa vida, na visão cristã, consiste em nos inserirmos na união, em entrarmos em comunhão. Colocar isso dentro do ponto de vista do qual nós, na maioria, partimos, significa superar todo dualismo, toda divisão dentro de nós mesmos e superar a alienação que nos separa dos outros. Foi o dualismo que caracterizou as heresias, heresias que ameaçaram destruir a delicada centralidade, o equilíbrio sadio da perspectiva cristã. É o dualismo, igualmente, que cria para cada um de nós, a alternativa impossível e irrealista do “ou isso ou aquilo”, que provoca tanta angústia desnecessária: Deus ou o homem, amor a si próprio ou ao próximo, claustro ou praça pública." John Main OSB
Confesso que não conhecia nada sobre Meditação
Cristã até meados do ano de 2014. Mas pelos caminhos aparentemente
casuais do destino, começamos - eu e meu amigo Eugênio Aquino- um grupo de meditação sem grandes pretensões ou
expectativas. Pouco tempo depois, participamos de um curso de Meditação com o Padre Domingos e lá soubemos da existência da meditação cristã e de um padre católico que deu
início a um movimento mundial de meditação : John Main. O que realmente me intrigou foi o fato de nunca ter ouvido falar sobre meditação na tradição cristã. Eu fui católico até a minha adolescência e nunca ouvi nenhum religioso citar a palavra meditação. O fato é que raras pessoas sabem dessa tradição. Nem mesmo no meio espiritualista mais progressista - do qual participei ativamente- fala-se sobre essa tradição. Algo realmente perturbador e intrigante.
John Main é considerado um grande mestre espiritual, não somente
por seus discípulos e admiradores, mas por líderes de
várias outras religiões. Seu movimento fez ressurgir no seio do catolicismo uma corrente de espiritualidade mais contemplativa e mística- inspirada no exemplo dos Padres e Madres do Deserto. Ao fundar vários grupos de meditação cristã no mundo todo, ele contribuiu para fortalecer a tolerância, o respeito e a interação entre as religiões que comungam com esta prática milenar. A meditação une os praticantes de diversas religiões por respeitar as diferenças, preservar as peculiaridades e proporcionar a comunhão entre pessoas de diversas raças, credos e nacionalidades. Em seus diversos centros espalhados ao redor do mundo, budistas, hindus, taoístas, católicos , protestantes e até ateus, reúnem-se em torno dessa prática comum e universal. É isso que explica, em parte, o sucesso dos grupos de meditação cristã no mundo todo.
Desde suas raízes históricas, que remontam ao judaísmo,
passando por Jesus, continuando com os Padres e Madres do Deserto , sem esquecer os grandes místicos como Santa Tereza D´ávila, São João da Cruz , São Francisco de
Assis e Padre Pio- a meditação cristã chega até John Main através de um monge hindu que lhe ensinou a meditar. Main reconhece, anos mais tarde, a meditação como parte integrante e fundamental da tradição cristã. Hoje, este movimento está sob a coordenação de seu discípulo
direto : Laurence Freeman.
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Laurence Freeman |
A meditação cristã parece simples, mas tem vários níveis de interiorização
e complexidade- assim como as práticas orientais . À primeira vista, pode
parecer uma abordagem superficial, mas à medida em que nos aprofundamos,
percebemos que não é bem assim. John Main foi iniciado em meditação por um monge hindu da tradição Ramakrishna : Swami Satyavanda. Que lhe ensinou uma técnica simples de meditação com o uso de um mantra cristão quando ele estava na Malásia, em Koala Lumpur. Ao retornar para a Inglaterra, fora repreendido pelo chefe de noviços e orientado a parar com aquela prática considerada "não cristã" . Por obediência, ele parou de meditar, período em que mergulhou em uma espécie de "deserto espiritual". Anos mais tarde, ao fazer estudos sobre as Crônicas de Cassiano ele identificou a meditação como uma prática comum entre os Padres do Deserto. A chamada "oração contínua", "oração dos pobres" ou "oração silenciosa" era, fundamentalmente, a mesma prática que o swami lhe havia ensinado anos antes na Malásia. Daí por diante, fundou vários grupos de meditação cristã em vários países, escreveu vários livros sobre o tema e tornou-se a maior referência mundial em meditação cristã.
Realmente, as semelhanças entre a meditação cristã e as práticas orientais são impressionantes. Todavia, coube a John Main sistematizar essas semelhanças e estabelecer alguns limites. Assim, a jaculatória cristã
equivale aos mantras orientais.
Conceitos como paz interior, silêncio, quietude e autoconhecimento são
abundantes em toda a tradição católico-cristã. Mesmo
estados sutis e profundos, muito comuns na tradição oriental, são abordados como parte integrante das orientações meditativas cristãs. Um exemplo, é a tal da “pausa” na respiração- um
estado raro descrito pelos grandes iogues, mas facilmente perceptível em
meditação profunda. Esta seria uma “ amostra
grátis da Eternidade” como cita o Padre Domingos Cunha- uma das maiores referências em meditação cristã no Brasil. Ou seja, todos os elementos fundamentais das grandes tradições
meditativas- Hindu, Budista e Taoísta- estão presentes na Meditação
Cristã, não deixando nada a desejar.
Abaixo, deixo o link da biografia resumida desse grande mestre espiritual, John Main, para que todos o conheçam e, caso se identifiquem com esse caminho- possam trilhá-lo- assim como eu fiz ao longo de quatro anos. No site da comunidade mundial de meditação
cristã você encontra endereços e contatos de grupos, além de orientações básicas
sobre meditação ( adicionei no final as orientações básicas, retiradas do site da comunidade).Caso não exista um grupo próximo a sua casa, você mesmo pode organizar um.
A meu ver, a meditação cristã representa um caminho seguro para quem quer vivenciar uma espiritualidade mais voltada para a comunhão mística e íntima com Deus- sem precisar sair da sua própria religião. Os caminhos são muitos, assim como suas fases. Cada pessoa deve encontrar aquele caminho mais adequado ao seu perfil e nível de espiritualidade. E que Deus ilumine e oriente a cada um em sua caminhada de Retorno ao Pai.
by Alsibar
Glossário:
* Advaita- vem de a(não) dvaita ( dualismo), ou seja : não-dualista, que prega o caminho da união, comunhão, superação da dualidade.
*Swami- monge de uma ordem religiosa da tradição hindu
*Mantra- "tra" instrumento, "man" mente- seria um instrumento de controle mental, conhecido como "jaculatória" na tradição cristã.
Como meditar?
Sente-se com a coluna ereta em quietude.
Feche seus olhos levemente.
Fique na posição sentada relaxadamente, mas alerta.
Silenciosa e interiormente, comece a repetir uma oração de uma única palavra.
Recomendamos a palavra oração "Maranatha".
Recite-a como quatro sílabas de igual duração.
Ouça-a enquanto a vai repetindo com suavidade, mas continuamente.
Não pense ou imagine nada - mesmo que seja de ordem espiritual.
Se vierem pensamentos ou imagens, considere-os apenas como distrações no período da meditação, e então volte apenas a repetir a sua palavra.
Medite a cada manhã e a cada fim de tarde por cerca de vinte a trinta minutos.
Oração de John Main para a Abertura do período da Meditação:
Divino Pai, ajudai-me a discernir a
silenciosa presença de Vosso Filho em meu coração
Conduzi-me àquele misterioso silêncio,
onde vosso amor é revelado a todos que O procuram.”
Maranatha. Vinde Senhor Jesus!
(www.wccm.org)
Obras de John Main:
A palavra que leva ao silêncio - Paulus Editora
Momento de Cristo - São Paulo, Paulus Editora
O caminho do Não Conhecimento - Petrópolis Editora Vozes 2009