sexta-feira, 3 de abril de 2015

O DESAFIO MAIOR


O maior desafio da espiritualidade “advaita” -ou de qualquer outra-                
   não é a renúncia, não é o tal “trabalho”-que nada mais é do que um meio de autopromoção e status. Não é falar bonito, não é a tal “compreensão” , não é a tal “iluminação”, nem mesmo o tal “despertar”. O maior desafio do sábio  é ser uma pessoa normal e comum. Afinal, aceitar os desafios diários, as limitações e dificuldades de uma vida “normal”  não é algo que atraia o ego.

Mas o que se vê hoje em dia são pessoas que usam da espiritualidade advaita para autopromoção, status e respeitabilidade. Arrotam suposta sabedoria ao defender aquilo “que é”, mas tudo o que menos querem é ser o que são. Querem ser famosos, especiais, bajulados e adorados. O maior desafio do aspirante advaita é o anonimato e  a invisibilidade Isso sim seria um duro golpe no Ego.

Aceitar o que é- pela própria definição- significa aceitar sua vida como ela é, as pessoas como elas são,  seu ser como ele é, seus pensamentos como eles são com todas as limitações e deficiências.  É perceber-se pequeno, insignificante e inútil diante do Incomensurável e nisso descansar, sumir, aquietar-se… observando o vai e vem  dos fenômenos dentro e fora de você.            
                                                                                      
Aquietar não é acomodar. É participar ativamentee do jogo da vida como sendo um outsider, sabendo a hora de agir e de não-agir, reconhecendo-se a si mesmo como parte de todo esse complexo sistema onde todos cumprem um papel e ninguém é mais importante ou superior a ninguém.
É importante que cada um questione a si mesmo qual seus objetivos na senda da espiritualidade. O que realmente querem? Fama, dinheiro, poder? Status? Um meio de ganhar dinheiro no mole? Uma forma de curar traumas da infância infeliz tornando-se alguém admirado, amado e respeitado? Uma fuga à própria insignificância? É preciso muita maturidade e coragem para admitir isso para si mesmo.
O caminho do meio é o caminho mais difícil .  
         
                  Tornar-se monge é relativamente fácil. Ser um escapista é até mesmo glamouroso. Todos admiram e respeitam quem abdica da própria vida para tornar-se monge ou sanyasin (renunciante)- isso é –em muitos casos- um alimento para o ego. 
Mas quem admira o homem comum – “ The fool on the hill”- poeticamente e fielmente retratado na música dos Beatles?

Grandes mestres como Jesus Cristo, Lahiri Mahasaya, Sri Yukteswar, Krishnamurti , Papaji etc deram exemplos de uma vida equilibrada. O ideal cristão de “viver no mundo sem fazer parte dele”, o “caminho do meio” pregado por Buda, a “aceitação do que é” de Krishnamurti e mestres advaitas, o “agir pelo não-agir” de Lao Tsé, “ O agir sem apegar-se aos frutos da ação” de Krishna- tem a mesma natureza semântica, o mesmo significado, o mesmo sentido.            
Em suma, encontrar o ponto de equilíbrio entre a vida espiritual (quietude) e a vida social (ativa) é o maior de todos os desafios.

Alsibar

alsibar.blogstpot.com