sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

GURDJIEFF ,OSHO, RAMANA, KRISHNAMURTI E A VERDADE


http://alsibar.blogspot.com 


          Esse artigo não é pra iniciantes. Dificilmente eles me compreenderão. Vou falar sobre o que Krishnamurti chamou de “terra sem caminhos” . Foi assim que ele denominou a Verdade. Você é meu convidado a fazer essa viagem que nos levará a um mar desconhecido. Muitos buscadores da minha geração provavelmente estão familiarizados com os quatro mestres citados no título deste artigo. Meu objetivo não é descaracterizar, nem desmerecer nenhum. Mas manifestar minhas sinceras impressões com vistas a ajudar o buscador em sua difícil viagem espiritual. Se você tem absoluta certeza de que já encontrou a Verdade, então pare de ler aqui. Este artigo é para aqueles que estão atribulados em seu espírito. Afinal como saber que caminho trilhar? Quem estará certo? Que  mestre seguir? O que fazer nos momentos de angústia e incertezas? Quem poderá nos dá segurança? Até que ponto devo prosseguir no meu caminho, mesmo sabendo que é errado para finalmente mudar de rumo?

          Se estas dúvidas assolam seu coração, então você está no lugar certo. E por providência divina você se deparou com esta mensagem que – creio- poderá lhe ajudar muito. Leia com atenção, mas não aceite nada do que vou dizer. Reflita em seu coração e peça a Deus que lhe ajude a entender. Se houver alguma verdade e se esta lhe for de alguma forma útil, seja grato a Deus no silêncio do seu coração. Caso contrário, obrigado por sua atenção. Continue seu caminho. Talvez não esteja na hora de você despertar para certas verdades. Ou talvez, eu esteja errado e você certo. A verdade não tem caminhos, nem donos.

          Gurdjieff foi um grande mestre- não há dúvidas sobre isso. Todavia, se perdeu ao longo do caminho. Ele apresentou ao mundo uma verdade fragmentada que não levava a lugar nenhum. Seu último livro da série “Sobre tudo e todas as coisas” é o relato de um homem confuso, arrependido e angustiado. Um desabafo de um moribundo próximo à morte.  Gurdjieff se perdeu . Não somente ele mas todos os seus seguidores- desde Ouspensky, passando por J. G Bennet, até Rodney Collin. Este último enlouqueceu e cometeu suicídio. De acordo com relatos, estava obcecado pela ideia da “morte consciente como caminho direto para o Despertar” o que o levou a pular  do alto de uma torre de uma igreja no Peru. Já seu mestre, o Ouspensky, após ter se separado de G., viu-se perdido e sem rumo. Acabou se envolvendo em experiências psicodélicas, principalmente a mescalina. Em relação ao seu próprio desenvolvimento  espiritual, ele foi um grande fracasso. Descobriu tarde demais que o sistema de G. ( Gurdjieff) era um beco sem saída. Suas últimas palavras foram:

- Abandono o sistema. Comecem novamente por si mesmos!

          Osho fora talvez, o guru mais famoso do século xx. O mais rico e mais insano também. Provavelmente, quando começou seu trabalho, sua intenções eram sinceras e verdadeiras. Não foi à toa que ele tinha tantos seguidores e admiradores- inclusive eu. Todavia, ao longo dos anos, o guru e seu movimento foi se afundando. Até o fracasso final que culminou com os fatos em Óregon e finalmente com a morte misteriosa de Osho e da sua namorada Vivek – esta última de overdose. Osho morrera um mês depois de “não-se-sabe-o-quê”. Sua morte é uma polêmica. Assim como fora toda sua vida. Oficialmente os discípulos dizem que Osho morrera em decorrência de envenenamento por Tálium causado pelo governo dos Estados Unidos  durante o tempo em que ficou preso . Extra oficialmente, alguns dissidentes e testemunhas oculares falam em suicídio por overdose. Osho era viciado em Válium ( Diazepan) e Óxido Nitroso. Vários elementos, indícios e testemunhos levam a crer que esta última versão é a mais verdadeira.

          Não se trata aqui  de macular a imagem de alguém que já morreu. Mas de analisar sua Verdade e seu caminho que , ainda hoje, influencia milhares de pessoas no mundo todo. Afinal, o caminho de Osho o levou a quê, à loucura, à tragédia? E que caminho é esse que culmina com a insanidade? Por certo, não é um bom caminho. Os discípulos quiseram distorcer os fatos, apresentando-o como uma espécie de vítima dos cristãos fundamentalistas americanos. Uma tentativa de martirizá-lo, tornando-o uma espécie de Jesus ou Sócrates. Mas o caso desses últimos é totalmente diferente. Tanto Sócrates quanto Jesus têm a seu favor não somente sua história, mas também seus ensinamentos. Qualquer pessoa pode verificar por si mesmo a eficácia daquilo que eles pregaram constatando, assim, sua veracidade.

          Isso não acontece com os ensinamentos do Osho. Qualquer um que tentar seguir seus ensinamentos, ou vira um seguidor fanático, ou simplesmente fica rodando em círculos. É um caminho que não leva a lugar nenhum- não no sentido Zen da expressão - o que seria algo positivo. Mas por que é incipiente e confuso . Osho descobriu uma forma ímpar de ensinar: bela, mas ineficaz. Seu sistema ou visão não funciona. Traz um bálsamo que só dura enquanto dura a leitura. É uma espécie de droga linguística. Dá uma sensação gostosa de paz e conforto. Mas quando defrontado com os reais problemas e desafios da vida, em nada ajudam. Nesses momentos  só nos restam duas alternativas: ou se enfrenta o fato- e isso inclui perceber que o mundo de beleza e celebração idealizado por Osho não existe- ou então fugimos novamente para seu mundo imaginário, gozando daquela paz superficialmente fabricada. Muitos procuram seus discípulos diretos - que agora posam de guru- na tentativa de perpetuar e fortalecer essa suposta “paz espiritual”.

          Ramana foi um autêntico mestre advaita ( tradição não-dualista), assim como Nisargadatta Maharaj. O problema não está nem em Ramana, nem em Nisargadatta, mas naqueles que se dizem seus seguidores e que hoje se autoproclamam gurus. A fonte é pura e verdadeira, mas em geral está poluída pelos gurus que a manipulam. Há centenas de movimentos  e “gurus” que se dizem inspirados nesses mestres. Todavia, é apenas jogada de marketing. Usam suas fotos e citações para atrair suas vítimas em potencial. Mas no fundo, seus caminhos são diametralmente opostos ao seguidos pelas suas supostas fontes. Em geral são pessoas que sofrem algum distúrbio comportamental tais como psicopatia, megalomania ou esquizofrenia.  A aparente simplicidade desses ensinamentos,  junto ao apelo da visão advaita de que tudo já é perfeito, parece uma fórmula fácil  de manipulação e exploração dos incautos.

          O curioso é  que, apesar de tentarem ligar suas imagens às de Ramana ,  o estilo de vida de boa parte desses “gurus”  se aproxima mais do Osho . Em geral, utilizam a mesma técnica que o consagrou o guru dos Rolls Royces: palavras belas, poéticas, frases de efeito que causam sensações agradáveis na mente. Sensações que só duram enquanto ouvimos ou lemos seus discursos. Mas sem nenhum efeito prático  - a não ser o entorpecimento, o embotamento e o isolamento do mundo. Isso pode durar  dias, meses, anos… mas  chegará um dia que a pessoa terá que acordar. Infelizmente, em muitos casos, será  tarde demais. Restará apenas contabilizar os prejuízos espirituais, psíquicos, emocionais e financeiros das vítimas.

          Krishnamurti é um caso raro de autenticidade , heroísmo e sabedoria. Cedo libertou-se das garras de uma poderosa organização que tinha tudo para corrompê-lo e destruí-lo. Mas ele conseguiu se libertar e tornou-se um dos maiores mestres espirituais contemporâneos. Assim como Buda e Jesus, Krishnamurti foi um rebelde. Não foi um rebelde sem causa – mas por uma grande causa: a libertação do homem dos seus grilhões espirituais e psicológicos.

          Krishnamurti teve, certamente, alguns percalços ao longo de sua vida secular.  Desafios que,  tanto Osho quando Gurdjieff também enfrentaram: as tentações do dinheiro-ligado à soberba, ambição e poder. E as tentações do sexo-ligados à luxúria e ao prazer. Osho sucumbiu. Gurdjieff se arrependeu. Mas Krishnamurti superou. Apesar do famoso “escândalo” em que se envolveu com a esposa do seu secretário particular, ele continuou firme em seu caminho. Noventa anos de vida, um caso apenas que talvez o tenha envergonhado pelo resto da vida. Penso que seus milhares de admiradores viram aí uma “falha” natural do seu lado humano. E, ao contrário do que pensavam seus opositores,  aumentou a admiração de seus fãs no mundo todo.  Provavelmente,  muitos se alegraram de saber que Krishnamurti era humano igual a todos eles. Um homem que também teve conflitos, falhas e  imperfeições e que, apesar disso tudo, encontrou Deus ou a Verdade. Esse episódio tirou-o do pedestal de homem-deus,  tornando-o um ser semelhante a nós.

          O caminho trilhado por cada um desses mestres nos revela grandes lições que podem nos servir de inspiração e orientação em nossa própria jornada. O fato é que Gurdjieff tentou trilhar o caminho mas falhou. Osho pareceu já ter chegado-mas revelou-se um grande fracasso. Krishnamurti não chegou a lugar nenhum. Não por fracasso, mas porque ele descobriu que não havia  nenhum lugar para se ir, nem nenhum caminho pra se trilhar. Ramana chegou à mesma conclusão que Krishnamurti. A diferença básica entre estes dois é que o primeiro não era revolucionário, ele não negou a tradição na qual ele próprio estava inserido- pelo contrário reafirmou-a. Krishnamurti negou totalmente as tradições, apesar dele próprio se inserir na tradição dos grandes iconoclastas como Buda e Jesus.

          Ramana não teve mestres, assim como Buda e Krishnamurti. Ambos não precisaram seguir ninguém. Encontraram sua própria via de libertação sozinhos. E se você ainda está seguindo alguém- seja quem for - esqueça, abandone isso. Nunca chegarás a lugar nenhum assim. Escute os mestres autênticos, absorva suas orientações mas não adore ninguém, não bajule ninguém, nem entregue sua vida a ninguém. Encontre sua própria verdade que é única. Cuidado com os exploradores que cantam música para lhe distrair, enquanto  roubam sua carteira.

          Expus, em poucas palavras um pouco da minha própria experiência e visão. Todavia, sei que a minha não é única, nem pretende ser absoluta. As críticas são normais e esperadas. Mas sei também que tudo o que escrevi aqui, poderá ser de grande utilidade àqueles que realmente e sinceramente querem encontrar a Verdade e não apenas um conforto superficial, uma felicidade passageira , uma paz  ilusória . Se é este o seu caso, então preste atenção, não quero que aceite, mas reflita com carinho sobre a minha última mensagem:

“Não há caminho, nenhum lugar pra se ir, ninguém pra ser seguido, nem ninguém pra caminhar”

Se entendeu isso, então  meu esforço não terá sido em vão e minhas palavras não terão sido desperdiçadas.

Namastê!

Alsibar


Todas informações polêmicas aqui apresentadas podem ser checadas nos seguintes livros e links :

GURDJIEFF – George I.-  Life is real only then, when “ I am”-  All and Everything/ third series

SMITH, Joyce Collin- Não chame ninguém de mestre. Siciliano- 1993

MINE, Hugh -Bhagwan: O Deus que falhou Imprensa de São Martinho .

FRANKLIN, Satya Bharty -Promessa do Paraíso: vida íntima de uma mulher com 'Bhagwan' Osho Rajneesh - imprensa Colina Barrytown / Estação.

E o artigo de Christopher Calder sobre o Osho em Inglês e Português:




terça-feira, 25 de dezembro de 2012

GURDJIEFF : A VIDA SÓ É REAL QUANDO “ EU SOU”



( Mais uma vez a afirmação de Ouspensky de que é preciso separar a pessoa  Gurdjieff de seus ensinamentos ganha força . Não se trata aqui de diminuir o valor de um mestre que tanto contribuiu para a expansão do verdadeiro conhecimento. Todavia, é importante encararmos a verdade, pois esta é a única forma de  aceitarmos nossas próprias limitações e jornada. Gurdjieff nos deixou um grande legado, mas compreender sua verdadeira história, falhas e imperfeições é fundamental à compreensão de nossa complexa jornada interior- cheia de percalços, dificuldades e acontecimentos que- muitas vezes não conseguimos compreender - alsibar.)


Eu sou…?
Mas o que aconteceu com aquele vasto-sentido da totalidade de mim mesmo, que antes estava sempre em mim nos exatos momentos de auto-questionamentos, durante o processo de  lembrança de si?

Será possível que esta habilidade interna  -alcançada  por mim graças a todo tipo de auto-negação e persistente auto-motivação– deva  simplesmente desaparecer,  exatamente agora quando sua influência para meu Ser é mais necessária  do que o próprio ar?
Não pode ser!... Algo aqui não está correto!

Se isto é verdade, então tudo na esfera da razão é sem lógica!
Mas em mim ainda não está atrofiada a possibilidade de realizar um trabalho consciente e sofrimento intencional!...
De acordo com todos os eventos passados eu ainda devo ser.
 Eu desejo!... e  eu serei!

Além disso, meu Ser é necessário não apenas para meu egoísmo pessoal mas também para o bem estar de toda humanidade.
Meu Ser é realmente necessário para todas as pessoas;  mais necessário para eles do que sua própria alegria e felicidade de hoje.
Eu ainda desejo ser, eu ainda sou!

George I. Gurdjieff – da série “ Sobre tudo e todas as coisas”

Tradução: alsibar


sábado, 22 de dezembro de 2012

…E O MUNDO NÃO ACABOU.




   O mundo não acabou, nem vai acabar tão cedo. Cientistas estimam mais alguns bilhões de anos até isso acontecer. Como tudo no Universo, o Sol um dia vai envelhecer e morrer . Tornar-se-á uma Supernova, um buraco negro onde nem mesmo a luz escapa de ser sugada. Mas por que , com tudo isso, ainda existem tantas pessoas presas a esta crença obsessiva? Por que os tais "profetas do terror" continuam espalhando o medo e a ilusão ? E por que há tanta gente os seguindo?

      Os tais "espíritos de luz", "videntes" e "mestres ascensionados"  passam o dia contando estórias que levam o povo a dormir mais ainda. Prender sua atenção e interesse é a palavra de ordem. Sua atenção é muito valiosa. Quanto mais atenção eles conseguirem de você- mais energia vital lhes será sugada. Energia esta que poderia ser utilizada em um trabalho sério de despertamento e amadurecimento espiritual.  Mas eles não querem que ninguém se liberte do sono de Maya, da Ilusão. Mas isso é o que realmente deveria interessar a todos nós.

         Maya é considerada uma espécie de demônio em algumas religiões. Mas não é uma entidade. Maya é invisível e está em tudo e em todos. É o outro lado da moeda. A escuridão, o falso, a mentira, a Ilusão. O véu de Maya está dentro de nós e também fora de nós. São como as bactérias e os vermes. Não há como se livrar dela facilmente. O maior trunfo de Maya é inventar uma luta contra si mesma que não é, em absoluto, verdadeira. E é isso que fazem a maioria – senão todos- os que participam de movimentos  conhecidos como“ Nova Era”. Empunham a bandeira da libertação, quando, na verdade, estão a serviço da escravidão das mentes , contribuindo para o fortalecimento do sonho de Maya. É preciso que se compreenda: não há libertação através do EGO. Mas eles dizem a mesma coisa. O discurso é muito parecido com o da maioria dos verdadeiros mestres libertadores. Mas, o que fazem realmente? Espalham o MEDO e a MENTIRA. Contribuem para que mais pessoas ao redor do mundo se conectem com eles, ajudando a espalhar suas crenças escravizantes. Se alguém defende uma crença de forma fanática e radical já é um claro indício de auto-engano. Não de LIBERTAÇÃO.

     Acompanhei esta história sobre fim de mundo desde os anos oitenta. Muita gente dedicou sua vida à isso. Mas é um movimento sem nenhum fundamento ou verdade. É hora de encarar os fatos: não há fim do mundo. É tudo uma grande bobagem e mais uma das mentiras, dentre as milhares que existem e existiram ao longo da história . Mentiras essas que serviram a movimentos totalitários, que escravizaram e levaram milhões a morte.  Temos que acordar para este fato e ter sim a coragem de encarar a realidade seja ela qual for.  Que seja o fim do mundo da ILUSÃO sobre nós mesmos. Que possamos deixar de nos iludir com tanta falácia, com tantos movimentos e figuras messiânicas, com tantas organizações e religiões que em nada- absolutamente nada - contribuem para a transformação do homem e do mundo.

O homem desperto não é escravo do medo, nem de nenhuma ilusão. Ele não vende sua consciência, nem sua valiosa atenção. Contempla a VERDADE em si, e por isso sabe diferenciar a ilusão da verdade- onde quer que ela esteja. É alguém que realmente contribui para o DESPERTAR- a única ação que realmente interessa nesse mundo de sonâmbulos e dorminhocos.    Essa é a verdadeira revolução e o verdadeiro começo de uma NOVA ERA. Vamos deixar o mundo de sonhos para trás e que nesse novo ano possamos trabalhar com seriedade e dedicação para o que realmente importa nessa vida. É assim que contribuiremos para a construção de uma nova terra e um novo homem. Que cada um possa fazer sua parte, mesmo que pequena, mesmo que pareça insignificante. Não é.

Vale muito mais uma pequena atitude que ajude o homem a despertar, do que ações grandiosas e vistosas que em nada contribui para tirar o homem do seu sono milenar. Fica aqui a minha mensagem.

NAMASTÊ!

Alsibar
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sábado, 10 de novembro de 2012

LIBERDADE OU VERDADE: O QUE VEM PRIMEIRO? Freedom or Truth: what comes first?



Liberdade ou Verdade: o que vem primeiro? http://alsibar.blogspot.com

Jesus diz no Evangelho de João 8-32 …“ Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.  Alguns interpretam que a Verdade deve vir antes da Liberdade. Mas, outros – como Krishnamurti- não concordam. Para ele, a  liberdade  surge no começo como condição  necessária à percepção da Verdade. Ao longo desse artigo, analisaremos os dois pontos de vista e suas possíveis implicações.  A questão não é discutir se  JC ou JK está certo. Pode ser que ambos estejam corretos – ou não. Ou até mesmo, falando da mesma coisa sob óticas diferentes. E você o que acha? Leia o artigo, reflita e depois tire suas próprias conclusões.

Primeiro de tudo, temos que entender o que é a Verdade. Antes de K. havia a ideia predominante de que a Verdade era um ensinamento através do qual as pessoas poderiam encontrar a  felicidade, paz, libertação etc. Os livros sagrados seriam o registro dessa Verdade. Ao segui-los, o homem trilharia seguramente o caminho do céu, Nirvana, Moksha (libertação) etc. Ora, será  mesmo que a Liberdade deve ser encontradaa apenas no final do caminho? Seria o coroamento de todo um processo que envolve esforços, luta, disciplina etc? Ou será que Krishnamurti  estava certo ao afirmar que a liberdade está no começo- e não no final?

Durante sua infância e juventude, Krishnamurti viveu o drama humano universal do condicionamento social, cultural e religioso de uma forma intensa e singular. Isso permitiu-lhe perceber claramente os males que os mesmos causam ao homem. Excetuando-se os dois primeiros- pois são inevitáveis e necessários à convivência social- pergunta-se: é possível ser  interiormente livre de condicionamentos ? Krishnamurti defende que sim. Mas ele foi além disso e fez da liberdade o fundamento de todo o seu ensinamento. 

Ao dissolver a ordem da Estrela do Oriente, K. proclamou solenemente: “ Minha missão é tornar o homem absoluta e incondicionalmente livre”. Toda sua vida fora pautada nisso. Por isso não fundou organizações religiosas- apenas administrativas e educacionais. E repetia frequentemente a importância do duvidar, do não-seguir, do não aceitar . Daí sua insistência em criticar as religiões organizadas, os livros , as tradições e os gurus. Não como males intrínsecos. O problema real encontra-se no fato de que o homem que segue seja o que for perde a condição sine qua non para o encontro com a Verdade: a Liberdade.

Isso significa ser livre de tudo e de todos no sentido  interior. Não aceitar a autoridade espiritual de ninguém. Como disse Buda, em um famoso discurso : “não acrediteis em coisa alguma apenas pela autoridade dos mais velhos ou dos vossos instrutores”.Não é uma exortação ao ateísmo ou anarquismo. É mostrar que sem liberdade é impossível à Verdade manifestar-se .

A Verdade  não é um conhecimento morto que deva ser cultuado, reverenciado ou seguido. É um estado de percepção direta daquilo que é bom , verdadeiro e sagrado. Daquilo que traz o bem, a paz e a plenitude. Daquilo que  torna o homem realmente livre e feliz.

 Uma mente livre para refletir, analisar, pensar,  decidir, meditar, vivenciar e experimentar é, sem dúvida, fundamental ao descobrimento da Verdade. Não é à toa que iluminados como Buda, Ramana Maharish e Krishnamurti  não tiveram mestres. Não seguiram as tradições. Trilharam um caminho próprio, pessoal e solitário.  Tiveram a coragem de ser livres desde o começo. Fizeram da Liberdade seu mestre e por isso encontraram a Verdade.

Quando Jesus diz “ conhecereis  a Verdade e a Verdade vos libertará” sua proposição está correta pois somente a Verdade liberta. A questão não é saber o que vem antes ou depois pois trata-se de um só processo. No momento em que percebo a Verdade, esta já me liberta. E se a percebi é porque minha mente estava livre. Do contrário não a perceberia. Mas esta liberdade surge da percepção de que sem liberdade a Verdade não se revela.

Em resumo, para encontrar a Verdade, preciso, antes ser livre. E se percebo a Verdade, nessa própria percepção me liberto. E a própria percepção desta Verdade é o começo da Liberdade.

Namastê!

Alsibar

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sábado, 27 de outubro de 2012

O IMITAR E SEGUIR NA JORNADA ESPIRITUAL- The role of following and imitating on the spiritual journey



O papel do seguir e imitar na jornada espiritual

Nos dias de hoje é comum vermos pessoas repetindo e imitando o estilo dos mestres. Sejam pretensos gurus ou simples seguidores, o fenômeno da imitação e do seguir é uma questão complexa e por demais importante. Antes de Krishnamurti, o seguir e o imitar era tido como algo normal e até necessário. O jovem indiano, no entanto, questionou a necessidade do seguir, tornando esse um dos pontos principais de seu ensinamento. O artigo abaixo reflete sobre o seguir e o imitar e até que ponto isso pode ser positivo ou negativo para o meditador. Esperamos, com esta reflexão, contribuir para que cada um tire suas próprias conclusões e forme sua própria opinião. Boa leitura!

          Quando estamos aprendendo uma profissão é normal imitarmos os mais experientes. Por exemplo, um escritor, um cantor, um pintor, um lutador começam suas carreiras imitando o estilo daqueles que os ensinaram e precederam. Somente depois de ter alcançado uma certa maturidade e experiência é que partem para um estilo próprio imprimindo, assim, sua marca pessoal ao trabalho. Será que o caminho espiritual também segue o mesmo padrão?  É correto imitarmos os mestres e iluminados-mas até que ponto isto é salutar ? E quando torna-se um obstáculo à evolução interior?

Jesus dos 13 aos 30 anos teria ele ido à Índia?
          Obviamente, todos que estão aprendendo  precisam de um certo treinamento . É assim que as coisas funcionam –pelo menos neste plano de existência. Quem nunca passou um período de intensa busca espiritual? Até mesmo grandes mestres como Buda e Jesus – que  certamente já eram espíritos evoluídos- tiveram que passar por treinamentos, estudos e buscas. É famoso o mistério que ronda , por exemplo, a vida de Jesus dos 13 aos 30 anos. O Evangelho nada fala sobre este período desconhecido da vida do mestre nazareno. Muitos pesquisadores afirmam que ele estava estudando e se preparando para sua futura missão em escolas e mosteiros da Índia. Apesar de haver muitos indícios , não há prova cabal sobre essa afirmação- mas é uma hipótese bastante plausível. Buda, também, antes da Iluminação, estivera estudando os livros sagrados e seguindo os famosos mestres espirituais da época. Todavia, teve que abandonar tudo o que aprendera para seguir um caminho bastante pessoal. A questão é: será que Sidarta Gautama teria conseguido influenciar tanto a humanidade caso não houvesse seguido seu próprio caminho? Ou será que foi exatamente o espírito de rebeldia e inovação que o tornou tão importante e singular?

          Aqueles que mais se destacaram na história espiritual da humanidade não seguiram ninguém. Melhor dizendo seguiram a si mesmos - sua voz interna, sua intuição. Mesmo que isso significasse ficar contra tudo e todos. Mesmo que isso significasse seguir sozinho um caminho difícil e espinhoso. Krishnamurti e Ramana Maharish são exemplos de “rebeldes espirituais”. Não tiveram modelos. Tiveram que ser seus próprios modelos. Não tiveram mestres- a não ser Deus- que lhes falava ao coração e os guiava. Descobriram, acima de tudo, que o caminho é algo muito pessoal e próprio de cada um. Krishnamurti, por exemplo, é fruto de uma história que é única e rara. Assim também foi a história de Yogananda e de Ramana Maharish. Não há duas histórias iguais. Isto prova, mais uma vez, que a Verdade, apesar de Universal, se manifesta a cada um de uma forma peculiar. E nisto se encontra sua beleza e força. Daí vem a questão: até que ponto estamos apenas imitando os mestres? Até onde esta imitação nos levará? Não seria mais correto encontrarmos nossa própria “verdade” e nosso próprio caminho? Existe coisa mais ridícula do que querer ser o que “não se é”?

          Há certamente um período de imitação compreensível e aceitável até certo ponto. Todavia, creio que  chega um momento em que temos que encontrar a nossa verdade e o nosso próprio caminho. Temos que ultrapassar o nível da “aceitação e do seguir” para encontrarmos aquilo que nos identifica e nos torna únicos dentro da história humana. Temos que aprender a separar as coisas: verdade, fatos, crenças e supertições e construir nossa própria visão de mundo. Isso não significa ser ingrato àqueles que nos precederam e nos guiaram. Os mestres são nossos grandes referenciais e devemos a eles no mínimo nossa gratidão e reconhecimento. Todavia, temos que nos tornar nossos próprios mestres, por nosso próprio mérito e esforço.

Inri Cristo
          A jornada de cada um é certamente única. Cada mestre teve uma história com contextos sócio-culturais bastante específicos e diferentes. Uma pessoa nascida dentro do contexto e cultura brasileira, não pode ter a mesma visão de alguém nascido na Índia-por exemplo. Se o fizer soará falso, estranho e forçado. O Inri Cristo é um exemplo exagerado disso- quer imitar Jesus em “quase” tudo, até mesmo no estilo das roupas típicas da época. Algo patético, ridículo e absurdo. Até mesmo dentro de um mesmo contexto sócio-cultural, será impossível que duas pessoas tenham a mesma visão da Verdade. Babaji, Lahíri Mahasaya , Yogananda e Sri. Yuktéswar ,por exemplo, viveram numa mesma época e comungaram de uma mesma cultura-todavia a diferença de visão, compreensão e método entre os três é enorme. Fato este ressaltado em várias passagens do livro pelo próprio Yogananda. Por exemplo: Yogananda achava fundamental a fundação de organizações espirituais, já Lahiri Mahasaya sempre se opôs a criação de tais organizações. Ele dizia “deixe que o aroma da Yoga se espalhe naturalmente como o vento”. Sri. Yuktéswar tinha métodos bem mais severos e rígidos em relação ao “treinamento” espiritual dos discípulos. Já Yogananda era considerado muito mais amoroso e maleável com os mesmos.

          Assim, conclui-se que é impossível haver dois caminhos, duas visões iguais até mesmo entre pessoas de um mesmo contexto cultural- imagina entre culturas, sociedades, costumes e tempos absolutamente diferentes . O ideal de vida de Ramana Maharshi-um saniasin renunciante- em nada se parece com o de Krishnamurti considerado  um burguês pelo alto padrão de vida  que levava. Nisargadata Maharaj, por exemplo, comia carne e fumava, apesar de viver numa sociedade que tradicionalmente reprova tais hábitos. Mais uma prova de que o caminho de cada um é algo muito pessoal e íntimo.

          A questão então, não é seguir o ascetismo de Ramana, ou a vida regrada de Buda. Nem mesmo seguir os hábitos carnívoros de Nisarga, ou a vida confortável de pequeno burguês de Yogananda e Krishamurti. A questão principal é que cada um deve encontrar seu próprio caminho e sua própria verdade. E esta será influenciada- por mais que não se queira admitir- pela história de vida de cada um. Daí o erro de se querer imitar e seguir à risca seja quem for. Daí a importância do não-seguir, do não-obedecer, do não-acreditar.

          A jornada de cada um é uma obra de arte única e rara, resultado de diversas influência e fatores sociais, genéticos e espirituais que faz você ser você. É essa a grande lição que a vida nos dá através da diversidade de mestres com suas visões e vidas tão diferentes. Mas aí está a beleza, a grandeza e o mistério da vida. Parafraseando Lao Tsé no Tao-te-Ching: existe sim uma diversidade, mas misterioso é o fundo de sua unidade .

A jornada espiritual é única e singular.
          Que possamos valorizar nosso próprio caminho e percepção da verdade- pois ela não pode ser imitada, nem repetida. Ela está exatamente onde você está e reflete o conjunto de suas experiências e vivências. Nunca mais existirá um outro Jesus, nem um outro Buda, nem Krishnamurti, nem Ramana. São todos produtos únicos e raros- exatamente como você, eu e todo mundo. Querer ser igual a outro mestre é semelhante a um cantor amador que pretenda se tornar, por exemplo, um outro Elvis Presley, John Lennon, Michael Jackson ou outro cantor famoso qualquer- simplesmente impossível. Todos nós somos produtos da história, do tempo e  de uma variedade  de fatores  genéticos, sociais, históricos, espirituais, cósmicos etc que nunca mais se repetirão . Esses fatores em conjunto fizeram e fazem o homem- e não o contrário.



Um abraço a todos meditadores e aprendizes!

Alsibar
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

14 DICAS PARA SE RECONHECER UM ILUMINADO - 14 tips to recognizing an enlighted person



 Nesse artigo, o escritor e espiritualista Pierre Weill apresenta algumas características que podem-nos ajudar a reconhecer um iluminado. Não significa que  todas essas características existam obrigatoriamente no homem liberto, todavia, servem como orientação tanto para o pesquisador, quanto para o próprio meditador (Alsibar)

COMO RECONHECER UM ILUMINADO
Faremos agora um balanço sucinto de nossa percepção do atual estágio da
pesquisa do transpessoal, no que diz respeito à iluminação e, em particular, no âmbito desta, à vivência da Luz. Essa percepção é fruto da atividade daqueles vinte anos a que já nos referimos.
Deparamos um primeiro obstáculo quando desejamos estudar a iluminação: é necessário definir o que é um ser iluminado, a fim de avaliarmos as pessoas ou testemunhos com os quais vamos trabalhar. Podemos para isso utilizar vários critérios, tais como:
A observação do comportamento exterior desses possíveis iluminados, revela que sua conduta distingue-se principalmente por:
1. Uma abertura incondicional aos outros; trata-se, em outras palavras, de seres que dão de si a cada momento da existência. Mostram, com seu exemplo, que o amor altruísta incondicional e espontâneo é possível.
2. Uma excepcional capacidade de concentração e de atenção com referência a tudo que se passa em todos os momentos.
3. Uma capacidade de adaptação à mudança, que implica um completo desapego.
4. Uma reserva de energia aparentemente inesgotável, a qual lhes dá uma
capacidade de trabalho que pode ultrapassar vinte horas por dia.
5. Estarem despertos mesmo durante o sono e, em geral, levantarem-se bem
antes do sol.
6. Empregarem toda a sua energia visando criar as condições necessárias para a iluminação de todos os seres que os buscam com essa finalidade.
7. Serem o veículo de uma sabedoria primordial, traduzida, de maneira infalível, em suas palavras e ações.
8. Reduzirem as necessidades pessoais ao mínimo essencial à sua subsistência.
9. Terem domínio das formas sutis da energia, mantendo reserva a respeito.
10. Não exibirem seus poderes, salvo em certos casos, quando necessário, e
sempre com o objetivo de ajudar a quem precisa.
11. Um ambiente de paz, de serenidade e de respeito, que os circunda onde quer que estejam. − Mesmo quando vivem isolados, viverem sempre em benefício de todos os seres.
12. Possuírem um senso prático extremamente desenvolvido, aplicado aos
pequenos detalhes da vida cotidiana.
13. Uma paciência a toda prova.
14. Uma memória excepcional.

Do livro : Holística: uma nova visão e abordagem do real – Pierre Weil

terça-feira, 18 de setembro de 2012

QUE O ENTENDIMENTO SEJA A LEI - J. Krishnamurti



( Um dos mais  belos, raros e reveladores  diálogos de Krishnamurti)
Na Sétima Concentração Internacional realizada em Erde, Ommen, Holanda, Agosto de 1928, foram feitas ao Sr. Krishnamurti muitas perguntas concernentes as questões que perturbam, na atualidade, a mente de numerosas pessoas. As respostas a essas perguntas foram de natureza tão fundamental e de tão vasto alcance, que julgamos imperioso publicá-las. Haverá muitas pessoas que encontrarão nas suas respostas uma solução para as próprias dificuldades.

Krishnamurti: Responderei a todas estas perguntas, segundo o meu ponto de vista, sem basear as minhas respostas em qualquer autoridade que seja. Sei que todos vós desejaríeis que se fundassem as minhas respostas na autoridade, mas sinto dizer-vos que ficareis desapontados a esse respeito. Não vou instar-vos a aceitar aquilo que tenho como a Verdade absoluta; deixo-o ao vosso critério, pois somente este é valioso, somente este é duradouro, e somente ele vos deve guiar, sustentar e proteger. Prosseguiremos, pois, tendo isso em mente, e peço-vos paciência e atenção, pois bem sei que no próximo ano se não compreenderdes inteligentemente, fareis as mesmas perguntas.
Pergunta: Certos conceitos que tem sido emitidos a respeito de vós e de vossa obra parecem diferir tão fundamentalmente de vossa doutrina e da Verdade que expondes, que gratos vos seríamos se nos pudésseis expressar uma opinião, a esse respeito. Em 1925 elegestes sete Apóstolos, sendo que cinco restantes não haviam ainda alcançado o necessário grau de Arhat. Dizeis agora que não tendes discípulos.
Krishnamurti: Repito que não tenho discípulos. Cada um de vós é discípulo da verdade, desde que compreenda a Verdade e não se ponha a seguir outros indivíduos. Não tenho seguidores. Espero que não considereis a vós mesmos como meus seguidores, porque, se o fizerdes, estareis pervertendo e traindo a Verdade que eu defendo. Não tenho discípulos; não tenho seguidores; mas, se compreenderdes a Verdade que vos ofereço, em toda a sua simplicidade e grandeza, e amardes essa verdade pela sua própria beleza, tornar-vos-eis então discípulos dessa Verdade. Não tenhais cuidados sobre quem é discípulo e quem não o é. Que empenho o vosso de julgar os outros! Aspirais à qualidade de discípulo com o fito de serdes persuadidos ou dissuadidos, com o fito de vos arrimardes em alguém, de serdes protegidos por alguém; mas, meu amigo, quando dependeis de outra pessoa, ai de vossa vida! – Espero, pois que esteja agora perfeitamente claro que não necessito de discípulos nem de seguidores; porque eu sustento que ser discípulo de um indivíduo qualquer é trair a Verdade. A única maneira de alcançar a Verdade é ser discípulo da própria Verdade, sem necessitar de intermediário. Não vos choqueis, não vos sintais desapontados – a Verdade nem sempre é aprazível. A Verdade é rude para aqueles que não compreendem, mas a Verdade é amável, delicada, generosa e encantadora para aqueles que compreendem. Nessas condições, amigo não existe a categoria de discípulo, a não ser para aqueles que compreendem que ser discípulos não é seguir indivíduos, porém só a Verdade em seu sentido absoluto, a Verdade infinita. E vós que tanto vos deleitais como vosso culto das personalidades, que tanto vos deleitas com vossos intermediários, achareis difícil aceitar a Verdade, mas não estou aqui para vos agradar. Não vos torneis seguidores nem discípulos de indivíduos, mas tornai-vos o tabernáculo da Verdade sem princípio nem fim, e então as questões concernentes a quem é apóstolo, quem é discípulo, quem é Arhat, se dissiparão, porque nenhum valor tem.
Quando galgais uma encosta elevada e encontrais pelo caminho indicadores da direção, vós vos detendes para adorar esses indicadores, ou prosseguis a marcha, deixando-os para trás? Ponderai com toda a seriedade sobre este assunto; deliberai, criteriosamente, com vosso coração, e por esse meio alcançareis o entendimento. Não há compreensão no culto das personalidades. Os rótulos que adorais carecem de significação. Bem sei que terei dúvidas sobre o que estou dizendo, e que minhas afirmativas suscitarão em vós um sentimento de incerteza, mas, meu amigo, eu vos digo que a verdade nada tem que ver com as personalidades mesquinhas e tirânicas que adorais, sejam elas quais forem. A Verdade transcende todas as graduações, porquanto essas graduações só existem por causa das limitações humanas.
Pergunta: A Igreja Católica Liberal e Ordem Co-Maçônica foram apontadas como duas organizações especialmente escolhidas pelo “Senhor” Maitreya para levar avante a vossa obra. Mas vós dizeis que todos os rituais e cerimônias são desnecessários e “reduzem” a Verdade.
Krishnamurti: Continuo a sustentar que todas as cerimônias são desnecessárias à evolução espiritual. Quanto vos agradaria se eu dissesse, pela maneira mais autoritária, que elas são necessárias, ou que não o são! Quanto vos deleitaria se eu dissesse: “A Vontade, senhores, continuais a celebrar as vossas cerimônias!” ou “Não, senhores, deixai de celebrar cerimônias” – porque vos sentiríeis então em vosso elemento.
PERGUNTAA Igreja Católica Liberal e Ordem Co-Maçônica foram apontadas como as duas organizações especialmente escolhidas pelo "Senhor" Maitreya para levar avante a vossa obra. Mas vós dizeis que todos os rituais e cerimônias são desnecessários, e “reduzem” a Verdade.
KRISHNAMURTI: Continuo a sustentar que todas as cerimônias são desnecessárias à evolução espiritual. Quanto vos agradaria se eu dissesse, pela maneira mais autoritária, que elas são necessárias, ou que não o são! Quanto vos deleitaria se eu dissesse: "À vontade, senhores, continuai a celebrar as vossas cerimônias!" ou "Não, senhores, deixai de celebrar cerimônias" - porque vos sentiríeis então em vosso elemento. Mas, porque eu não digo tal coisa, porque não baseio o que expresso em autoridade alguma, ficais intrigados, e na vossa ansiedade dá-se uma confusão de propósitos, acentuando-se o que não é essencial e perdendo-se de vista o que é essencial. Eu digo que todas as cerimônias não são essenciais para o preenchimento da vida. Mas, replicareis: "Que direis das cerimônias da Igreja Católica Liberal e da Co-Maçonaria?”Amigo, vós deveis formar vossa opinião a esse respeito. Não é a mim que cabe formá-la. Como vos agradaria, se eu formulasse uma opinião para vós! Sois todos como crianças incapazes de se susterem nas pernas e caminhar desamparadas. Há dezessete anos que vos preparais e estais presos na vossa própria criação. Não vos sirvais de mim como de uma autoridade, não digais que Krishnamurti desaprova as cerimônias. Eu não aprovo, nem reprovo. Se desejais celebrar cerimônias, vós as celebrareis, e essa é uma razão suficiente em si mesma; se não desejais celebrá-las, não as celebrareis, e também essa é uma razão suficiente em si mesma. Tais dificuldades só se manifestam quando o indivíduo está empenhado em obedecer, quando está atemorizado - atemorizado pela idéia de perder o maná espiritual que julga existir na organização de que faz parte. Nenhuma organização, por mais amadurecida pela tradição, por mais firmemente estabelecida que seja, contém a verdade. Se desejais procurar a Verdade, deveis fazer-vos ao largo, distanciar-vos das limitações da mente e do coração humanos, e descobri-la então, - e essa Verdade está dentro de vós mesmos. Não é muito mais simples fazer da própria Vida o alvo, da própria Vida o guia, o Mestre e o Deus, do que ter intermediários, gurus, que inevitavelmente “reduzirão” a Verdade e, portanto, a trairão?
PERGUNTADizem que, com vossa vinda a evolução foi acelerada em todos os seres e que o número de Iniciados, no mundo, crescerá rapidamente. Mas vós dizeis que esses degraus, no Caminho, não são essenciais e que a libertação pode ser alcançada em qualquer fase da evolução.
KRISHNAMURTI: Digo que a libertação pode ser alcançada em qualquer degrau da evolução, pelo homem que compreende, e que não é essencial render culto a esses degraus, como vós o fazeis. Assim como tendes, na vida mundana, um sentimento de classe, que vos infunde reverência pelos títulos aristocráticos, assim também tendes um sentimento de classe de ordem espiritual; não há muita diferença entre estas duas coisas. Por essa razão, deveis desenvolver a compreensão e o desejo de alcançar vosso alvo, e esquecer todos esses graus e as pessoas neles situadas. Que valor têm eles para vós?
Porque perdeis de vista alvo da vida, porque não desejais alcançá-lo com todo o ardor, com todo o interesse e energia, esses graus, com os seus rótulos, vos prendem e escravizam. Seguramos um brinquedo à frente de uma criança, à fim de estimulá-la a andar, e a criança que é sensata não se põe a adorar esse brinquedo, porque o seu desejo é andar. Vós não sois crianças. Entretanto, estais adorando um brinquedo. Eu vos digo que a Vida é muito séria para brincar-se com ela, e, como já disse, é chegado o tempo de decidirmos se vamos continuar, como crianças, a admirar brinquedos, ou se vamos ser homens e mulheres adultos, dispostos a rejeitar tudo quanto é pueril, a fim de descobrir a Verdade. Encontrar e estabelecer a Verdade depende de vós mesmos e de ninguém mais. Se eu destruisse todos os vossos arrimos atuais, logo inventaríeis outros, para satisfazer o vosso desejo de apoio, inventaríeis logo outras idéias fantásticas. Direis que não creio em nada dessas coisas. Não creio nem descreio. Para mim elas têm valor insignificante, em comparação com a jóia mais preciosa deste mundo, que é a Vida.
Podereis alcançar a libertação em qualquer degrau da evolução, se possuirdes um desejo ardente de alcançá-la, se nutrirdes o anelo de rejeitar todas as coisas que não são essenciais de vos agarrardes, tão fortemente como a morte, às coisas que são vitais, essenciais. E para determinardes o que é essencial e vital, deveis observar, deveis estar atento para tudo quanto se passa em redor de vós. A vida é uma tela tecida dos fatos comuns de cada dia e, se não utilizardes esses fatos, perdereis o significado das pequeninas coisas, com as quais as grandes coisas são construídas.
PERGUNTADisseram-nos que a Mãe Universal irá manifestar-se a fim de completar a vossa obra que odiscípulo através do qual Ela atuará já foi eleito. Mas vós nos dizeis que, na Verdade, não existem estas distinções de macho fêmea, porque a Vida é uma só.
KRISHNAMURTI: Digo que a Vida é uma só, embora as expressões da Vida sejam múltiplas. Na Verdade, não existe nem macho nem fêmea; como pode existir? Tendes um corpo diferente do meu; mas, não tendes a mesma tristeza, as mesmas dores, as mesmas ansiedades, e as mesmas dúvidas? O de que necessitais é uma mente pura e um coração cheio de amor, e então todas essas coisas perderão a importância, Ninguém vai completar a minha obra, senão vós mesmos. Talvez o que digo não vos agrade e, por isso, desejeis outra imagem para adorar e tereis uma tal imagem, por vós mesmos fabricada, seja esta ou outra qualquer. Enquanto não aspirardes à Verdade no seu sentido absoluto, enquanto não aspirardes à liberdade, inventareis para vós mesmos muitas frases, muitas imagens, muitos rótulos, e vos enleareis nas complicações das filosofias e das crenças. Se desejardes a Verdade como um homem que se afoga deseja o ar, não necessitareis dessas complicações. Mas, preferis satisfazer-vos com coisas fáceis, agradáveis, suaves, a enfrentar uma luta rude com vós mesmos, a compreender a vós mesmos e, assim, vencerdes.
Não ides, depois, citar-me como autoridade. Recuso-me a servir-vos de apoio. Não irei para uma clausura, para ser venerado por vós. Quando trazeis para dentro de um quarto o ar puro da montanha, perde esse ar a pureza e sobrevém a estagnação: e nenhum homem judicioso se deixará prender nessas coisas que pervertem e fazem estagnar a mente e o coração.
Porque eu sou livre, porque encontrei esta Verdade que não tem limites, que não tem princípio nem fim, não me deixarei condicionar por vós. Podeis expulsar-me de vossos corações e de vossas mentes, mas eu não vos servirei de arrimo, nem me deixarei prender na clausura de vossas pequeninas ilusões.
PERGUNTADizeis que não há Deus; que não há nem bem nem mal; que não existe lei moral. Em que difere, pois, vossa doutrina da de qualquer materialista?
KRISHNAMURTI: Minha doutrina difere totalmente da do materialista, e se não o percebestes, lamento-vos. Eu nunca disse que não há Deus. O que eu disse é que só existe Deus conforme se manifesta em cada um de nós, e que, quando houverdes purificado aquilo que está dentro de vós mesmos, achareis a Verdade. É claro que Deus existe; mas não vou empregar a palavra Deus, porquanto ela assumiu um significado muito especial e estreito. Para uns ela sugere um punho possante e iroso; para outros, um ser de longas barbas; para outros, uma Inteligência Onipotente, Onisciente e, Suprema. Isso eu prefiro chamar Vida, porque nos aproxima mais da Verdade, porquanto vós tendes de lidar com a própria Vida, e não com o culto que rendais a um ser exterior, enganando a vós mesmo. A Verdade, tal como a Vida, é como o raio de sol: se sois sensato, abrir-lhe-eis as janelas; se não sois sensato, descereis as cortinas. Se estivésseis enamorado da Verdade, essas imagens não teriam mais valor nenhum para vós.
“... que não existe nem bem nem mal”. Está visto que não há nem o bem nem o mal. O bem é aquilo que não tememos; o mal, aquilo que tememos. Se, portanto, destruirdes o temor, estareis espiritualmente preenchidos; mas, se ficardes condicionados pelo temor como o estais - continuará a existir o mal, o bem e a moral, para sustentar-vos, na vossa fraqueza.
Quando estiverdes enamorados da vida e puserdes esse amor acima de todas as coisas, e julgardes por esse amor, e não pelo vosso temor, desaparecerá então esta estagnação que chamais moral; o que ocupará vosso pensamento será, então, o quanto estais enamorados da Vida, e não quanto mal e quanto temor existe no vosso coração. Ou, melhor vós julgareis pelo vosso amor, e não pelo vosso temor. Eu sei que vos proíbem de julgar; mas, como sempre julgais, porque então não julgar de acordo com a Verdade? E para julgardes segundo a Verdade, é preciso que estejais, apaixonados pela Vida; mas, então, nunca julgareis, em circunstância alguma. Porque não estais enamorados da vida, vós julgais pelos vossos padrões de moralidade; pelo bem e pelo mal; pelo temor de céu e inferno; e por isso opondes uma barreira àquele amor, àquela compreensão da vida.
PERGUNTASustentam certas pessoas que, se bem Instrutor Universal não se preocupa com a fundação de uma nova religião, Bodhisattva Maitreya, em Sua Consciência Cósmica maior, se interessa por todas as religiões e credos, e os apoia.
KRISHNAMURTI: Mas, que idéia confortável! Como adorais as palavras! Vós estais enamorados de rótulos, e não da Verdade. Que significais por "Consciência Cósmica"? A Vida? Como é possível dividir a Vida em Instrutor Universal e Bodhisattva? O” gente de pouco entendimento! Percebeis o que esta pergunta implica? - O que vos agrada atribuis ao Bodhisattva; o que vos desagrada atribuis ao Instrutor Universal ou - quem sabe? - a Krishnamurti. Mas, que é que vós mesmos pensais? Onde ficou vossa compreensão, depois de tantos anos? Como enganais a vós mesmos com todas estas palavras! Dividis a Vida em Instrutor Universal e Bodhisattva, e o que é agradável procede de um, o que não é agradável procede do outro ou, se nenhum dos dois serve, então procede de Krishnamurti. Que tem a Verdade com os termos "Instrutor Universal", Bodhisattva, ou Krishnamurti? Que tem a vida com esses nomes? Se fordes arrebata dos, agora, pela minha autoridade, sereis arrebatados, futuramente, por outra autoridade qualquer. Obedecereis a mando da autoridade e desobedecereis a mando da autoridade. Vossa compreensão fica muda, no caso. Desejais conforto a toda hora e esse conforto vós o encontrais em palavras na autoridade, nos deuses e dogmas.
Mas, se puderdes perceber que não existe conforto, e sim compreensão, não ficareis enredado em palavras, em idéias, ou no que dizem os livros, ou à sombra dos deuses que adorais. Que pressa tendes em julgar, sem conhecimento! Em aceitar, sem compreensão!
PERGUNTADisseram, também, que Christo atua essencialmente através da Igreja Católica Liberal e somente uma parcela de sua Consciência se manifesta através de Krishnamurti. Podeis dar-nos vossa opinião a respeito desses dois pontos?
KRISHNAMURTI: Vós aceitais o que vos agrada, e rejeitais o que vos desagrada. A Verdade, que é a Vida, nada tem com pessoa alguma nem com organização alguma. Amigo, estais a brincar com estas coisas. Não são elas de importância capital para vós, mas para mim elas são de vital interesse. Importa-me muito a Verdade e o despertar em cada um de vós o desejo de descobrir essa Verdade. O que vos importa é a consciência de Krishnamurti. Mas como o podeis saber, se não conheceis nem Krishnamurti nem o Christo? Não sei quem vos diz essas coisas, mas, como vos seduzem os belos efeitos de palavras! -- Não me interessam organizações. Não me interessam sociedades, religiões, dogmas; o que me interessa é a Vida, porque eu sou a Vida. Não almejais a Vida e o preenchimento da Vida, que é a Verdade; uma passageira sombra de conforto, nesta ou naquela organização, uma dose de palavras suaves e de idéias agradáveis, são suficientes para vossa limitada compreensão. Assim, pois, amigo, estais preso nessas coisas. Porque à Vida vós antepondes as organizações, a autoridade de outro, as frases de outro, estais prisioneiro e sufocado. Eu vos falo a respeito do cume da montanha, que não conhece sombras, que nunca está toldado de nuvens, que é constante e eterno, e o que vos interessa são os vales que jazem à sua sombra. Se desejais compreender o cume da montanha, deveis deixar o vale, e não permanecer nele, adorando, de longe, o alto da montanha. - Amigo, não vos preocupeis sobre quem eu seja; vós nunca o sabereis. Não desejo que aceiteis qualquer coisa do que vos digo. Nada necessito de qualquer de vós; não desejo a popularidade; não preciso de vossa lisonja nem de vossa obediência. Porque estou enamorado da vida, nada preciso. Estas questões não são de grande importância; o que tem importância é o fato de que estais obedecendo à autoridade e permitindo que vosso julgamento seja pervertido por ela: Vosso julgamento, vossa mente, vossos afetos, vossa vida, estão sendo pervertidos por coisas destituídas de valor, e é nisso que reside o sofrimento.
Vi, num templo indiano, uma família de símios - pai, mãe e filho. O filhote estava sempre agarrado à mãe, não a deixando nunca. E, numa fazenda de criação de leões, na Califórnia, eu vi uma leoa com seu filhotinho. Este andava livremente pelos arredores, independente da mãe. Que preferis: ser apegado como o macaco ou independente como o leão? O homem que deseja libertar-se de todas as suas limitações, deve jogar para longe todos os arrimos. Se desejásseis subir às alturas, não levaríeis convosco todos os vossos haveres, vossos títulos, vossos rituais e vossos amigos. Abandonaríeis todas essas. coisas, para subirdes sozinho. Subir livre de embaraços não significa egoísmo. Não vos torneis a enganar com essa idéia. Se desejais subir, será sensato fazê-lo com determinação, com perseverança, sem a carga de complicações. A Verdade não depende de pessoa alguma, por mais que ameis essa pessoa. Ela está acima das pessoas, acima dos deuses que imaginais e dos lúgubres santuários dos templos. Eu sei o que sou; sei qual é a minha finalidade na Vida, porque sou a própria Vida, sem nome, sem limitação. E porque eu sou a Vida, desejo instar-vos a adorar essa vida, não na forma que é Krishnamurti, porém a vida que reside dentro de cada um de nós. Lançai fora toda essa bagagem de crenças, religiões e cerimônias, e encontrareis a Verdade.
PERGUNTADevemos entender que não há razão para temermos levar até às suas últimas conclusões o que as vossas palavras implicam?
KRISHNAMURTI: Porque o temeis? De que tendes medo? Medo de que o que eu digo seja a Verdade? Medo de abandonardes as coisas a que há tanto tempo vos apegais? Como julgais possível achar alguma coisa na vida se tendes medo de levar vossos pensamentos e sentimentos até as ultimas conclusões?
Amigo, vós alcançareis a Verdade se deitardes fora o que haveis adquirido, e não se vos apegardes a essas coisas. Esta é a única maneira de se achar a Verdade. Se desejais dinheiro, não procedeis com crueldade para acumulardes vossas riquezas? Mas não desejais a Verdade por essa maneira. Não quero dizer que sejais egoístas e cruéis - porque, quando caminhais na direção da Verdade, não há lugar para o egoísmo e a crueldade. Se praticais qualquer ação impelido pelo medo ou a mando de outro, ai de vós, porque ao longo deste caminho jaz a tristeza e a dor.
PERGUNTATendes uma doutrina para as massas, e outra para vossos discípulos escolhidos?
KRISHNAMURTI: Não tenho discípulos escolhidos. Quem são as massas? Sois vós. Ë em vossas mentes que existem as distinções entre as massas e os escolhidos, entre o mundo exterior e o mundo interior. É em vossas mentes que corrompeis, que "reduzis" a Verdade. Ó amigo! Se estais enamorado da vida, vós envolvereis todas as coisas nesse amor, tanto as transitórias como as permanentes. Quereis uma doutrina especial para uns poucos eleitos, porque em vossos corações existe a segregação, a separação; desejais ,confinar as águas puras da vida e guardá-las para vós. Podeis perguntar ao sol se ele brilha para as massas ou para uns poucos eleitos? Podeis perguntar às chuvas se elas se destinam às planícies ou às montanhas? Se não compreendeis, suporeis, como sempre se supôs, que o meu ensino se destina a uns poucos e por essa forma "reduzireis" e traireis a Verdade. Porque existe limitação em vosso, coração, dividis a água da vida, que se destina aos reis e aos mendigos, indistintamente. Quer proceda de uma fonte de ouro, quer de um regato, essa água é a mesma e acalma a sede de todos, sem distinção de pigmentos, castas, credos e dos especialmente eleitos. É porque durante tantos anos; durante tantos séculos, durante tantas idades, a Verdade tem sido limitada e "reduzida", que novamente desejais limitá-la, e com efeito já o estais fazendo, quando perguntais "A Verdade destina-se às massas ou a poucos escolhidos?". Dizeis que as massas não compreendem; que lhes é dificílimo aprender; que somente uns poucos são capazes de alçar-se às alturas. Julgais que eu não possuo tanta afeição e tanto amor como qualquer de vós? Mas, porque já subi todos os vossos degraus, eu vos digo: Não subais esses degraus, mas evitai-os, deixai-os de lado e reuni as vossas forças para a ascensão.
PERGUNTADizeis que Deus só existe em nós, e que não há outro Deus. Tereis a bondade de explicar um pouco mais essa importante asserção, já que todo o mundo crê num Deus fora de nós, um Criador, de todas as coisas, e vós mesmo falais do Bem-Amado, do Guru - o nome não tem importância - e outros falam do Budha, do Christo, de Deus. Como podeis conciliar esses conceitos?
KRISHNAMURTI: Uni-vos com a vida, e vos unireis com todas as coisas. Como está dito nessa pergunta, os nomes não têm importância. Se estais enamorado da Vida, então vós vos unireis com a Vida, quer a chameis Budha ou Christo, quer lhe deis outro nome qualquer. Como podereis unir-vos com a Vida? Não o 'podereis, certamente, se criardes complicações, porem podereis se criardes o ardente desejo da Verdade, o qual destrói todas as complicações. Mas dizeis: "Como poderei ficar enamorado da Vida?" Pela experiência. "Como poderei colher experiência?" Aceitando a experiência. "Como poderei aceitá-la?" - Não vos separeis da Vida. Vedes ao redor de vós tristezas e sofrimentos sem fim e, se vos limitardes a ver, sem observar, não haverá confortamento do coração nem purificação da mente.
PERGUNTA: Diz Krishnamurti que não devemos seguir nem obedecer a autoridade alguma. Até que ponto pode esse princípio aplicar-se aos membros da Sociedade Teosófica que, a muitos respeitos, são governados pela autoridade? Ou, também, até que ponto é ele aplicável à autoridade do próprio Krishnamurti?
KRISHNAMURTI: Eu preferia que não dissésseis: "Diz Krishnamurti ...". Se citais a mim, ao lado de todas as outras autoridades a que vos submeteis, perdereis a água preciosa que eu vos trago. "Diz Krishnamurti que não devemos, seguir nem obedecer a autoridade alguma. Até que ponto pode esse princípio aplicar-se aos membros da Sociedade Teosófica que, a muitos respeitos, são governados pela autoridade? Ou, também, até que ponto é ele aplicável à autoridade do próprio Krishnamurti?".
Quereis que vo-lo diga? Não obedeçais. Porque vos sujeitardes a outros indivíduos? Porque estais prontos a aceitar, vós criais a autoridade e essa é a raiz venenosa, essa é a semente que vos cumpre destruir. Desejais adquirir o conforto pela obediência. Não penseis que eu esteja em oposição a Sociedade Teosófica. Não estou. É desperdício de energia estar em oposição a qualquer coisa, que seja. Se começardes a espalhar que eu vos incitei à desobediência, estareis criando outra autoridade, à qual rendereis culto. E se obedecerdes, porque eu vo-lo aconselhei, estareis igualmente criando outra autoridade, à qual rendereis culto. Ignoro que na Sociedade Teosófica sejais impelidos à obediência. Ignoro-o; pode ser que sim, mas isso não me interessa. Se não for na Sociedade Teosófica que obedeceis, vós o fareis em outra organização qualquer. O desejo de obedecer é inato em cada um de vós e é esta a razão por que criastes essas organizações. O que me interessa é a purificação do vosso desejo e não o estabelecimento de uma autoridade. Desejo é vida, e se fortalecerdes esse desejo, se purificardes esse desejo, se o enobrecerdes, se lhe derdes vitalidade, lhe derdes o êxtase da demanda de um alvo, quebrareis então todas essas coisas pequeninas que vos barram o caminho. Não fui sempre instado pelos meus amigos a seguir esta ou aquela coisa? Não me disseram eles, sempre: "Cuidado com o que fazeis, com o que dizeis! - Tomai cuidado de vossa posição. - Deveis dizer isso e não deveis dizer aquilo. "A paciência é um dom divino! - Tivesse eu obedecido a qualquer deles, jamais teria encontrado aquela felicidade eterna e absoluta. Porque pus em dúvida justamente as coisas que eles sustentavam, porque nunca aceitei prontamente coisa alguma que me fosse apresentada, eu encontrei aquele Reino que é eterno e imutável; eu preenchi a Vida. E desejo dizê-lo a vós: Fazei o mesmo; mas não o façais porque eu o digo, porém porque vós também desejais entrar nesse Reino, vós também desejais encontrar aquela paz absoluta, aquela libertação que é o ápice de toda a experiência, aquela Verdade que não é criação de pessoa alguma, de nenhuma organização, de nenhuma igreja.
PERGUNTA: Sois o Christo, de volta ao mundo?
KRISHNAMURTI: Amigo, quem julgais que eu sou? Se eu disser que sou o Christo, vós ireis criar uma nova autoridade. Se disser que não o sou, criareis igualmente outra autoridade. Julgais que a Verdade tem algo que ver com o que vós pensais que eu seja? Vós não estais interessados na Verdade; estais interessados no vaso que contém a Verdade. Não desejais beber da água, mas desejais saber quem foi que modelou o vaso em que está contida a água. Amigo, se eu vos digo que sou o Christo e outro disser que o não sou, onde ficareis? Lançai fora o rótulo, que nenhum valor tem. Bebei a água, se ela é pura. Eu vos digo que possuo essa água pura; possuo o bálsamo que purifica e que cura soberanamente. E vós me perguntais: "Quem sois? -

EU SOU TODAS AS COISAS, PORQUE EU SOU A VIDA!
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