domingo, 24 de junho de 2012

ILUMINAÇÃO OU LOUCURA?


Iluminação ou Loucura? http://alsibar.blogspot.com


Qual a diferença entre  iluminação e  loucura? Como o buscador pode diferenciar uma coisa  da outra? Por que a Iluminação é tão parecida com a Loucura? O que a História tem a nos ensinar sobre isso? Como podemos nos proteger dos perigos de uma mente insana?  Vamos refletir ?

A História é, sem sombra de dúvidas, uma grande professora. Ela nos ensina  verdades  incontestáveis. Fatos contra os quais, “não há argumentos”. E ela nos ensina que, no passado, já  existiram líderes espirituais absolutamente insanos.  Esses líderes carismáticos  seguem um roteiro muito parecido.  Em geral começam sua carreira de forma simples e humilde. À medida que vão tomando conta do poder e o poder vai tomando conta deles, seu  modus operandi   vai mudando.  O que começou de uma forma simples e humilde aos poucos sofre profundas transformações. Como uma criança que vai crescendo até tornar-se adulto, assim também são os movimentos religiosos. Com o tempo a organização se torna tão poderosa que o próprio fundador  perde o controle sobre a mesma. Torna-se uma espécie de refém. À esta altura ninguém mais reconhece a organização original, nem o seu criador. Para atender às demandas peculiares a qualquer organização, o líder , muitas vezes, tem que trair seus próprios princípios e ensinamentos. Talvez, por isso, que os grandes mestres espirituais como Lahíri Mahasaya e Krishnamurti foram tão aversos às organizações. Sabiam dos riscos e, como dizia Osho no começo de sua carreira de guru: “ organizar a verdade é matá-la”. Ele mesmo tornou-se um dos maiores exemplos dessa verdade.

Sathya Sai Baba simulando uma "materialização"
 Os líderes espirituais  fundam organizações , comunidades e movimentos que duram um certo tempo.  Às vezes longo, às vezes rápido como um meteoro. Muitos desses casos,  terminam em tragédia. Noutros, o fôlego de vida é maior. Em alguns casos, o protagonista vive uma tragédia interna. Que é mantido em oculto pelos assessores e discípulos mais próximos, de forma a esconder a fragilidade daqueles que veneraram como a um deus.  Como exemplos de tragédia interna podemos citar Sathya Say Baba e Rajneesh. O primeiro, apesar de ser adorado como um avatar,  foi publicamente denunciado como prestigitador, pedófilo e responsável indireto por alguns assassinatos ocorrido em seu ashram. O segundo, foi preso nos Estados Unidos e deportado sob alegação de vários crimes, alguns comprovados e outros não. Todavia, sua maior tragédia foi seu suposto vício em óxido nitroso e Diazepan. O que escondia uma personalidade megalomaníaca e desajustada, culminando com seu “suicídio”. Se foi volutário ou involuntário- nunca saberemos.

  Há, entretanto, tragédias famosas cujo comportamento de seus protagonistas não deixam dúvidas quanto ao seu caráter insano. Esses tornaram-se exemplos clássicos do estrago que um líder espiritual carismático pode fazer na vida das pessoas. Alguns desses casos fazem parte dos anais da História. E para que ninguém esqueça, vamos relembrar algumas das mais famosas tragédias ocorridas no universo da espiritualidade contemporânea.

Jim Jones
 Jim Jones (1931-1978) foi um dos casos mais marcantes e chocantes. Nascido em Indiana, Estados Unidos parecia, no começo, uma pessoa boa e humilde. Homem de grande carisma e influência, seu movimento se expandiu rapidamente, chegando a ter mais de 20 mil membros.  Fundou vários templos e criou uma comunidade agrícola chamada  “ Templo dos Povos”. Não tardou a aparecer várias acusações contra a seita, dentre elas: ameaças físicas e morais aos seus membros , tortura psicológica, exigência de entrega das propriedades ao movimento e de 25% da renda de cada membro à organização, isolamento de crianças em relação a seus pais, interferência de Jones na vida sexual e no casamento de seus membros etc.

 A tragédia teve  início quando a organização foi  acusada do sequestro de um dos filhos de um ex-membro do movimento chamado John Victor. O pai de John, Timothy Stoen,  apelou para o congressista Leo Ryan  e este, devido a grande repercussão do caso, foi até o local para investigar estas e outras acusações que pesavam contra o movimento. Após o primeiro dia de uma gentil e calorosa recepção, Ryan e sua comitiva de repórteres- além de um ex-membro- foram brutalmente assassinados pela Brigada Vermelha-  a guarda pessoal de Jim Jones. Após esse episódio, Jim pois em prática seu plano de suicídio coletivo. Uma tragédia em que morreram 918 pessoas, incluindo 270 crianças. Todas tomaram ou injetaram veneno no corpo. Jim Jones também morrera . Seu cadáver fora encontrado  com um único tiro na cabeça.

David Koresh
David  Koresh (1959-1993) foi outro líder estadudinense  messiânico do Ramo Davidiano- “um grupo religioso originado de um cisma na década de 1950,  da Igreja Adventista do Sétimo Dia na década de 1930”.  Sua trajetória não foi muito diferente da do seu compatriota Jim Jones. David  primeiro se autoproclamou “Profeta”, depois proclamou-se a si mesmo “ O Cristo” anunciado pelo apocalípse.  Não custou a envolver-se em diversos escândalos de pedofilia, abuso infantil, estupro, poligamia, dentre outros.  A  justiça americana foi acionada,  fechando o cerco contra a seita. A comunidade se viu, rapidamente, cercada de policiais em meio a tiroteios. No desfecho final, David Koresh e mais 76 membros morreram incendiados ou alvejados por armas de fogo. Há várias controvérsias sobre os autores do incêndio e dos disparos, se dos próprios membros ou dos agentes do FBI.  

Marshal Applewhite
Há ainda , outro caso mais recente: a do americano  Marshal Applewhite e a seita Heaven’s Gate ( Portão do Céu).  Eles acreditavam que o planeta estava passando por uma espécie de  “reciclagem” (limpeza espiritual) e que para sobreviverem teriam que abandonar a terra .  Para isso,  teriam que pegar uma “carona na calda do cometa”  Hale Bopp quando este estivesse em seu brilho máximo. Eles acreditavam que o suicídio era o caminho para que pudessem alcançar a “Próxima Dimensão ou Próximo Passo”. A seita deixou um triste  saldo de 39 mortos por suicídio.

Há um elemento curioso na história dos líderes espirituais: quase todos se consideram uma espécie de novo messias ou salvador. Osho, ao desembarcar na América pela primeira vez, disse solenemente “ eu sou o messias que a América esperava”. Sathya Sai Baba era adorado como um Avatar- a encarnação do próprio Deus. Jim Jones, não ficou por baixo. Ele  considerava-se a si mesmo a encarnação de vários iluminados do passado, dentre eles, Jesus, Buda e Gandhi. No Brasil temos o Inri Cristo- que se autoproclama encarnação de Cristo. O sentimento messiânico  é um elemento comum a quase todos os líderes espirituais carismáticos. Esse sentimento está na base de toda a trágédia pois, ao se considerarem deuses, colocam-se acima do bem e do mal.  Alguém assim, fará tudo para realizar  seus desejos de poder e domínio e não aceitará -em absoluto- ser contrariado. Mesmo que tenha que enganar, matar ou morrer .

Exemplos de líderes religiosos messiânicos são incontáveis. Mas por que será que a grande maioria dos líderes religiosos carismáticos  se autoproclamam a reencarnação de Deus, Buda, ou de algum outro líder espiritual do passado? Talvez uma das explicações seja a proximidade aparente entre a Loucura e a Iluminação.

Qual a linha que divide a loucura da iluminação? A grande maioria dos iluminados foram considerados loucos . Alguns sofreram perseguição  e pagaram com a morte. Outros, foram celebrados em sua “loucura divina” como, por exemplo, o sábio Ramakrishna, conhecido como o “Louco de Deus”.  O iluminado , em alguns momentos, parece perder o contato com a realidade imediata, ligando-se a uma realidade mais ampla e vasta.   O louco vive à margem da sociedade, isolado em seu mundo interno, particular e próprio. Alguns iluminados também viveram fechados para o mundo externo, totalmente absortos em seu interior, de tal forma que perderam a noção do eu e do meu- como no caso de Ramana Maharish .   Como se vê, loucura e iluminação tem elementos muito parecidos,  mas qual seria a principal  diferença entre um louco e um Iluminado?

Há dois pontos fundamentais que caracterizam um iluminado: a tranquilidade interior e a ausência do EGO ( sentimento de separativadade). Segundo o Bhagavad-Gita,  o iluminado é aquele que alcançou a “equanimidade mental plena”. Ou seja, enquanto um psicótico comum é arrastado pelas ondas  oscilantes da mente instável, o Iluminado vive num estado de total relaxamento  e estabilidade mental . Poderíamos dizer que o que diferencia um sábio , de um  neurótico e de psicótico é o nível de stress . Enquanto no primeiro a ansiedade e inquietação estão em níveis negativos, no segundo estão em níveis  razoáveis e socialmente aceitáveis ; já no último, os níveis são altíssimos chegando a causar delírios e alucinações. Assim, não seria exagero afirmarmos que quanto maior o nível de ansiedade e stress, maior a  loucura. Quanto mais  profunda a tranquilidade  interior –mais sábios e espiritualmente maduro seremos. A principal marca do iluminado é a quietude, a dos psicóticos e neuróticos é a inquietude .  Uma das causas da ansiedade é um EGO forte e poderoso. O Iluminado  não mata o ego, mas "doma-o", usa-o como um instrumento. Os megalomaníacos são totalmente dominados pelo EGO. Por isso seu impulso descontrolado pelo poder, domínio e fama. Talvez isso explique por que eles nunca se consideram reencarnações de alguém humilde e desconhecido- mas sempre de pessoas famosas e conhecidas.

Todavia, nem todos os líderes espirituais  declaram publicamente que são a encarnação de algum profeta ou entidade superior. Mas, suas atitudes e obsessão pelo poder denunciam em atos o que eles nunca assumem em palavras. Esta é outra diferença básica entre iluminação e loucura: enquanto um iluminado não quer nada pra si, pois vive interiormente feliz e satisfeito,  o psicótico está sempre insatisfeito. Suas ações visam sempre a expansão. Por isso o forte proselitismo e as propagandas desses movimentos. Enquanto o iluminado, em geral, é recluso e arredio aos holofotes, o psicótico busca exatamente os holofotes pois é através disso que ele aumenta  seu poder e expande seus "negócios".

Assim, embora haja algumas semelhanças, a distância que separa um psicótico de um Iluminado é de “Anos Luzes”. O Iluminado é um ser com total consciência do seu mundo interno e externo. O psicótico, ao contrário, tem pouca ou nenhuma consciência de si e do outro. Muitas vezes, são extremamente egocêntricos e aversos às críticas. Enquanto o iluminado entra em sintonia com a Luz da Consciência que liberta de toda escravidão e ilusão, o psicótico vive em um mundo de ilusões que ele faz questão de proteger. Não adianta tentar demovê-lo de suas crenças e convicções, muitas vezes, absurdas e irreais. O iluminado percebe todos os níveis de realidade como parte do Absoluto. O psicótico só enxerga sua própria realidade e nada mais. E por isso os exageros, os radicalismos e os abusos que culminam, em geral, em tragédia ou fracasso.

Obviamente, que este não é um artigo científico sobre loucura e iluminação. São apenas reflexões que podem ajudar a lançar luzes sobre esta complexa questão. É sabido, no entanto,  que há vários níveis, graus e tipos de psicose . E nossas  ciência ainda engatinha nessa área . O problema  não está em ser "louco" pois, como diz o ditado, quem não tem um pouquinho disso? O problema surge quando um louco destrói vidas e deixa rastros de destruição e morte com suas idéias malucas e perigosas. Pessoas como Hitler, Jim Jones, David Koresh, e Marshal Applewhite  causaram estragos não apenas a si mesmas mas a todos  que creram em suas palavras e os seguiram. Talvez seja, por isso, que termos como “seguir” e “crer”  tenham se tornado malditos nos meios espiritualistas modernos. Sem o “crer” e o “seguir” a História provavelmente teria sido diferente, sem tantos saldos negativos de mortes e suicídios. O buscador do Novo Milênio deve substituir o "crer" e o "seguir" pelo " ver e experimentar". Talvez, assim, possamos evitar que mais tragédias e mortes envolvendo "iluminados insanos", continuem a acontecer. Infelizmente,  esses homens são bastante inteligentes e carismáticos, o que os torna extremamente complexos, sedutores e perigosos . 

Como vimos, a Loucura e a Iluminação compartilham, certamente, de traços muito parecidos. Cabe ao buscador ficar esperto e perceber a diferença entre os dois. Por isso, nunca entregue sua vida, inteligência e vontade nas mãos de um suposto guru. Ele pode ser apenas um maluco que fala bonito. Nada mais do que isso. Na dúvida, é melhor não arriscar.
O aviso está dado!
Muito Obrigado!
(Alsibar)
Fontes de Pesquisa:
 Wikipedia
Palavras de Fogo- Bhagwan Shree Rajneesh
Bhagavad Gita









sábado, 16 de junho de 2012

APRENDA A DIFERENCIAR UM VERDADEIRO MESTRE ADVAITA ( NÃO-DUALISTA) DE UM FALSO

Ramana, Shankaracarya e Ramakrishna: verdadeiros mestres advaitas ( não-dualistas)
                         
Você sabe o que é a filosofia Advaita ou Não-dualista? Sabe quem foram os grandes mestres dessa corrente filosófica indiana? Será que os atuais e autoproclamados “mestres” advaitas realmente merecem esse título? Quais contradições podemos encontrar em seus discursos e atitudes? Como reconhecer um verdadeiro mestre advaita? Quais referencias temos pra isso? Vamos pensar um pouco?

Antes de tudo,  quero deixar claro que não tenho nada contra a chamada filosofia “advaita” ou não-dualista. Pelo contrário. Acredito que sábios como Shankaracharya, Ramakrishna e Ramana Maharshi não só compreenderam a Verdade ou Dharma Universal, como também a viveram e deram provas disso através de sua própria vida e exemplo. O que critico são os assim chamados “neo-advaitas” ou pseudo-advaitas. São pessoas que se apoderaram do discurso dos verdadeiros advaitas e usam-no para exploração e autopromoção.Ou seja, pegaram apenas a parte que lhes poderia ser útil. Para impressionarem os outros e darem uma de “mestre”. Mas, em verdade, não vivem a Verdade. Pelo contrário, por usarem uma filosofia que é por definição não egoísta, para fins egoístas e pessoais, distorcem e deturpam algo que é originalmente puro, sagrado e santificado.


O Dharma, ou Verdade Universal é como a nascente de um rio,  cuja água brota pura. Mas que, ao longo do seu trajeto, vai se misturando à poluição e sujeira de toda espécie até tornar-se lama. Não podemos dizer que é a mesma água pura. Não se pode beber uma água poluída. Assim também são os ensinamentos dos “neo-advaitas”. Parecem puros, mas só na aparência. Usam de uma retórica aparentemente bela e profunda, mas essencialmente vazia por lhes faltar o espírito dos verdadeiros mestres. Não é difícil pegar-lhes em contradição. Quando falam demonstram um espírito de abnegação e desprendimento. Mas quando agem revelam um espírito ambicioso e enganador.  Não lembrando em nada, a alma daqueles que levantaram a verdadeira bandeira da visão advâitica (não-dualística) da vida.
Não é difícil diferenciar um verdadeiro mestre advaita, de um farsante. Basta olharmos além de suas palavras e discurso- que em geral são muito parecidos- para vermos suas ações e atitudes. Seu estilo de vida. E o que é dito nas entrelinhas. Um verdadeiro mestre advaita, vive sempre feliz e satisfeito com tudo. Ele não quer mudar nada pois tudo já é perfeito. Então não há nele ambição. Sendo assim, em geral, são pessoas extremamente simples, desapegadas de tudo. Até mesmo da ideia de ser algum ser especial, ou mestre predestinado. Observem a vida de um Ramana ou Ramakrishna. Não se vê neles ambição ou desejos de espécie alguma. Eles simplesmente vivem e desfrutam do eterno presente. Em geral, não fazem proselitismo , não vivem viajando para dar palestras ou até mesmo escrevendo livros. Para que se tudo “já é”  como deveria ser?

Todavia, para fins didáticos vamos analisar alguns pontos que nos servirão de base para uma análise e reflexão:
1.Um verdadeiro mestre advaita não anda à caça de discípulos.
Por que estaria? Se Brahma, Deus, a Graça é tudo e cuida de tudo, então os discípulos virão por si mesmo. Ou não. E se não aparecerem, que importa? Afinal, tudo não já é perfeito, uma vez que tudo já é “ o que é”? Então se algum “mestre” demonstra em suas atitudes que está à procura de discípulos, desconfie.
2. Um verdadeiro mestre advaita não cobra por seus serviços
É aí que muitos se traem. Um charlatão não quer outra coisa a não ser dinheiro. Por isso cobram por tudo o que fazem. E estão sempre inventando algo: satsangs, reuniões, retiros etc. Não que não se possa cobrar. Afinal, se gastamos com um evento temos que ter retorno. A questão não é essa. A questão é que um verdadeiro mestre auto-realizado NUNCA COBRARIA. Pois eles estão além do corpo, além de qualquer consciência da necessidade do dinheiro. Sua confiança e fé na Graça Divina são tão grandes que eles simplesmente não se importam com isso. Quero frisar bem aqui, que o ponto crítico não é cobrar, mas sim se dizer mestre iluminado, demonstrando uma atitude contraditória de apego ao dinheiro. Se alguém quiser cobrar por um evento, por algum motivo, não tem problema. Mas sair afirmando que é mestre auto-realizado, revela aí uma grande contradição digna de nossa atenção e desconfiança.
3. Um verdadeiro mestre advaita nunca se considera mestre
Obviamente que na Índia existe esta tradição milenar de mestre e discípulo. Faz parte da cultura e tradição de um povo secular. Mas querer inventar isso no Ocidente soa falso e superficial. É como se quiséssemos importar a tradição da Família Real Britânica para o nosso Brasil. Simplesmente não funciona. Funciona lá porque é parte da cultura. E um verdadeiro mestre saberá manter-se distante disso, interiormente desapegado disso, pois conhece seus perigos. Assim, o verdadeiro mestre advaita, nunca se considera mestre de nada. Pois ele reconhece que só há um único e Verdadeiro Mestre: Brahman- Deus. E se, por algum motivo, Deus lhe colocou na posição de mestre, por vias naturais, ele aceita como parte do Plano Cósmico ou Divino. Mas tudo isso é feito sem nenhum traço de egoísmo ou desejos pessoais. Ao contrário dos “advaitas” ocidentais que se regalam com o título de mestre. Isso soa feio e falso por aqui. Um verdadeiro mestre advaita que nascesse aqui no Ocidente não iria pegar emprestado esse costume indiano. Pois se tudo já é. Deixa que seja do jeito que é. Cada cultura e país com seus costumes e tradições. O curioso nisso tudo, é que os tais "advaitas" só importam o que lhes interessa e convém. Deveriam importar também a tradição do desapego aos bens materiais e a renúncia espiritual.
4. Um verdadeiro mestre advaita não faz propaganda de si mesmo
Por que faria? Deus é tudo. E tudo é dele. Então porque fazer propaganda de si mesmo? Apenas se o sujeito não tiver realizado interiormente essa verdade é que faz sentido fazer a propaganda. Os verdadeiros mestres, em geral, mantem-se afastados do público e da notoriedade, pois seu único objetivo na vida é viver “agora aquilo que ele já é”. Ou seja, sua beatitude e realização interna, não lhe permitem buscar nada para si. Na realidade ele deixou completamente de buscar. E é exatamente aí que vemos que Ramana e Ramakrishna foram verdadeiros mestres autorrealizados. O silêncio, a tranquilidade e a simplicidade eram a tônica de suas vidas então para que propaganda? Para que buscar discípulos? Bastava ser e esperar. Se fosse da vontade divina os discípulos apareceriam. Senão, não apareceriam. De um jeito ou de outro eles estariam satisfeitos.
5. Os verdadeiros mestres advaitas falam pouco ou  vivem em silêncio
Por que falariam muito? Eles não querem mudar nada, nem converter ninguém, porque tudo já é do jeito que deveria ser. Por isso, em geral, vivem em silêncio contemplativo. Apenas observando a dança, o movimento do mundo. Exceto em casos muito excepcionais  é que eles falam. Assim foi com Ramakrishna e Ramana. E é assim que age um verdadeiro mestre advaita. Agora, os falsos advaitas falam muito. Querem demonstrar sabedoria e impressionar os outros. Procuram discípulos e adeptos, por isso falam pelos cotovelos, apesar de viverem afirmando que não há nada a ensinar ou aprender. Então porque falam tanto? Por que são tão verborrágicos? A resposta é simples. Porque não são o que pregam ser. Querem apoio para seu “trabalho” que , em geral, nada mais é do que a glorificação de seu próprio nome e imagem.

6. É impossível contrariar, decepcionar ou incomodar um mestre advaita
Um mestre advaita, por definição, é alguém que compreende dentro de si que Deus é tudo e que tudo já é Deus. Então tudo o que acontece, acontece por sua vontade- ou seja pela vontade Divina. Então como pode alguém assim ser contrariado? Ele não quer nada, não deseja nada de ninguém. Em seu ser há apenas silêncio e paz. Como poderia querer algo além do que já é? Mas os falsos advaitas se sentem incomodados com tudo. Qualquer coisa ou pessoa que impeça, ou atrapalhe  seus objetivos de fama e poder, são rechaçados imediatamente. Os falsos advaitas têm em mente uma obsessão: tornarem-se famosos e conhecidos. Os verdadeiro mestres advaitas, só querem uma coisa: NADA. Pois tudo, absolutamente tudo JÁ É.


7. Os falsos "mestres advaitas" falam sempre em "entrega"total
Por que será? A entrega de que falam os verdadeiros mestres é uma entrega à vida, ao aquiagora, ao "que é". Os pseudo advaitas, em geral, falam de uma entrega duvidosa, confusa pois não assumem publicamente que a "tal" entrega significa entregar sua vida , vontade e dinheiro à eles mesmos. Mas na prática é isso que acontece. Um prato cheio para os charlatães e aproveitadores. A entrega de que falam os verdadeiros mestres nada tem a ver com dar dinheiro ou seguir cegamente as ordens do mestre. O verdadeiro mestre só quer uma coisa: sua libertação e felicidade. Ele nunca vai exigir de você uma obediência cega, total e irrestrita. 


8. Os verdadeiros mestres não desprezam sua capacidade reflexiva
A capacidade reflexiva continua sendo útil mesmo após a libertação. Ela será usada na hora certa, quando necessário. Como alguém pode produzir um raciocínio coerente, lógico se não tiver a capacidade reflexiva? Todavia, essa capacidade reflexiva não mais domina a mente do homem liberto. Ele a usa como alguém usa um microfone ou celular. Após usado, é desligado e silenciado. Todavia, os falsos mestres deturpam isso a seu bel prazer. Desprezam a reflexão para, desta forma, dificultarem qualquer tentativa por parte do discípulo de refletir sobre sua própria situação. Eles não querem pessoas que pensam, que analisam e duvidam. Preferem zumbies obedientes e dependentes, seguidores cegos de todas as suas ordens, por mais absurdas que sejam.
Para finalizar, quero apenas ressaltar a última contradição dos “pseudo-advaitas”. Dizem estes “advaitas” que tudo já é. E que não há nada melhor do que SER... Mas se já somos o Ser, e tudo já é. Então, sendo assim , ninguém precisa ir a lugar nenhum, nem seguir ninguém, nem participar de encontros ou satsangs. Não se pode ensinar "ao que já é", a ser. Como ensinar a um animal a ser o que ele já é? Ou a uma planta? Ou mesmo a uma criança? Se tudo já é , então para que tanto falatório? Para que a propaganda? Para que os debates ? Para que fundar organizações e movimentos? Para que o culto à personalidade do "mestre"? Tudo já é. Não precisa de mais nada. ISSO É TUDO!
Namastê!
Alsibar
http://alsibar.blogspot.com

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO E DO SILÊNCIO INTERIOR


A importância da atenção e silêncio interior http://alsibar.blogspot.com

Qual a importância da atenção e do silêncio interior?Por que somos tão desatentos à realidade do momento? O que isto tem a ver com nosso sofrimento psicológico?  Qual a relação entre atenção e silêncio? Será que algum guru poderá nos transmitir a atenção? Como melhorar a atenção no dia-a-dia? É o que vamos ver nesse artigo

 Todo meditador sabe da importância de se ter atenção ao   aquiagora . Todavia, essa é uma das coisas mais difíceis de se realizar. O ser humano vive toda uma vida sem sentir necessidade de atenção ou consciência. Assim, como dizia Gurdjieff: “ tudo nele acontece de forma acidental”. O fato é que funcionamos no  automático. Raramente damos atenção total a alguma coisa . Em geral nossa consciência está sempre em algum lugar no passado ou futuro. E o presente fica esquecido. Em raros momentos, paramos para observar uma paisagem, ouvir um som, sentir o cheiro, observar as sensações. 

             Os pensamentos,as memórias e os desejos estão sempre "arrastando" nossa atenção. Sem querer, nos identificamos com tudo dentro e fora de nós. Parece que tudo  existe para distrair-nos . E assim, vivemos mais dormindo , sonhando que estamos acordados, do que realmente acordados”. Raramente ficamos conscientes de nossas angústias, nosso corpo, nossas reações, nossos movimentos , desejos e motivos. Isso faz com que tudo em nós seja “movido” por forças desconhecidas e acidentais.  A atenção pode nos fazer acordar, botando "ordem na casa" , esse é um grande passo no caminho do completo despertar.

A verdade é que ter esta qualidade de atenção é algo muito difícil nos dias de hoje. Tudo ao nosso redor prende nossa atenção, impedindo-nos de ter esta atenção mais holística, mais completa, mais completa. O trabalho,  a política, as dívidas, os filhos, os estudos, os problemas familiares, as doenças, as propagandas, o consumismo, a ânsia por autoafirmação, o idealismo, a busca por dinheiro, fama, estabilidade e poder etc. Tudo isso consome grande parte de nossa energia que poderia ser usado para o desenvolvimento da consciência ou atenção. Para aliviar a tensão causada  por esse esgotamento de energia, procuramos algum tipo de distração como a bebida, as drogas, os jogos, as compras ou qualquer outro tipo de diversão. Isso vira um círculo vicioso:

DESATENÇÃO > PENSAMENTOS>IDENTIFICAÇÃO> PROBLEMAS>STRESS> DIVERSÃO>DISTRAÇÃO>DESATENÇÃO>

Ficar atento a este círculo vicioso e vê-lo diretamente, objetivamente em si mesmo constitui um passo importante no caminho do autoconhecimento. Mas nessa "viagem", há muitas armadilhas. O meditador deve ficar atento aos perigos ao longo do caminho pois as tentações e ilusões são muitas. Todavia, nunca esqueça de uma coisa bem simples: a atenção ou consciência é seu refúgio e sua segurança contra todos os males que surgem ao longo desse processo. Além disso, somente você pode "desenvolver" a consciência, e ninguém mais. Nenhum guru, nem método, nem sistema, nem organização pode dar-lhe isso.  Tudo o que um mestre ou guru pode fazer é incentivá-lo a meditar e nada mais. Ninguém pode transmitir-lhe essa "graça". Ahhhhh, se pudesse. As coisas seriam mais simples, não seriam? Mas, felizmente ou infelizmente, todo o trabalho tem que ser feito por você e somente por você.

A meu ver o grande problema com as drogas, bebidas , religião e outros artifícios- é exatamente a fuga da realidade. Gurdjieff chamou tudo isso de “amortecedores” .Não querendo ver a realidade -que nos é dolorosa- recorremos a todos os tipos de fuga. E quando não nos resta mais nenhum “amortecedor” externo, recorremos aos “internos”.  Viajamos nas lembranças boas do passado, ou em algum sonho no futuro. Algumas pessoas recorrem a uma espécie de “fuga” mais sutil. Aprendem  técnicas de meditação que ativam áreas do cérebro responsáveis pelas sensações de  paz,  prazer ou êxtase. Mas continua sendo uma fuga. Esse é o problema com a maioria das técnicas de meditação. Elas nos trazem uma sensação de paz e conforto, mas a causa da dor continua lá. E logo que a sensação passa, somos levados novamente ao confronto inevitável com a realidade. Uma boa dica, nesses casos, seria ficarmos atento ao que nos incomoda, ao que nos oprime sem nos identificarmos, rejeitarmos ou querermos fugir disso. Lembre-se : a atenção é Luz e a Luz a tudo purifica , ilumina e cura. 

Finalmente, como podemos ficar atentos sem sair de nossa rotina diária de trabalhos, estudos, família etc? Tente algo bem simples: comece pelo escutar. Escute os sons externos com atenção. Uma atenção que seja prazerosa e espontânea, nada de  forçar nada. Neste momento de atenção completa, a mente ficará naturalmente silenciosa. Nesse estado, apenas observe tudo o que acontece, deixando que flua livremente. Com a prática, você aprenderá a identificar esse estado de percepção. E a partir dessa atenção silenciosa poderá observar qualquer coisa : uma emoção "negativa", uma sensação "ruim", um motivo inconsciente, uma reação "indesejada" etc. Se, durante esse período, algum pensamento se intrometer em sua observação, não interrompa. Deixe ele fluir também. Apenas não se identifique com ele e continue sua observação até ele cessar por si mesmo. Depois disso,  continue atento aos sons e movimentos externos e internos. É uma experiência incrível poder observar e escutar as coisas a partir desse centro silencioso. Alguma vez você "experimentou" isso?

Para concluir, lembre-se dessas duas palavras chaves: atenção e silêncio. As duas se completam. Temos que aprender a viver isso. Daí a importância de dedicarmos um tempo para experimentar esse estado. Não precisa, necessariamente, sentar-se numa postura específica, ir pra uma sala especial, isolada... Não. Basta, fazer isso quando se lembrar e pode ser feito em qualquer lugar, durante qualquer atividade. Todavia, se pudermos dedicar um pouco de tempo a isso sentado num sofá ou até mesmo na cama antes ou depois de dormir- já será muito benéfico e positivo pois  ajudará para que esse estado surja com maior frequência ao longo do dia. 

           ATENÇÃO  e SILÊNCIO são as chaves da  MEDITAÇÃO.

            Namastê!
Alsibar
http://alsibar.blogspot.com