sexta-feira, 8 de março de 2013

O CONHECIMENTO, A SABEDORIA E A VERDADE



 "Apreender", de acordo com o dicionário significa (latim apprehendo, -ere, tomar, agarrar, apoderar-se), metaforicamente empregada, quis dizer: deixar de se agarrar as coisas, parar de tomar o conhecimento como empréstimo e fazê-lo brotar e si mesmo. Quando você se apodera de algo, significa que esse algo tinha um dono e, que portanto, aquilo que passou a ser teu, nunca de fato o será. A Verdade só pode ser compreendida e nunca apoderada. A verdade apoderada é emprestada ou furtada de outro, por isso é de segunda mão e nunca será uma Verdade.” Júlio César de Castro *

         Existe o conhecimento que se aprende dos livros, na escola, na faculdade. Esse tem que ser "pego" dos outros  pois é assim que a ciência avança. Existe também a sabedoria- o que é outra coisa e tem a ver com a percepção da verdade sobre  si mesmo.  Mas a “Verdade” em seu sentido mais amplo tem a ver com a realidade, com aquilo que é verdadeiro, em oposição ao que é ilusório, mentiroso ou falso. A Verdade  nunca pode ser emprestada. Não dá pra se apoderar da Verdade de outro e repeti-la como se fosse a sua. Todavia, não podemos esquecer que o outro pode apontá-la. Resta-nos olhar e ver por nós mesmos aquilo que é apontado.

A visão do alto é mais ampla e vasta
          Além disso a minha verdade, ou visão da Verdade é um fenômeno totalmente singular e pessoal. A Verdade de Jesus, por exemplo,  tem a ver com sua experiência e  nível de consciência e, assim penso, que é a Verdade de cada um. A visão de quem está no topo não é a mesma de quem está na planície. Quem está no alto, vê com mais amplitude. Quem está embaixo tem uma visão mais limitada. Mas ambos podem estar vendo a mesma coisa, todavia sob perspectivas diferentes devido a diferença de níveis e ângulos de visão. O  aprendizado é infinito. Assim, pode ser que não existam topos- no sentido de haver um limite. Mas quando o outro aponta algo lá do alto e você cá embaixo consegue perceber a mesma coisa -às vezes com um certo esforço, após um certo tempo e “treinamento” etc - isso não estaria no mesmo sentido do "roubar" ou "tomar"- dado pelo dicionarista.

           Assim,  quando os mestres nos ensinam, estão falando de algo que muitas vezes não conseguimos ver-mas que podemos perceber diretamente por nossa própria experiência. Considero que esta seria a atitude mais sensata e sábia.O fato é que ninguém vive isolado. Usando uma metáfora: o sapo que vive na lagoa, pode até duvidar da existência do mar. Mas ele pode ir até lá e vê-lo com seus próprios olhos. Então não haverá mais dúvidas. Isso me lembra também a “Alegoria da Caverna” de Platão. Os que estão acostumados às sombras, talvez duvidem da existência do mundo colorido e tridimensional. Mas eles não precisam acreditar na sua existência. Precisam apenas ter coragem para se levantar  e constatar por experiência própria a verdade da existência ou não de tal mundo.
Alegoria da Caverna de Platão :as sombras da ignorância e a Luz da Verdade

          Da mesma forma, os mestres e iluminados do passado nos falaram da existência de um outro mundo, de uma outra dimensão- não necessariamente física. Seria infantil ficar apenas teorizando e discutindo sobre a existência e aparência de tal mundo. Como saber se é VERDADE tudo o que eles disseram? Temos que abrir os olhos e ver. Temos que nos levantar de nosso comodismo e olhar para o lado certo da caverna. Talvez isso demande energia e esforço no início. Talvez precisemos apenas  abrir os olhos e ver. À primeira vista, isso parece muito fácil, todavia, após anos de cegueira mental e espiritual, “abrir os olhos e ver”  pode ser uma das coisas mais difíceis do mundo.

O Medo da Realidade nos paralisa
           Ver a verdade pode não ser algo agradável. O choque da realidade assusta muita gente. Sabendo disso, muitos fogem por medo ou covardia mesmo. E assim preferimos discutir teorias, debater conceitos, confrontar ideias, defender crenças e filosofias- tudo isso para nos distrairmos e não olharmos para o que realmente importa: a verdade sobre si, sobre homem e o mundo. Isso seria bastante chocante , doloroso e, talvez, insuportável. E o mais curioso é que não encaramos a Verdade por medo que ela nos faça sofrer. Mas, talvez, apenas quando tivermos a coragem de ver a VERDADE sobre nós mesmos e o mundo é que poderemos nos libertar do sofrimento.Como saberemos? Temos que “ir e ver”!


Alsibar
http://alsibar.blogspot.com

* Agradecimento especial ao Júlio César de Castro por seu comentário que me inspirou o artigo. Muito obrigado.

5 comentários:

  1. Por que a verdade não é agradavel e o choque da realidade assuusta muita gente? O mundo é um lugar tao ruim assim?

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  2. Olá Anônimo de 08 de Março de 2013,

    Estamos usando o termo Verdade no sentido de verdadeiro, real. Criamos muitas imagens e ilusões sobre nós mesmos e nelas nos refugiamos. Não é fácil aceitar que tudo - ou quase tudo- que cremos sobre nós mesmos pode ser uma grande mentira. Talvez, nada em nós seja permanente, bom, importante. Mas não consideramos assim. Pensamos que existimos como um ser maravilhoso, que nossos pensamentos são nossos, que temos uma personalidade permanente e eterna, que somos seres indivisivos que existimos enquanto entidade separada .

    Quantos de nós aceitam que tudo isso pode ser uma grande miragem? E por que não percebem e nem aceitam isso? Se você diz a alguém que tudo o que ela "pensa que é " é apenas um processo em constante dinamismo. Uma entidade forjada em um complexo mecanismo de medo e desejo. Isso é confortável??? Descobrir que até mesmo seus pensamentos e tudo o que vc tem de mais caro pode ser apenas uma grande ilusão- é bom?

    A "Verdade" é a verdade sobre nossas ilusões, nossa mente, nossa percepção fragmentada da realidade. A verdade de que somos contraditórios, invejosos, ávidos. É descobrir que quando buscamos a Verdade, estamos, na realidade buscando um refúgio, uma fuga , um consolo- que talvez não exista. É descobrir que minha bondade, nada mais é do que medo ou ambição religiosa- disfarçada de virtude. É descobrir que lá no fundo nada sou, nada tenho e nada sei. É descobrir, por exemplo, que tudo que considero ser a Verdade pode ser uma grande ilusão. Pois a Verdade não pode ser compreendida pela mente. É saber que preciso morrer para que a Verdade possa nascer e que, enquanto "eu" existir- a Verdade não se revelará.

    Abrir mão de tudo isso sem nada esperar em troca é o grande desafio do investigador espiritual sincero. É dessa morte- dolorosa para o ego-ilusório- que falo. Se alguém é capaz de passar por esta morte sem dor… Parabéns!

    Mas normalmente o que vemos é o contrário. Ninguém quer “soltar o osso”, ninguém quer “morrer” para o passado, para as memórias, para as imagens, para o pensamento. Queremos a continuidade queremos as sensações, o prazer, experimentar. Por isso criamos teorias de que “somos esternos”, “somos maravilhosos”, “somos luz”. E SOMOS! mas isso só vem à tona com a morte do EGO. Até lá, tudo o que somos é o humilhante, pequeno e medíocre EGO.

    Detestamos essa ideia à tal ponto que ficamos na defensiva quando alguém insinua que não somos o que pensamos ser. Talvez sejamos um grande nada, um grande vazio e nada mais! Como sabê-lo? Pra isso temos que ter coragem de descer fundo em nós e vermo-nos tal qual somos e não de acordo com o que imaginamos ser. Se isso for fácil, simples e prazeroso... então estou totalmente errado.

    Namastê!

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    1. A dor do confronto com a verdade é diretamente proporcional ao nosso grau de apego e de sonho. Não é a realidade que dói, mas a volta a um estado de compreensão. O universo em si a ninguém fere. Nos ferimos quando nos afastamos dele (da verdade) nas barcas da ilusão.

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    2. Como os olhos afastados da luz há milênios, quando a encontra novamente sofre, queima, se adapta ou cega. processo. Nós doemos, os olhos antes cegos que retornam à luz doem, a realidade não dói. Ela é.

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  3. Grande Lobo... obrigado por contribuir conosco no esclarecimento desse tema! Namaskar!

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