sábado, 10 de maio de 2014

A PALAVRA NÃO FAZ O MESTRE- The word doesn't make the master



Qual a diferença entre um  "guru" explorador de satsangs e um mestre verdadeiro? Está nas palavras que diz ou naquilo que faz? Uma boa oratória é sinal de elevação espiritual e moral? Será que palavras bonitas, doces e "sábias" indicam grande espiritualidade ?   Leia o artigo abaixo e aprofunde-se mais nesta importante questão.

   Jesus, certa vez, referiu-se aos escribas e fariseus dizendo: 

“ na cadeira de Moisés estão sentados os escribas e fariseus. Fazei tudo e guardai o que eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. (…) Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e serem chamados de mestres pelos homens” (MT 23:2-7).
  
Alguns espiritualistas não gostam de Jesus- não sei porquê. Talvez por o acharem “demodê”. Talvez por não proferir apenas palavras doces- como fazem alguns gurus contemporâneos – mas por dizer a verdade. E a verdade nem sempre é agradável.Vale lembrar que Jesus foi respeitado por grandes sábios, mestres e instrutores de vários tempos, culturas e sociedades- incluindo Gurdjieff , Gandhi, Yogananda, Babaji, Ramakrishna e o próprio Krishnamurti. Jesus não dizia nada para agradar ninguém. Ele desmascarou a mentira,  a falsidade e a hipocrisia dos "mestres" do seu tempo.

É importante ressaltar que quando  Jesus fala de hipocrisia, ele não se refere apenas a um contexto histórico específico . Ele alerta sobre um traço característico do ser humano que extrapola espaço e tempo. Tudo o que ele disse continua vivo, atual e verdadeiro . O ser humano de ontem é o mesmo de hoje -os padrões se repetem. Mudam-se os costumes, o tempo, a cultura e o país- mas o homem não muda. Continua o mesmo ao longo dos milênios.

Ora, quem são os escribas e fariseus da época moderna? São todos os líderes religiosos que roubam, enganam e exploram a fé do povo- de qualquer que seja a religião, organização ou movimento . São aqueles que se passam por mestres espirituais, mas exploram, enganam e iludem. Amam o dinheiro , o poder e a fama – mais do que qualquer coisa. E, para alcançar isso, manipulam as mentes fragilizadas, utilizando principalmente de um discurso bonito, sedutor e comovente. Uma retrospectiva básica mostra que todos os  verdadeiros mestres não ficaram apenas nas palavras. Antes de tudo tiveram uma vida condizente com o que pregavam. 

Buda- abandonou o palácio e a vida de luxo- e embrenhou-se na floresta em busca da libertação. Ao encontrá-la, viveu uma vida equilíbrada e sóbria- sem nenhum tipo de pompa, luxo ou regalia. Jesus- o Mestre dos mestres- foi um simples carpinteiro. Não tinha “onde reclinar a cabeça”. Em seu tempo havia muitos pregadores, salvadores e “profetas”- quase todos fajutos. Qual foi o diferencial de Jesus? Com certeza não foi apenas suas palavras- apesar de sábias, profundas e originais- mas sua vida de amor e dedicação ao próximo e- principalmente- pelo seu sacrifício final. Coisa que nenhum falso profeta teria coragem de fazer.  Ou seja, Jesus não ficou apenas na palavra. Foi além dela.

Ramana Maharish abandonou cedo a casa dos pais para viver nos sótãos de um templo- isolado, sozinho, sem dinheiro ou posses de espécie alguma. Lá não fez outra coisa a não ser meditar ou “investigar” (vichara)- como ele dizia. Esta foi a  primeira e última viagem que fizera . Depois nunca mais viajou. Pra que viajar? Com que intenção?  Pra  conseguir dinheiro e fama? Não. Isso não o interessava. Ele nada queria e nada possuía. A única coisa que tinha era uma tanga pra cobrir as partes íntimas.  Não se sentia autoridade nenhuma e nunca aceitou qualquer tratamento especial ou diferenciado. Era a imagem clássica do sanyasin- renunciante .Não teve   família, nem trabalho, nem lar, nem posses. O contrário do estilo de vida de alguns de seus supostos discípulos  que hoje posam de “mestres”. 

Krishnamurti  nascera pobre, mas quis o destino que ele tivesse uma vida diferenciada . Muito novo ainda, foi feito líder de uma organização rica e poderosa . Mas, apesar de todo poder e bajulação, abdicou de tudo isso, ao negar seu próprio messianismo e dissolver a famosa organização que o idolatrava. Depois, passou a viver da venda dos seus livros, escolas e doações. Esses recursos eram administrados pelas fundações que era formado por um conselho de administradores. Durante um bom tempo, K. não quis se envolver em assuntos administrativos. Depois de um problema com seu ex-secretário e insistência de alguns amigos, K. aceitou fazer parte do conselho administrativo das Fundações. K. costumava dizer que não possuía dinheiro e que nada precisava além de um lugar pra dormir, roupas e alimento. As Fundações pagavam suas despesas pessoais. Tornou-se exemplo de parcimônia, humildade e trabalho. Lavava seu prato, lavava seu carro, aguava as plantas- sem regalias ou ares de mestre. Não havia o menor traço de afetação, ou superioridade. Tinha uma vida confortável- mas modesta- sem pompa ou ostentação.

Um mestre não vive apenas de discursos- mas de atitudes e ações concretas. Falar bonito é resultado do desenvolvimento de uma técnica: a da oratória. E isso qualquer um pode fazer, basta que se dedique . Todos os oradores profissionais conhecem os truques que tornam alguém “expert” na arte de falar.  Essas técnicas incluem leituras, assistir bons oradores, carisma, sagacidade, humor e inteligência emocional. Em última instância, um bom orador, não passa de um hipnotizador. Ele pode ser o mestre da oratória- mas isso não o torna um mestre espiritual. 

Para ser um bom orador -ou escritor – não é necessário aperfeiçoamento espiritual, mas apenas de esforço e dedicação para desenvolver a arte de falar bem. O espírito se aperfeiçoa através da vivência e da experiência- das dificuldades, obstáculos e aprendizados diários. Os bons oradores tem poder de hipnotizar as massas e, muitas vezes, usam este poder com fins políticos, militares ou religiosos. Nada disso o torna um ser espiritualizado- pelo contrário- muitas vezes serve apenas “pedra de tropeço”. A força da palavra levou pessoas como Hitler, Jim Jones, David Kolesh e outros malucos ao poder - e à tragédia. Isso prova que muitos psicopatas são ótimos oradores. Alguns se tornam gurus. 

As técnicas corretas de uso da palavra são estudados exaustivamente em várias áreas, notadamente a hipnose, a teologia e o  marketing. A palavra é o instrumento do presdigitador, do malandro, do marqueteiro, do político, do hipnotizador e dos auto-proclamados gurus. Todos eles aprendem a usar a palavra com finalidades específicas. O problema é que muitos a usam para manipular pessoas com fins puramente egoístas . Uma das  técnicas mais poderosas consiste em produzir emoções agradáveis nos ouvintes. Isso é simples de entender: o cérebro funciona dentro do padrão: prazer e  dor.  Assim, palavras positivas e confortadoras- criam emoções positivas e confortadoras. E isso  é confundido com paz, bem-aventurança, graça etc. Mas  está longe de ser.

A vida, as palavras, os pensamentos, as ações , emoções e sentimentos de um mestre autêntico estão em completa sincronia. Tudo nele manifesta uma percepção diferenciada. Isso não quer dizer que ele tenha que ser “financeiramente pobre”- ou coisa parecida- mas suas atitudes caminham juntas com aquilo diz e  ensina . Lamentavelmente, alguns líderes são tão sagazes que pregam exatamente o que não fazem e ainda tem a cara de pau negar veementemente. Por exemplo: Nenhum líder afirma que é mestre- mas tem um séquito de seguidores fiéis e fanáticos. Dizem que não se importam com nada- com luxo ou dinheiro por exemplo- mas não abrem mão de cobrar caros ingressos para os “satsangas” . Dizem que não exercem autoridade- mas ai daquele que discordar do mestre – é “delicadamente” reprovado pelo líder- ou outro babão qualquer.  Dizem que não “prendem psicologicamente” ninguém, mas se alguém quiser sair do grupo- perde a amizade e a consideração de todos- inclusive do líder. Ou seja, há toda uma estratégia para  fortalecer e manter a lavagem cerebral . 

Por fim, é importante relembrar as eternas palavras do mestre Jesus : “pelos frutos conhecereis a árvore”. Mas, nesses de marqueteiros e bajuladores- está cada vez mais difícil conferir se a árvore é boa ou má, pois a organização faz de tudo para esconder ou negar os “frutos podres” . A imagem do líder é cuidadosamente preservada de forma a nunca serem revelados seus defeitos, fragilidades  e desmandos . Muitos crimes e escândalos de alguns líderes espirituais são  negados até hoje pela organização exploradora- mesmo com todas evidências , provas testemunhais, documentais e até registros em vídeos e fotos. 

 
Tudo isso nos leva a refletir sobre o poder sedutor da palavra, do discurso .Se a palavra é a principal arma do hipócrita – é importante não se deixar levar por discursos supostamente “profundos”- mas que no fundo não dizem nada.  É fácil usar palavras bonitas, frases de efeito e expressões rebuscadas- basta um pouco de treino , habilidade e cinismo. O mais seguro- neste caso- é manter um certo distanciamento. Na dúvida- é melhor não seguir ninguém. Faça como Jesus disse: “escutai-os, mas não os sigais, não os imiteis, nem os chameis de mestre”. Lembre-se: o verdadeiro mestre não precisa de auto-promoção, nem de marqueteiros, nem de explorar ninguém. Basta-lhe uma vida digna, correta, honesta e harmoniosa.  E ele demonstra isso não pelo que  “diz ”, mas pelo que  faz e vive.  
Definitivamente, a palavra não faz o mestre.
Pense nisso!
Alsibar
http://alsibar.blogspot.com

9 comentários:

  1. Prezado Alsibar, tem algumas citações atribuídas a Jesus que fica difícil entender: uma delas é "o reino de Deus está próximo" e outra é "ninguém vai ao pai senão por meu intermédio". Qual é o teu entendimento?
    Luiz Lomando

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  2. Ola amigo Luiz tudo bem?

    Bom, quem disse " O reino de Deus está próximo" foi João Batista. E estava se referindo à vinda do Messias que significava a vinda da Libertação , da Luz para a humanidade através do anuncio do Reino. Mas onde está o Reino? Ele mesmo responde : " O reino de Deus está dentro de vós"- Lucas17:21. Ou seja, é exatamente isso: o reino de Deus , o céu deve ser encontrado primeiramente dentro de cada um, o resto é consequência.

    Sobre o segundo questionamento: "Ninguém vai ao pai senão por mim". Ora, quem é o Cristo? É a manifestação do próprio Pai não? Como ele explica logo depois, nessa mesma ocasião "Quem vê a mim vê ao Pai. Eu estou no Pai e o Pai está em mim". Ora só há um caminho para o Pai que é estar em Cristo e quem está em Cristo? Quem faz a vontade do Pai. E qual é a vontade do Pai? O amor, a Verdade, o bem ,o seguir os seus ensinamentos como ele mesmo explica:
    " Aquele que tem meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei nele. Se alguém me ama guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viveremos para ele e faremos morada nele. E este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei" (Joao 14:21 e 15:14).

    Deus é o amor. Jesus é o amor- isso não depende de religião. A pessoa que ama- mesmo que nunca tenha ouvido falar de Jesus, está nele- pois ele é amor. Lembre-se que ele disse: " Nem todo que diz : Senhor , Senhor entrará no Reino de Deus, mas aqueles que fazem sua vontade".

    É isso amigo Luiz Lomando!

    Fraterabraços e até a próxima!

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  3. É meu amigo, são interpretações das escrituras (exegese, se não me engano). O problema é que os menos avisados costumam fazer uma interpretação literal daquilo que está escrito. No alcorão é bem pior ainda! Tem quem acredite no ecumenismo, um congraçamento de todas as crenças. Não da, né?
    Grande abraço.
    Luiz

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  4. Boa Dia Amigo Alsibar

    Tenho uma reflexão para partilhar consigo, gostaria que me dissesse a sua opinião sincera (não tem a ver com texto)

    Na minha opinião criticar e dizer mal de alguém não é correto, pois a critica fere.
    Não temos esse direito pois somos todos pecadores.
    Devemos corrigir os outros através do nosso próprio exemplo.

    Por outro lado, na minha opinião, relativamente ao Elogio é um assunto delicado. Quando elogiamos alguém, a pessoa elogiada ficará contente por receber o Elogio, mas esse contentamento vem do Orgulho, do EGO.
    Ou seja, ao Elogiarmos alguém estamos a alimentar algo nessa pessoa que é prejudicial ao seu crescimento espiritual.

    Em resumo, devemos corrigir os outros através do nosso próprio exemplo. E o elogiou deve ser feito como a seguinte frase: "Continua, estás num bom caminho"

    Aguardo resposta
    Obrigado
    Rodrigo

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    1. Ola Rodrigo seja bem vindo de volta amigo:

      Sobre a crítica e o elogio...

      Amigo, qual o problema de comentar algo bom de alguém- desde que seja verdadeiro- e não "rasgação de seda"? E qual o problema de se criticar algo de "errado" que alguém esteja fazendo se isso lhe beneficiá-la no sentido de perceber o próprio erro? Realmente não vejo mal nenhum. Afinal somos seres humanos. O nosso maior compromisso deve ser com a verdade- seja ela "boa" ou "má", "correta" ou não.
      Uma crítica construtiva pode ser de grande ajuda no crescimento e amadurecimento interior. Assim como um elogio feito na hora e no momento adequados- desde que seja verdadeiro e sincero.
      Agora, obviamente, quem recebe o elogio ou a crítica deve se vigiar e perceber suas próprias reações a isso, seja de alegria- no caso do elogio- seja de tristeza- no caso da crítica. Em ambos os casos deve-se ficar consciente de si, de suas reações. Além disso, não deve se apegar nem a um, nem ao outro- pois essas emoções e reações são passageiras e mutáveis. Crítica e elogios são naturais ao longo da vida.
      Deve-se pois aprender a ter serenidade para receber o elogio e a crítica. Isso não significa que o corpo não haverá de se alegrar com um elogio, ou ficar triste com uma crítica- afinal nosso cérebro funciona dentro da lógica dos estímulos positivos e negativos. Mas deve-se ficar consciente de ambos como dois lados de uma mesma moeda.

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  5. Olá amigo Alsibar!

    Mais um grande texto, como sempre a serviço de nenhuma outra coisa a não ser do esclarecimento.

    Essa questão da "vida exterior" do mestre, ou seja, da sua conduta/ações é bastante complicada.
    Isso porque muitos mestres afirmam que o tal despertar concerne a uma outra dimensão, que nada tem a ver com mundo manifesto que nós vivemos. O próprio Jesus, à sua maneira, dizia: "meu reino não é desse mundo". Sendo assim, às vezes eles alegam que vivem em duas esferas: a da pura espiritualidade, pura consciência; e a da pessoa, alguém atuando neste mundo através de um corpo-mente específico. Nesta linha, as possíveis falhas de comportamento seriam pertinentes apenas a esta segunda esfera, que na visão do iluminado estaria totalmente dissociada da primeira, embora para os "não iluminados" só seja visível a segunda.

    Um exemplo que pode ajudar a esclarecer o que eu estou tentando expor é o caso do grande Nisargadatta Maharaj, que é inquestionavelmente reconhecido como mestre genuíno. Inclusive eu o tenho como uma grande referência e fonte de sabedoria. No entanto ele tinha alguns hábitos não muito abonadores ou recomendáveis como é o caso do seu intenso consumo de cigarro.

    Certamente se o Nisargadatta fosse questionado sobre esse vício, ele iria dizer que esse hábito de fumar diz respeito apenas àquele corpo-mente, e ele não está identificado com esse corpo-mente.
    Ou seja, se você vir dois caras fumando, um iluminado e o outro não iluminado, não existe diferença nenhuma entre eles no que toca a suas ações, a única diferença (e esta não é visível) é que um estaria totalmente desidentificado com o corpo e com as respectivas ações que dele emanam.

    Tá vendo aí como é complicado? E tem mais. Como diz a velha sabedoria popular, "onde passa um boi, passa uma boiada". Se o ato de fumar inveteradamente pode ser relevado, todas as outras coisas também o poderiam sob esse mesmo argumento, de que quem está praticando aquela ação supostamente desabonadora está totalmente desapegado, desidentificado com ela. Sendo assim, o tal do Osho poderia alegar a mesma coisa, que o seu vício em luxo e poder pertencia apenas àquele corpo-mente e ele estaria além daquilo, ele teria realizado o absoluto. Muitos outros exemplos poderiam ser dados... Mas acho que já é o bastante.

    Gostaria de saber sua opinião sobre essa questão delicada, que surge quando um mestre diz "eu não sou meu corpo, não sou a minha mente, não sou as minhas ações, etc..."

    Um forte abraço!

    Namastê!

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  6. Ola Amigo Rogério tudo bem?

    Bom... uma boa questão que deve ser tratada com muita ponderação e serenidade - do contrário cai-se em regras gerais que não se aplicam a casos particulares. A conduta de uma pessoa deve revelar aquilo que prega- isso é o mínimo- não? Senão vira hipocrisia não é mesmo?

    Vamos pegar o caso de Krishnamurti com a esposa do ex-secretário. Há vários aspectos aí: primeiramente K. nunca pregou o celibato e nunca se disse celibatário. Até aí tudo bem. Todavia, quando o assunto envolveu "abortos" ficou mais grave. Ora, abortar é matar um inocente. E isso não me parece nada condizente com os ensinamentos do K. Dizem que quando o David Bohm soube dessa história rompeu com K- e há boatos que até sua morte tem a ver com esta revelação.

    Mas quem sou eu para julgar o K ou quem quer que seja? Todavia, penso que ele pode ter errado- ou falhado nesse ponto. Ora, uma falha é algo humano. Falhas acontecem aos humanos- mesmo os iluminados. E se ele falhou- provavelmente pagou por isso. Sempre me comoveu o relato dos seus últimos dias de vida terem sido tão dolorosos. Quando eu lia eu me perguntava: "por que o K. teve que passar por tanto sofrimento?". E então algum tempo depois eu soube da história dos abortos e eu senti como sendo uma resposta.

    Ora, mas nós falhamos todos os dias. O ser humano é um poço de defeitos, falhas e equívocos. O K. pode ter falhado aí nesse caso. Todavia, penso que ele soube superar esta fase. Isso que aconteceu com ele envolveu várias questões que o público só tem um pequeno vislumbre. Pelo que sei, ele terminou com a Rosalinda, rompeu com o Raja e tocou sua vida pra frente. Não teve mais caso com mulher casada e nem houve mais abortos -pelo menos não sabemos. Foi algo isolado, especifico- uma atitude que nenhum de nós pode julgar, ou jogar pedra. Mas, repito, cada um vai responder por seus atos - seja quem for.

    No caso do Nisarga- ele fumava e comia carne. Aí entram outras muitas questões. Não cabe a nós julgar se comer carne e fumar é pecado mortal ou não, se desmerece ou não aquele que o faz. Isso é do foro íntimo de cada um.

    Todavia, no caso de Pedofilia já é mais grave. No caso de exageros, explorações, megalomania- mentiras e sede de poder já é outra coisa. Se alguém ensina espiritualidade - mas ambiciona dominar o mundo- isso é vil. Se manipula pessoas a seu bel prazer- isso é indigno. Se usa as pessoas para servir e saciar sua luxúria- isso não é digno de um ser de luz. Mas, mesmo nesses casos- não nos compete julgar. Mas opinar não é julgar. Novamente entra aí as palavras de Jesus: a cada um será dado conforme suas obras.

    O fato é que ninguém é perfeito. Os mestres não estão livres das falhas humanas- por isso não devem ser adorados, nem bajulados, nem venerados. Estar no corpo humano é estar sujeito a todas as mazelas humanas. Os mestres nos ensinam, são exemplos e referenciais. Saber que Jesus e Krishnamurti tiveram falhas e defeitos humanos os trazem pra mais perto de nós. Todavia, ao mesmo tempo- eles nos ensinam que apesar disso- há sim uma cosmoética ou ordem universal. E é por ela que todos devem se pautar- pois todos que dela se desviarem haverão de "pagar"- pois- como disse Buda: ninguém está livre da Lei de Causa e efeito. Ela vale tanto para o ser mais vil- quanto para os seres mais evoluídos.

    Fraterabraços amigo!

    E obrigado pela oportunidade de abordar tal tema.


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    1. Obrigado Alsibar!

      Sábias palavras.

      Abraço

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