segunda-feira, 30 de abril de 2012

KRISHNAMURTI FALA SOBRE OSHO – BHAGWAN SHREE RAJNEESH



Durante o mês que eu passei trabalhando em Zurique eu encontrei Deeksha (ex-discípula do Osho). Em sua aflição ela foi procurar Krishnamurti, a única pessoa que Bhagwan reconhecia como igual a ele. Krishnamurti não tinha tempo para Bhagwan e, particularmente, fazia objeções ao uso da palavra Bhagwan (Deus); “ninguém a não ser o próprio Deus deveria usar este título”- ele dizia. Krishnamurti tinha dito a Deeksha:

“Eu recebi centenas de cartas de todo o mundo me perguntando porque eu não falo publicamente contra este homem.  Mas eu não farei, pois esta não é minha maneira de agir. Este homem é um criminoso. Você tem que entender isso muito claramente. O que ele está fazendo com as pessoas em nome da espiritualidade é um crime. Ninguém deve se render a outro ser humano- e ele é simplesmente um ser humano- sua principal manifestação da consciência é sua capacidade de tomar decisões por si mesma. Você cometeu um grande erro em dar-lhe tal poder por doze anos, mas entenda isso: nenhum homem tem poder exceto o poder que seus seguidores lhe concedem. É por isso que ele precisa de pessoas ao redor dele o tempo todo, e quanto mais, melhor”.

(…) Quando Krishnamurti chamou Bhagwan de criminoso, eu suspeitei que não estava se referindo à desobediência das leis civis. Ele estava se referindo ao mal uso de poderes psíquicos e hipnóticos.

Hugh Milne, Bhagwan, the god that failed- pg 275-276
( Hugh Milne: Bhagwan- O Deus que Falhou)
Caliban Books, London 1986

domingo, 29 de abril de 2012

SERÁ QUE A VIDA É UMA BRINCADEIRA?


Será que a vida é uma brincadeira? - Alsibar

Será mesmo que a vida é uma grande brincadeira? Por que será que os augus (autoproclamados gurus) repetem tanto esta frase? A quem interessa essa ideia e quem lucra com ela? O que dizem os verdadeiros mestres sobre isso? Será que o prazer é a mesma coisa que a Felicidade ou Bem- Aventurança citada pelos verdadeiros sábios? Vamos pensar um pouco?

É comum ouvirmos por aí  a frase de que a vida é uma grande brincadeira.  Em geral são repetidas à exaustão pelos autoproclamados gurus para mandar uma mensagem subliminar à mente de suas vítimas e ainda seduzir os possíveis neófitos. Tal imagem toca fundo no inconsciente coletivo de todos nós . Isso nos deixa emocionalmente vulneráreis. A ideia implícita é muito simples. Primeiro, quem não gosta de brincar? Brincar nos remete aos melhores e inesquecíveis dias de nossas vidas. Quando éramos crianças e tudo parecia belo, lindo e perfeito. Em fração de segundos, a mente ingênua, fraca e despreparada faz o seguinte cálculo: “minha vida está uma droga, cheia de responsabilidades, problemas e dores. Quero sentir isso  e tornar minha vida uma grande brincadeira, cheia de prazer e alegria.”

Qual o problema em se buscar prazer e alegria? Em princípio nenhum. Mas quando se erige uma autoridade espiritual tendo como fundamento a promessa de sensações de prazerosas, ficamos escravos das sensações, dos métodos e dos gurus. É preciso ter maturidade pra se saber que a vida não é só prazer e alegria. Ela é também prazer e alegria. Buda, quando se iluminou, compreendeu a verdade acerca da vida. Disse ele que viver é estar sujeito à dor. Será que ele estava errado? Reflitamos: existirá alguém na face da terra que conseguiu ou conseguirá se libertar da doença, da morte, da velhice e da dor? É possível que haja uma alegria que seja eterna e permanente? Ou será que essa conversa não é apenas mais uma armadilha fabricada pelos gurus para seduzir novos adeptos?

Há ainda outras questões envolvidas. Os exploradores adoram dizer que tudo é uma brincadeira. Mas, fico refletindo: será que a vítima do engodo acha isso também? Isso deve ser divertido para quem comete o delito, não para a vítima. O sedutor e psicopata que engana mulheres para roubar-lhes dinheiro, certamente acha que tudo é "uma brincadeira". Ele é incapaz de sentir a dor do outro então, para ele, tudo é uma grande diversão. Mas e a vítima? Será brincadeira pra ela? Haverá graça na desgraça do outro? Penso que não, afinal, ninguém gosta de ser explorado ou enganado.

Dizer que a vida é uma grande brincadeira nada mais é do que "tapar o sol com a peneira". A vida simplesmente é. É o que é. Seja o que for. Se colocamos um rótulo na vida, como sendo, ou como não sendo uma brincadeira iremos, certamente, nos distanciarmos da verdade. Há obviamente muita coisa boa na vida. Mas não podemos nos esquecer dos seus perigos e ilusões. Enquanto existir  as drogas, a violência, as injustiças sociais, as fraudes, as mentiras, os roubos, as ilusões e tudo que causa a dor e o sofrimento, não podemos sair por aí ensinando às pessoas que tudo é brincadeira. Só sabe a intensidade do sofrimento, quem por ele passa. Se o sofrimento é resultado de uma brincadeira cósmica,  esta é de muito mau gosto e eu me recuso a fazer parte dela.

Mas a verdade é que a vida é algo muito sério. Quem não leva a vida a sério, considerando-a uma grande brincadeira está fadado à frustração e sofrimento. Ser sério não é o mesmo que ser carrancudo e de semblante fechado. Nem quer dizer que a pessoa não possa sorrir e brincar. A vida é alegria e dor, felicidade e infelicidade. Ela é  dual. Há momentos de bem-aventurança e também de tristeza e dor.  Ninguém escapa desta realidade. Por isso é um erro sair por aí pregando e afirmando que tudo é uma brincadeira. Muitos gurus fizeram isso no passado e o que colheram? Desgraça, vazio e desilusão. Se tudo é uma grande brincadeira, por que haveremos de buscar a libertação? Isso me lembra o filme Matrix. Se achamos que estamos livres e que tudo é uma  maravilhosa brincadeira, então continuaremos sendo escravos da Máquina da Ilusão. A  Matrix vende a falsa ideia de que tudo é felicidade apenas como um artifício para distrair as pessoas, evitando que elas possam buscar o despertar e a  libertação.

Mas, há certamente um caminho que conduz à libertação do sofrimento. Ele não é fácil de se trilhar. Mas ele existe. Através da Meditação e do Autoconhecimento o homem encontra este caminho e descobre que enquanto houver alguém, uma entidade buscando o prazer e rejeitando a dor- haverá sofrimento. Há um estado além da dualidade prazer-dor. Mas ele não pode ser alcançado através da ilusão da busca,  pois a própria entidade que busca é ilusória. Além do mais, não existem atalhos. Grandes mestres despertos como Buda , Krishnamurti, Lahiri Mahasaya, Sri Yuktéswar, Paramahansa Yogananda, Ramakrishna e Ramana Maharish passaram uma vida dedicada à meditação. Por isso não acredite em promessas baratas. Não seja mais uma vítima de pessoas mal intencionadas que prometem o céu fácil. A história nos mostra que os gurus exploradores, sempre apelaram a este argumento para seduzir e iludir as pessoas. O país das maravilhas só existe nos filmes e nos sonhos. Quem envereda por essa fantasia, quando acordar, poderá ser tarde demais.

Cuidado com  aqueles que querem te vender o prazer como sendo a essência da vida. Isso é uma visão hedonista e perigosa. Nenhum mestre verdadeiro, nenhum iluminado verdadeiro pregou algo parecido. A Felicidade, Bem-Aventurança ou Nirvana falada pelos grandes mestres como sendo a essência do Ser, não é a mesma coisa que prazer.  É um estado além das palavras e da dualidade, que a mente-pensamento não pode conhecer, nem experimentar.  Assim, confundir a Bem-aventurança com uma alegria transitória, originária de um pensamento, crença ou ideia, não passa de uma grande ilusão. Sariputra, discípulo direto de Buda disse certa vez a Udayil:

“- Amigo, Nirvana é Felicidade.
- Mas, amigo Sariputra, que felicidade pode ser se não há sensação?
- Não tendo sensação- isso mesmo que é felicidade.
Nirvana não é uma condição negativa ou positiva. As noções de “negativo” ou positivo são relativas e pertencem ao domínio da dualidade. O Nirvana está além do pensamento da dualidade e relatividade; portanto, está fora das nossas concepções de bem e mal, do justo e injusto, da existência e não-existência. Mesmo a palavra "felicidade", usada para descrever o Nirvana, tem um sentido completamente diferente[1]

Achar que a vida é uma grande brincadeira poderá sair caro demais. Se a vida é uma grande brincadeira, só pode ser de muito mau gosto e perigosa. Além do mais, se todo sofrimento que ocorre no mundo é uma grande “brincadeira divina”, então Deus é um tremendo masoquista. E eu me recuso a pensar no Absoluto como sendo uma força que se compraz e se diverte com o sofrimento humano. 
       O aviso está dado. Não reclame depois, dizendo que não sabia e que ninguém lhe avisou. Lembre-se do que disse Jesus, o Mestre dos Mestres:
     "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ela. Que estreita é a porta, e que apertado o caminho que leva para a vida, e que poucos são os que acertam com ela"( Mateus, VII: 13 e 14).
Namastê!
Alsibar
http://alsibar.blogspot.com


[1]  Budismo Psicologia do Autoconhecimento: George da Silva e Rita Homenko

domingo, 22 de abril de 2012

SEPARANDO O JOIO DO TRIGO: GRATIDÃO À KRISHNAMURTI


Krishnamurti: o joio e o trigo ( Alsibar)


Krishnamurti: edições Planeta
Conheci Krishnamurti através dos livros.  Quando seu corpo faleceu eu havia apenas treze anos. Aos dezesseis, comprei um livro das Edições Planeta sobre ele. Este foi o meu primeiro contato com aquele que iria tangenciar e influenciar toda minha vida. Não senti nada de especial em sua aparência. Vi o rosto amarelado de um homem , cabelos grisalhos, pele aparentemente branca, olhar vago e tristonho. Não parecia indiano, mas europeu. Talvez por que, na época, a tecnologia de impressão dos livros ainda era muito tosca. Mas como eu já havia comprado outros livros da mesma coleção: Ramakrishna e Ramana Maharshi, resolvi comprar este também. Ainda tenho o dito comigo. Velhinho, as pontas carcomidas pelas traças e  pelo tempo.
Sua mensagem, em princípio, não me tocou. Li o livro mas quase nada ficou dele em mim. Talvez fosse muito profundo para minha mente imatura. Todavia, percebi que ali estava alguém que compartilhava e confirmava muitas das minhas opiniões. Primeiramente, fui lendo sua fascinante e intrigante biografia: um menino pobre indiano que havia sido reconhecido como o novo messias, o novo Instrutor do Mundo. Para isso o prepararam e o educaram. Mas… que surpresa não foi a minha, ao perceber que, já adulto, ele havia rejeitado tal título, abdicando do seu status de messias. Vibrei com a coragem, retidão e sabedoria de alguém tão jovem e desprovido de ambição. Pensei… “e agora, Krishnamurti. Como viverás?”.  Mas ele pôs sua missão acima de qualquer objetivo pessoal e perseverou até o fim . Só lhe importava uma coisa: “tornar o homem absoluta e incondicionalmente livre”. Que importava os milhares de seguidores com suas bajulações? A fama, o dinheiro e o poder? Refleti sobre mim mesmo e minha própria condição. Lembrei-me dos homens da nossa sociedade. Muitos dariam tudo para estar no lugar dele e regalar-se com tudo o que ele abandonou espontaneamente.
Após saber da existência de Krishnamurti e sua mensagem, passei a me interessar mais sobre ele. Nesse tempo eu já lia de tudo na área de ocultismo e espiritualidade. Notadamente Bhagwan Shree Rajneesh ( Osho) e Gurdjieff através de seu discípulo Ouspensky, além de Blavatsky, Trigueirinho e outros. Mas o que eu mais apreciava nessa época era o guru Rajneesh.  Gostava principalmente quando lia seus comentários sobre Buda, Cristo e Krishnamurti. Neste ponto, o guru indiano era uma enciclopédia. Com ele conheci as principais correntes espiritualistas da época.E assim, vivi a efervescência do movimento Rajneeshiano. Comprávamos os livros, jornais, revistas, debatíamos sobre pontos discordantes, visitávamos centros de meditação, presenciamos palestras, nutrimos o sonho de visitá-lo na Ìndia ou nos Estados Unidos para onde , posteriormente, ele se mudou. Até que vieram os escândalos, a queda, a prisão do “mestre”, a dissolução da comuna americana e, finalmente, sua morte misteriosa. Mas o tempo… ahhh o tempo… iria cuidar de separar o joio do trigo.
Após todos esses acontecimentos, nos sentimos meio órfãos. Mesmo assim, ainda continuava firme na leitura dos livros e palestras de Osho. Quanto tempo durou a admiração e o encanto? Até quando aquelas palavras bonitas e, até certo ponto, revolucionárias, satisfizeram minha mente inquieta e insaciável? O tempo foi passando e com ele muita coisa virou cinza. Aos poucos fomos aprendendo a diferenciar o que era bijuteria do que era ouro puro. O que realmente tinha consistência daquilo que era apenas produto enfeitado exposto no mercado da espiritualidade falaciosa.  O que é verdadeiro, profundo e essencial não falha nas horas mais difíceis, nem morre com o tempo.  Por isso Cristo, Buda , Krishna e Babaji são eternos e Universais. E ao invés de morrerem, renascem e se fortalecem com o tempo. Mas o que não tem essência, vai morrendo logo que passa a efervescência. Não foi o caso de Krishnamurti.
A mensagem de Krishnamurti se sobressaiu na minha vida, não porque é bonita, fácil e confortadora. Mas porque esclareceu, iluminou e me ajudou a compreender a mim mesmo e a minha vida. E isso não foi nada fácil. Isso não me consolou, a princípio. Pelo contrário, dilacerou minha alma. Destruiu minhas crenças, minhas ilusões e minha zona de conforto que eu zelosamente tentava preservar. Sua mensagem – é verdade- como já disse um amigo blogueiro “ destruiu tudo e  não me deixou nada”. Mas… refletindo hoje: o que deixaria? E como poderia deixar? Tudo que era ilusão tinha que ser demolido. E assim foi que os destroços acumulados de uma vida explodiram num piscar de olhos. Desse meu cataclisma interior surgiu uma nova pessoa. Um novo ser que não era, e não é seguidor de Krishnamurti. Nem de ninguém. Que reconhece e sabe diferenciar ilusão da realidade. Que não busca, nem se satisfaz com palavreados e discursos bonitos. Que não se apega a nada, nem a ninguém, nem mesmo àquele que tanto contribuiu com o seu renascimento. Uma pessoa que não se sente superior ou melhor do que ninguém. Mas que se sente livre e procura ajudar àqueles que também querem sê-lo.
Gratidão… talvez essa seja a palavra que melhor expresse meu sentimento em relação a Krishnamurti. Ele foi o coroamento de toda uma vida de busca, pelejas, erros e ilusões.  O que seria de mim e da minha vida hoje se não tivesse apreendido parte dos seus ensinamentos que pra mim foram cruciais? Hoje sei que os mestres existem. Não porque me disseram, ou porque eu li. Mas porque suas mensagens de libertação e sabedoria afetaram significativamente a minha vida. Sei porque comprovo a veracidade e utilidade de suas palavras na minha vida diária. Sei porque vejo os resultados concretos, mundanças positivas, em minha vida e na vida dos que me rodeiam.  Sejam familiares, parentes e amigos –mesmo aqueles que vivem à distância.
Sou profundamente grato a todos os mestres. Ressalto, todavia, meu agradecimento especial à Krishnamurti  a quem coube a difícil missão de revisar o significado dos princípios fundamentais do Dharma ou Verdade Universal –há muito esquecido, abandonado ou adulterado pelas intempéries do tempo e ação de pessoas inescrupulosas. Krishnamurti,  adaptou a Verdade para a mentalidade do homem moderno , abrindo, assim, novos paradigmas para a espiritualidade do Novo Milênio. Contudo,  ele não abandonou o passado, mas reformulou-o, revalidando  e confirmando, assim, a essência dos ensinamentos deixados por aqueles que vieram antes dele. Sei que muitos não compreendem ou rejeitam a visão revolucionária de K. Mas é bom que se reflita sobre a seguinte questão:
Os ensinamentos são universais e eternos, mas por causa da dureza dos nossos corações sua essência se perde ao longo do tempo. Essa essência, precisa ser relembrada, revitalizada e adaptada conforme a época , o contexto e a cultura. Se não fosse seres como Buda, Jesus, Babaji, Krishnamurti dentre outros, o ser humano estaria fadado a errar na escuridão e no sofrimento, perdido em ensinamentos equivocados, ultrapassados e corroídos pelo tempo.
Muito Obrigado !
Alsibar
http://alsibar.blogspot.com

sábado, 21 de abril de 2012

SER DISCÍPULO DE ALGUÉM É TRAIR A VERDADE!


Krishnamurti colorido- montagem : Alsibar

Na Sétima Concentração Internacional realizada em Erde, Ommen, Holanda, Agosto de 1928, foram feitas ao Sr. Krishnamurti muitas perguntas concernentes as questões que perturbam, na atualidade, a mente de numerosas pessoas. As respostas a essas perguntas foram de natureza tão fundamental e de tão vasto alcance, que julgamos imperioso publicá-las. Haverá muitas pessoas que encontrarão nas suas respostas uma solução para as próprias dificuldades.

Krishnamurti: Responderei a todas estas perguntas, segundo o meu ponto de vista, sem basear as minhas respostas em qualquer autoridade que seja. Sei que todos vós desejaríeis que se fundassem as minhas respostas na autoridade, mas sinto dizer-vos que ficareis desapontados a esse respeito. Não vou instar-vos a aceitar aquilo que tenho como a Verdade absoluta; deixo-o ao vosso critério, pois somente este é valioso, somente este é duradouro, e somente ele vos deve guiar, sustentar e proteger. Prosseguiremos, pois, tendo isso em mente, e peço-vos paciência e atenção, pois bem sei que no próximo ano se não compreenderdes inteligentemente, fareis as mesmas perguntas.

Pergunta: Certos conceitos que tem sido emitidos a respeito de vós e de vossa obra parecem diferir tão fundamentalmente de vossa doutrina e da Verdade que expondes, que gratos vos seríamos se nos pudésseis expressar uma opinião, a esse respeito. Em 1925 elegestes sete Apóstolos, sendo que cinco restantes não haviam ainda alcançado o necessário grau de Arhat. Dizeis agora que não tendes discípulos.

Krishnamurti: Repito que não tenho discípulos. Cada um de vós é discípulo da verdade, desde que compreenda a Verdade e não se ponha a seguir outros indivíduos. Não tenho seguidores. Espero que não considereis a vós mesmos como meus seguidores, porque, se o fizerdes, estareis pervertendo e traindo a Verdade que eu defendo. Não tenho discípulos; não tenho seguidores; mas, se compreenderdes a Verdade que vos ofereço, em toda a sua simplicidade e grandeza, e amardes essa verdade pela sua própria beleza, tornar-vos-eis então discípulos dessa Verdade. Não tenhais cuidados sobre quem é discípulo e quem não o é. Que empenho o vosso de julgar os outros! Aspirais à qualidade de discípulo com o fito de serdes persuadidos ou dissuadidos, com o fito de vos arrimardes em alguém, de serdes protegidos por alguém; mas, meu amigo, quando dependeis de outra pessoa, ai de vossa vida! – Espero, pois que esteja agora perfeitamente claro que não necessito de discípulos nem de seguidores; porque eu sustento que ser discípulo de um indivíduo qualquer é trair a Verdade. A única maneira de alcançar a Verdade é ser discípulo da própria Verdade, sem necessitar de intermediário. Não vos choqueis, não vos sintais desapontados – a Verdade nem sempre é aprazível. A Verdade é rude para aqueles que não compreendem, mas a Verdade é amável, delicada, generosa e encantadora para aqueles que compreendem. Nessas condições, amigo não existe a categoria de discípulo, a não ser para aqueles que compreendem que ser discípulos não é seguir indivíduos, porém só a Verdade em seu sentido absoluto, a Verdade infinita. E vós que tanto vos deleitais como vosso culto das personalidades, que tanto vos deleitas com vossos intermediários, achareis difícil aceitar a Verdade, mas não estou aqui para vos agradar. Não vos torneis seguidores nem discípulos de indivíduos, mas tornai-vos o tabernáculo da Verdade sem princípio nem fim, e então as questões concernentes a quem é apóstolo, quem é discípulo, quem é Arhat, se dissiparão, porque nenhum valor tem.

Quando galgais uma encosta elevada e encontrais pelo caminho indicadores da direção, vós vos detendes para adorar esses indicadores, ou prosseguis a marcha, deixando-os para trás? Ponderai com toda a seriedade sobre este assunto; deliberai, criteriosamente, com vosso coração, e por esse meio alcançareis o entendimento. Não há compreensão no culto das personalidades. Os rótulos que adorais carecem de significação. Bem sei que terei dúvidas sobre o que estou dizendo, e que minhas afirmativas suscitarão em vós um sentimento de incerteza, mas, meu amigo, eu vos digo que a verdade nada tem que ver com as personalidades mesquinhas e tirânicas que adorais, sejam elas quais forem. A Verdade transcende todas as graduações, porquanto essas graduações só existem por causa das limitações humanas.



terça-feira, 17 de abril de 2012

OS OITO PASSOS DO CAMINHO DO MEIO

Buda e o Caminho do Meio:http://alsibar.blogspot.com

 O “Caminho do Meio” foi ensinado por Sidarta Gautama, o Buda ( O Desperto) há mais de 2.500 anos atrás. Este caminho, procura evitar todos os extremos, levando o homem a viver uma vida baseada na prudência, retidão, sabedoria e meditação. Também conhecido como Nobre Caminho Óctuplo, não pode ser considerado simples mandamentos budistas, pois não foram inventados por Buda. Ele apenas explicou, detalhou e divulgou para todos os interessados, qual a via que leva o homem à libertação da dor e do sofrimento. Esta via contempla oito aspectos do comportamento humano a saber:
1.     Palavra Correta: é aquela que edifica, que encoraja, que é dita na hora certa, no tom certo, com as palavras adequadas, conforme a necessidade da situação. O sábio deve escolher a palavra mais eficaz, de acordo com a pessoa e o momento. A palavra correta não é  apenas aquela que é bonita e sábia, ela tem que ser, antes de tudo, verdadeira.  Discursos e sermões bonitos, podem até soar bem aos nossos ouvidos. Mas se não partir de um coração sincero, verdadeiro e honesto, será apenas mais um engodo, mais uma ilusão.  O homem que ensina a verdade, mas não a vive,  é um hipócrita. Suas palavras podem ser corretas, mas como seu coração não é puro, nem suas intenções boas,  elas são, na verdade, mentirosas e traiçoeiras . 
2.      Ação Correta:  são ações edificantes, positivas, boas  para todos os seres vivos e o meio ambiente. Atitudes que sejam fundamentadas na ética, justiça, verdade e no amor ao próximo. Ações que roubam, enganam, prejudicam, exploram e iludem o próximo não são ações corretas. A ação correta deve ser sábia, prudente e ponderada. Evitando uma visão exclusivista, egoísta e individualista. Deve promover o bem estar e o bem comum. 
3.     Meio de Vida Correto: ganhar o sustento de forma honesta , justa, ética e correta. Sem enganar, roubar, ludibriar , explorar ou prejudicar o próximo. Não é fácil estabelecer que tal profissão seja correta, e  outra não seja. Por exemplo, político, advogado e soldados, poderiam, numa visão simplista, serem considerados profissões perniciosas à humanidade. Todavia, sabemos que essas profissões são necessárias dentro da complexidade da sociedade moderna. Desta forma, entende-se que o meio de vida correto, está relacionado muito mais a uma postura correta dentro da profissão, do que ao seu tipo . Você pode ser um político honesto, correto, cumpridor dos deveres ou pode ser um corrupto. O advogado pode escolher ficar do lado dos ladrões e desonestos, ou defender as causas nobres, promovendo a justiça e o bem comum. O soldado pode cumprir seu dever sem se tornar tirano ou cruel. E assim por diante. 
4.      Esforço Correto: o esforço correto está relacionado ao empenho adequado na busca pela iluminação interior.  Tem-se que ter em mente, que a palavra “esforço”, não significa necessariamente a luta, o conflito ou a repressão. Mas a dedicação, a energia e a seriedade com que nos dispomos para compreender a verdade sobre nós mesmos e a vida.  Assim, o esforço correto pode ser entendido como a  vivência do estado meditativo que é sem esforço, sem tempo, sem objetivos e sem desejos. Sem que entremos nessa dimensão desconhecida e atemporal, será  muito difícil- ou até impossível-  obtermos êxito na via que leva à  libertação.
5.     Plena Atenção Correta: é a Meditação vivida, "praticada" da forma correta. Ora, se não meditarmos corretamente,  não chegaremos a lugar nenhum- apesar de que não haver nenhum lugar a se chegar. Pois tudo já “é” no aquiagora. Todavia, nossa mente está condicionada pelo tempo e pelo desejo, não conhecendo outro estado a não ser o da mente-pensamento-ego. Há várias pessoas meditando de forma equivocada. E por isso, ao invés de se libertarem, estão aumentando seus grilhões. Por isso, a Meditação Correta é de suma importância. Sem ela estaremos rodando em círculos e não ascenderemos a níveis superiores de compreensão e consciência. 
6.     Concentração Correta: Modernamente, quando se fala em concentração, vem logo à mente alguém fazendo esforço para focar a mente em um só ponto . Não é sobre isso que Buda fala, pois o esforço, implica num desejo, tendo como base um objetivo.  Essa prática ao invés de libertar, aprisiona a mente. Assim, questões metafísicas , discussões teóricas e assuntos irrelevantes como política, religião e futebol devem ser evitados. Por fim, devemos pensar, refletir, raciocionar sobre os assuntos e questões que sejam realmente relevantes e úteis. A mente é erradia e fugaz. O sábio evita que a mente divague por assuntos que não são bons, edificantes e que não tragam benefícios ao espírito. 
7.     Pensamento  Correto: é o pensamento consciente, funcional, desprovido de sua carga reativa, automática e opressora. O pensamento quando  conscientemente dirigido, deve promover a paz, o bem, e a harmonia. Esse pensamento é salutar pois passa a ser usado como instrumento,  à serviço da consciência.  O pensamento quando descontrolado e inconsciente, causa males não somente ao seu dono, como também aos demais seres. Pensamento é energia, por isso a importância de se ter pensamentos corretos, que sejam edificantes, positivos e benevolentes . Ao pensar corretamente e conscientemente estaremos emanando energia positiva para o universo, o que beneficia tanto a nós mesmos, quanto a todos os seres do universo.

8.     Compreensão Correta: É a compreensão clara, sábia e verdadeira acerca de si mesmo, da vida e do universo. Essa compreensão inclui a descoberta de tudo aquilo que aprisiona o homem na ilusão e ignorância. É entender como a mente funciona, como ela cria a dor e as ilusões. É compreender a verdade sobre si mesmo, vendo as coisas como elas realmente são.  É se autoconhecer para conhecer o próximo. É ver claramente a verdade sobre o EGO e como ele atua em nossas vidas. É compreender e ver claramente “o que é”, no aquiagora, libertando-se de todas ilusões, erros e ignorância.                                                  
Nenhum homem está livre das consequências de seus atos, palavras, pensamentos e sentimentos. Buda percebeu isso e ensinou à toda humanidade um caminho que fosse praticável por todas as pessoas sem distinção. Não são regras budistas.  Pelo contrário, é uma via universal, que se aplica a todos os homens, independente da cultura, raça ou religião.  São  princípios universais que tem como objetivo ensinar o ser humano a viver uma vida boa, justa, ética,  plena, sábia, harmoniosa e feliz.
 Alsibar
Fontes de Pesquisa: 
·        Budismo: Psicologia do Autoconhecimento- Dr. Georges da Silva & Rita Homenko.
·        O pensamento vivo de Buda- Martin Claret
·        O Evangelho de Buda- Yogi Kharishnanda
·        Sócrates Jesus Buda- Três Mestres da Vida- Frédéric Lenoir

sexta-feira, 13 de abril de 2012

MEDITAÇÃO: ALÉM DAS TÉCNICAS, DOS GURUS E DAS POSTURAS!


É preciso entender que a meditação não está limitada a uma postura, a um momento, a uma técnica. Na verdade, todas as técnicas de meditação, apenas te preparam para a meditação propriamente dita. Meditação é um estado de consciência. Não é uma prática, não é algo a ser feito, nem a ser alcançado. É a consciência em sua total pureza e liberdade. É o estado original , a natureza búdica, o Àtman, o Reino de Deus, o Cristo Interno. É a mente despojada do seu passado, dos condicionamentos e de toda impureza que sobre ela se acumulou ao longo dos anos, séculos, milênios.
Na verdadeira meditação deixam de existir o meditador e a meditação, pois descobre-se que não há ninguém para alcançar nada e não há nada a ser alcançado. O que resta? A benção do Desconhecido. Aquilo que não pode ser descrito pois não está circunscrito na dimensão do pensamento e da linguagem.
Quando não compreendemos os limites das técnicas, corremos o risco de ficarmos aprisionados a elas. São como as rodinhas da bicicleta: são úteis até que se aprenda a andar sem elas. Depois que aprendemos, não temos mais necessidade de usá-las. São muletas que nos apóiam enquanto ainda não desenvolvemos a capacidade de nos equilibrarmos por nós mesmos . Mas não podemos passar uma vida de muletas. As muletas são apenas meios, não são um fim. O fim é a libertação delas.
Assim também são as técnicas: elas ajudam o principiante a ir se familiarizando com essa nova dimensão do seu ser. Há pessoas que nunca tiveram nenhum vislumbre do que seja meditação. Nunca olharam pra si, não conseguem imaginar a si mesmas fora dos seus pensamentos. Estão tão viciadas e identificadas com a mente que são incapazes de vislumbrar- nem que seja por um segundo- o valioso estado de liberdade e paz  que a meditação proporciona.
E assim como para tratar dos viciados químicos, há várias técnicas, remédios e recursos , as técnicas ajudam na libertação do vício do pensamento. Não é algo fácil. Mas é fundamental que o ser humano liberte-se das limitações e dos males do pensamento. Do contrário, ele será sempre um ser medíocre, doente, pobre, miserável, condenado a viver sob o domínio do EGO .Um verdadeiro escravo de si mesmo e de suas próprias ilusões.
 Por isso não podemos nos prender a nada nem a ninguém. Por isso que temos que abandonar tudo: livros, técnicas, religiões, guru e até a nós mesmos . Do contrário, nunca seremos “verdadeiramente livres”.
 Alsibar
http://alsibar.blogspot.com


quarta-feira, 11 de abril de 2012

COMO VIVER EM MEDITAÇÃO OU "PERCEPÇÃO UNITÁRIA" ?


Neste texto o Psiquiatra e pesquisador Rubén Feldman González- que conviveu com Krishnamurti-  de forma didática e objetiva o que ele entende por Meditação à qual ele chama de Percepção Unitária. Vale a pena conferir!


1) Como viver em Percepção Unitária?

Em primeiro lugar, cada vez que usamos as palavras “como” e “porquê” numa pergunta, o que acontece é que o pensamento se agita com o seu interminável vocabulário verbal, emocional e ainda visceral.
Por isso digo que o primeiro passo, o primeiro silêncio da Percepção Unitária, é suspender o pensamento e a linguagem. Fica então o puro escutar de todo o som ao mesmo tempo, tão fielmente como o faz uma audiocassete, com o acréscimo da nossa consciência e da nossa inteligência. Se escutar puramente em silêncio todo o som ao mesmo tempo, começará a ver de uma maneira total o campo visual.

A vista é como um espelho consciente que reflecte todo o visível ao mesmo tempo. Esta Percepção Unitária enche-nos de imensa paz. É necessário vivenciá-la. Que isto não fique só ao nível das palavras, como uma lição escolar que rapidamente o aluno esquece. Em Percepção Unitária temos que ser eternos alunos, sempre a começar a ver e a escutar ao mesmo tempo, em grande silêncio. O pensamento com as suas palavras, emoções e ainda reacções viscerais, voltará a emergir à consciência e então trata-se de perceber esse pensamento (medo, tristeza, etc.) como se fosse outro som, mas sem palavras. Essa “Sombra” de pensamento rapidamente se desvanece à luz da Percepção Unitária. Se se vive desta maneira o tempo todo, todo o dia, alguma vez irromperá o Segundo Silêncio do Sagrado e que eu denomino “Aquilo”, a plenitude da energia vital.

2) A palavra “discernimento” é usada pelo amigo Armando Clavier (um dos tradutores de Jiddu Krishnamurti para o espanhol) com o objectivo de traduzir a palavra “insight”. Este é só um dos erros de tradução de J.Krishnamurti. Quando comentei com ele sobre estes erros, Krishnamurti respondeu-me: “diga-lhes para aprenderem inglês”.

Na realidade, continuando com este exemplo, a palavra “insight” em inglês implica uma súbita compreensão total de algo em particular e por isso creio que, “discernimento” não é a boa tradução da palavra “insight”.
A inteligência discerne ou discrimina entre o MOMENTO em que é necessário concentrar-se e pensar, para fazer um bolo, para construir uma ponte, para escrever uma receita médica, etc., e o MOMENTO (sempre já) em que pensar não é necessário, e então podem-se viver longos períodos de cada dia no êxtase da Percepção Unitária, sem deixar de ver “as sombras” quando emergem à consciência.

3) Um dia falamos com Jiddu Krishnamurti deste problema, de como entrar em Percepção Unitária. Pedi-lhe como viver nesse óbvio “samadhi”, no qual ele mesmo vivia a maior parte do tempo. Perguntou-me porque usava eu o sânscrito se estávamos a falar em inglês e porque queria eu complicar “algo que é muito simples”. Disse-lhe que mo explicasse sem usar essa repetida palavra “meditação”, que já tem tantos significados e que na realidade não significa nada. Ele sorriu e consideradamente usou as palavras “Percepção Unitária” (que eu já usava) para descrever o mesmo que eu trato de descrever cada vez que falo de Percepção Unitária. Além disso pediu-me que continuasse a usar as palavras “Percepção Unitária” em vez de “meditação”. Na sua última conferência em Inglaterra disse que já não iria usar a palavra “meditação”.

sábado, 7 de abril de 2012

REALIDADE E ILUSÃO: UMA DIFERENÇA VITAL

Titanic- foto da Internet ( Alsibar)
O que é ilusão e o que é realidade? Qual a importância de se saber diferenciar os dois e como fazer isso? Que valor  isso tem para nossas vidas? Será que podemos nos salvar antes que o “barco” afunde? E 'quem" ou o 'que" poderá nos salvar? Vamos viajar por mares profundos e bravios?Será que você tem coragem?

           
              Lembro-me de um caso verdadeiro, noticiado há um certo tempo na mídia. Alguns pescadores de Cabo Frio, ficaram num barco  à deriva por causa de uma pane no motor. A comida havia acabado e a água também. Para sobreviver à sede, tiveram que recorrer à atitude extrema de beberem a própria urina. Os dias foram se passando e alguns pescadores começaram a desfalecer . Em depoimento posterior, um deles disse que tivera alucinações. Começou a  sonhar com comida e água , mas quando acordava, constatava a dura realidade a que estavam submetidos.  Alguns deles já haviam perdido a esperança de salvação mas, felizmente, após 22 dias, o mais resistente conseguiu avistar um navio e começou a fazer sinais para o mesmo . Finalmente, eles foram vistos. O navio parou e salvou a todos, pouco tempo depois o barco afundou.
         Esse exemplo pode nos servir de base para reflexão sobre ilusão e realidade. Qual era a realidade no caso dos pescadores? O que aconteceria se todos começassem a delirar e sonhar que tudo estava bem ? E se , dentre eles, houvesse algum que dissesse veemente: “isso tudo é uma ilusão. A verdade é que estamos muito bem, temos comida, bebida e não corremos risco algum. Não existe perigo, não existe morte, é tudo coisa da nossa mente”. E se ele conseguisse convencer os outros, qual seria o provável destino de todos eles? A morte, certamente.
        Por isso que, para o homem que vive dominado pela mente, suas imagens, pensamentos e crenças são tidos como realidade. Vive uma vida mergulhada em sonhos pois não aprendeu, através da meditação,  a libertar sua consciência dos padrões mentais repetitivos e mórbidos fortemente arraigados em seu inconsciente, tais como: crenças, pensamentos, medos,   imagens etc  Por viver uma vida superficial, mecânica e semi-consciente, não vive- apenas sonha. E por isso, nunca viverá plenamente , profundamente. Vagará então como um barco à deriva. E por acreditar que vive, nunca buscará despertar para um estado de consciência mais pleno, real e verdadeiro.
          Todavia, se nos mantivermos alertas,  identificando e percebendo nossas ilusões, haverá uma possibilidade de salvação. Não há como libertar-nos das ilusões e sonhos mentais, se não admitimos que eles existem. Ninguém alcança a libertação negando o fato.Somente o homem que percebe  a realidade da ilusão pode realmente alcançar a Libertação. É inútil considerar que alguém possa se libertar apenas por repetir frases como: “ a ilusão não existe! a ilusão não existe!”. Isso é uma tentativa frustrada de fuga ao fato. Desta forma, ao invés de buscar soluções práticas para nossos problemas, eles tenderão a aumentar.
          Por isso a importância da meditação correta. Meditar  não é uma fugir ao fato, mas percebê-lo e compreendê-lo.  Assim, quando vemos a realidade de que nossa mente é celeiro de ilusões, aprenderemos a diferenciar delírio de realidade. Destarte, não confundiremos mais ilusão com verdade, fatos com sonhos. Só então a salvação será possível. Salvação, não no sentido religioso tradicional. Mas no sentido do exemplo narrado no começo deste artigo. O barco da vida está à deriva. Todos estão sofrendo de fome e sede mas, antes que o barco afunde, a Meditação surge como navio salvador, que levará  a todos com segurança ao longo do mar da vida. Até que consigam chegar com segurança à outra margem e possam, finalmente, descansar em paz.
Namastê!
Alsibar

sexta-feira, 6 de abril de 2012

PÁSCOA : QUANDO A RENOVAÇÃO É POSSÍVEL

Páscoa: quando a renovação é possìvel . http://alsibar.blogspot.com
Qual o verdadeiro significado da Páscoa além do apelo comercial e religioso?  Por que é tão necessário  uma mudança profunda em nossa maneira de pensar e agir?  É possível operar esta mudança em nós mesmos ? Qual o caminho da renovação e da transformação interior?É o que vamos refletir no texto abaixo.
Mais uma Páscoa regada a chocolates, pães , peixe, bacalhau, vinho e quase nenhuma reflexão acerca do seu profundo significado. O que seria destas datas comemorativas se não houvesse um forte apelo comercial?  Dificilmente lembraríamos das mesmas. Mas o que realmente nos interessa são as verdadeiras mudanças que tais datas podem trazer em nossas vidas. Não importa a religião em que estamos: cristã, judaica, budista, pagã… a reforma íntima é um imperativo inerente à condição humana. E isso independe de crença religiosa. 

Importa conhecer o verdadeiro significado da Páscoa

          Todos os dias deveriam ser de renovação e reflexão. Afinal de contas, toda manhã é uma nova páscoa que se descortina no horizonte. É a chance disponibilizada pelo o Infinito para que possamos melhorar, transformar… reformar-nos intimamente. Todavia, uma questão sempre presente nestes momentos é : como operar esta transformação? Por que todos os anos prometemos mudanças que nunca chegam? Estas questões me parecem ser cruciais. Vamos refletir um pouco mais sobre as mesmas.
Nossa mente assemelha-se a uma fossa de dejetos e lixos
        Primeiramente imaginemos uma grande “fossa” onde se acumula esgoto, lixo e todo tipo de desejos há anos. No fundo formou-se uma crosta  quase sólida. Como a água não tem para onde escorrer, com o tempo, começará a transbordar. Ora, só é possível  fazer a limpeza da fossa  com  o esvaziamento da mesma não? Isso é muito comum em casas que ainda não tem saneamento básico. Quando ela enche, temos que chamar um serviço especializado  para “esgotá-la” e retirar toda aquela sujeira- só assim ela ficará realmente limpa. Infelizmente, nossa mente muito se assemelha a uma fossa dessas. Lá são derramadas nossas mágoas, angústias, dores e todos os resíduos de pensamentos e experiências. Tudo vai se acumulando ali, como lama parada, até cristalizar-se, formando o EGO.  Apesar de parecermos normais na superfície- no consciente- nas camadas mais profundas acumula-se um verdadeiro lixo psicológico. 
Na mente acumula-se o lixo do passado
      Ora, com a mente assim- poluída e suja de pensamentos e memórias - tentamos realizar a mudança em nossa maneira de ser, pensar e agir. Mas, logo constatamos que pouca coisa pode ser feita. Geralmente, mudamos pequenos hábitos como, por exemplo:  deixar de beber, fumar, tomar drogas e outros costumes prejudiciais à saúde e ao convívio social.  E após esses ajustamento ao status quo social, nos consideramos libertos ou transformados. Tais mudanças são importantes por representar um certo avanço do indivíduo em direção à sua própria evolução e amadurecimento. Mas o ajustamento ao social cuida apenas do nível superficial, do que está visível.  Mas é justamente no invisível e profundo, que tem de ser feito um grande trabalho de limpeza e renovação.
Temos que descer às camadas mais profundas do inconsciente
       Dizer que algo está nas  “camadas profundas do inconsciente”, significa que  a pessoa está inconsciente dos motivos ocultos que determinam seu pensar, agir,  sentir e viver. E essa  “descida” para  conhecer esse mundo desconhecido  é fundamental para que haja uma verdadeira mudança no sujeito. Do contrário, estaremos nos auto-enganando e iludindo. Por isso é tão importante o autoconhecimento. De nada vale rezar se maltrato minha família, meus amigos e meus subordinados. De nada vale falar em “paz” se mantenho disputas e divisões que provocam violência- sejam elas de raça, cor, religião, futebol, partidos etc. De nada vale falar em "amor" se dentro de mim existe o impulso da competição, da ganância, da busca e da autoproteção psicológica. Muita gente fala em virtudes, mas se o sujeito não está consciente de si, não perceberá suas próprias contradições. Praticar o que se ensina já faria uma enorme diferença no mundo.
Muita gente prefere não ver a realidade
    Mas como ficarmos consciente de nossas atitudes? Como perceber nossas próprias contradições internas? Além disso, queremos ver nossas contradições? Muita gente não. Muitos preferem viver de ilusões. Assim mantém-se numa condição psicologicamente confortável e segura. A tal "zona de conforto". Se recusam a sofrer o choque de ver sua própria realidade. Desta forma, passamos uma vida tratando de mudanças superficiais e periféricas, sem nunca tocar no centro, na verdadeira raiz do problema. Por isso, todos os anos é a mesma coisa:  Natal, Ano Novo, Páscoa… e o velho padrão mecânico continua por anos, décadas,  séculos e milênios…

      Temos que perceber algo muito simples: se em nossa mente se acumula a sujeira e o lixo do passado como podemos limpá-los ou, pelo menos, reciclá-lo? Como se libertar da crosta profunda do egoísmo, das mágoas, da dor, dos traumas, das memórias, das experiências etc que condicionam e influenciam nosso presente agir? Certamente não será pela leitura de livros. Nem pelos cursos,  canudos e títulos que conferem reconhecimento. Não será também pelo dinheiro, nem pelo poder. Nem mesmo a religião poderá provocar essa mutação essencial. A religião talvez possa nos indicar o caminho- em alguns casos raros. Mas, em geral, ela, em si não traz a mudança, sendo ela mesma um fator de manutenção da desagregação e do caos . O que poderá nos trazer a mudança então? 
Meditação e Autoconhecimento é o caminho para a mudança
    Certamente só há um caminho... só há uma direção: ir para dentro, meditar, se autoconhecer. Meditação sem autoconhecimento torna-se uma droga psicológica. Autoconhecimento  e meditação caminham paripasso - pois no momento em que me observo- medito.  Mas, perguntarão alguns,  por que eu medito e não vejo mudança nenhuma? A provável resposta será porque não estás meditando corretamente. A verdadeira meditação alcança os níveis mais profundos do ser. Como uma poderosa sonda que desce ao fundo do mar e descortina seus mistérios insondáveis - a meditação faz o mesmo conosco. 
Meditar não é dopar-se, nem hipnotizar-se

               Mas o fato é que muitas pessoas não estão meditando corretamente. Algumas, estão se dopando ou se auto-hipnotizando. E isso pode até trazer uma certa calma  aparente e transitória inicial. Todavia, a verdadeira meditação  é dolorosa por desencadear um processo de limpeza e libertação. O EGO sofre pois está sendo abalado em sua estrutura. Temos que lembrar que estamos removendo o lixo em que nos tornamos. E isso não é prazeroso. Muita gente, por medo ou covardia, quer distância da verdadeira meditação , preferindo técnicas que lhes levem a sonhar e dormir mais ainda.
Que a Luz do Cristo nasça em nossos corações
            Que nesta Páscoa a Luz do Cristo possa nascer dentro de nós.   A luz do Amor e da verdadeira Paz. E que possamos compreender que assim como o alimento e a água são fundamentais à manutenção do corpo físico, assim também o espírito necessita da Luz da Meditação e do Autoconhecimento para  limpar-se , transformar-se e renovar-se. Sem esta compreensão, do que valerão  os rituais e os símbolos? Apenas costumes vazios, sem brilho e sem vida. Que a nossa vivência fortaleça o verdadeiro espírito das  datas comemorativas e que possamos refletir , compreender e viver  o significado profundo das mesmas em nossos corações e relacionamentos .
Feliz Páscoa a todos!
Alsibar
http://alsibar.blogspot.com

quarta-feira, 4 de abril de 2012

COMECE O DIA BEM!


Para começar bem o dia é fundamental que a mente esteja fresca e renovada. Assim como o corpo precisa de um banho diário, de preferência cedo pela manhã, a mente também precisa limpar-se das impurezas acumuladas ao longo dos dias. A  limpeza da mente é feito com luz. A luz da consciência. O fluxo, a intensidade e a constância da consciência determina a intensidade da luz e a qualidade da limpeza interna. Entende-se, portanto, que quanto maior é a consciência, melhor será o banho matinal.
Repetir palavras hipnotiza a mente

    A luz não vem por intermédio do pensamento. Não adianta ficar repetindo de manhã: “ eu sou luz, eu sou luz…”. Pois o pensamento não pode produzir luz, sendo ele de natureza densa. O que é denso só pode produzir algo de sua própria natureza. Assim, a mentalização ou a repetição de frases não poderá produzir a luz purificadora da consciência. Pelo contrário, nos  põe a dormir e a sonhar. Vira uma espécie de hipnotismo. O mero repetir de palavras produz um estado de sonolência e embotamento que é confundido com paz interior. Ninguém limpa uma casa jogando o lixo pra debaixo das coisas. Pelo contrário, temos que tirar os objetos do lugar para trazer o lixo à tona. Do contrário a casa não ficará realmente limpa. Como podemos afirmar que somos Luz se nas camadas mais profundas de nossa mente, acumulam-se a raiva, ansiedade, medo, ambições, desejos, angústias, mágoas, rancores, memórias negativas etc?

A consciência é Paz, Luz e Harmonia
     Não faz sentido. O que determina o nível evolutivo dos seres não é o poder do pensamento, nem o conhecimento mas sim o nível de consciência de cada um. É a  consciência que determina a “voltagem” da luz espiritual de cada ser. O pensamento tem sua função. Mas ele é um usurpador da consciência. Ele sente-se poderoso e quer ser sempre o centro de tudo. Mas não há luz no pensamento. Ele é apenas um instrumento, um servo da consciência. A consciência não se rebela contra o pensamento.Mas o pensamento divide, separa, corrompe. Enquanto ativo, ele quer ser o  senhor de tudo. Por isso que ele não dá espaço para a verdadeira consciência se instalar. O pensamento é criador de desordem e conflito. A consciência é Paz, Luz e Harmonia.

Ficar consciente cedinho ajuda a limpar a mente
    Uma boa dica é ficar consciente desde cedinho. Consciente  de si, das suas sensações, dos  pensamentos, das emoções e reações. Mas também não esqueça de observar atentamente os sons, os cheiros,  as cores e as formas que o rodeiam. Enfim, estando plenamente cônscio do seu mundo interno e externo, você estará banhando seu espírito e iluminando seu dia. No começo poderá ser difícil e causar um certo incômodo. Mas, com o tempo, você verá que mergulhar cedinho na consciência  é a uma das melhores formas de começar bem o dia, tornando-o  mais pleno, harmonioso e feliz!

Namastê!

Alsibar
contato: alsibar1@hotmail.com